Boa parte de um vasto material recolhido em muitos anos de pesquisas está disponível nesta página para todos os que se interessam em conhecer o futebol e outros esportes a fundo.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Hilda Furacão e Paulinho Valentim

Morreu hoje aos 84 anos de idade, no Asilo Guillermo Rawson, em Buenos Aires, Argentina, onde morava há vários anos, Hilda Maia Valentim, também conhecida por “Hilda Furacão”.

Segundo a assistente social que a acompanhava, Hilda sofria de problemas respiratórios e renais, mas morreu de "morte natural". Era natural de Recife, onde nasceu no dia 30 de dezembro de 1930.

Ainda muito pequena foi morar com a família em Belo Horizonte. Na juventude, tornou-se famosa, em seu meio, como a prostituta "Hilda Furacão". O nome se deveu a sua reputação de mulher “braba”, que brigava por quase nada com seus clientes e colegas.

Ela ficou famosa ao virar personagem do livro “Hilda Furacão”, de autoria do escritor Roberto Drummond, falecido em 2002, que virou minissérie, da TV Globo, exibida em 1998, com Ana Paula Arósio no papel principal.

O romance de Hilda com Paulo Valentim teve início na Belo Horizonte dos anos 1950, quando o jogador atuava pelo Atlético Mineiro, junto de outros craques famosos como “Kafunga”, “Mão de Onça”, Murilo e Haroldo. Boêmio inveterado, Paulo Valentim gostava de frequentar casas de prostituição na capital mineira.

Foi no “Hotel Maravilhoso”, na rua Guaicurus, que o ponteiro-direito e “Hilda Furacão” se conheceram. Quase todos os dias, após os treinos e jogos, Paulinho, como era carinhosamente chamado pelos companheiros de time, tomava o rumo dos bares da zona boêmia.

Certa noite, depois de beber algumas cervejas na mesa com Hilda, foi até o quarto dela, encantando-se com seus carinhos, passando a procura-la sempre que tinha oportunidade. Nos primeiros tempos até que não era ciumento, tanto que ficava jogando cartas e bebendo, esperando que ela ficasse disponível para ele

Passado algum tempo as coisas mudaram. Suas costumeiras bebedeiras quase sempre acabavam em brigas. Passou a ter um ciúme doentio da amante, tanto que além de bater naqueles que via como rivais, quebrava tudo o que via pela frente  nos botecos. 

É claro que os dirigentes do Atlético não estavam gostando nada disso. Tanto é verdade que virou um problema. Foi por isso que o “Galo” o vendeu para o Botafogo, em 1957. O alvinegro carioca era treinado por João Saldanha e tinha no elenco “feras” como Didi, Garrincha, Amarildo, Nilton Santos e Zagallo.

Paulo Valentim foi para o Rio de Janeiro, mas seu pensamento não sai de Belo Horizonte, na zona boêmia, em que “Hilda Furacão” residia. Volta e meia o craque dava uma escapada de “General Severiano” e ia de ônibus se encontrar com a amada.

Muitas foram as vezes em que atrasou o retorno ao Rio de Janeiro, o que obrigava algum dirigente do time carioca viajar até Belo Horizonte para buscá-lo e o levar de volta, quase à força.

A paixão tomou conta dele por inteiro, tanto que não conseguia mais longe de Hilda. Foi por isso que tomou a decisão de pedi-la em casamento e leva-la para sua cidade natal, Barra do Piraí (RJ). Um dos padrinhos de casamento foi o técnico João Saldanha. Em meio a cerimônia, o padre ficou sabendo do passado pouco recomendável da noiva e resolveu dar-lhe uma descompostura. Fez um sermão, aconselhando-a a largar a chamada “vida fácil”.

Foi o que bastou para Paulo Valentim enfurecer e partir sobre o padre. Ele não admitia que que alguém falasse no passado de sua mulher. Não fosse a turma do “deixa disso”, entre os quais se encontrava João Saldanha, o padre teria levado uma tremenda surra.

Apesar de tudo, a carreira futebolística de Paulo Valentim foi vitoriosa. Conseguiu chegar à Seleção Brasileira. Em 1959, num jogo frente o Uruguai, pelo Campeonato Sul-Americano disputado na Argentina, aconteceu uma briga generalizada, ainda no primeiro tempo.

Eu lembro desse jogo. Já morávamos em Pelotas e eu escutei tudo pelo rádio. Paulo Valentim, segundo contam, é claro, com algum exagero, sozinho, bateu em todo o time uruguaio.

O Brasil ganhou por 3 X 1, de virada. No outro dia as manchetes dos jornais falavam mais sobre a briga, do que o resultado do jogo. Os argentinos colocaram Paulo Valentim nas alturas. O Boca Juniors passou a se interessar por ele, e o comprou por uma verdadeira fortuna.

Vestindo a camisa azul e amarela do time de “La Bombonera” virou herói. Graças aos seus gols o Boca Juniors ganhou os títulos nacionais de 1962 e 1964.

Paulo Valentim e Hilda ostentavam uma vida de luxo em Buenos Aires. O apartamento em que moravam era alugado pelo Boca Juniors e tinha até paredes cobertas de veludo. O carro do casal era um “Impala”, presente do clube.

Era comum ver o casal nos melhores restaurantes. Tudo corria bem para eles. Veio o primeiro filho, Ulisses, que foi alfabetizado em espanhol. Com o decorrer dos jogos a fama de Paulinho só fez crescer. Era respeitado pelos colegas de clube, que faziam questão de sair com o casal.

Mas nada é eterno. Valentim voltou a beber, e isso teve influência no seu rendimento dentro de campo. O futebol já não era mais o mesmo, por isso o Boca concordou que ele se transferisse para o São Paulo.

