Boa parte de um vasto material recolhido em muitos anos de pesquisas está disponível nesta página para todos os que se interessam em conhecer o futebol e outros esportes a fundo.

domingo, 22 de março de 2015

O campo de futebol mais antigo do mundo

Duas cidades vizinhas no coração da Inglaterra, Sheffield e Nottingham, tem bons motivos para sentirem orgulho. Em Nottingham está o clube profissional mais antigo do Mundo, o Notts County. 

E no subúrbio de Crosspool, em Sheffield localiza-se o mais antigo campo de futebol do mundo ainda em atividade, o “Sandygate Road”, pertencente ao Hallam F.C., fundado em 4 de setembro de 1860.

O velho gramado foi inaugurado no dia 26 de dezembro de 1860, com o primeiro jogo oficial entre dois clubes na história do futebol, fato confirmado pelo prestigioso “Guiness Book of Records”, o famoso “Livro dos Recordes”.

Nessa data estiveram em campo as equipes do Hallam F.C. e do Shefield F.C. , que ainda disputa com o Notts County, o título de time mais velho do mundo. Não ficaram registros do resultado final, mas existem relatos que variam entre o empate e a vitória do Hallam.

Em 2010 os dois times voltaram ao mesmo local do primeiro jogo, para comemorar os 150 anos desse histórico encontro, transcendental na evolução do futebol de um desporto de colégios para um jogo de impacto global

Quem viu o filme “When Saturday Comes”, protagonizado por um jovem Sean Bean, um operário que sonhava em ser futebolista profissional, conhece bem o mítico recinto. Nesse filme de 1996, o “Sandygate Road” foi resgatado pela diretora Maria Gise, para servir como campo de jogos da equipe amadora onde Bean começou a dar os seus primeiros toques, antes de acabar por assinar um contrato profissional com o Sheffield United.

Na realidade o “Sandygate Road” existe desde 1804. Inicialmente era utilizado como campo de cricket, o desporto mais popular na Inglaterra ao início do século XIX. Só a partir de meados dos anos 1850 começaram a disputar-se ali os primeiros encontros não oficiais de futebol.

Em 1860 fundou-se num pub próximo o Hallam F.C., clube amador que ainda hoje subsiste. Suas cores são o azul e o branco. Nesse mesmo ano o clube decidiu organizar com os rivais locais o primeiro jogo oficial entre clubes.

A partir daí o recinto passou a ser a base de desenvolvimento do futebol na cidade. Durante dois anos foi o único local onde se disputavam jogos oficiais entre o número, cada vez mais crescente, de clubes na cidade.

Em 1862, quando o “Bramall Lane”, atual estádio do Sheffield United deixou de receber jogos de cricket para dedicar-se ao futebol, já havia 15 clubes na cidade e a utilização de Sandygate Road tinha atingido o seu auge de popularidade.

Chegaram a disputar-se, no mesmo dia, quatro jogos distintos naquele recinto. 
A popularidade do futebol em Sheffield era tal que se chegou a criar um conjunto de regras exclusivas para os clubes da cidade, conhecidas mais tarde como “Sheffield Rules”, um dos elementos fundamentais no que viria mais tarde a ser a base do Football Association.

Até ao final do século XIX, o “Sandygate Road” continuou a ser utilizado pelos times do Hallam, Sheffield F.C., Sheffield United e Sheffield Wednesday, mas com a crescente popularidade do jogo a maior capacidade do “Bramall Lane” e “Hillsborough”, levou progressivamente a que o pequeno campo se dedicasse exclusivamente a torneios de clubes amadores na cidade, funcionando como sede regular do Hallam F.C. Tal e qual como hoje em dia, mais de um século depois.

O Hallam ganhou a sua primeira competição de futebol em 1867, a Copa Youdan. O troféu de prata foi perdido pelo clube, e só foi encontrado em 1997, em posse de um escocês, colecionador de antiguidades que o vendeu ao Hallam pelo equivalente a R$ 2 mil.

No ano passado o troféu foi destaque na BBC, no programa “Antiques Roadshow”, tendo sido avaliado em 100 mil Euros. Posteriormente, o presidente do clube, Chris Taylor, disse que o clube não tem planos de vender a relíquia, considerada o mais antigo troféu de futebol do mundo.

Embora tenha experimentado jogar futebol profissional entre os anos 1870 e 1880, o Hallam preferiu permanecer totalmente amador. No verão de 1886 o clube, por razões desconhecidas, mas provavelmente por causa de contratos financeiros foi dissolvido, mas um ano depois, voltou as atividades.

