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sexta-feira, 23 de outubro de 2015

O Olaria também é centenário

O Olaria Atlético Clube, uma tradicional agremiação esportiva do Rio de Janeiro, completou seu centenário no último dia 1 de julho. O clube foi fundado por um grupo de rapazes que costumava jogar futebol na rua Filomena Nunes, naquele bairro leopoldinense. O que era quase uma ousadia, pois no início do século 20 o esporte era tido como uma exclusividade das elites.

No dia 1 de julho de 1915, uma quinta feira, os fundadores do clube se reuniram na residência do capitão Alfredo de Oliveira, na Rua Filomena Nunes 202 (atual 796). Todos queriam que o clube tivesse o nome do bairro, o que realmente aconteceu. Na fundação chamava-se Olaria Football Club.

Os fundadores foram Alfredo de Oliveira, Carolino Martins Arantes, Sylzed José de Sant’Anna, Elmano Jofre, Hermogêneo Vasconcellos, Manoel Gonçalves Boaventura, Isaac de Oliveira, Jaci de Oliveira e outros. Suas primeiras cores foram o preto e o branco e o primeiro escudo era constituído de um losango preto com as iniciais “OFC”.

A denominação atual de Olaria Atlético Clube foi definida em 1920. As cores também mudaram, passando a ser azul e branco e foi concebido o atual escudo, cujo primeiro desenho é atribuído a um associado cujo apelido era “Gasolina”.

O escudo atual reúne as atividades esportivas dos primeiros anos de fundação: futebol, tênis e escotismo do mar, este praticado na extinta praia de Maria Angu, aterrada durante as obras da Avenida Brasil.

Inicialmente o Olaria filiou-se à extinta Liga Suburbana e seu primeiro campo ficava na Rua Leopoldina Rego. Em 1931, o clube sagrou-se campeão invicto da Segunda Divisão da Associação Metropolitana de Esportes Atléticos (AMEA), até hoje um dos mais importantes títulos da sua história. Com a conquista ganhou o direito de participar da Primeira Divisão do Campeonato Estadual.

Foi vice-campeão carioca de 1933, em um dos campeonatos organizados pela então Associação Metropolitana de Esportes Atléticos (AMEA), que era filiada a Confederação Brasileira de Desportos (CBD).

Quatro anos depois, em 1937, o Olaria viveu um dos momentos mais dramáticos da sua existência, ao ser afastado da nova Federação, criada para unificar o futebol carioca. Com isso, até a continuidade do clube foi ameaçada.

Foram 10 anos de espera, mas em 1947 o Olaria conseguiu retornar de forma triunfante à Primeira Divisão, depois de erguer o seu estádio na Rua Bariri, o “Antônio Mourão Vieira Filho”, que foi inaugurado com o jogo amistoso entre Fluminense X Vasco da Gama, vencido pelo time tricolor por 5 X 4.

Friaça, atacante do time cruzmaltino foi o autor do primeiro gol no estádio que era chamado de “Alçapão”, pelas dificuldades que os adversários encontravam para bater o Olaria em seus domínios.

O Complexo Esportivo da Rua Bariri se completa com o “Ginásio Álvaro da Costa Mello”, com capacidade para mais de duas mil pessoas, e o Parque Aquático, erguido em 1963, na gestão do então presidente José de Albuquerque. Com isso, o Olaria tornou-se uma das referências de lazer na zona leopoldinense.

Com o advento do Maracanã, em 1950, o Olaria, a exemplo dos demais clubes cariocas, deixou o seu estádio para jogar no “maior do mundo”, na época. E não fez feio, tendo chegado a frente de Flamengo e Fluminense, no primeiro campeonato que disputou no Maracanã.

A escalação do Olaria naquele ano, qualquer criança carioca sabia de cor: Mílton - Amaro e Lamparina – Jair - Olavo e Ananias – Jarbas – Alcino – Maxwell - Washington e Esquerdinha. e Fluminense.

