Boa parte de um vasto material recolhido em muitos anos de pesquisas está disponível nesta página para todos os que se interessam em conhecer o futebol e outros esportes a fundo.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

O “Homem de Papel” (1)

Matthias Sindelar, um mito do futebol mundial nasceu no dia 10 de fevereiro de 1903, numa pequena cidade chamada Kozlau, que era na Áustria, mas hoje por conta da mudança dos mapas fica na República Tcheca. Seu nome de batismo era Matěj Šindelář. Quando ele tinha dois anos de idade, seus pais mudaram-se para o bairro pobre de Favoriten, no subúrbio de Viena, a sofisticada capital austríaca. Foi lá que o jovem Matthias cresceu.

Em 1917, quando Sindelar tinha 14 anos, veio a I Guerra Mundial e seu pai morreu em combate. Teve então que começar a trabalhar como aprendiz de serralheiro para sustentar a mãe e três irmãs. Sua única diversão era jogar futebol no asfalto das ruas vienenses. Como os Sindelar não eram muito abastados, o futuro craque e os seus amigos não jogavam com bola de couro, e sim com uma bola feita de trapos.

Aos 16 anos, Sindelar foi descoberto por um olheiro que o levou para jogar nos juvenis do ASV Hertha, onde ele teve as primeiras experiências em uma equipe organizada. Após mostrar um alto rendimento nas categorias de base, fez a sua estréia no elenco principal quando tinha 18 anos.

Em 1923, sofreu uma séria lesão em um dos joelhos, fora dos gramados, e correu o risco de não poder mais jogar futebol. Graças ao famoso médico Hanz Spitzy, que o operou, o craque conseguiu se recuperar e dar continuidade à sua carreira. Um ano depois da lesão, o atacante deixou o Hertha, que foi rebaixado e em conseqüência passava por sérias dificuldades financeiras, sendo obrigado a vender seus principais jogadores.

Sindelar decidiu permanecer em Viena e em 1924 assinou contrato com o Wiener Amateure, o “time das camisas violetas”, que deu origem ao Áustria Viena, e que havia acabado de ser campeão nacional. Era um clube ligado à classe média judaica.

E logo vieram os títulos. Em 1925, o atacante conquistou o seu primeiro triunfo futebolístico, a Copa da Áustria, além de ter ficado com o vice no Campeonato Austríaco. Em 1926, com o fim do amadorismo o clube mudou a denominação para Áustria Viena e ganhou a copa austríaca e o campeonato nacional.

Em 1933, Sindelar conduziu praticamente sozinho o seu clube ao título da Copa da Europa Central, precursora da Liga dos Campeões da UEFA. Na final contra a Internazionale de Milão, que contava com ninguém menos do que Giuseppe Meazza em campo, o atacante fez os dois gols na vitória por 2 X 1 no jogo de ida e também balançou as redes no jogo de volta, vencido pela sua equipe por 1 X 0.

Depois de vencer a Copa da Áustria em 1935 e 1936, o Áustria Viena conquistou mais uma Copa da Europa Central em 1936. Para chegar ao seu segundo título continental em quatro anos, a equipe venceu o Sparta de Praga na final.

Sindelar era alto e magro, tinha 1,75 metro de altura e 76 quilos. Seu estilo de jogo era leve e elegante, sem usar o corpo. Por isso ganhou durante a Copa de 1934, o apelido de “Der Papierene”, que quer dizer “feito de papel”. É considerado o maior esportista austríaco do século XX. Era um centroavante goleador que também voltava para buscar jogo e puxar os marcadores para fora da área, tabelando com os meias.

O incrível é que detestava treinar, adorava fumar, beber, jogar baralho e se divertir com prostitutas nos bordéis. Apesar disso, foi um grande futebolista. Quando alguém lhe perguntava como conseguia ser um atleta com tantos vícios, costumava dizer: “Talvez por isso tudo. Só joga bem quem está feliz”.

Em 1926 Sindelar foi convocado pela primeira vez para jogar na seleção de seu país. No jogo de estréia contra a antiga Tchecoslováquia, tinha 23 anos e fez o gol da vitória por 2 X 1. Nos jogos seguintes, contra Suíça e Suécia, o atacante voltou a deixar a sua marca.

Depois de uma derrota para um selecionado do sul da Alemanha, o jogador ficou 14 jogos sem ser convocado pelo técnico Hugo Meisl, que por algum motivo não gostava da habilidade do atacante. Três anos depois, em 1931, voltou a ser chamado, principalmente devido à pressão dos torcedores e da imprensa, que exigiam a sua convocação.

Logo no primeiro jogo após o retorno de Sindelar, os austríacos conseguiram uma surpreendente goleada por 5 X 0 sobre a Escócia em uma partida que marcou a primeira derrota dos escoceses contra seleções de fora do Reino Unido. Foi o início de uma seqüência de vitórias sem precedentes e o nascimento do "Time Maravilha" austríaco.

Depois disso, a seleção austríaca conseguiu boas vitórias contra o Império Alemão, a Suíça, a França e a Bélgica. Mas o auge de Sindelar e dos seus colegas de selecionado aconteceu no dia 24 de abril de 1932 com a goleada de 8 X 2 sobre a Hungria. O craque de 29 anos marcou três gols e deu o passe para os outros cinco. No mesmo ano, a Áustria venceu a Copa Européia de Seleções (Coapa Doutor Gero), um torneio precursor da Eurocopa.

O "Time Maravilha" jogou 16 partidas entre 1930 e 1933, venceu 13, empatou duas e perdeu apenas para a Inglaterra, em Stamford Bridge, por 4 X 3, em dezembro de 1932. Aquela foi a primeira vez em que os ingleses levaram mais de um gol dentro da sua ilha.

Nesse jogo Sindelar marcou um gol maravilhoso, uma verdadeira obra de arte. “Ele pegou a bola no meio do campo e disparou com a sua incomparável elegância, driblando tudo o que aparecia pela frente, e concluiu para o fundo do gol." Foi assim que o árbitro belga John Langenus descreveu em sua súmula o gol de Matthias Sindelar.

Dias depois, em Viena, veio a desforra, 2 X 1. E entre as vitórias obtidas pela seleção da Áustria ocorreram algumas goleadas: 4 X 0 na Franca, 5 X 0 na Alemanha, 6X 1 na Bélgica, 8 X 2 na Hungria e 8 X 1 na Suíça.