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quinta-feira, 14 de junho de 2012

O histórico futebol de Porto Alegre (I)

O futebol de Porto Alegre nem sempre viveu só de Grêmio e Internacional. Ainda em plena atividade estão clubes bastante antigos e tradicionais, casos do E.C. São José, fundado em 24 de maio de 1913 e Esporte Clube Cruzeiro, fundado em 14 de julho de 1913. Os dois vão entrar ano que vem na seleta lista de clubes brasileiros centenários.

A capital gaúcha ainda contou recentemente com outras agremiações mais novas, que se encontram atualmente licenciadas, como o Porto Alegre Futebol Clube, fundado em 10 de junho de 2003, com o nome de Lami Futebol Clube, que em 9 de janeiro de 2006 mudou de nome e de cores. O time passou a vestir o branco, azul e grená, sendo chamado de Porto Alegre Futebol Clube. E ainda o Esporte Clube Lageado, fundado em 25 de novembro de 1955.

Outros clubes que participaram de campeonatos de Porto Alegre e do Estado, e que hoje não existem mais, ainda são lembrados com carinho pelos torcedores mais velhos. É o caso do G.E. Renner, que foi campeão gaúcho em 1954. O clube foi fundado no dia 27 de julho de 1931, por Victor Gottschold, Avelino Amaral e Apolinário Corrêa, entre outros, todos funcionários da A.J. Renner & Cia. O clube realizou seus primeiros jogos na rua Frederico Mentz.

Em 15 de novembro de 1935, o Renner inaugurou seu estádio na rua Sertório, esquina com a avenida Eduardo. No jogo inaugural derrotou o Taquarense, de Taquara, por 5 X 4. O estádio foi construído em um terreno doado por Antônio Jacob Renner.

Em 1936, o clube participou da fundação da Liga Atlética Porto Alegrense (LAPA), ao lado do Portuário, Rio Guahyba, Gloriense e Arrozeira Brasileira. Em 1937, com a divisão da principal liga portoalegrense, o Renner abandonou a LAPA e ingressou na facção da Associação Metropolitana Gaúcha de Esportes Atléticos, que manteve-se fiel à CBD (AMGEA cebedense).

Em 1938, o clube venceu o Torneio Início e o Campeonato Municipal, disputando o campeonato gaúcho. Com a unificação do futebol portoalegrense, realizou-se, no primeiro semestre de 1939, o Torneio Relâmpago, com 11 equipes e que classificaria os cinco primeiros para a Primeira Divisão do Futebol, ficando os restantes na Segunda Divisão. Renner, Cruzeiro e Americano terminaram o torneio empatados em 4º lugar. No "Torneio Desempate", o Renner ficou em último, perdendo a vaga na elite gaúcha.

Em 1940, o clube quase mudou de nome para Industrial ou Navegantes, para adequar-se aos estatutos da AMGEA. Depois de uma campanha vitoriosa na Segunda Divisão gaúcha o atacante Caburé, artilheiro do time e da competição foi convocado para a Seleção Brasileira que disputou o Campeonato Sul-Americano, na Bolívia.

Como os clubes gaúchos recusaram-se a ceder seus atletas, Caburé jamais jogou pela Seleção. Precisando só de um empate para ganhar o campeonato da Segunda Divisão, o clube perdeu para o Porto Alegre, desperdiçando a chance de subir à Primeira Divisão da Capital. No ano seguinte, resolveu não inscrever-se para disputar o campeonato da Segunda Divisão.

Em 1942 foi campeão da Segundona, mas não conseguiu o acesso. Em 1944, novamente conseguiu o título, conquistando o direito de ascender à série principal. O grande momento do Renner deu-se em 1954, quando foi campeão citadino com três rodadas de antecipação, ao vencer o Juventude por 9 x 2, no dia 8 de janeiro de 1955.

Em seguida, conquistou o Campeonato Gaúcho de 1954, em um triangular com Brasil, de Pelotas e Ferro Carril, de Uruguaiana. O G.E. Gabrielense, de São Gabriel desistiu da competição. O título foi conquistado no dia 3 de abril de 1955, com a vitória do Renner sobre o Brasil, de Pelotas por 3 X 0, no Estádio Tiradentes, gols de Breno (2) e Pedrinho.

O time campeão entrou em campo com a seguinte escalação: Valdir de Moraes – Bonzo - Ênio Rodrigues - Orlando (Olavo) e Paulistinha - Leo e Ênio Andrade – Pedrinho - Breno Melo - Juarez e Joelcy.

Um dos grandes jogadores da história do clube foi Ênio Andrade, que mais tarde como treinador se sagrou campeão brasileiro por três clubes diferentes: Grêmio, Internacional e Coritiba.

Como no final de cada temporada a empresa A.J. Renner tinha de cobrir o rombo financeiro, após o campeonato de 1957, decidiu pela extinção do clube.

Mesmo assim manteve por 44 anos a marca de ser o único campeão estadual neste período, além de Grêmio e Internacional O Juventude foi o responsável pelo fim dessa história de mais de quatro décadas ao ser campeão estadual em 1998.