Um feito histórico aconteceu em 1954, quando tornou-se o primeiro clube carioca a dar uma volta ao mundo. A excursão foi entre 27 de março e 7 de julho, mais de 100 dias fora do Brasil, a chamada "volta ao mundo", impraticável para os dias atuais.

Ao todo, foram 30 jogos em 10 países: Alemanha, Colômbia, Equador, Espanha, EUA, França, Inglaterra, Líbano, Luxemburgo e Turquia. O saldo não foi dos melhores, oito vitórias, nove empates e 13 derrotas.

Em 1960, foi campeão do Torneio Início do Campeonato Carioca, tendo surpreendido o Fluminense no jogo final, com uma vitória de 2 X 0. Foi também o primeiro clube a ganhar um título no recém-criado Estado da Guanabara.

Em 1962, o Olaria formou um timaço, que tinha grandes valores: Ernâni – Murilo – Navarro - Haroldo e Casemiro - Nélson e Valdemar – Jaburu – Cané - Rodarte e Romeu.

Quase todos foram contratados por gigantes do futebol brasileiro. Haroldo, pelo Santos de Pelé. Murilo, Nélson e Navarro pelo Flamengo. A transferência mais badalada, no entanto, acabou sendo a de Jarbas Faustino, o Cané, negociado com o Napoli, onde jogou por 10 anos, e que está na Itália até hoje.

Depois de uma campanha excelente no Campeonato Carioca, ganhou o direito de disputar o Torneio Rio-São Paulo do ano seguinte. A participação do Olaria na competição interestadual não foi boa. Os resultados obtidos foram estes:

14/02: Flamengo 4 X 1 Olaria; 20/02: Botafogo 2 X 1 Olaria; 02/03: Fluminense 1 X 0 Olaria; 06/03: Vasco 0 X 0 Olaria; 10/03: São Paulo 2 X 1 Olaria; 16/03: Santos 5 x 1 Olaria; 21/03: Corinthians 2 X Olaria; 24/03: Olaria 1 x 3 Palmeiras e 28/03: Olaria 4 x 4 Portuguesa de Desportos.

O time foi o último colocado entre os 10 participantes, com a seguinte campanha: Jogos: 09; Pontos Ganhos: 02; Vitórias: 0; Empates: 02 e Derrotas, 07; Gols marcados: 09: Gols sofridos: 23 e Saldo Negativo: 14 gols.

Quando o Santos jogou pela primeira vez no Rio, em 22 de março de 1964, os 11 jogadores que entraram em campo, para enfrentar o Fluminense, fizeram uma homenagem aos cariocas, em agradecimento ao apoio dado, quando das vitórias de 4 X 2 e 1 X 0 sobre o Milan-ITA, na conquista do bicampeonato mundial, obtido em novembro de 1963. Cada craque vestiu a camisa de um clube local. E o “Rei Pelé” estava com a do Olaria.

Em 1971 o time foi terceiro lugar no Estadual, atrás apenas de Fluminense e Botafogo, mesmo sem ter jogado uma só partida na Rua Bariri, pois o estádio se encontrava em obras. A equipe jogou aquela competição com camisas listradas.

O time era bom: Pedro Paulo – Haroldo (que não era o do Santos) – Miguel - Altivo e Alfinete - Afonsinho e Roberto Pinto - Marco Antônio – Salvador - Luiz Carlos Feijão e Antoninho.

Miguel atuou na “Máquina Tricolor” em 1976. Pedro Paulo, Alfinete e Afonsinho, no Vasco. E “Feijão” foi “Pelé”, quando jovem, no filme sobre a vida do “Rei”.

Em 1972 o grande destaque foi a presença de Garrincha na equipe. Também foi o último time do “Anjo das Pernas Tortas” como jogador profissional. Jogou 10 partidas pelo time, tendo marcado somente um gol. Foi num empate de 2 X 2 contra o Comercial, de São Paulo, em 23 de março de 1972.

Os anos de 1973 e 1974 marcaram a participação do Olaria na Divisão Principal do Campeonato Brasileiro, quando conseguiu, inclusive, a façanha de derrotar o Santos por 2 X 1 em plena Vila Belmiro.

