Boa parte de um vasto material recolhido em muitos anos de pesquisas está disponível nesta página para todos os que se interessam em conhecer o futebol e outros esportes a fundo.

sábado, 29 de junho de 2013

Os 100 anos do Juventude

O Esporte Clube Juventude, de Caxias do Sul, é o oitavo clube do futebol brasileiro a entrar na crescente lista de centenários este ano. O tradicional clube da “terra da uva e do vinho” foi fundado no distante dia 29 de junho de 1913, por um grupo de 35 desportistas.

É a agremiação futebolística mais antiga da cidade e também uma das mais velhas do Estado, sendo ainda o primeiro clube brasileiro criado com nítidas raízes italianas, mas também recebendo desde o inicio outros elementos, o que o tornou sempre uma entidade multirracial.

O segundo clube a ser fundado em Caxias do Sul foi o Juvenil, que por mais de 10 anos foi o principal adversário do Juventude. Em 1929 ambos foram protagonistas de uma decisão histórica e empolgante, quando do primeiro campeonato oficial de Caxias do Sul, promovido pela Federação Gaúcha. Foi preciso um jogo extra fora da cidade, em Porto Alegre, para definir o campeão, pois o clima em Caxias do Sul estava “quente” demais.

Depois surgiram outras agremiações, já pelo final da década de 1920, como o Rio Branco, o Maguary, o Fluminense, o 9º Batalhão de Caçadores, pertencente ao Exército e, em 1935 o Grêmio Esportivo Flamengo, que anos mais tarde se transformaria na atual Sociedade Esportiva e Recreativa Caxias, que mantém a data de aniversário, tradições e laços com antigos aficionados.

Ainda em 1935 surgiu o Grêmio Esportivo Eberle, pertencente a então poderosa Metalúrgica Abramo Eberle, considerada a maior da América do Sul. O clube participou de campeonato municipais de Caxias do Sul por muitos anos, tendo sido campeão em quatro oportunidades.

O Grêmio Esportivo Gianella, ligado a empresa de laticínios de igual nome, disputou competições profissionais por três anos, coincidindo com a época em que os certames citadinos foram substituídos pelos regionais. Isso aconteceu em 1954, quando Juventude e Flamengo ingressaram na chamada “Divisão de Honra”, principal campeonato do Estado, que em 1961 mudou a denominação para “Divisão Principal”, o que perdura até hoje.

Em 1971, aconteceu uma fusão entre Juventude e Flamengo, sendo criada a Associação Caxias, que durou apenas dois anos, acabando em 1973, quando o Juventude retornou às atividades normais. A Associação Caxias, em 1975, mudou o nome para Sociedade Esportiva e Recreativa Caxias, preservando o mesmo estádio e as mesmas cores.

Foi em 23 de março de 1975, durante as comemorações do centenário da Colonização Italiana no Rio Grande do Sul, que o Juventude inaugurou o Estádio Alfredo Jaconi, um dos mais modernos do Estado, garantindo um impressionante impulso ao futebol da cidade.

O Alfredo Jaconi, que tem capacidade para 23.726 expectadores, é considerado um dos estádios mais funcionais do país e foi reconhecido em 2008 pelo Sindicato da Arquitetura e da Engenharia-Sinanenco, como um dos melhores estádios do interior do Brasil.

A construção aconteceu entre 1972 e 1975, sob o comando do então presidente do clube, Willy Sanvitto. O nome do estádio é uma homenagem a um dos maiores ídolos da história do clube, Alfredo Jaconi, que foi jogador, treinador e dirigente nas décadas de 1930 e 1940.

Em 2008 o estádio passou por reformas, quando foram investidos mais de R$ 500 mil. A grama foi trocada, ganhando moderno sistema de drenagem e irrigação subterrânea. O clube ainda pretende investir mais recursos para a modernização do estádio, dotando-o de todas as condições exigidas pela FIFA.

Em 1976 foi a vez da S.E.R. Caxias investir em uma nova casa, surgindo o “Estádio Centenário”, em substituição a velha “Baixada Rubra”.

O fato do E.C. Juventude ser o clube interiorano que mais vezes chegou ao vice-campeonato gaúcho, ficando atrás apenas da dupla Grenal, mostra toda a sua força. Em 1988, foi campeão gaúcho, quebrando um tabu que já durava 49 anos, de só clubes da capital conquistarem títulos. O último clube do interior a ser campeão tinha sido o F.B.C. Rio-Grandense, de Rio Grande, em 1939. Dois anos depois do Juventude, a S.E.R. Caxias também sagrou-se campeão.

Em 1994, o Juventude chegou ao primeiro escalão do futebol brasileiro, ao se sagrar campeão da Série B. Já havia a parceria com a Parmalat e o técnico era Heron Ferreira, que em 1999 teve uma nova passagem pelo clube, porém sem repetir o sucesso de antes.

A parceria com a Parmalat possibilitou ao Juventude formar um time forte e competitivo, para subir rapidamente a elite do futebol brasileiro. Para tal vieram do Palmeiras jogadores como Odair, Paulo Sérgio, Dorival Júnior, Galeano, Julinho, Mauricinho, entre outros. E o técnico pediu a vinda de Paulo Roberto e Mário Maguila.

Foi uma época mágica. Os investimentos deram resultado rapidamente. Foi possível enfrentar equipes de outros países, chegar à Primeira Divisão brasileira e ser quase campeão contra o histórico Grêmio de Luiz Felipe Scolari.

Num torneio promovido pela Parmalat, o Juventude aplicou 4 X 0 no Benfica, de Portugal, em jogo realizado em São Paulo. Depois, num amistoso comemorativo, na estreia de Edmundo no Alfredo Jaconi, uma vitória sobre o Parma, da Itália, por 3 X 1. A campanha do time em 1994 era tão boa que não havia dúvidas que o título viria.

O clube gaúcho ficou 13 anos ininterruptos na Série A, até ser rebaixado em 2007. Hoje está na Série D do certame nacional, depois de seguidas campanhas ruins.

Em 1999 ganhou o maior título de sua história, quando sagrou-se campeão da “Copa do Brasil”, derrotando adversários fortes como o Corinthians Paulista, de quem ganhou duas vezes, 1 X 0 e 2 X 0, Fluminense, do Rio de Janeiro, a quem aplicou uma goleada de 6 X 0, Internacional, batido por 4 X 0, em pleno Beira-Rio, mais o Bahia e finalmente, o Botafogo, comemorando o título, em pleno Maracanã, perante mais de 100 mil torcedores.

Vestiram a camisa alviverde caxiense dois jogadores que foram campeões mundiais, pela Seleção Brasileira: Everaldo, em 1970 e Cafu, em 1994 e 2002. Outros ex-atletas do clube também jogaram na Seleção, casos de Babá, Jurandir, Paulinho, Cuca e Enéas.