O Hallam disputou pela primeira vez na Liga em 1892. Ganhou o “Hatchard”, tíítulo da “League” pela primeira vez em 1903. Um ano mais tare repetiu o feito, mas perdeu o play-off final, disputado entre as quatro melhores equipes, e assim entregou seu título. Também chegou à final da “Copa Senior Sheffield” e “Hallamshire” pela primeira vez em 1904, mas perdeu por 6 X 1 parao  Barnsley, em “Bramall Lane”.

Em 1911 o clube competiu pela primeira vez na “FA Cup Amador”. Três anos mais tarde, mesmo com o eclodir da Primeira Guerra Mundial, o Hallam continuou a jogar, saindo da “Hatchard League”, para se juntar ao Sheffield Amador e ligas menores.

Em 1917, o clube paralisou as atividades futebolistas, só voltando a “Sheffield Amateur League”, após as hostilidades, em 1919.
No final da temporada 1932-1933 o proprietário da casa pública Plough Inn decidiu arrendar o “Sandygate Road”. Em vista disso o clube se absteve de jogar futebol por um período de 15 anos.

O retorno de Hallam ao futebol foi em 1947, quando conseguiu novamente a posse do “Sandygate Road”, disputando a “Sheffield Amateur League”, para depois filiar-se novamente a reformada “Hatchard League”, que posteriormente se uniu a “Associação League Sheffield”.

Em 1949 ganhou o título pela primeira vez. Um ano depois o Hallam conquistou a “Copa Senior Sheffield”, também pela primeira vez, quando bateu o Stocksbridge Works, em Hillsborough, frente 7.240 espectadores. 

Em 1952 ingressou na “Yorkshire League”. Depois de ganhar a promoção para a primeira divisão da “Yorkshire League” pela segunda vez em 1960, o Hallam passou 20 anos jogando no mesmo nível.

O clube passou a maior parte de sua história na “Divisão Premier”, que atualmente se encontra no nível 9 do sistema da Liga de Futebol Inglesa. Mas em 2011 eles voltaram a disputar a Primeira Divisão. Em 2004, o clube venceu a competição da “League Cup”, ao bater o Mickleover Sports, em Buxton.

Em 2012, o “Sandygate” foi reformado, graças a uma doação póstuma de um torcedor, deixando ao clube uma quantidade substancial de dinheiro em seu testamento. disputa atualmente a Northern Counties East League Division One. (Pesquisa: Nilo Dias)

Foto atual do "Sandygate Road". (Foto: Divulgação)

terça-feira, 17 de março de 2015

O jogador que escapou da morte

O jogador Bernardo, do Vasco da Gama, na época com 22 anos e pai de quatro filhos - Beatriz, Enzo, Lucca e Mattheo -, certamente não vai esquecer pelo resto da vida os momentos de pavor que viveu em abril de 2013, depois de ter-se envolvido com a mulher de um traficante de drogas, do Morro da Maré, no Rio de Janeiro.

Tudo começou quando ele e os jogadores Charles, que na época jogava no Palmeiras e Wellington Silva, do Fluminense, saíram à noite para uma festa na “Favela Salsa e Merengue”. Lá o vascaíno teria se envolvido com Dayana Rodrigues, uma das várias esposas do traficante Marcelo Santos das Dores, o “Menor P”, chefe do tráfico da comunidade.

Ao ficar sabendo que os dois estavam juntos, “Menor P” ordenou que fossem sequestrados e levados ao “Morro do Timbau”, na Maré, para serem mortos. Mas Wellington Silva, nascido na favela e conhecido dos traficantes, tentou amenizar a situação.

Segundo policiais do 21ª DP de Bonsucesso, as cenas foram brutais. O casal foi levado a uma casa na “Vila do João”, onde foram amarrados com fita crepe e nus passaram por sessões de tortura com choques elétricos e espancados, com chutes e pontapés.

Armados, os traficantes estavam dispostos a matar os dois. Foi quando Wellington Silva implorou pela vida de Bernardo. Argumentou que se o jogador morresse, “Menor P” se arrependeria mais tarde, pois assim que fosse divulgada a morte de Bernardo, certamente viria a retaliação.

O “Complexo da Maré” seria invadido e ali instalada uma “Unidade de Polícia Pacificadora” e “Menor P” não teria mais como traficar no local, perdendo o controle da favela. O argumento funcionou e Bernardo foi poupado. Mas Dayana comeu o pão que o diabo amassou.

“Menor P” perderia prestígio se não reagisse. Bernardo escaparia, mas a amante, não. Dayana tomou tiros de raspão e um na perna. Teve de ser operada, passou por dois hospitais. Assustada, não quis incriminar “Menor P”. Ao depor, disse que foi vítima de bala perdida.