Viajou para a capital paulista sem a mulher, que ficou em Buenos Aires cuidando da casa e do filho, Ulisses. A passagem pelo tricolor paulista foi curta. Menos de um ano.

Como tinha criado fama pelos bons tempos de artilheiro, especialmente na América Latina, acabou indo para o Atlante, da Cidade do México. Hilda foi com ele. Tinha esperança de que os bons tempos, os carros de luxo, casa boa e comida farta voltassem.

Ledo engano, Valentim estava velho. Nos dois anos em que esteve lá não conseguiu jogar como antes. Começaram as reclamações dos torcedores. O futebol parecia tê-lo abandonado. O Atlante não o quis mais. Valentim voltou para Buenos Aires bem pior do que saiu. Estava tomado pelo vicio do álcool.

O Boca Juniors continuou a lhe pagar a moradia, mas agora uma casa pequena, sem o luxo de antes. E um emprego de técnico das divisões de base. Tudo mudou, era outra vida bem diferente daquela dos tempos de fama. Hilda dava atenção ao filho, enquanto Valentim tentava fazer dele um jogador. Ele estava no time infantil, mas não tinha o futebol esperado.

Dispensado do Boca Juniors, a vida piorou. Além da bebida passou também a jogar cartas. Ainda bem que o filho Ulisses já trabalhava e passou a ajudar a família, que morava em casas emprestadas, geralmente por pessoas ligadas ao Boca, que nunca abandonaram o ídolo.

Em 9 de julho de 1984, Paulo Valentim deixou este mundo, em consequência da bebida. O Boca Juniors bancou o sepultamento no “Cemitério de Chacaritas”. Apesar do tempo sem jogar, não foi esquecido pela torcida que compareceu em peso a um dos maiores funerais da história de Buenos Aires.

O Boca Juniors ainda o eternizou, ao mandar construir no Estádio de “La Bombonera”, uma “estrela em bronze”, homenageando o grande ídolo.

Com a morte de Paulinho, Hilda passou a depender unicamente do filho, Ulissses, que mostrava grande dedicação a mãe. Mas como não há nada que não possa ficar pior, Ulisses descobriu que estava com diabetes. Arrasado, tentou o suicídio tomando fungicidas.

Nos momentos de angústia, chegou a escrever uma carta à companheira, Teresa Ignes Rodríguez, pedindo desculpas pelas vezes que a traiu. E a sua mãe, a quem reiterava a paixão, o amor. Mas ele sobreviveu.

Em 2013, a diabetes acabou matando Ulisses. Outra vez foi o Boca Juniors quem ajudou Hilda. O clube soube reverenciar o nome de um ídolo, não o abandonando e nem a família em momento algum. Gestos nobres de seus dirigentes.

Depois da morte do marido e do filho, Hilda Maia Valentim passou a viver amparada pela municipalidade de Buenos Aires, interna no “Hogar Dr. Guillermo Rowson”, onde foi localizada pelo jornalista Ivan Drummond, do jornal “O Estado de Minas”, sobrinho do escritor Roberto Drummond.

Uma assistente social brasileira ajudou Ivan a elucidar a história da paciente. Em agosto de 2014, a reportagem do “Fantástico”, da Rede globo, foi até o asilo e conversou com Hilda, que na época estava com 83 anos.

Já não era mais nem sombra da mulher que o imaginário de leitores e telespectadores brasileiros criou e que atravessou décadas. A “Hilda Furacão”, criada por Roberto Drummond, era apenas uma triste lembrança.

Dos tempos de riqueza não lembrava mais. E muito pouco da Belo Horizonte de seu tempo. Alimentava mágoas de parentes do marido. No asilo onde vivia, Hilda alternava estados de lucidez e de esquecimento. (Pesquisa: Nilo Dias)

Hilda e Paulinho Valentim.

quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Um jogo de futebol no meio da guerra

Este Natal marcou a passagem dos 100 anos daquele que é considerado até hoje o “mais belo jogo de futebol de toda a história”. Aconteceu durante a “1ª Guerra Mundial”, em 1914. Soldados ingleses e alemães trocaram mensagens festivas na semana que antecedeu o Natal e até chegaram ao ponto de trocar presentes.

No dia 24 de dezembro daquele ano, soldados alemães, ingleses e franceses, estes em menor número, se reuniram na chamada “terra de ninguém” para a troca de alimentos e presentes e entoarem canções natalinas. O clima foi tão cordial que os dois lados acertaram a disputa de um jogo de futebol.

Em dezembro de 1914, os conflitos tinham pouco mais de quatro meses e a chegada do Natal amoleceu os corações. Segundo o “National Football Museum” (Museu Nacional do Futebol), da Inglaterra, dois terços da linha britânica se envolveu em alguma forma de trégua ou confraternização com alemães. Em todos os lugares, mãos foram apertadas.

Ingleses e alemães passaram a noite do dia 24 em combate na Bélgica, na região de Comines-Warneton, próxima à fronteira com a França. Segundo relatos da época, fazia muito frio e os soldados estavam em suas trincheiras, com água até a altura dos tornozelos.

Depois de uma madrugada barulhenta, às 6 horas do dia 25 tudo ficou em silêncio. E cinco horas mais tarde, de acordo com reportagem do “The Times”, a torre de comando inglesa recebeu um estranho recado: “todas suas trincheiras estavam vazias e os ingleses confraternizavam com os alemães”.

Entre trocas de suvenires, comida, tabaco, chocolate, bebidas, insígnias e cânticos natalinos, algumas “peladas” foram disputadas em vários pontos diferentes do “front”. Algumas com improvisadas bolas de meias. Outras com latinhas de ração. Os campos eram os espaços entre as trincheiras, chamados de “terras de ninguém”.