O Juventude quase sempre contratou bons treinadores, alguns de renome nacional e até internacional, como Geninho, Leão, Walmir Louruz, Luís Felipe Scolari, que também foi jogador do clube e do Caxias, Levir Culpi, Cuca, Celso Roth, Benazzi, Edson Gaúcho, Túlio Maravilha, Cafu e Tite, que também jogou e treinou o Caxias. Um dos mais destacados treinadores gaúchos de antigamente, Carlos Froner, treinou ambos os clubes em mais de uma ocasião.

No último dia 19 o governador Tarso Genro recebeu no Palácio Piratini a direção do Juventude, e fez entrega de uma placa em comemoração aos 100 anos do clube. Na ocasião o governador foi convidado a participar do jogo festivo entre Juventude X Nacional, de Montevidéu, realizado na noite de ontem, no Alfredo Jaconi, que teve a presença do ex-jogador Cafu.

Recuperado de uma forte depressão, também esteve presente o ex-jogador e técnico Valmir Louruz, que está afastado dos gramados há quatro anos. Ele vestiu a camisa alviverde por quatro temporadas na década de 70. Depois de pendurar as chuteiras, começou a carreira de treinador no próprio clube, em 1980.

Ele foi o comandante campeão da “Copa do Brasil” e também o responsável pela presença no clube do treinador Luiz Felipe Scolari, o “Felipão”, em 1980.

O último clube que Louruz treinou foi o CRB (AL), em 2009. Para o jogo comemorativo dos 100 anos, sexta-feira, o ainda ídolo na memória da “Papada” foi convidado pela direção para entrar no vestiário e dirigir uma conversa com o grupo antes de encarar o Nacional uruguaio.

No jogo do "Centenário", realizado ontem  a noite, o Juventude venceu o time sub-20 do Nacional, do Uruguai, por 2 X 0, vestindo a camisa comemorativa aos 100 anos, que foi escolhida por votação no Facebook. A opção escolhida com mais de 800 votos, foi a que relembra a primeira camisa do clube, ainda na década de 1910. A camisa é em verde-escuro e com uma elegante gola polo, com uma faixa branca horizontal um pouco abaixo do peito e nas mangas da camisa.

Antes, dia 13, a Orquestra Sinfônica da Universidade de Caxias do Sul prestou homenagem ao centenário do E.C. Juventude, quando lhe ofereceu a 4ª edição do programa “Quinta Sinfônica”. O concerto teve a regência do maestro Manfredo Schmiedt e teve como solita a mezzo-soprano Rose carvalho. Em seus 12 anos de atividades, a Orquestra tem realizado edições comemorativas aos diversos segmentos da comunidade caxiense.

Hoje, data de fundação do clube, será servido um jantar festivo no Salão da Paróquia Nossa Senhora da Saúde, em Caxias do Sul, com a presença de convidados especiais. Toda a população da cidade foi convidada e ingressos foram vendidos antecipadamente. Antes, dia 8, já havia acontecido outro jantar festivo, no “Recreio da Juventude”, seguido de baile animado pelo “Grupo Abertura”.

A Federação Gaúcha de Futebol, de 9 a 12 de janeiro deste ano, organizou o torneio amistoso “Copa Centenário”, para homenagear os quatro clubes do Rio Grande do Sul, que em 2013 completam 100 anos. São eles: F.C. Santa Cruz, de Santa Cruz do Sul, E.C. São José, de Porto Alegre, E.C. Juventude, de Caxias do Sul e E.C. Cruzeiro, de Porto Alegre

O campeão foi o São José e o Juventude, vice. A competição foi dividida em duas fases: na primeira, chamada de semifinal, os quatro times decidiram em jogos únicos de mata-mata duas vagas para a fase decisiva. A segunda, final, definiu o campeão do torneio entre as duas equipes que classificaram-se anteriormente, também em partida única.

Os jogos, todos realizados no Estádio Passo da Areia, em Porto Alegre, tiveram estes resultados: Semifinal, 9 de janeiro Juventude 2 X 0 Santa Cruz; 9 de janeiro São José 1 X 1 Cruzeiro. Penalidades: São José 4 X 3; Final: 12 de janeiro, Juventude 0 X 1 São José. (Pesquisa: Nilo Dias)

Time do Juventude, na décasda de 1930.

terça-feira, 25 de junho de 2013

O centenário do Rio Branco A.C.

O Rio Branco Atlético Clube, de Vitória (ES) completou neste dia 21 de junho, 100 anos de atividades. O clube foi fundado no dia 21 de junho de 1913. Mas a história do clube teve inicio em maio daquele ano, depois que alunos do Colégio Estadual e da Escola Normal, instituições de ensino tradicionais, criaram seus clubes de futebol, Sul América e XV de Novembro, respectivamente.

Naquela época já haviam outros dois clubes na cidade, o Rui Barbosa, que teve vida efêmera e o Victoria Foot-Ball Club, fundado por meninos brancos e ricos. Essas equipes já pensavam em promover competições entre elas.

Foi quando os meninos pobres das vilas, que também gostavam de futebol, resolveram fundar um time. A ideia partiu de José Batista Pavão e Antônio Miguez, balconistas em uma casa de ferragens. A eles se juntou o também balconista, Edmundo Martins.

Uma primeira reunião foi marcada para o segundo domingo de junho, com a presença de Nestor Ferreira Lima, que mesmo sendo estudante do Colégio Estadual, não jogava no Sul América. Os meninos presentes, todos entre 14 e 16 anos, trocaram ideias e discutiram sobre tudo, da bola inglesa aos gorros.

Uma segunda reunião aconteceu no dia 21 de Junho de 1913, já para a fundação do clube. Ela aconteceu na casa de Nestor Ferreira Filho, na rua 7 de Setembro, num cômodo cedido pelo seu pai, junto ao Escritório de Contabilidade de propriedade deste.

Os meninos compareceram vestindo suas melhores roupas. A reunião teria sido rápida, se não fosse a dificuldade em encontrar um nome para a nova agremiação, que agradasse a todos. Entre as sugestões apresentadas estavam nomes de personalidades da história do Brasil e datas comemorativas, como também de heróis portugueses, como Saldanha da Gama e Álvares Cabral. Mas estes nem foram levados em consideração, por já existirem na cidade entidades com essas denominações.

Quando as alternativas estavam se esgotando, sem que nenhum nome fosse aprovado, um dos jovens, cujo nome não é citado no histórico do clube, sugeriu que se homenageasse os próprios jovens que idealizaram a entidade, “todos jovens e vigorosos”. Assim surgiu o "Juventude e Vigor", com as cores verde e amarela. Nestor Ferreira Lima Filho foi escolhido o primeiro presidente do clube.

Os fundadores do clube foram Antonio Miguez, José Batista Pavão, Edmundo Martins, Nestor Ferreira Lima Filho, Gervásio Pimentel, José Fiel, Cláudio Daumas, Otávio Alves de Araújo, Hermenegildo Conde, Adriano Macedo, Antônio Gonçalves de Souza e Cleto Santos.