Bernardo nasceu em Sorocaba, interior de São Paulo. É filho do ex-jogador “Hélio Doido”, com passagens por Vitória da Bahia, Fluminense, Palmeiras e Sport. De temperamento explosivo, surgiu no Cruzeiro. Jogou até na Seleção Brasileira sub-15.

Bernardo era uma grande promessa. Mas seu ponto fraco era conhecido, o gosto pelas noitadas. Os dirigentes cruzeiristas não gostavam de suas farras e por isso decidiram que o investimento não valia a pena. Seus maus exemplos poderiam influenciar outras jovens promessas do clube. Por isso foi emprestado ao Goiás e depois ao Vasco.

No time cruzmaltino Bernardo teve um ótimo desempenho em 2011, tendo marcado 18 gols. Por isso o Vasco pagou R$ 3,5 milhões para ficar com seus direitos. Mas o arrependimento não demorou a chegar, o jogador vivia nas baladas e as cobranças da Diretoria de nada adiantaram.

Bernardo não deixou por menos, acionou o clube na Justiça, alegando atrasos nos salários. Mas acabou entrando em acordo com o Vasco e a situação foi contornada e ele emprestado ao Santos.

Na época o técnico santista era Muricy Ramalho, que gostou do meia atacante. Mas o desencanto não demorou. Bernardo fez o mesmo que Adriano no São Paulo, mais interessado na noite do que em outra coisa. E logo foi afastado do grupo. O temor do técnico era que seus maus exemplos influenciassem principalmente Neymar, a jóia do time.

E não restou outra alternativa senão devolvê-lo ao Vasco. Com apenas 22 anos, perdera totalmente a confiança dos dirigentes, que estavam outras vez atentos as suas noitadas.

Foi quando veio a contusão, tendo rompido o ligamento cruzado do joelho esquerdo, num jogo frente o Quisamã. Era o artilheiro do fraco time vascaíno com sete gols. A contusão travou a vontade de negociá-lo. O diagnóstico: seis meses sem poder jogar futebol.

A expectativa era de que só voltasse a jogar em 2014. Mas como sempre as coisas podem piorar, veio o problema coma mulher do traficante “Menor P”. De acordo com policiais, Bernardo teve motivos de sobra para comemorar. Escapou por sorte de ser assassinado. E deve agradecer isso a Wellington Silva.

Bernardo entrou na época, no seleto grupo de jogadores problemas, como Adriano, Marcelinho Paraíba e Jobson. Bons jogadores, mas problemáticos crônicos. Chegou a fazer tratamento intensivo com a psicóloga do Vasco, uma tentativa extrema de tirá-lo das farras.

Mas não deu certo. Com o vazamento da notícia de quase foi morto no morro, o jogador ficou desesperado e chegou a dizer que poderia até se suicidar. Ele, com medo de represálias por parte do traficante, dizia que nada do que foi divulgado era verdade.

Em maio de 2014, Bernardo foi emprestado ao Palmeiras até o fim do ano. Pelo acordo, o Palmeiras teria a opção pela compra de 50% do atleta, que, por sua vez, está vinculado aos cariocas até dezembro de 2015.

Mas não deu certo. No clube paulista jogou sete partidas e não fez um gol sequer. Por isso em novembro foi devolvido ao Vasco, onde se encontra até hoje, sendo titular da equipe no Campeonato Carioca. (Pesquisa: Nilo Dias)

Bernardo está de volta ao Vasco. (Foto: Divulgação)

segunda-feira, 9 de março de 2015

O fim trágico de “Agostini Gol”

Agostino Di Bartolomei foi um dos grandes nomes na história da A.S. Roma, onde jogou entre 1972 e 1975 e depois, pela segunda vez, de 1977 até 1984. Revelado pelo clube da capital italiana, jogou ainda no Vicenza Cálcio (1975-76), A.C. Milan (1984-87), Cesena (1987-88) e Salernitana (1988-90).

Nasceu em San Marco di Castellabate, em Roma, no dia 8 de abril de 1955, e morreu no dia 30 de maio de 1994, em sua cidade natal. Jogava de meio-campista. Foi campeão italiano da Série A em 1983 e três vezes da “Coppa Itália” (1980, 1981 e 1984). Encerrou a carreira em 1990, aos 35 anos de idade.

Alcançou a fama quando defendia a Roma, conquistando a admiração dos torcedores romanos, que até criaram um grito próprio para o jogador: “Ohhhhhhhhhhhhhhh, Agostino, Ago, Ago, Ago, Agostino gol!!!”

Quando jogava pela Roma, chegou a condição de capitão do time, por escolha do então técnico Nils Liedholm. Até ser capitão, o tímido e dedicado rapaz nascido e criado em Roma, batalhou em equipes juvenis, categorias de base e em todos os torneios que poderia disputar quando garoto.