Tudo começou quando uma bola de futebol apareceu de algum lugar, não se sabe com certeza de onde. Os alemães começaram a dar chutes. Um deles foi para o gol e em seguida virou uma “pelada” generalizada. Havia uns 200 soldados participando. Não havia juiz e placar, sem registro nenhum. Chapéus foram colocados para marcar os gols.

Durante anos, depoimentos diversos sugerem que pode ter acontecido uma “partida oficial” entre inimigos. Os historiadores, porém, são cautelosos. Em seu livro “Christmas Truce” (Trégua de Natal), Malcolm Brown e Shirley Seaton defendem que as únicas referências ao futebol na época foram de “peladas”, com bolas improvisadas.

Já Pehr Thermaenius, em seu livro “The Christmas Match: Football in No Man’s Land 1914” (O Jogo de Natal: Futebol na Terra de Ninguém em 1914), diz que soldados no “front” tinham bolas – muitas enviadas pelos leitores do jornal “Mirror”, incentivados por uma campanha do periódico para elevar o moral das tropas.

Segundo ele, há pelo menos 15 referências a partidas em diferentes lugares, com a possibilidade de pelo menos um jogo organizado com traves e bola. Há muitas histórias de partidas de futebol entre as forças inimigas. Há cartas que confirmam que em Wulvergem, na Bélgica o jogo foi só pelo prazer da brincadeira, ninguém prestou atenção no resultado.

Mas houve também partidas “sérias”, com direito a juiz e a troca de campo depois do intervalo. Numa delas, que se tornou lendária, os alemães do Batalhão 371, derrotaram os britânicos do 1º Batalhão dos Royal Welch Fusiliers, por 3 X 2. A partida foi encerrada depois que a bola – esta de verdade, feita de couro – furou ao cair no arame farpado.

Pena que isso não tenha ocorrido em todas as frentes de combate. Em algumas não teve trégua, a luta continuou por todo o dia. Em outros, a parada serviu apenas para o recolhimento de corpos.

Em 2015 deveria acontecer uma nova trégua, mas esta não foi tão divulgada como a de 1914, até porque os altos comandos de ambos os lados proibiram tal confraternização.

A iniciativa de um cessar fogo em 1914 partiu dos soldados alemães, que decoraram suas trincheiras com velas acesas e improvisaram árvores de Natal, além de cantarem canções natalinas.

Consta que um cantor alemão declamou de forma magistral canções natalinas, sendo aplaudido e seguido em sua canção por soldados de ambos os lados. Animados, muitos dos soldados franceses subiram nos parapeitos de suas trincheiras aplaudindo. Logo pediram para o alemão bisar a música.

Já os britânicos responderam também cantando. Houve casos em que alemães e ingleses, cantaram unidos os mesmos cânticos natalinos, ainda que em suas próprias línguas e versões.

Nesse momento foi que surgiram os convites de ambos os lados para uma trégua e um encontro pacífico. Cerca de 100 mil soldados britânicos e alemães aderiram aquele momento de paz.

Houve até a celebração de uma “Missa de Natal” bilíngue, rezada por um padre escocês e um seminarista alemão. Os britânicos alinhados de um lado e os alemães de outro, os oficiais à frente, todos de cabeça descoberta.

Sabe-se que aconteceram outros momentos de trégua, fora do Natal. Não foram poucas as vezes em que soldados inimigos se encontraram fora das trincheiras para pequenas confraternizações, quando promoviam conversas ou troca de cigarros.

Ou então um cessar fogo ocasional, para que os companheiros feridos ou mortos pudessem ser resgatados. E ainda havia acordos tácitos para não atirar enquanto os homens descansavam, se exercitavam, ou trabalhavam à vista do inimigo.

Sabe-se que o general Sir Horace Smith-Dorrien, comandante do II Corpo britânico, revoltou-se ao saber o que estava acontecendo e emitiu ordens estritas proibindo a comunicação amigável com as tropas adversárias alemãs. Um soldado austríaco, chamado Adolf Hitler, revoltado disse: “Os alemães estão perdendo a honra”.

Na Páscoa de 1915 houve uma tentativa para uma nova trégua, quando uma unidade alemã tentou sair de suas trincheiras sob uma bandeira branca. Mas foram dissuadidos pelos britânicos à sua frente; no final do ano, em novembro, uma unidade da Saxônia confraternizou brevemente com um batalhão de Liverpool.

Foram mais de 16 milhões de mortes e 20 milhões de feridos durante a Primeira Guerra Mundial.

Duas curiosidades que merecem ser citadas. A primeira liga profissional da história - a inglesa Football League - havia sido criada em 1988. Durante os conflitos, a competição teve que parar por quatro anos (1914-1918) e vários jogadores serviram na guerra. No total, 241 morreram, de acordo com levantamento do “Museu Nacional do Futebol”, localizado em Manchester, na Inglaterra.

A seleção brasileira fez sua primeira partida oficial em 22 de maio de 1914, contra o time inglês do Exeter City, nas Laranjeiras. O placar teria sido 2 X 0, de acordo com estatísticas brasileiras, mas algumas fontes apontam um empate por 3 X 3.

No retorno para casa, os jogadores ingleses se viram sem jogos e sete dos 11 titulares se alistaram para a guerra. Nenhum deles morreu nos combates, mas o atacante Fred Goodwin foi gravemente ferido e nunca mais voltou a jogar futebol.

Neste ano de 2014, que marcou o centenário do histórico jogo em meio a guerra, soldados britânicos e alemães se reuniram no dia 17 de dezembro, à noite no sudoeste de Londres, para reviver a histórica partida de futebol. O jogo aconteceu na cidade de Aldershot, a cerca de 60 km da capital, como parte das celebrações do Centenário da chamada guerra total.

O Reino Unido teve sua revanche em relação a 1914, derrotando os adversários por 1 X 0, diante de um público de 2.547 pessoas. A renda da partida foi destinada a obras de caridade.