Somente em 10 de fevereiro de 1914 passou a chamar-se Rio Branco A.C., em homenagem ao então chanceler José Maria da Silva Paranhos Junior, o Barão de Rio Branco. A mudança ocorreu porque alguns outros convidados, entre os quais ex-jogadores do Rui Barbosa, que chegaram depois, não se sentiram bem com o nome.

A mudança das cores de clube para preto e branco, aconteceu em 20 de maio de 1917, porque o verde e amarelo desbotavam muito. O problema com cores não foi exclusividade do Rio Branco. No Rio de Janeiro o Flamengo, que outrora tinha as cores azul e amarela, mudou para vermelho e preto. Em outros clubes do país também ocorreu o mesmo.

A sugestão de preto e branco foi dada por Gilberto Paixão, que aderira ao clube em companhia da maioria dos ex-jogadores do Sul América. Ele era muito querido e respeitado pelos companheiros, pois se tratava de um moço bastante educado e considerado o melhor jogador do time e da cidade de Vitória.

O clube adotava, assim, as cores que foram do extinto Sul América e também do Botafogo, do Rio de Janeiro, clube pelo qual outros meninos torciam. O clube carioca, por sua vez, adotara o preto e branco, em sua fundação, numa imitação ao Juventus da Itália.

As primeiras partidas do Rio Branco foram disputadas em campos existentes em áreas descobertas, usando bolas de meia ou enchendo bexigas de boi. Em Jucutuquara, havia uma salina abandonada, que transformara-se em um terreno reto, sem grama mas muito bom para a prática do futebol. Foi ali que os meninos do “Juventude e Vigor” tiveram os primeiros contatos com a bola.

Depois eles foram parar no Bairro de Lourdes, em área utilizada pelo “Tiro de Guerra", do Exército Brasileiro. Ficaram pouco tempo por lá, pois o time do Victória conseguiu a área para si, com o beneplácito do Barão de Monjardim.

Nova mudança, dessa vez para o campo do Bom retiro em Vila Velha, área que pertencia a família Araújo, localizada próximo a Maternidade. Em 1916 o retorno ao Jucutuquara. Foi preciso aterrar o local, o que não foi tarefa difícil tendo em vista a localização do terreno ao pé do morro. Tocos foram arrancados e a “salina” fiou maior e melhor.

O trabalho foi complementado com o campo de jogo separado dos torcedores por uma cerca de arame liso. Mas os fundadores da entidade ainda não se mostravam satisfeitos. Queriam mais, pois não desejavam ficar abaixo do Victória que já tinha um campo, cercado com folhas de zinco e local para torcedores com degraus de madeira cobertos, batizados de “arquibancadas”.

Em sua edição de 28 de setembro de 1915, o jornal "Diário da Manhã", anunciava que o então presidente, Otávio Araújo já recebera a planta do futuro “campo de sports”, que depois de pronto seria um dos melhores do Brasil. Idêntica matéria também foi publicada no jornal "O Curioso", datado de 12 de Setembro daquele ano.

Depois de muito trabalho, o Rio Branco conseguiu inaugurar em 1919 o "Estádio de Zinco", chamado pela imprensa local de "O Majestoso Ground de Jucutuquara". O jogo inaugural foi frente o Fluminense F.C., de Niterói, na época um time forte. E ainda veio reforçado por alguns jogadores do Fluminense e de outros times cariocas. Ainda assim o jogo terminou empatado em 2 X 2.

O “Estádio de Zinco” foi um marco no futebol capixaba. Todos os times do Rio de Janeiro queriam jogar lá. Foi o caso do Flamengo, já um time grande e popular, que jogou e perdeu para o Rio Branco por 2 X 1.

Mas nem tudo era tranquilidade. O fato de ocupar a área do estádio desde 1916, não garantia ao clube a sua posse. Quem administrava aquele local era a Liga de Esportes. Só depois de uma dura batalha judicial contra o Victória, que também reivindicava o local para si, o Rio Branco teve a posse definitiva do estádio.

O então presidente do clube, Carlos Marciano de Medeiros, o “capitão Carlito Medeiros”, conseguiu junto ao interventor federal do Estado, capitão João Punaro Bley, a doação da área, através o Decreto 4.969, publicado no Diário Oficial em 24 de Junho de 1934.

A partir daí o Rio Branco cresceu, tornando-se um verdadeiro patrimônio do Espírito Santo. O “Estádio de Zinco” se tornara pequeno e obsoleto, para abrigar o grande número de torcedores que o clube já possuía. Em 1934 começaram as obras do “Estádio Governador Bley”, em Jucutuquara. Seria o terceiro maior estádio do país, ficando atrás apenas do São Januário e das Laranjeiras, pertencentes ao Vasco da Gama e Fluminense, respectivamente.

A inauguração do novo estádio aconteceu no dia 30 de maio de 1936. No dia seguinte o primeiro jogo, um amistoso entre Rio Branco X Fluminense, do Rio de Janeiro, vencido pelo time carioca por 2 X 0.

O “Governador Bley” foi palco de grandes conquistas do Rio Branco, entre elas o hexacampeonato capixaba, de 1934 a 1939, além da boa campanha na Copa dos Campeões Estaduais de 1937, a primeira competição nacional de futebol realizada no Brasil, quando ficou em terceiro lugar.

Destaque naquele ano para a vitória em cima do Fluminense, do Rio de Janeiro, por 4 X 3. Em razão de más administrações, o estádio foi perdido para o pagamento de dívidas e hoje pertence ao Instituto Federal do Espírito Santo (IFES).

Alguns anos depois, o Rio Branco procurou um novo local para erguer outro estádio. Encontrou o que procurava no município de Cariacica, na "Grande Vitória", onde construiu o “Estádio Kleber Andrade”. O nome foi uma homenagem a um ex-presidente do clube. O projeto inicial previa um estádio para 80 mil pessoas, que seria o maior e mais moderno do Estado.

Apesar da grandeza planejada, as obras nunca foram concluídas. Assim mesmo o estádio foi inaugurado em 1983, num jogo amistoso em que o Rio Branco derrotou o Guarapari por 3 X 2, com três gols de Arildo Ratão. O “Kleber Andrade” foi a casa do clube alvi-negro por muitos anos e também o principal estádio do Espírito Santo.

Em 2008, o Rio Branco vendeu o estádio para o Governo do Estado do Espírito Santo. O clube precisava de dinheiro para pagar algumas dívidas e começar a construção do seu Centro de Treinamento. Foi nesse ano que o Rio Branco voltou a ter sua sede administrativa em Vitória, localizada na Avenida Nossa Senhora da Penha, no bairro Santa Lúcia.