Antes de tudo, Agostino tinha um imenso amor pela camisa da Roma, prova disso é que aos 12 anos de idade, se recusou a integrar os plantéis infantis da Lazio. Algo igual a outros grandes astros como Paolo Maldini, Franco Baresi, Steven Gerrard, Marcos, Rogério Ceni e Francesco Totti.

Ele defendeu o clube romano por 12 temporadas, conduzindo a meia cancha com classe e garra. O camisa 10 teve sempre o seu nome gritado com fervor pela massa torcedora, desde os anos mais difíceis até a consagração nas mãos do treinador Liedholm.

A década de 1970 poderia até ser esquecida pelos torcedores, já que a Roma e Agostino passaram por maus bocados, com péssimas campanhas e elencos fraquíssimos.

Assim como Bruno Conti, outra joia criada na Roma, o volante teve um período fora do time para ganhar experiência. No Vicenza, ficou quase dois anos entre 1975 e 1977, até retornar e conquistar seu espaço entre o plantel titular.

A partir daí se consolidou como um líder dentro de campo, a medida que a agremiação começava a crescer, sendo três vezes campeão da “Coppa Italia” e campeão da Serie A em 1982-83. Ele conseguia mesclar a força com a técnica e a inteligência. Tinha um chute fortíssimo, tendo marcado mais de 50 gols com a camisa romana.

Agostino, quando da conquista do título de 1983, enfrentou uma batalha duríssima contra a Juventus, rodada a rodada. Um simples empate contra o Genoa em 8 de maio de 1983 coroou pela segunda vez a Roma como campeã nacional, fato que só se repetiria 18 anos depois, com Totti, Batistuta, Montella e companhia.

Um ano depois, brigando pelo bicampeonato, e por mais espaço no futebol europeu, a Roma viveu seu primeiro de muitos momentos de drama. Do dia 30 de maio de 1984 em diante, a história da agremiação da capital foi mudada para sempre.

O time conseguiu chegar a final da “Copa dos Campeões”, com a difícil tarefa de evitar que o Liverpool , tricampeão continental alcançasse a quarta conquista consecutiva. O time inglês encantava o mundo, com um elenco quase imbatível, com jogadores do nível de Grobelaar, Hansen, Lawrenson, Nicol, Souness, Aldridge, Rush e Dalglish, entre outros.

A decisão europeia foi no “Olímpico”, em Roma. No tempo normal, Neal fez 1 X 0 para os ingleses, depois de uma falha incrível da defesa italiana. Aos 42 do primeiro tempo, Pruzzo,” Il Bomber”, de cabeça empatou.

A igualdade persistiu ao final dos 90 minutos, e a decisão foi para as penalidades máximas. Conti e Graziano erraram, Agostino marcou, mas a vitória foi inglesa por 4 X 2, calando a torcida romana e sacramentando que não seria daquela vez que a Roma chegaria ao título.

Na temporada seguinte, foi negociado com o Milan e não mais retornou para a Roma, time em que se fez homem, jogador, capitão e ídolo. Depois de passagens apagadas por Milan, Cesena e Salernitana, Agostino Di Bartolomei encerrou sua trajetória como profissional em 1990.

Pai de família, morando em uma bonita casa em Castellabate, na província de Salerno, o ex-craque passou seus anos finais cuidando do seu jardim, já sem nenhuma ligação com o futebol, que lhe trouxera um grande trauma e um peso incalculável em sua vivência.

Ele não conseguiu se livrar da ideia de que poderia ter feito melhor no jogo decisivo contra o Liverpool, inclusive de ter marcado um gol que mudasse o curso daquela decisão.

Os anos que se seguiram na década de 80, não foram nada bons para o time romano. Embora tivesse no elenco um craque da categoria de Giuseppe Giannini, que para muitos jogou na equipe no tempo errado, a Roma viveu um período de pequenas conquistas, isso quando elas aconteciam. O clube enfrentou uma época de decadência e acomodação.

Em 30 de maio de 1994, 10 anos depois da fatídica decisão europeia em 1984, Agostino vivia momentos de depressão por carregar uma culpa excessiva, com sérias dívidas financeiras e acima de tudo sem perspectivas para o futuro.

Foi então que resolveu deixar uma triste nota aos seus entes. Dizia que se sentia em um buraco. Foi encontrado morto com um tiro na cabeça, aos 39 anos de idade.

A triste história do suicídio de Agostino Di Bartolomei é contada no livro "A última partida: vitória e derrota de Agostino Di Bartolomei", escrito por Giovanni Bianconi e Andrea Salerno. (Pesquisa: Nilo Dias)

Agostino Di Bartolomei. (Foto: Divulgação)