O campo estava cercado de papoulas gigantes, flor que se tornou símbolo dos soldados da “Commonwealth”, caídos em combate. Antes do início da partida, o público fez um minuto de silêncio e entoou, junto com Marilena Gant, "Douce nuit, sainte nuit". A história inspirou a música e o videoclipe de “Pipes of Peace”, de McCartney.

No vídeo, o ex-Beatle interpreta dois personagens: um soldado inglês e um alemão. A história também foi lembrada este ano pela Uefa, que no início do mês de dezembro inaugurou um monumento na região onde aconteceu a famosa trégua, em um dos jogos mais inusitados do futebol.

Foi um francês, Michel Platini, à frente da União Europeia de Futebol (Uefa), quem programou no dia de Natal, em torno da Igreja de São Martinho, em Ypres, uma cerimônia que lembrou a pacífica lição de 1914.

Para lembrar tão importante episódio, o príncipe William, da Inglaterra, inaugurou em Londres uma escultura concebida por um menino de 10 anos, Spencer Turner. Ela descreve duas mãos apertadas em amizade, dentro do contorno de uma bola. É simples, brilhante e cheia de esperança infantil.

O príncipe disse na ocasião que “o futebol tem o poder de unir as pessoas e derrubar barreiras. É vital que, passados 100 anos, mantenhamos a história da Trégua de Natal viva. Ela permanece altamente relevante hoje como uma mensagem de esperança e humanidade, mesmo nos momentos mais sombrios".

Também na Bélgica e em uma base militar no Afeganistão, a partida de futebol foi relembrada entre muros de concreto em um país onde a Grã-Bretanha e a Alemanha tem passado mais de uma década lutando contra a insurgência talibã. (Pesquisa: Nilo Dias) 


segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Diego Aguirre de volta ao Internacional

Diego Vicente Aguirre Camblor, ou simplesmente Diego Aguirre, de 49 anos de idade, é o novo técnico do Internacional. Ele estava em negociações para voltar a treinar o Penãrol, de Montevidéu onde havia trabalhado em 2010 e 2011, tendo levado o tradicional clube uruguaio ao segundo lugar na Taça Libertadores da América, em 2011 quando eliminou o próprio Internacional, dentro do Beira Rio.

Falta o Internacional apresentar oficialmente o seu novo técnico, o que deverá ocorrer nas próximas horas. Depois de Tite, Abel Braga, Vanderlei Luxemburgo e Mano Menezes dizerem não, o clube optou por um técnico estrangeiro.

Diego Aguirre é um velho conhecido do colorado, onde jogou em 1988 e 1989. Participou do Gre-Nal do século, comandado por Abel Braga. Na Taça Libertadores de 1989 foi o artilheiro do time.

O encarregado de acertar com o técnico foi o dirigente Luiz Fernando Costa, que viajou até o Uruguai para contratar o treinador, que estava praticamente acertado com o Peñarol. O clube uruguaio ainda tentou convencer o treinador a ficar. Mas o sonho de treinar um clube brasileiro falou mais alto.

Aguirre será o quinto técnico uruguaio a trabalhar no Internacional. O primeiro foi Ricardo Díez. Seu nome verdadeiro era Emetério Seledônio Díez, mas preferiu adotar o Ricardo por ser mais fácil de pronunciar. Ele começou a ganhar destaque no Brasil em 1937, quando levou o Grêmio Santanense ao título gaúcho.

Em dezembro de 1941 Ricardo Díez estava treinando o Sport Recife, que começou uma excursão pelo Sudeste e Sul do Brasil. O Sport seria a grande sensação naquele início de 1942. Foram 17 jogos, 11 vitórias, 2 empates e 4 derrotas, enfrentando várias equipes poderosas.

Na partida com o Internacional, em 4 de fevereiro de 1942, o prefeito da cidade, Loureiro da Silva, deu o pontapé inicial, tal a importância que a partida adquiriu. O Sport abriu logo 2 X 0, com gols de Ademir e Djalma, mas Carlitos diminuiu ainda na primeira.

O segundo tempo foi amplamente dominado pelo Internacional, e Osvaldo Brandão, que fazia sua despedida (fora contratado pelo Palmeiras) empatou o jogo.

O time pernambucano era uma máquina, mas seu sucesso despertou a cobiça dos grandes clubes, e seu plantel foi desmanchado. O Vasco contratou o zagueiro Zago e os atacantes Djalma e Ademir Menezes.

O resto do ataque dividiu-se pelos clubes cariocas: Flamengo (Pirombá), América RJ (Magri) e Fluminense (Pinhegas). O Internacional tirou dos pernambucanos o goleiro Ciscador e o técnico Ricardo Díez.

No Colorado, Díez começou a freqüentar a várzea porto-alegrense, em busca de revelações. E encontrou Nena, que jogava pelo Paraná, do bairro Petrópolis, e que se tornaria um dos maiores zagueiros da história colorada.

Apesar da sua curta passagem pelo Internacional, Díez sempre foi considerado, pela imprensa, torcida e jogadores, como o melhor técnico que o "Rolo Compressor" já teve, e também o primeiro “técnico de verdade” a treinar o Colorado.

O Internacional ainda teve outros dois técnicos uruguaios,Félix Magno e Pedro Rocha. E ainda técnicos estrangeiros, como o peruano Dario Letona, ainda nos anos 1940, e o chileno Elias Figueroa. Nenhum deles levantou um título oficial pelo clube.

Títulos conquistados como jogador. Pelo Penãrol: Campeão Uruguaio (1986); Taça Libertadores da América (1987). Como técnico: Penãrol: Campeão Uruguaio (2003, 2009 e 2010); Vice-Campeão da Taça Libertadores da América (2011) e mais quatro taças pelo Al Rayyan.