O Rio Branco ainda é dono de uma área com cerca de 60 mil m², que fica em Portal de Jacaraípe, na Região Metropolitana de Vitória. É nesse local que o clube pretende construir o “CT Capa Preta”. O Rio Branco também tem cerca de R$ 4 milhões depositados em juízo. Mas para por a mão nesse dinheiro, primeiro terá de eliminar oito pendências judiciais. Só assim terá condições de erguer o sonhado CT.

O Rio Branco é o clube com maior torcida no Estado e também o ganhador de mais títulos estaduais, 36 ao todo. Seus torcedores o chamam de “Capa Preta” e “Brancão”. Já disputou as séries A, B, C e D do Campeonato Brasileiro. É o 3º time de futebol profissional fundado no Estado.

Neste ano, em que completa o seu centenário, o Rio Branco foi eliminado do Campeonato Capixaba com uma rodada de antecedência, depois de uma péssima campanha. Durante o primeiro semestre o clube mandou embora três técnicos e conviveu com vários empates e derrotas inesperadas.

A década de 1990 o clube quer esquecer, pois algumas gestões fracassaram em tudo o que fizeram. Foi quando as dívidas aumentaram consideravelmente e o Rio Branco amargou 24 anos sem ganhar nada. A situação era desesperadora e o fechamento parecia ser questão de tempo.

Mas veio a tábua de salvação. Em outubro de 2003, alguns torcedores do Rio Branco deram inicio a um movimento para superar as dificuldades vividas. Em um escritório improvisado em um café do Praia Shopping, os abnegados doutor Paulo Marangoni, Rommel Rubim e Notier Menezes, começaram a planejar os caminhos a serem seguidos.

Nada foi fácil. O clube estava totalmente endividado, não tinha crédito em lugar nenhum e as cobranças vinham de todos os lados. A coisa estava tão feia, que os jogadores iam para os jogos de transporte público. Notier Menezes foi verificar de perto o que se passava. Para isso foi até Cachoeiro assistir um jogo do Rio Branco contra o Estrela, pela "Copa Espírito Santo".

Quando viu o ônibus que conduzia a delegação, ficou apavorado. O veículo tinha emendas por toda a lataria, os pneus estavam totalmente "carecas" e não tinha banheiro. Aí começou realmente o grande desafio de reerguer o clube.

Foi preciso muita persistência e trabalho, para que isso acontecesse. Primeiro, foi feita uma reestruturação administrativa em 2006, para que o clube voltasse a ter credibilidade. A venda do estádio ao governo, em 2008, abriu os caminhos. As dívidas foram pagas. Dentro de campo as coisas também melhoraram. Em três anos o time chegou à quatro finais, Copa Espírito Santo em 2008/2009 e “Capixabão”, em 2009/2010. Na última, o Rio Branco, depois de 24 anos, quebrou o jejum e conquistou o título estadual.

Títulos conquistados. Estaduais: (1918, 1919, 1921, 1924, 1929, 1930, 1934, 1935, 1936, 1937, 1938, 1939, 1941, 1942, 1945, 1946, 1947, 1949, 1951, 1957, 1958, 1959, 1962, 1963, 1966, 1968, 1969, 1970, 1971, 1973, 1975, 1978, 1982, 1983, 1985 e 2010).

Campeonato Capixaba - 2ª Divisão: (2005); Torneio Início: (1918, 1920, 1921, 1924, 1925, 1928, 1929, 1930, 1931, 1932, 1934, 1935, 1936, 1940, 1942, 1947, 1956, 1957, 1959, 1962, 1964, 1968, 1969, 1970); Taça Cidade de Vitória: (1918, 1919, 1921, 1924, 1929, 1930, 1934, 1935, 1936, 1937, 1938, 1939, 1941, 1942, 1945, 1946, 1947, 1949, 1951, 1957, 1958, 1959, 1964, 1965, 1967, 1969, 1971).

Outras Conquistas. Torneio Centenário de Vitória (1951); Vice Campeão Taça Brasil Sudeste: (1959, 1963 e 1964); Troféu da Revolução 31 de Março: (1965); Taça Cidade de Vitória: (1969 e 1972); Taça Independência: (1972); Troféu Governador do Estado: (1975); Torneio dos Campeões Capixabas: (2001); Torneio Metropolitano Master de Futebol: (2002), além de dezenas de outros torneios e taças.

O título de 1985 foi ganho perante um público de 27 mil torcedores, quando o Rio Branco garantiu vaga no Campeonato Brasileiro da Série A de 1986. O Rio Branco disputou também o Campeonato Brasileiro da Série A em 1987, integrando o módulo amarelo.

O “Capa-Preta” até que teve bons resultados naquele campeonato, que foi o último em que participou na Série A. Venceu o Vasco da Gama, do Rio de Janeiro por duas vezes, 2 X 1 em São Januário e 1 X 0 no Kleber Andrade. Ganhou do Ceará por 2 X 0 e do Internacional, por 2 X 1. Fez 4 X 0 no Piauí, 2 X 1 no Atlético Goianiense, 1 X 0 no Náutico, no Arruda em Recife, além de vitórias sobre times como Operário e Nacional.

Naquela época os adversários temiam jogar em Vitória, onde a pressão da torcida era enorme. Nos 12 jogos como mandante, o Rio Branco levou mais de 157 mil torcedores aos estádios Kleber Andrade e Engenheiro Araripe. No jogo contra o Vasco, por exemplo, o público foi de 50 mil expectadores.

A logomarca do ano do centenário mostra um número "100" estilizado nas cores preto, branco e dourado. Dentro de cada um dos “zeros”, encontram-se elementos de escudos já usados pelo clube em sua história. O primeiro faz alusão ao “Juventude e Vigor”, nome original do Rio Branco em 1913, seu ano de fundação. O segundo contem as iniciais RBAC com tipografia do escudo atual do clube. Também foi lançado o slogan do centenário: “100 anos guardados em meu coração”, frase que faz alusão a um trecho do hino do clube. (Pesquisa: Nilo Dias)


quarta-feira, 12 de junho de 2013

O "Zequinha" agora é centenário

O Esporte Clube São José é uma espécie de segundo time de todos os porto-alegrenses e é considerado o "mais simpático de todo o Rio Grande do Sul". O "Zequinha", como é carinhosamente chamado foi fundado no dia 24 de maio de 1913, por um grupo de alunos católicos do Colégio São José, da capital do Estado, na rua São Raphael, atual avenida Alberto Bins.

Foi o irmão Constantino Emanuel, um ardoroso admirador do “cálcio” italiano que incentivou o grupo que jogava futebol no colégio, a criar um clube verdadeiro para o esporte. Por isso o nome do clube.

Entre os jovens fundadores estavam José Edgar Vielitz, Osvaldo Endler, Florêncio Wurding, Léo De La Rue, Antônio Pedro Netto (Netinho) e Arnaldo Peterlongo Ely. Todos eles faziam parte da Sociedade Juventude dos Moços Católicos, cuja sede era nos altos da ex-capela São José, localizada na rua São Raphael.