O Renner, em seus 26 anos de vida conquistou os seguintes títulos: Torneio Extra de Porto Alegre (1947); Torneio Triangular de Porto Alegre (1950); Campeão de Porto Alegre (1938 e 1954); Campeão Estadual (1954); Torneio da Associação dos Cronistas Esportivos de Porto Alegre (1956).

Outro clube tradicional da capital gaúcha foi o Nacional Atlético Clube, fundado em 19 de setembro de 1937, por funcionários da extinta Viação Férrea do Rio Grande do Sul. Por isso ganhou o apelido de “Ferrinho”. Suas cores eram o vermelho e o preto. A partir de 1940 passou a chamar-se Nacional Atlético Clube.

Seu primeiro estádio foi o campo da Rua Arlindo. Com a má situação financeira do Fussball Club Porto Alegre, o Nacional adquiriu o Estádio da Chácara das Camélias em 1942, pagando 178 mil cruzeiros. O clube encerrou suas atividades em 1958.

Os títulos do clube foram apenas dois: campeão da 2ª Divisão de Porto Alegre (1941) e do Torneio Início de Porto Alegre (1950). Os maiores ídolos da história do Nacional foram os jogadores Tesourinha e Bodinho, que depois brilharam no Internacional.

Teve ainda o Grêmio Esportivo Força e Luz, que foi fundado por funcionários da Companhia de Energia Elétrica Rio-Grandense (CEERG) e da Companhia Carris Porto-Alegrense, em 8 de setembro de 1921. Suas cores eram o branco e o vermelho. Foram seus fundadores os desportistas José Macedo Jardim, Álvaro Britto, Honorino Passos, Salvador Crozitti, Rosendo Rosa, Bruno Borde, Christph Walter Miller, Carlos De Lorenzi e doutor Ernesto John Aldsworth.

O primeiro campo ficava na rua da Glória, mas pouco tempo depois o clube mudou-se para um terreno na avenida Teresópolis. Em 1932, com a unificação do futebol gaúcho, o Força e Luz ingressou na 2ª divisão da APAD, ganhando o campeonato daquele ano. No ano seguinte, disputou a Série A da 2ª Divisão, sagrando-se vice-campeão no 1º quadro e campeão nos 2º e 3º quadros.

Com o fim da 2ª Divisão da APAD em 1925, e o surgimento da APAF, o Força e Luz manteve-se fora das duas entidades, ausentando-se de competições oficiais por alguns anos. Em 1929 arrendou a Chácara das Camélias, campo do Porto Alegre. No ano seguinte abandonou a APAD e ingressou na AMGEA, disputando a Série B e conseguindo o acesso para a temporada seguinte.

Em 1931, além de disputar a Série A, o clube mudou-se para o campo da rua Arlindo. Em 1932, contando com 11 filados, a AMGEA formou novamente duas séries, ficando o Força e Luz na Série B. Com a desistência dos demais participantes desta série, o Força e Luz foi proclamado campeão, e classificou-se para disputar com o São José, último colocado da Série A, uma vaga no campeonato seguinte, mas perdeu a série de melhor de três partidas.

Em 1934 o Força e Luz voltou a disputar o campeonato, com a extinção da Série B. Em 14-04-1935 inaugurou o Estádio da Timbaúva, perdendo para o Internacional por 5 x 1. Na Timbaúva foi disputada a primeira partida de campeonato brasileiro de seleções no Rio Grande do Sul.

Obrigado a mudar de nome, durante a década de 1940 chamou-se Rio Branco e Corinthians. Voltou a sua denominação de fundação em 1952. No início de 1959 o clube fechou as portas do departamento de futebol. Em 1972 voltou a jogar profissionalmente, disputando a 2ª divisão e a Copa Governador do Estado, sua última competição oficial.

Até 2006 o clube participou do campeonato de veteranos. Em agosto desse ano vendeu o Estádio da Timbaúva para a Companhia Zaffari, por R$ 9,5 milhões. Ainda em 2006 o clube protocolou junto à Federação Gaúcha de Futebol a sua extinção.

Na época da transação, o Grêmio Esportivo Força e Luz estava com sua saúde financeira debilitada. O complexo gerava uma despesa anual de cerca de R$ 150 mil, enquanto os 380 sócios contribuíam mensalmente com apenas R$ 15,00 na época. O ativo leiloado é constituído por uma sede social, salas e quadra de bocha.

Com o negócio, o Grupo Zaffari arrematou um símbolo da história do futebol gaúcho, o famoso pavilhão do antigo estádio da Baixada do Grêmio, doado em 1954 ao Força e Luz em troca do zagueiro Airton Ferreira da Silva, o Airton Pavilhão.

Airton, recentemente falecido foi um dos maiores zagueiros da história do futebol brasileiro. Ele foi contratado pelo Grêmio junto ao Força e Luz, em troca do pavilhão social do antigo estádio da “Baixada”. O jogador passou a ser conhecido como Airton "Pavilhão".

Airton, recentemente falecido foi um dos maiores zagueiros da história do futebol brasileiro. Ele foi contratado pelo Grêmio junto ao Força e Luz, em troca do pavilhão social do antigo estádio da “Baixada”. O jogador passou a ser conhecido como Airton "Pavilhão". (Pesquisa: Nilo Dias)

O Renner foi campeão gaúcho em 1954,