Clubes onde jogou: Iniciou a carreira no Liverpool, Uruguai (1985); Penãrol, Uruguai (1986 e 1987); Olympiakos, da Grécia (1988 e 1989); Internacional, de Porto Alegre (1989 e 1990); São Paulo (1990); Portuguesa de Desportos (1991); Penãrol (1992); Independiente, da Argentina (1992); Marbella, da Espanha (1993 e 1994); Danubio, do Uruguai (1994); Ourense, da Espanha (1995); Deportivo FAS, da Argentina (1996); Temuco, do Chile (1997); River Plate, da Argentina (1997 e 1998) e Rentistas, da Argentina (1999).

Times que treinou:  Alianza San Agustin, do Uruguai (2001 e 2002); Plaza Colônia, do Uruguai (2002); Aucas, do Equador (2002 e 2003); Penãrol (2003 e 2004); Wanderers, do Uruguai (2006 e 2007); Alianza Lima, do Peru (2007); Seleção Uruguaia Sub-20 (2009); Penãrol (2010 e 2011); Al Rayyan, do Qatar, onde foi técnico do atacante colorado Nilmar (2011 a 2013); Al-Gharafa, do Qatar (2014). (Pesquisa: Nilo Dias)


domingo, 14 de dezembro de 2014

O futebol nas Ilhas Maurício

O futebol é o esporte mais popular das Ilhas Maurício, tendo chegado ao país no começo do século 20 por meio de colonos britânicos. E não levou muito tempo para surgirem os primeiros clubes, muitos, como na Inglaterra, começaram nas universidades, como o “Royal College”, de Curepipe e o “Saint-Jospeh College”. Outros vieram das várias comunidades que formavam a sociedade mauriciana naquela época.

Os nomes dos clubes às vezes referiam-se às suas origens étnicas, como o “Dragons Chinois”, ou a símbolos nacionais, como o “Dodo Football Club”. Referência um pássaro já extinto, que só existia nas Ilhas Maurício.

Em 1935 foi disputado pela primeira vez um campeonato nacional. Já outra grande competição do país, a “Copa da República”, começou a ser disputada a partir de 1957. O primeiro jogo da Seleção Nacional foi em 1947 contra uma equipe da ilha de Reunião, vencendo por 2 X 1.

A seleção mauriciana nunca obteve resultados expressivos no futebol. Sua maior vitória foi contra a mesma Seleção das Ilhas Reunião, por 15 X 2, em 1950. As duas partidas foram realizadas em Madagáscar.

As maiores derrotas da Seleção foram contra Egito, Seychelles e Senegal, com o mesmo placar nas três partidas: 7 X 0 (em 2003, 2008 e 2010); ganhou por 10 vezes o título do “Triangular dos Jogos do Oceano Índico”, competição que deu origem aos “Jogos das Ilhas do Oceano Índico”, entre 1947 e 1963.

As Ilhas Maurício jamais chegou perto da classificação para uma Copa do Mundo. Entre 1930 e 1950, não conseguiu entrar nas Eliminatórias; em 1974 estreou nas Eliminatórias, mas não chegou perto da vaga; em 1978 e 1982, também não conseguiu entrar; em 1986, esteve longe da classificação; em 1990, foi desclassificado por estar em litígio com a FIFA. Em 2014, desistiram de jogar as Eliminatórias por questões financeiras.

Sentindo a necessidade de organizar o futebol no país, foi fundada em 1952 a Federação Mauriciana de Futebol, sob a denominação de “Curepipe Sports Committee” (Esportes do Comitê Curepipe), tornando-se depois o “Maurítius Sports Association (MSA)” em 1952, e depois “Mauritius Football Association (MFA)”, em 1984. Em 1962 se filiou à Confederação Africana de Futebol (CAF), e em 1964 à FIFA. Os membros fundadores do “Comité Curepipe Esportes” foram: “Dodo Club”, “Falcon Club” (Faucon), “C.S.C, Hounds”, “Royal College of Curepipe” e “Saint Joseph College”.

Naquela época existiam outros clubes, que tinham sede em Port Louis: “Fire Brigade”, “Muslim Scouts”, “Pere Laval”, “Stade Olympique”, “Wings”, “MF & HC” e “Police”, que acabaram por ser incluídos como membros associados. Meses depois, o “Cadets Club” aderiu a associação.

O primeiro clube inglês a se apresentar nas Ilhas Mauricio, foi o Burnley, em 1954, para um jogo amistoso realizado no “Barry Stade”, em Curepipe, que pertencia ao município e deu lugar ao novo “Estádio George V”, que saiu do papel graças a um acordo firmado com a empresa privada “Compagnie Jacques Noel”.

O novo estádio, além de sediar partidas do campeonato nacional, é onde a Seleção realiza seus jogos. Embora todos os esforços para que o futebol se desenvolvesse, o tamanho diminuto do país não ajudou para que atingisse um papel mais importante dentro do cenário do futebol africano.

Em 1961, com a popularização do futebol no país, a capacidade do estádio foi aumentada com a construção de mais uma arquibancada. A inauguração foi contra a equipe indiana "Mohun Bagan". Esta nova arquibancada acabou por ser apelidada de "Mohun Bagan" pelos torcedores.

Em1965 a MSA adquiriu os direitos do estádio da “Compagnie Jacques Noel”. Em 1966 o país participou pela primeira vez do “Campeonato Africano das Nações”. Em 1974 a seleção nacional se classificou, pela primeira vez para uma fase final da “Copa das Nações Africanas”, que foi realizada no Egito.

Em 1985 as Ilhas Mauricio ganharam a medalha de ouro dos “Jogos das Ilhas do Oceano Índico”. O Governo teve um papel fundamental nesta conquista, uma vez que forneceu importantes meios financeiros para a preparação dos atletas de todas as disciplinas e melhoria das instalações existentes, bem como criou novas infraestruturas de todas as principais disciplinas desportivas, incluindo o futebol.

