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sábado, 11 de junho de 2016

Os clássicos do futebol baiano

O futebol brasileiro, todos sabem, é dono de um folclore muito rico. Mas nenhum Estado consegue bater o futebol baiano nesse item. Os torcedores e a imprensa sempre foram pródigos em criar nomes sugestivos para batismo dos clássicos que enriquecem o futebol da “boa terra”. Não só na capital, mas também no interior.

O maior clássico do futebol baiano indiscutivelmente é Bahia X Vitória, chamado de Ba-Vi. Mas nem sempre foi assim. Sabe-se que o Vitória, fundado em 13 de maio de 1899 com o nome de Club de Cricket Victoria, só passou a jogar futebol em 1901.

No dia 22 de maio desse ano ele enfrentou o Sport Club Internacional, um time formado as pressas por integrantes das tripulações de navios ingleses atracados no porto. O jogo foi realizado no “Campo da Pólvora” e foi vencido pelos baianos por 3 X 2.

Mas o jogo considerado primeiro na história do clube deu-se em 13 de setembro de 1902, data em que o Departamento de Futebol foi oficialmente inaugurado, contra o São Paulo Bahia Football Club, time formado por integrantes da colônia paulista, com vitória rubro-negra por 2 x 0. Na verdade, o Vitória só veio dar uma importância maior ao futebol só a partir dos anos 1950.

O Bahia só veio a ser fundado em 1 de janeiro de 1931. Portanto, existiram muitos outros clássicos na Bahia antes do agora tradicional Ba-Vi, envolvendo clubes que ainda existem ou fecharam as portas.

É o caso do Clube de Natação e Regatas São Salvador, clube que ao longo da história conquistou por duas vezes o Campeonato Baiano de Futebol, em 1906 e 1907 e vice em 1905. Com a extinção da Liga Baiana, o clube desistiu do futebol, mas existe até hoje, participando de competições aquáticas.

O clube foi fundado no dia1 de setembro de 1902, pelo desportista Torquato Corrêa, que ao regressar do Rio de Janeiro, onde remava pelo Flamengo, notou a falta de clubes náuticos em Salvador, onde existia apenas o Esporte Clube Vitória, com uma pequena flotilha.

Ele reuniu alguns amigos em sua casa na Piedade e fundou o Clube de Natação e Regatas São Salvador. Animado com a grande adesão de associados, voltou ao Rio de Janeiro e de lá trouxe duas canoas e aos domingos e feriados no Porto dos Tainheiros se exercitavam os amadores e amantes do novo esporte, despertando grande interesse público.

Em janeiro de 1905, cerca de 20 associados do Vitória deixaram o clube e se transferem para o São Salvador, sendo criada a seção de futebol sob a direção de Carlos Costa Pinto.

Conquistando logo a preferência do público, tornou-se a sociedade esportiva mais querida da época. Nesta mesma ocasião, por proposta de Arthur Moraes, suas cores foram mudadas do amarelo e preto para o branco e verde, que adota até hoje.

Em 1905 tomou parte no 1º Campeonato Baiano de Futebol no Campo da Pólvora sagrando-se vice-campeão. No ano seguinte levantou o título, e no outro o bicampeonato.

No remo era o "Bicho Papão" levantando quase todas as regatas. Com o correr dos tempos, deixou o futebol devido a extinção da Liga Bahiana e no remo, devido a algumas crises, perdeu a liderança para o E. C. Vitória. Agora o C.N.R. São Salvador se reorganizou, voltando a ser destaque nos meios náuticos.

O clássico que o Vitória mantinha com o São Salvador, nos primórdios do futebol na Bahia, era chamado de "Ajuste de Contas". Por quais razões, não se sabe.

O maior clássico da atualidade em terras baianas só se popularizou na segunda metade do século 20. Antes do Ba-Vi, diversos confrontos dividiam os corações dos baianos. Os maiores deles foram o “Clássico de Ouro”, entre Ypiranga e Galícia, maiores campeões do estado depois de Bahia e Vitória, e o “Clássico do Povo”, disputado entre Ypiranga e Bahia.

Entre tantos clássicos além do Ba-Vi, o “Clássico do Pote” é um dos mais folclóricos do estado. Ainda nos tempos do “Campo da Graça”, antiga praça esportiva, o já tradicional Botafogo enfrentou pela primeira vez o então recém-criado Bahia, em 1931.

Naquela ocasião, um torcedor botafoguense levou um pote enfeitado com fitas e cores do “Mais Simpático”. A brincadeira não adiantou muita coisa, e o tricolor venceu aquela partida.

Durante seis anos, e 12 jogos, o torcedor repetiu a “simpatia”, carregando o pote que era recebido debaixo de delírio da torcida botafoguense e de lá voltava sem ser quebrado.

Em 5 de setembro de 1937, finalmente o Botafogo derrotou o Bahia. Após o jogo, no centro do campo, foi o pote quebrado com indescritível entusiasmo.