A sociedade surgira para que os alunos pudessem praticar o futebol dentro das dependências do colégio. Embora a sociedade crescesse, o grupo não podia enfrentar equipes fortes e por isso surgiu a idéia de fundar um clube de futebol.

Após celebrar a fundação, o aluno Léo De La Rue foi escolhido para ser o primeiro Presidente do clube, ficando estabelecido que cada jogador compraria seu uniforme e contribuiria com 500 réis de cota mensal, pois a participação dos sócios ainda era reduzida. O Irmão Ulrich, foi o primeiro chefe de torcida do novo clube.

O clube surgiu num momento em que o mundo vivia a terrível expectativa da primeira guerra mundial, com a Europa em polvorosa. O primeiro campo foi num local chamado "Montanha", onde hoje está localizado o Hospital Militar, na avenida Cristóvão Colombo, no bairro Floresta. O primeiro presidente foi Leo De La Rue, que dirigiu a agremiação nos anos de 1913 e 1914.

Nas décadas de 1930 e 1940, a agremiação teve dois bons times, o de 1937 e o de 1948. Estas equipes por pouco não conseguiram o título de Campeão da Cidade de Porto Alegre. Em 1937 tinha um elenco de alta qualidade técnica, porém sucumbiu diante do Grêmio na melhor de três jogos. No primeiro, o tricolor venceu por 2 X 1. No segundo, triunfo do São José por 3 X 2, mas, no terceiro, o Grêmio demonstrou seu maior poder e conseguiu a vitória por 2 Xa 0, conquistando o título.

Em 1948, o time alcançou novamente o vice-campeonato de Porto Alegre. O campeão desta vez foi o Internacional, que conseguiu maior número de pontos que o Zequinha e o Grêmio. Muitos antigos torcedores do São José consideram o elenco vice-campeão de 1948 o melhor já visto na história do clube.

Atualmente o São José tem a sua sede na Zona Norte de Porto Alegre, onde se localiza o Estádio do Passo da Areia, que foi modernizado e recebeu gramado sintético, que foi vistoriado e aprovado pela FIFA. O futebol é a principal atividade esportiva do clube desde a sua fundação, mas também disputa competições de Basquete e Bocha. O São José está há 10 anos seguidos participando do Campeonato Principal de Futebol do Rio Grande do Sul.

Antes de ocupar a sede atual, o “Zequinha” andou por vários locais, até que em 1939 conseguiu adquirir o terreno no Passo da Areia. O estádio foi inaugurado em 24 de maio de 1940, com o jogo Grêmio Portoalegrense 3 X 2 São José. As arquibancadas de madeira da época não existem mais.

Hoje o estádio possui três arquibancadas nas duas laterais e uma atrás do gol da avenida Assis Brasil, todas cobertas, que abrigam cerca de 10.000 torcedores. Essa nova estrutura foi inaugurada em março de 2006 e conta com seis camarotes, oito cabines duplas fixas, uma sala de imprensa e outra para entrevistas, quatro vestiários para jogadores e um para arbitragem.

A sede possui ainda salão de festas para 300 pessoas, churrascaria com capacidade para receber 120 pessoas, ginásio, piscina e quadras sintéticas de futebol para aluguel, estrutura que a maioria dos clubes do interior não possuem. Para prática esportiva, oferece escolinhas de hockey, futsal, vôlei, basquete e patinação. Na alta temporada disponibiliza a hidroginástica. Como atividade cultural conta com o DTG Gaúchos do São José, invernada adulta do clube.

Em 1960 aconteceu a fusão entre o São José e o Clube de Regatas Almirante Barroso. O novo clube ganhou o apelido de "Zé Barroso". O uniforme tinha camiseta com listras largas azuis e brancas. Foi nessa época que o clube conquistou um dos maiores títulos da sua história, a Copa Governador do Estado, em 1971.

Em 1981, treinado por Vasques, o São José foi campeão da “Segundona Gaúcha”, o que garantiu o direito de participar do Campeonato Gaúcho da Divisão Especial de 1982. Enfrentando dificuldades de toda ordem, o time não conseguiu se manter na elite e foi rebaixado.

Em 1996, voltou a Primeira Divisão depois de uma parceria com o Renner. Durante esta parceria, o São José usou um uniforme em vermelho e branco como o velho clube do Estádio Tiradentes. Em 1998, num lance de marketing ousado, o São José contratou o centroavante Careca, ex-São Paulo e Napoli para atuar em alguns jogos do Gauchão.

As principais conquistas do São José: Vice-Campeão do Citadino de Porto Alegre (1937 e 1948); Campeão da Copa Governador do Estado, com o nome de Associação Atlética Almirante Barroso-São José (1971); Campeão do Torneio de Acesso (1963); Campeão da Segunda Divisão do Campeonato Gaúcho (1963 e 1981); Vice-Campeão da Segunda Divisão Gaúcha (1996). Está na elite do futebol gaúcho desde 1999. Sua melhor colocação na primeira divisão foi um 4º lugar em 2010.

A nível nacional o São José participou do Campeonato Brasileiro da Série C nos anos de 1997, 1998, 2001 e 2003 e da Série D em 2009. Em 2007 e 2008 jogou a Copa São Paulo de Futebol Junior.

Em 2007 o clube ousou novamente e contratou o goleiro Danrlei, ex-Grêmio. Em 2008 trouxe o atacante Fabiano, ex-jogador do Internacional. Em 2010 o clube conseguiu realizar a melhor campanha de sua história no Campeonato Gaúcho da Divisão Principal, se classificando em quarto lugar e garantindo vaga para o Campeonato Brasileiro da Série D e para a Copa do Brasil. E ainda teve o goleador do “Gauchão”, Jefferson, com 13 gols.

Nesses 100 anos de história, o São José teve em suas fileiras importantes jogadores, tais como: Luiz Luz (Grêmio e Seleção Brasileira - Década de 20), Ruaro (foi para o Inter - década de 20),

Bodinho (ex-Internacional), Carlos Luis Medeiros Vasques ( ex-Internacional), Cassiá ( ex-Grêmio e Coritiba), Carlos Miguel, ex-Grêmio e Inter), Claudio Mineiro (ex-Internacional), Dorinho ( ex-Internacional), Luiz Carlos Winck ( ex-Internacional), entre outros. Também teve como treinadores Ênio Andrade e Foguinho e o preparador físico Gilberto Tim (ex-Internacional e Seleção Brasileira)

Um feito do São José entrou para a história, foi o time sul-americano de futebol a viajar de avião. A FIFA registrou a excursão inédita do “Zequinha” a Pelotas em 1927, num hidroavião da Varig, modelo “Dornier Wal”, de nome “Atlântico”.

A Varig não era ainda a empresa respeitada que foi depois e tinha apenas esse aparelho, que fazia a linha regular Porto Alegre/Pelotas/Rio Grande, que havia entrado em operação em fevereiro daquele ano. A viagem aconteceu no domingo, 5 de junho, e o vôo teve como comandante Rodolfo Cramer.