O Governo também pagou passagens aéreas, alojamento e alimentação, para as equipes que participaram de competições oficiais internacionais. Desde então, a equipe campeã do país participa regularmente do Campeonato Africano de Clubes. Em 1988 o “Cadet” tornou-se a primeira equipe do país a participar do "Campeonato Africano de Clubes Campeões". E em 1994, da “Copa Africana dos Clubes Vencedores de Copas Nacionais”.

Em 1994 o aluguel do “Estádio Rei George V” chegou ao término e o governo decidiu readquirir a titularidade. Dois anos depois, um duro golpe para o futebol local, com a descoberta de defeitos nas estruturas do estádio. Em 1997, o estádio foi reaberto em jogo amistoso com a participação do Paris St. Germain.

Em 1999, após incidentes acontecidos durante um jogo entre ”Fire Brigade” e “Scouts Club”, o futebol foi proibido de ser praticado no país. Tal decisão acabou por prejudicar até a Seleção Nacional, que teve de fazer jogos na Ilha da Reunião contra o Gabão pelo Campeonato Africano das Nações. E também nas eliminatórias da Copa do Mundo de 2004, mandando seus jogos sempre fora de casa.

Em setembro de 2000, a suspensão à prática do futebol foi retirada e os clubes receberam uma ajuda financeira do Governo. Em 2003, a Ilhas Maurício conquistaram a sua segunda medalha de ouro nos Jogos do Oceano Índico.

Em 2005 a MFA vendeu suas instalações em Port Louis e estabeleceu a sua sede em Trianon. O novo prédio do “Projeto Goal” foi financiado pela FIFA. Em 2001, a Lei do Esporte revigorou o futebol nas Ilhas Maurício.

O Campeonato Mauriciano passou a ter três divisões, organizadas de acordo com a localização geográfica, e não mais em relação às suas origens étnicas. E também passou a dar maior atenção para a formação de novos jogadores.

Em 2003, as Ilhas Maurício sediaram os "Jogos das Ilhas do Oceano Índico", no Estádio George V, que foi remodelado para receber o evento. A seleção mauriciana aproveitou o fato de jogar em casa para conquistar o título do torneio mais uma vez.

Em maio de 2013, prosseguindo com a ambição de dar mais força à presença do país no cenário do futebol internacional, a Federação Mauriciana de Futebol sediou o 63º Congresso da FIFA. (Pesquisa: Nilo Dias)

Garotos jogam futebol nas Ilhas Mauricio. (Foto: UOL Esporte)

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

“Popó” o primeiro ídolo do futebol baiano


O primeiro ídolo do futebol baiano foi o negro Apolinário Santana, mais conhecido por “Popó”, que brilhou nos gramados da “boa terra” nos anos 20 e 30. Seu nome é lembrado até hoje, pois foi um dos raros jogadores de futebol que se tornou nome de ruas em cidades baianas.

Uma delas fica no bairro do Engenho Velho da Federação, um dos maiores agrupamentos de afrodescendentes de Salvador e liga a Cardeal da Silva ao fim de linha do antigo bairro. Tem status de avenida entre os moradores, e é a principal e mais movimentada da localidade.

Ali, provavelmente numa das travessas que também levam o seu nome, “Popó” teria morado durante muito tempo. Talvez por isso tem o nome reconhecido por qualquer residente da área. Ninguém o confunde com o pugilista homônimo. "Um grande jogador do passado", afirmam os mais jovens. Somente perguntando a um e a outro, é possível encontrar pessoas que tiveram ligação com Apolinário

Foi bicampeão estadual jogando pelo Ypiranga, numa época em que o popular clube da capital acolhia artesãos, soldados, comerciários e estivadores negros, escandalizando a alta sociedade local do Corredor da Vitória, reduto dos primórdios do futebol baiano.

Em vista da crise que se instalou, o Sport Club Victoria, que representava a alta burguesia, retirou-se da Liga, que era conhecida por “Liga dos Brancos”, já que os atletas pioneiros do futebol baiano, eram jovens de cor branca, que resolveram fundar times essencialmente baianos, para se oporem às equipes de ingleses, fechadas em suas chácaras ou “cantonments”. O clube ficou pito anos afastado, pois não aceitava a “mistura étnica”.

O fato do Ypiranga aceitar negros e pobres em sua equipe, fez com que fosse chamado de “Clube do Povo”, e por essa razão escolhido por Popó, que em pouco tempo se tornou o maior ídolo da torcida, a maior que comparecia ao “Campo da Graça”, estádio onde os jogos eram realizados. O Ypiranga só deixou de ser o time de maior torcida, depois da fundação do Esporte Clube Bahia, em 1931.

Não demorou para que a fama de “Popó Baiano”, como era conhecido, ultrapassasse as fronteiras da Bahia, em razão de sua capacidade de realizar difíceis manobras com a bola nos pés, além de jogar em diversas posições com o mesmo desempenho e qualidade.

“Popó” foi tema de um livro de autoria do jornalista Aloildo Pires, que entre os anos de 1997 e 2002 manteve no Jornal “À Tarde”, a coluna “Memória do futebol”. Ao perceber a importância do jogador, chegou a evitar tratar de Apolinário nas matérias, para garantir material para o seu livro.

Só depois viu que se tratava de inesgotável fonte de histórias e curiosidades. Uma delas aconteceu com o próprio autor. "Em meados dos anos 70, quase duas décadas depois da morte do jogador, lembrou que sua sogra, ao jogar futebol com a sua filha, de apenas 2 anos, gritava: “Chuta, “Popó!” Chuta!".

