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terça-feira, 19 de março de 2013

A morte do "Canhão da Baixada"

Morreu hoje aos 64 anos de idade, o ex-jogador Vitorino Lopes Garcia, o Torino, que nasceu em Pelotas, no dia 1º de novembro de 1948. Ele ultimamente morava na Praia dos Ingleses, em Florianópolis, e desde o ano passado enfrentava uma dura luta contra o câncer.

Ainda assim, cuidava de uma escolinha de futebol que levava seu nome e era comentarista esportivo da Rádio Ilha Norte FM na cidade. Deixou quatro filhos, três mulheres e um homem, que nasceu no Chile e atualmente reside em Curitiba, onde é preparador físico. E ainda oito netos. O sepultmento acontece hoje em Florianópolis.

Em sua casa no litoral catarinense, Torino recebia, com freqüência, as visitas de Afonsinho e Paulo César “Caju”, ex-jogadores e grandes amigos conquistados durante a carreira. Sobre a praia dos Ingleses costumava dizer: “Aquilo lá é “um paraíso”, e graças a Deus “vivo para a minha família, para os bons amigos e para a escolinha de futebol que criei por lá”.

Torino começou a carreira jogando futebol de salão, defendendo o E.C. Fiação e Tecidos, de Pelotas de onde foi para o G.E. Brasil, que montara uma equipe que marcou história no salonismo do Rio Grande do Sul, conquistando vários títulos municipais e estaduais. A base daquele grande time era: Carlota – Cassiano e Pedalão – Peto e Torino.

Em sua vitoriosa carreira defendeu o G.E. Brasil, de Pelotas, Botafogo F.R., do Rio de Janeiro, Grêmio Portoalegrense, Clube Atlético Paranaense, Colorado, do Paraná, Internacional, de Lajes (SC), CSA, de Alagoas, Olaria, do Rio de Janeiro, Sergipe, Juventude, de Caxias do Sul e E.C. Pelotas.

Teve ainda uma exitosa passagem de oito anos pelo futebol chileno, levado pelo lendário ex-zagueiro Elias Figueroa. Depois de enfrentar algumas divergências políticas em razão de algumas medidas impostas pelo ditador Augusto Pinochet, Torino decidiu deixar o país e encerrou a carreira em 1985, jogando pelo La Serena.

Seu forte chute de perna esquerda, que lhe valeu o apelido de “Canhão da Baixada” e as grandes atuações pelo quinteto salonista “xavante”, fizeram com que Torino fosse guindado ao time profissional. Não demorou a chamar a atenção de dirigentes do Botafogo, que o levaram para o Rio de Janeiro.

No Grêmio, jogou ao lado de Everaldo, Jair, Espinosa, Ari Ercílio, Beto, Cláudio Radar, Jadir, Gaspar, Flecha, Alcindo, Loivo, Tarciso, Scotta, Volmir, Caio, Tião Quelé, Chamaco, Mazinho e Oberti. Ele chegou ao Olímpico em 1971, permanecendo até 1974.

Torino, que esteve ao lado de verdadeiros ídolos do futebol brasileiro, dizia que o melhor jogador com quem atuou foi o ex-atacante Gaspar, e os melhores que viu jogar foram Zito e Cruijff. Confessou ainda que quando era jogador, se inspirava nas jogadas e na forma de atuar de Joaquinzinho, craque que marcou época no futebol pelotense, especialmente no G.E. Brasil.

Dizia que entre os muitos técnicos com quem trabalhou, Otto Glória foi o melhor e Zagallo, o pior, pois não tinha pulso firme para comandar uma equipe.

Torino, em sua última visita a Pelotas, em junho do ano passado, concedeu entrevista ao programa "Pelotas 13 horas", da Rádio Universidade e conversou por telefone, com o ex-narrador de futebol, Wolney Castro, a quem se dizia agradecido, por ter “enchido de vida o futebol pelotense das décadas de 60 e 70”. Também perguntou pelo “grande” Wilson Carvalho, que marcou época no Farroupilha, de Pelotas e Portuguesa de Desportos, de São Paulo, entre outros clubes. E disse que seu amigo, o atacante Paraguaio, ex-Grêmio e Farroupilha, casara no Rio de Janeiro e morrera um tempo depois.

Em suas recordações lembrou de João Borges, um ponta esquerda “xavante”, que foi um verdadeiro símbolo do clube. Não esqueceu de Osvaldo Barbosa, zagueiro que marcou época e excelente treinador. Fez rasgados elogios a Caçapava e Birinha, que formaram o melhor meio-campo da história do G.E. Brasil. Perguntou pelo ex-lateral “xavante”, Adilson, que considerava uma grande figura humana.

Perguntado sobre Luis Felipe Scolari, preferiu o silêncio, dizendo apenas que não tinha vontade nenhuma de falar alguma coisa. Elogiou muito o ex-goleiro Danrlei, que segundo ele foi um verdadeiro “herói”, quando da tragédia com o ônibus ”xavante”.

Torino, como não poderia deixar de ser, lembrou dos bons tempos do salonismo. Homenageou Clóvis Bohns, o “Covinha”, a quem considerava um Pelé do futebol de salão, “craque maravilhoso, inigualável, inesquecível” e disse ter visitado o ex-atacante. Citou Pedalão, Cassiano, Prestes, o “espetacular” Peto, que encantava as plateias e o “admirável” Zé Allam, falecido o ano passado, que foi um jogador de alta classe.

Torino evitou falar dos técnicos Paulo de Souza Lobo, o “Galego” e Oswaldo Rolla, o “Foguinho”. Mas não esqueceu Oscar Urruty, “grande goleiro, grande conhecedor de futebol, além de ser um cidadão de bem”. Torino homenageou Getúlio Saldanha, ex-zagueiro e ex-técnico do E.C. Pelotas, “exemplo de cidadão, conhecedor do futebol, e pessoa chave na descoberta de talentos na Avenida Bento Gonçalves”.

Torino, que era um carnavalesco de primeira linha, fez duras criticas ao Carnaval de sua cidade, que no passado chegou a ser considerado um dos melhores do Brasil, mas devido a decisões equivocadas, se tornou inferior até aos festejos de pequenas cidades da região. Mesmo quando jogava em grandes clubes, Torino sempre dava um jeito de ir até Pelotas participar do Carnaval.

Como treinador, Torino dirigiu as categorias de base do Figueirense, foi auxiliar técnico no Guarani, de Palhoça e comandou o Clube Atlético Canoinhas, na segunda divisão catarinense. Um desejo que Torino não conseguiu concretizar, foi o de organizar um jogo de veteranos ao final de cada ano. (Pesquisa: Nilo Dias)

Torino, quando jogava no Grêmio. (Foto: Zero Hora)