A ideia de viajar de avião, conforme relatório de João Leal da Silva, tesoureiro do São José, na época, partiu do diretor de futebol Edgar Vielitz e do secretário Moisés Antunes da Cunha, quando o time voltava de bonde do bairro Menino Deus, onde havia vencido o Futebol Club Porto Alegrense, por 3 X 1, pelo campeonato da cidade, no dia 3 de maio.

Tudo estava acertado para a viagem, o E.C. Pelotas aceitou pagar a hospedagem e as despesas com o avião. O São José ainda disputou duas partidas pelo campeonato, perdendo para o Grêmio e Internacional. Dois dias antes da viagem, o secretário Moisés Antunes seguiu de vapor para acertar alguns detalhes.

Como o avião não podia levar todos os atletas, Odorico, Monteiro, Berlina e Benedito foram com o secretário e ficou combinado que haveria troca na volta, para que todos tivessem a oportunidade de sentir a sensação de voar. Aconteceram dois problemas na semana que antecedeu a viagem: o tempo estava chuvoso e o controle do peso.

A Varig, que tinha sua sede na Casa Bromberg, solicitou o peso exato de todos os jogadores, para obter o melhor desempenho do hidroavião – na sexta-feira o “Atlântico” viajou para o Rio de Janeiro, retornando no sábado. No domingo, pela manhã o avião levaria o E.C. São José a cidade de Pelotas, retornando na segunda-feira.

Tudo pronto, o comandante Rodolfo Cramer verificou que havia peso em excesso, porque os sobretudos não estavam incluídos. Ficou a pergunta, como resolver este impasse? Houve alguns protestos, pois ninguém queria ficar fora da viagem. O presidente Waldemar Zapp pediu para tirarem uma foto de todo o grupo, pois queria uma lembrança, em caso de acidente.

O comandante Cramer então combinou que se o avião decolasse sem problemas, a viagem seguiria com todos os passageiros. Pontualmente às 10h15min, decolou após duas tentativas, do aeroporto fluvial da Ilha Grande dos Marinheiros. O motor roncou, deu solavancos, pulava como um sapo, fazia um barulho infernal, mas decolou e deixou as águas do Guaíba para trás. O “Atlântico”, enfim, estava no ar e chegou no horário pré-visto, depois de duas horas e meia de viagem.

Depois desta epopeia, O E.C. São José voltou a viajar de avião em 1959, para jogar contra o 14 de julho, na cidade de Passo Fundo, onde venceu por 2 X 1, conforme relato do conselheiro Manoel Rubi da Silva, que era supervisor de futebol, na época.

Em 1998, já com um avião moderno, com toda a segurança e conforto viajou para o Estado do Paraná, para disputar uma partida de futebol pelo campeonato brasileiro da Série “C”.

Os nomes que ficaram na história do E.C. São José foram os passageiros Carlos Albino (chefe da delegação), João Leal da Silva (tesoureiro) e os jogadores: Álvaro Kessler, Antônio Netto, Dirceu, Alfredo Cezaro, César Cezaro (Pinho); Nicanor Leite (Nona), Clóvis Carneiro Cunha, Walter Raabe e o goleiro Bagre (Alberto Moreira Haanzel).

A viagem transcorreu sem problemas, exceto por dois jogadores, Antônio Netto e Bagre, que viajaram no porão do avião, porque só havia nove poltronas. Porém, garantiram lugar na volta porque os irmãos Cezaro enjoaram muito e prometeram jamais viajar de avião. A promessa, no entanto, só durou durante o vôo.

Pela viagem à Pelotas a Varig recebeu 2 contos e 500 mil réis, sendo que o preço individual, de ida e volta de uma viagem, daquele tipo custava 350 mil réis. Mesmo assim o preço, para a época, não foi considerado barato, porque o dólar estava valendo 8 contos e 500 réis.

O São José rivaliza com o Cruzeiro a condição de terceira força do futebol de Porto Alegre, por isso pode ser considerado o seu maior rival. O jogo entre ambos fói apelidado de “Zé-Cruz”.

A mascote do São José é a figura de um simpático e velho santo em homenagem ao padroeiro da escola, que dá nome ao clube. Os arquivos da agremiação não registram o autor do antigo desenho, mas a mascote se encaixou bem no espírito do clube de origens católicas.

Um dos grandes orgulhos do Esporte Clube São José é o seu Departamento de Veteranos, que é o mais antigo do gênero em atividade no país, sendo que nunca sofreu interrupções. Fator importante do Departamento de Veteranos é que dele saem a maioria dos presidentes do clube.

Mesmo sendo considerado um clube pequeno, o São José tem suas torcidas organizadas, que acompanham o clube em suas viagens pelo estado e fora dele: “Os Guaipecas”, que tem como mascote o “Muttley”, popular cão dos desenhos animados. Nos jogos em casa, localizam-se perto da cerca. E “Os Farrapos”, composta por um grupo de jovens que aderiram a ideologia barra brava de torcer. É a maior torcida do São José em atividade. (Pesquisa: Nilo Dias)

Delegação "Zequinha", minutos antes do embarque no hidro-avião "Atlântico", a primeira aeronave da Varig.

terça-feira, 11 de junho de 2013

Os 100 anos do Grêmio Santanense

O Grêmio Foot-Ball Santanense, um dos mais tradicionais clubes esportivos do Rio Grande do Sul, completa hoje 100 anos de fundação. Infelizmente a agremiação se encontra afastada das lides esportivas desde 2003, quando desistiu de competir profissionalmente. Em 2009 voltou a participar de competições municipais de futebol amador, sete e futsal.

Se sabe que o clube foi fundado no dia 11 de junho de 1913 por iniciativa de um grupo de jovens que costumavam se reunir na Barbearia do Ladário. Mas nada mais do que isso, pois um incêndio ocorrido em 1919 na casa do então secretário do Grêmio Santanense, Joaquin Sanz, destruiu toda a documentação relacionada a fundação e os primeiros anos do clube.

Uma coisa porém é certa, é o clube mais vitorioso do futebol de Santana do Livramento, sendo o único a se sagrar campeão gaúcho, isso em 1937, quando teve também os dois artilheiros maiores da competição, Hortêncio Souza e Tom Mix.

Para chegar ao título o Santanense venceu na fase preliminar ao Riograndense, de Santa Maria, por 4 X 1 e ao Novo Hamburgo, por 3 X 2. Nos jogos finais perdeu para o Rio-Grandense, de Rio Grande por 2 X 0, depois venceu por 3 X 2, empatou o terceiro confronto em 3 X 3 e levantou a taça na quarta e decisiva partida, quando goleou por 4 X 0.

Na decisão de 1937, entre Grêmio F.B. Santanense X F.B.C. Rio-Grandense, de Rio Grande, a divisão da renda mostrava claramente os exageros da Federação Rio Grandense de Desportos (FRGD), naqueles tempos.