Em 23 de julho de 2006, o jornal “Correio da Bahia”, em seu “Caderno Repórter”, publicou uma reportagem intitulada “Apolinário está vivo”, em que conta a vida do grande craque.

Também foi tema de versos do livro de Cordel “Historietas do futebol baiano”, de autoria de Edson Bulos, lançado em 1997. Talvez “Popó” seja um dos poucos jogadores de futebol do inicio do século passado, a ser lembrado ainda de forma marcante.

Outro jogador lembrado é o célebre atacante “Dois Lados”, mais por ter sido companheiro de “Popó” na Seleção Baiana. Da mesma forma, “Mica” e “Nebulosa”, que completavam a linha média da seleção de 1922. Mas somente o mito de Apolinário está presente em histórias lendárias e escritos heroicos do imaginário popular.

O campeonato baiano de 1920, o primeiro organizado pela Liga Bahiana de Desportes Terrestres (LBDT), disputado no “Campo da Graça” ou “Stadium da Bahia”, que fora inaugurado naquele ano, teve o Ypiranga como campeão. Um jogador se destacou na conquista, João Manuel da Silva, o “Dois Lados”, como era conhecido por ser magro e quase esquelético.

Fora dos gramados era soldado do Esquadrão de Cavalaria da Policia Militar da Bahia. Tratava-se de um jogador de rara técnica e de dribles e jogadas eletrizantes. Era o ídolo maior do futebol da Bahia naquela época. Seu grande momento aconteceu no dia 19/12/1920, quando o Ypiranga entrou em campo para buscar o titulo daquela temporada.

A Associação Atlética precisava vencer a partida. Mesmo jogando pelo empate o Ypiranga tomou a iniciativa do ataque e com seu quinteto ofensivo comandado pelo celebre Soldado da Cavalaria, que fez toda a jogada do gol de seu time, ao driblar dois adversários e tocar a bola com maestria para o fundo da meta do goleiro Aragão.

Nas comemorações na sede do clube regada a muita gasosa de limão e quitutes variados, “Dois Lados” teve o pé que marcou o gol do título banhado com champagne francês para delírio dos presentes no Clube Comercial da Bahia, no Centro da Cidade.

“Dois Lados” jogou até 1925 pelo Ypiranga e depois caiu no esquecimento de todos. Em 1931 saiu uma noticia publicada no Jornal “A Tarde”, informando que ele estava desempregado, cego e mendigando pela ruas da cidade.

A partir dai houve uma grande campanha de solidariedade, que se encerrou em 1932 com um belo saldo, que permitiu ao ex-jogador comprar uma casa na “Curva Grande do Garcia”, no centro da cidade, mobiliada com uma mesa de jantar com seis cadeiras e um guarda comidas.

O craque do passado, com esta ajuda pode trazer alguns parentes do interior da cidade de Castro Alves. No dia 1 de junho de 1954 “Dois Lados” faleceu, mais deixou registrado seu nome como um dos destaques do inicio do futebol na Bahia.

Nos primeiros tempos do futebol baiano, quando ainda não havia o Ba-Vi, os clássicos eram disputados entre o Botafogo de Salvador, Ypiranga e depois o Galícia. Quando do surgimento do Bahia, no final da década de 30 e inicio da de 40 o jogo entre Bahia e Galícia era comparado ao Fla-Flu no Rio de Janeiro.

Até meados da década de 10 não tinha nenhuma grande rivalidade futebolística no Estado. Esta passou a se acirrar a partir do ano de 1917 quando Ypiranga e Botafogo dominavam o futebol baiano, com suas conquistas alternadas.

De 1917 a 1930 apenas duas agremiações, fora Botafogo e Ypiranga, venceram o campeonato baiano: a Associação Atlética da Bahia e o Clube Bahiano de Tênis. Os outros títulos ou eram do Botafogo ou do Ypiranga.

A rivalidade que começou no Ground do Rio Vermelho logo se transferiu para o então inaugurado Campo da Graça que tinha uma capacidade para 7.000 pessoas e 100 vagas para automóveis, como nos drive-in.

Com uma linha média formada por Mica, Nebulosa e Hercílio e uma linha de ataque formada por Lago, Popó, Dois Lados, Matices e Cabloco, o Ypiranga assombrava com goleadas de quatro, cinco, seis e até mesmo de dez gols. Em 1930 o Ypiranga aplicou uma sonora goleada no Democrata F.C. por 16 X 0, com Pelágio marcando 6 vezes e Popó 4 vezes.

Já o Botafogo também tinha uma linha media espetacular, formada por Serafim, Tenente e Chico Bezerra, e um ataque vigoroso formado por Tatuí, Macedo, Manteiga, Seixas e Pelego.

O principal jogador botafoguense era Manteiga, que foi o principal nome na vitória do Botafogo sobre o Fluminense carioca, em 12 de abril de 1923, quando marcou os dois gols de sua equipe.

É de se estranhar, porém, que o nome de “Popó” tenha praticamente sido apagado da memória do Ypiranga. Nos livros do clube e em suas atas, não existe o menor registro sobre a brilhante passagem de Apolinário Santana pelo clube da Vila Canária. O Ipiranga busca se reerguer e voltar ao seu passado de glórias.

Pena que sua história tenha se perdido em desastrosas administrações anteriores, levando junto às façanhas do grande jogador, o “Craque do Povo”. É incrível que nenhum jogador, nem mesmo o próprio presidente do clube conheça os feitos extraordinários do seu maior craque.

O pouco que resta está nas coleções dos antigos jornais baianos, como “A Tarde”, que em sua edição de 26 de setembro de 1994, em matéria intitulada “Lembranças de Popó”, transcreve cantiga de quadrilha junina, entoada na Salvador do início do século. O termo "melar" significa "drible", na linguagem da quadrinha: "Chuta, chuta, Popó chuta/Chuta por favor/Mela, mela, mela, mela/Mela e lá vai gol".