Em 1973, entre 40 participantes, o Olaria classificou-se em 31º lugar. Somou 24 pontos em 28 jogos; Venceu 7 jogos; Empatou 10 e perdeu 11; Marcou 27 gols, sofreu 29 e teve um saldo negativo de 2 gols.

Em 1974, melhorou a colocação, chegando em 29º lugar entre os 40 participantes. Disputou 19 jogos e somou 16 pontos; Venceu 5 partidas, empatou 6 e perdeu 8; Seu ataque marcou 17 gols e a defesa sofreu 22, com um déficit de 5 gols.

O clube se orgulha de ter revelado Romário de Souza Farias para o futebol brasileiro e mundial. Em 1979, um olheiro o levou para fazer testes no infantil do Olaria, onde marcou os primeiros sete gols, dos mil contabilizados.

De cara ele foi artilheiro e campeão carioca na categoria infantil. Destaque entre os jogadores da equipe foi levado depois ao Vasco da Gama, onde foi obrigado a fazer um "estágio" de um ano, pois não tinha condições legais de ingressar no clube por causa de sua tenra idade.

A estreia pelo time da rua Bariri foi num empate de 1 X 1 com o Flamengo, em 23 de fevereiro de 1972. O último jogo com a camisa do Olaria foi em uma derrota de 5 X 1 para a Caldense, de Minas Gerais, dia 7 de setembro de 1972.

O último ano que traz boas lembranças ao Olaria foi 1981 quando conquistou um título nacional de grande importância, o de campeão brasileiro da “Taça de Bronze”, quando venceu nas finais ao Santo Amaro, de Recife (PE).

No primeiro jogo, disputado no Rio de Janeiro, no dia 25 de abril, o Olaria goleou por 4 x 0. No segundo jogo, dia 1º de maio, na casa do adversário perdeu por 1 X 0 e foi campeão.

Outros jogadores de destaque nasceram ou vestiram a camisa azul com a faixa branca, como os goleiros Ubirajara Alcântara e Wagner, o lateral Moreira, os zagueiros Gonçalves e Joel Santana, os meias Jair Pereira e Aílton, e os atacantes Dé, Mickey e Ézio.

Em 2005 foi rebaixado para a Segunda Divisão do Campeonato Carioca. No ano seguinte conseguiu retornar a elite, conquistando uma das quatro vagas de um torneio seletivo, em que participaram 16 clubes. Contudo a Justiça anulou esse certame e o clube teve de jogar a segunda divisão no ano seguinte.

Em 2007 a Segunda Divisão carioca classificou cinco times para a Primeira Divisão, mas o Olaria não conseguiu nenhuma das vagas. Como consolo foi vice-campeão da Copa Roberto Dinamite de Juvenis, revelando alguns jogadores como Wander, contratado em 2008 pelo Manchester United, da Inglaterra.

Em 2008, as vagas foram apenas duas. Mas o time ficou somente na quarta posição. Em 2009, conseguiu finalmente o acesso para a Primeira Divisão do Campeonato Carioca, depois de cinco anos.

Em 2010 se garantiu na elite, com a oitava colocação no Estadual.  Em 2011, o Olaria fez grande campanha na Taça Rio e conseguiu se classificar para as semifinais do campeonato, mas acabou sendo eliminado pelo Vasco, quando foi derrotado por 1 X 0.

Em 2012 foi 10° colocado, mas conseguiu permanecer na Divisão Principal carioca. Em 2013, depois de uma péssima campanha, acabou sendo rebaixado para a Segunda Divisão.

O Olaria centenário, amarga desde 2014 a Série B do Estadual, mas é o nono clube com o maior número de presenças na divisão de elite do Rio, ao todo 63 vezes, de 1924 a 2013, entre os 70 clubes que já disputaram o campeonato desde 1906. Está atrás apenas de Fluminense, Botafogo, Flamengo, América, Bangu, Vasco, São Cristóvão e Madureira. (Pesquisa: Nilo Dias)

Elenco campeão da Taça de Bronze de 81, com a Igreja da Penha ao fundo. (Foto: Wikipédia)