A decisão foi em campo neutro, no estádio Estrela D’Alva, em Bagé, perante 3 mil expectadores. A renda somou 8 contos de réis (na época uma boa casa custava 20 contos de réis). Do total, 30% foi para o campeão, 20% para o vice e 50% para a FRGD.

O time campeão tinha como formação base: Brandão – Alfeu e Pedro Seringa – Garnizé – Mascarenhas e Pepe Garcia (Pasqualito) – Zorro – Beca – Bido – Hortêncio Souza e Tom Mix. O treinador era o uruguaio Ricardo Diéz, que repetiu este feito em 1942 com o S.C. Internacional, de Porto Alegre, onde foi o primeiro técnico estrangeiro e revelou o zagueiro Nena.

Antes, em 1941 passou pelo futebol pernambucano onde treinou o Sport e descobriu o atacante Ademir Menezes, que foi um dos maiores artilheiros do país, jogando no Vasco, Fluminense e Seleção Brasileira.

Como cigano do futebol, andou por Minas Gerais onde treinou vários clubes: Atlético Mineiro (1950, 1951, 1955, 1956, 1958 e 1959); América (1946); Siderúrgica, de Sabará (1947), Cruzeiro (1953); Valeriodoce, de Ibara (1962 e 1963); Democrata, de Sete Lagoas (1965) e Paraense, de Pará de Minas.

Em 1957 voltou ao futebol pernambucano para dirigir o Náutico. E em 1960 completou sua andança pelos três principais clubes do Estado, ao comandar o Santa Cruz.

Em 1939 o Grêmio Santanense quase ganhou de novo o Campeonato Gaúcho, perdendo a final para o Rio-Grandense, de Rio Grande e ficando com o vice-campeonato. Em 1948 bateu na trave outra vez, ao chegar como segundo colocado no Estadual, perdendo os jogos finais para o Internacional, de Porto Alegre, por 2 X 1 e 5 X 0.

O Grêmio Santanense mandava seus jogos no “Estádio Honório Nunes”, que tem esse nome em homenagem ao presidente da gestão de 1915. Honório Nunes quando esteve a frente do clube superou inúmeras dificuldades para manter a agremiação em seus primeiros anos de existência. Deste então a presença do patrono é constante na vida do clube.O Estádio, que se encontra em total abandono, tinha capacidade para oito mil expectadores.

Entre os valores revelados pelo clube, destacam-se o centroavante Mauro, que foi artilheiro do “Gauchão” de 1993, quando marcou 19 gols; Claudinho, artilheiro da “Segundona Gaúcha”, de 1990, também com 19 gols; o argentino Fábio de Los Santos, que depois jogou no Grêmio Portoalegrense; Cacaio, atacante que brilhou no Internacional, de Porto Alegre; Zambiasi, zagueiro artilheiro que foi figura destacada do Coritiba, onde marcou 18 gols; Pino, volante que atuou pelo Grêmio Portoalegrense e Claudiomiro, que começou como meia-armador e depois virou zagueiro, que defendeu o Coritiba, Santos, Vitória, da Bahia e Grêmio Portoalegrense, entre muitos outros.

O maior rival do Grêmio Santanense sempre foi o E.C. 14 de Julho, com o qual realizava o clássico Gre-Qua. Na cidade também havia o Fluminense (licenciado) e o Armour (licenciado). Entre os títulos conquistados estão 19 campeonatos municipais (1922, 1923, 1925, 1932, 1933, 1934, 1935, 1936, 1937, 1938, 1939, 1946, 1948, 1953, 1957, 1961, 1962, 1963 e 1977).

O clube só fica atrás do rival, 14 de Julho que tem 40 títulos municipais e foi tetra campeão Regional. Depois aparece o Armour com sete campeonatos e campeão da 2ª divisão da Federação Gaúcha de Futebol (FGF), Fluminense com quatro e o Independente com apenas um.

Na galeria de troféus há uma conquista Internacional. Foi em 1975, quando o time se sagrou campeão da “Copa Internacional Rubens Hoffmeister”, realizada na Holanda. Ainda foi campeão do Interior Gaúcho (1937 e 1948); Campeão Gaúcho da 3ª Divisão (1967); Campeão da Região Fronteira (1925, 1935, 1937, 1939, 1946 e 1948); Vice-campeão do “Gauchão” da Série B (1991) e Vice-campeão da “Terceirona” (2000). E é claro, campeão estadual(1937) e vice-campeão estadual (1939 e 1948).

Em julho do ano passado, quando do encerramento das comemorações dos 189 anos de fundação de Sant’Ana do Livramento, o então prefeito Wainer Machado fez a entrega de diversas homenagens a entidades e empresas locais, e uma em especial dedicada ao esporte. O empresário Luis Paulo Dutra recebeu um diploma de Reconhecimento Público ao Grêmio Foot-Ball Santanense, que hoje está completando o seu centenário.

Para o ex-prefeito, o Grêmio Santanense é um dos clubes mais populares da Fronteira e continua fazendo história de garra e determinação, tendo sido inclusive campeão gaúcho, feito este obtido por poucos clubes do interior do Estado, fora do eixo da dupla Gre-Nal. (Pesquisa: Nilo Dias)

sábado, 1 de junho de 2013

A Majestade dos Gramados

Carlos Antônio Kluwe foi o primeiro grande jogador da história do S.C. Internacional, de Porto Alegre, único clube onde jogou. Nasceu no Passo do Valente, interior do município de Bagé, no dia 3 de janeiro de 1890. Era membro de uma família de origem alemã, que se dedicava a pecuária.

Na primeira década do século XX, após concluir os estudos preliminares, mudou-se para Porto Alegre para cursar Medicina. Logo que chegou na capital gaúcha, interessou-se pelo novo esporte que surgia, o foot-ball.

Mesmo sendo de origem germânica, Carlos Kluwe aproximou-se do Internacional, clube que fazia oposição ao germanismo no futebol. A família Kluwe gostava de futebol. Pouco depois da fundação do Internacional, Lothario, João e Guilherme Kluwe fundaram o 7 de Setembro, de Porto Alegre, no dia 15 de agosto de 1909.

Não há registro de que Carlos tivesse jogado pelo clube de seus parentes, mas sabe-se que logo após o Gre-Nal de 18 de julho de 1909 o atleta já era sócio do Internacional. Na segunda partida do Internacional, o empate em 0 X 0 com o Militar Foot Ball Club, no dia 7 de setembro de 1909, Kluwe estava em campo, atuando como atacante. Mas sua posição clássica seria de "center-half", um avô dos volantes.

Kluwe era um jogador muito alto, com 1m90 de altura. Chutava com os dois pés com a mesma facilidade e de qualquer distância. Dono de uma personalidade muito forte, logo se tornou o líder do time, dentro e fora dos gramados.