Se o próprio Ypiranga desconhece a história de seu maior jogador, os torcedores mais antigos do Fluminense, do Rio de Janeiro, sabem muito bem de quem se trata. Em exibição histórica no dia 15 de abril de 1923, no Campo da Graça, “Popó” marcou todos os gols da vitória por 5 X 4 sobre o "Pó-de-Arroz".

Em telegrama enviado por dirigente tricolor ao Rio de Janeiro, via-se escrito de forma lacônica: "Popó 5 X 4 Fluminense", manchete de jornal carioca no dia seguinte. Por muitos anos o nome de “Popó” foi lembrado no estádio das Laranjeiras, no Rio.

Qualquer jogador visitante que se destacasse contra o Fluminense, era chamado de ”Popó", lembra o historiador esportivo Normando Reis. Aquele jogo histórico e todos os outros que o Fluminense realizou na visita a Salvador, foram filmados por produtora cinematográfica e exibidos no Cine Teatro Politeama, na época.

Passados décadas da sua morte, antigos admiradores do ex-jogador, fundaram em sua homenagem, na Ladeira da Fonte das Pedras, perto do “Estádio Fonte Nova”, o clube de várzea “Popó Baiano”, que por muitos anos disputou competições amadoras em Salvador.

Mesmo com toda a reverência popular ao seu nome, apenas em 2002 se deu a ele um raro reconhecimento oficial. O troféu de “Campeão Baiano” daquele ano, entregue ao Vitória, levou o nome de “Apolinário Santana”. (Pesquisa: Nilo Dias)


quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Time de nome estranho

O Mavílis Football Club, fundado a 23 de setembero de 1915, foi uma das muitas agremiações esportivas que existiram no Rio de Janeiro e encerraram as atividades.

Tinha suas origens no bairro do Caju e participou dos campeonatos cariocas de 1933 e 1934. Durou até a década de 1970, quando enrolou a bandeira. Antes disso, ainda disputou o Departamento Autônomo.

O Rubro-Anil do Caju mandava os seus jogos no Estádio Praia do Retiro Saudoso, na Rua Carlos Seidl, no Bairro do Caju. O melhor momento da história do Mavílis aconteceu em 1934, quando terminou como vice-campeão do Campeonato Carioca da Associação Metropolitana de Esportes Atléticos (AMEA).

O Mavílis, inclusive, venceu o Botafogo, que foi o campeão, por 2 X 0, gols de Honório e Chavão, ambos no segundo tempo, em casa, em 22 de julho de 1934. No final foram nove pontos em oito jogos; com quatro vitórias, um empate e três derrotas; marcando 24 gols e sofrendo 21.

O uniforme do Mavilis era composto de camisa vermelha, com gola azul, calção branco e meias azuis. O segundo uniforme tinha a camisa branca com duas faixas em horizontal, uma azul e outra vermelha.

As pessoas devem se perguntar, o porque de um nome tão estranho? Mavilis são as iniciais de Manuel Vicente Lisboa, um dos diretores da Companhia América Fabril e grande incentivador da prática de esportes entre os funcionários da fábrica, que resolveram homenageá-lo.

Títulos conquistados: Vice-campeão do Torneio Início da Campeonato Carioca (1934) e Campeão Carioca de 2°s quadros da Segunda Divisão (1931)

O Mavilis nasceu na Fábrica de Tecidos Pau Grande, fundada em 1878 na cidade de Pau Grande (RJ). Em 1885, passou a chamar-se Companhia de Fiação e Tecidos Pau Grande (CFTPG). Um de seus diretores era o gaúcho Manuel Vicente Lisboa, comerciante e atacadista de tecidos, considerado pelos demais sócios o responsável pela reorganização da empresa. De 1889 a 1896, foi o presidente.

Em 1891 a CFTPG adquiriu da Companhia Manufatureira Cruzeiro do Sul a Fábrica Cruzeiro, que estava em construção na área de uma chácara existente na Rua Barão de Mesquita, nº 82. Em 1892, a CFTPG passou a chamar-se Companhia América Fabril.

Em 1903, a empresa cresceu ainda mais, ao comprar a Fábrica Bonfim, que havia pertencido à Companhia União Industrial São Sebastião, e que se localizava na Rua General Gurjão, nº 25, no bairro do Caju – próximo à estação inicial da Estrada de Ferro Rio d’Ouro.

Em 1910, construiu uma nova unidade fabril ao lado da Fábrica Bonfim, no nº 81 da mesma rua. Em homenagem ao já citado Manuel Vicente Lisboa, essa fábrica acabou sendo batizada de “Mavilis”, sigla formada pelas primeiras sílabas de seu nome.

Para controlar o lazer de seus funcionários, a empresa criou, em 1919, a Associação dos Operários da América Fabril. Mas além dela, as unidades fabris também tinham seus times próprios. Por exemplo, a Fábrica Pau Grande sustentava o S.C. Pau Grande, em que, a partir de 1947, jogou um garoto de 14 anos chamado Manuel dos Santos, mais conhecido por “Garrincha”.

A Fábrica Cruzeiro apoiava o Andaraí A.C., que jogava num terreno vizinho, situado na rua Barão de São Francisco, nº 236, que depois pertenceu ao America F.C., que nada tinha a ver com o América Fabril.

Já a Fábrica Mavilis mantinha o Mavilis F.C., que tinha tanto sua sede quanto seu campo nos terrenos da empresa, na Rua Carlos Seidl, Praia do Retiro Saudoso, no bairro do Caju. Seu grande feito foi um vice-campeonato estadual, pela Amea, em 1934. (Pesquisa: Nilo Dias)

(Foto: cyclopaedia.net/)