A reedição do clássico poderia ter ocorrido novamente em campo no Campeonato Baiano de 2013, após 23 anos, mas não aconteceu devido ao formato da competição.

“Clássico de Ouro” é o nome dado ao confronto entre Esporte Clube Ypiranga e Galícia Esporte Clube, que já foi considerado o maior clássico do futebol baiano muitas décadas atrás.

Entretanto, com o crescimento de Bahia e Vitória e a decadência de Galícia e Ypiranga, o clássico perdeu força e, com seguidos descensos das equipes, tem sido realizado com frequência muito menor. Ás vezes transcorrendo anos sem que haja uma edição sequer do dérbi.

A primeira partida foi realizada em 25 de julho de 1934 no “Campo da Graça”, principal cenário do futebol baiano da época, com vitória do Ypiranga por 1 a 0.

Desde então o Galícia Esporte Clube obteve cinco títulos baianos (1937, 1941, 1942, 1943 e 1968) enquanto o Esporte Clube Ypiranga obteve mais dois títulos, em 1939 e 1951.

Já o clássico Ypiranga X Leônico, também foi jogado diversas vezes na “Fonte Nova”. Dividia as preferências esportivas do famoso canal Jorge Amado e Zélia Gattai. Ele era torcedor ardoroso do Ipiranga. Ela, do Leônico, chamado de “Moleque Travesso” dos campos baianos.

Em um de seus livros, "A Cidade da Bahia", Jorge fala com bom humor do duelo caseiro ao descrever a sua paixão pelo “Mais Querido”:

No futebol baiano, não há nenhum clube de tão gloriosa tradição quanto o Ypiranga, o time de “Popó”, antigamente poderoso, milionário, invencível, supercampeão, hoje pobre e batido, mas, em glórias, quem se compara a ele?

Nem o Bahia, nem o Vitória, nem o Galícia, nem o Leônico (cito o Leônico sob violenta pressão familiar: minha mulher é torcedora do Leônico, creio que a única, apesar das afirmações em contrário).

Sou torcedor do Ypiranga há mais de 50 anos. O Ypiranga pode perder à vontade, porque já ganhou demais, já deu muita alegria aos seus fiéis torcedores, escreveu Jorge.

O jogo entre Bahia e Galícia é chamado de “Clássico das Cores”. O primeiro confronto entre eles ocorreu pelo primeiro turno do Campeonato Baiano de Futebol de 1934, no dia 16 de agosto. O Bahia venceu a partida por 3 X 1. No segundo turno da mesma competição, novamente o Bahia venceu o Galícia, por um placar mais apertado, 3 X 2, no dia 18 de outubro do mesmo ano.

Em 9 de fevereiro, pela segunda fase do Campeonato Baiano de 2014, o clássico voltou a ocorrer depois de um intervalo de 15 anos. A volta veio com a vitória do “Demolidor de Campeões”, de virada sobre o Bahia, que havia ganho a última partida até então, no dia 21 de fevereiro pelo Baiano de 1999, edição na qual o Galícia foi rebaixado.

“Clássico do Povo” ou “Clássico das Multidões” é a denominação dada ao encontro entre Esporte Clube Ypiranga e Esporte Clube Bahia.
O nome se deu devido aos dois times soteropolitanos terem um grande número de torcedores e serem bastante populares.

O “Clássico da Laranja” é um clássico do futebol baiano entre os clubes Catuense e Atlético de Alagoinhas . Tem esse nome porque a Catuense usou por um tempo a cidade de Alagoinhas como sua casa, mandando seus jogos no “Carneirão”. Nessa época a cidade era a maior produtora de laranja do Estado.

O “Clássico do Sertão” é o nome dado ao confronto clássico entre o Alagoinhas Atlético Clube e o Fluminense de Feira Futebol Clube.

“Clássico do Cacau” identifica o jogo entre Itabuna Esporte Clube, de Itabuna, e Colo Colo de Futebol e Regatas, de Ilhéus, clubes do interior da Bahia. Envolvendo muita rivalidade, o clássico, que já é antigo, leva milhares de pessoas aos estádios em qualquer ocasião.

O confronto entre o Guanambi Atlético Clube e o Serrano Sport Club é conhecido como “Clássico do Sudoeste”, uma vez que opõe as cidades de origem dos dois clubes, respectivamente, Guanambi e Vitória da Conquista, são do sudoeste baiano.

Os confrontos entre o Juazeiro Social Club e Sociedade Desportiva Juazeirense configuram um recente clássico do futebol baiano, conhecido como Ju-Ju. E, finalmente, as partidas entre o Esporte Clube Primeiro Passo Vitória da Conquista e Serrano Sport Club, ~são chamadas de “ Clássico do Café”. (Pesquisa: Nilo Dias)

Jorge Amado foi o mais ilustre torcedor do Ypiranga.