Foi com ele que o Internacional alcançou suas primeiras conquistas, tricampeão portoalegrense em 1913, 1914 e 1915. Kluwe estava em campo no dia 28 de setembro de 1913, quando o Internacional bateu o Frisch Auf por 5 X 1, no “Turner Bund”, e conquistou seu primeiro título municipal, de forma invicta. O time campeão municipal invicto de 1913 tinha esta formação: Russomano – Ari e Simão – Barbiéri – Carlos Kluwe e Tom – Túlio – Flores – Bendionda – Átila e Barão.

Comandou o Colorado no bicampeonato, em 1914, atuando ao lado de seu irmão, o lateral Ricardo Kluwe, mais conhecido por Bitu. Em 1915, seis anos após a fundação, o Internacional goleou o seu principal adversário, o Grêmio, por 4 X 1, em jogo amistoso. Foi a primeira vitória colorada em Grenais.

O time que ganhou o primeiro clássico para os colorados tinha a seguinte formação: Baes - Simão e Dorneles – Bitu – Carlos Kluwe e Lucidio – Túlio - Osvaldo, Bendionda - Muller e Vares. Em jogo oficial, Kluiwe não teve o gosto de ter vencido um Grenal, pois o Grêmio abandonou o campeonato de 1913, e nos dois anos seguintes atuou por uma liga paralela. Essa foi uma grande frustração de Kluwe.

Muitos creditam a ele a tradição de clube guerreiro e vencedor, que o time vermelho e branco ostenta até hoje. Teve papel decisivo para que o clube ultrapassasse os primeiros anos de vida.

Os cronistas esportivos da época o chamavam de “Majestade dos Gramados”. Em 1915, depois de se formar médico pela Faculdade de Medicina, pendurou as chuteiras, quando tinha apenas 26 anos de idade. Em 15 de abril de 1915, em Assembleia Geral realizada no “Palacete Rocco”, o Internacional lhe entregou uma medalha de ouro por sua formatura em Medicina.

Mas Kluwe não abandonou o clube. Se não estava mais dentro de campo, passou a participar das Diretorias, tornando-se diretor de futebol. Em julho de 1919, quando médico e como fizesse grande sucesso entre as mulheres por sua beleza física, um grupo de senhoritas, torcedoras do Internacional, organizou um abaixo-assinado em que pedia ao ex-jogador que atuasse em um clássico Grenal que seria disputado no Estádio dos Eucaliptos.

O pedido se justificava, porque o Internacional estava sem ataque. Na véspera do clássico os jogadores Bento, Guimarães e Assunção ficaram sem condições de atuar.

Mesmo estando sem jogar por quatro anos, ele aceitou o desafio e entrou em campo para marcar o primeiro gol da vitória colorada por 2 X 0. Como teve uma atuação destacada nessa partida, e conseguiu ganhar um Grenal oficial, Kluwe resolveu continuar jogando o resto da temporada e também no ano seguinte, 1920, quando participou de um jogo e novamente foi campeão.

Da Região da Campanha, onde nasceu Carlos Kluwe, surgiram outros grandes jogadores que integraram as primeiras equipes do Internacional, como Simão Alves da Silva Filho, o Simão Alves, Belarmino Carlos Leal D’Ávila, o “Bendionda” e Chico Vares, o notável ponteiro-esquerdo, todos oriundos de Santana do Livramento.

Uma das proezas de Chico Vares foi ter marcado todos os gols do Internacional, na primeira goleada aplicada ao Grêmio, em julho de 1916: 6 X 1. Dois outros jogadores nascidos em Livramento participaram da fundação do Internacional, Vicente Pires e Rivarol Padilha.

Em 1921 Kluwe foi clinicar em Caxias do Sul. Em 1923, retornou a Bagé, sua cidade natal, onde exerceu a Medicina por vários anos e foi também inspetor federal de Ensino e exator estadual da Fazenda. Como médico examinava os alunos das escolas da cidade, dava conselhos de Saúde a todos e recomendava sempre a prática de esportes. Ao ingressar na política, foi eleito prefeito municipal no período de 1948 a 1951.

Em 1949 criou uma lei na qual a prefeitura concederia bolsas de estudo a alunos dos Cursos de Admissão ao Ginásio, dos Cursos Ginasiais e dos Cursos Científico, Clássico, Normal e de Técnicos em Contabilidade, além de todos os cursos existentes no Instituto Municipal de Belas Artes, para alunos carentes.

Foi em sua gestão que a Prefeitura adquiriu o “Palacete Osório” e o emprestou para ser instalado o Colégio Estadual. Depois, costumava visitar o educandário quase todas as noites. Circulando pelos corredores e conversando com os professores.

Anos depois, no governo de Alceu Collares, o Estado reformou e construiu novos pavilhões para a Escola Carlos Kluwe, entregando o “Palacete Osório” ao município, que hoje o utiliza para sede da Secretaria de Cultura.

Outro costume de Kluwe era o de reunir-se depois do almoço com os amigos Floriano Rosa, Zezo Antunes e outros, no Clube Comercial, para disputadíssimos jogos de Xadrez.

Carlos Kluwe faleceu aos 76 anos, no dia 16 de setembro de 1966, em sua terra natal. Hoje, empresta seu nome a Escola Estadual de Ensino Médio Doutor Carlos Antonio Kluwe. Na praça central da cidade foi erguido um busto em sua homenagem. Uma rua da Vila Kennedy, na periferia de Bagé, também leva seu nome.

Sua atuação como médico também não passou despercebida, e no Museu de História da Medicina do Rio Grande do Sul, o “Fundo 33” leva seu nome, constando do diploma, fotos, biografia e matérias de jornais. E ainda hoje existem criadores de gado da família Kluwe, no Passo do Valente.

O professor e desembargador bageense, José Carlos Teixeira Giorgis, escreveu em 21 de janeiro do ano passado, no jornal “Minuano”, de Bagé, um artigo intitulado: “A majestade colorada”, em que homenageia Carlos Kluwe.

“Quando se entra no memorial recém inaugurado pelo Esporte Clube Internacional caminha-se por um espaço de memória e virtualidade, lembranças e glórias de passado e conquistas recentes. E se um bageense ali passeia encantado com as luzes e os sons, no meio de imagens e troféus encara fato que o abate de orgulho:

Entre as reduzidas vitrinas dedicadas a poucos atletas desponta homenagem a Carlos Kluwe, em ambiente enfeitado com o certificado da eleição como prefeito, o diploma de médico, fotos com familiares, e outros objetos doados por parentes.

Tudo organizado com devoção pela jovem pesquisadora bageense Júlia Preto de Vasconcelos. Ali se ostenta, ainda, uma placa de reverência (1968): “Médico dos pobres, educador da juventude, amigo de todos“, frase que resume existência invulgar. (Pesquisa: Nilo Dias)

Carlos Kluwe com a camisa do S.C. Internacional. (Foto: Acervo histórico do S.C. Internacional, de Porto Alegre)