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segunda-feira, 8 de junho de 2015

O centenário E.C. São Lourenço


Ao final do século 19, com toda a certeza, o futebol já era praticado em terras de São Lourenço do Sul pela criançada. E quem sabe até por jovens. Mas era jogado de forma desorganizada, sem nenhuma aplicação de regras.

A partir do inicio do século XX é que o esporte ganhou mais adeptos. Mas somente em 1913 - há quem diga que foi em 1908 - que o futebol na localidade foi organizado, com a fundação do Sport Club São Lourenço.

Todos os documentos oficiais encontrados até hoje, indicam que o clube foi fundado no dia 18 de março de 1913. Porém, ficou uma duvida no ar, já que o jornal “A Tribuna”, em sua edição de 7 de setembro de 1939, na página 12, na secção “A Tribuna Desportiva”, publicou um histórico sobre o clube, onde citou a data de 18 de março de 1908, como sendo a verdadeira de sua fundação.

É claro que pode ter ocorrido um erro de imprensa, muito embora as datas diferentes não apontem para isso. Sendo correta a publicação, o clube teria sido fundado cinco anos antes da data considerada oficial.

Essa tese é reforçada pela descoberta de um “Diploma de Sócio Honorário do Sport Club São Lourenço”, confeccionado na Litografia R. Strauch, na cidade de Rio Grande, e concedido em 10 de janeiro de 1925 ao coronel Américo Ferreira da Silva – então intendente municipal.

O diploma é assinado pelo presidente do clube, na época, José Antônio Vieira, pelo secretário Alberto F. Hadler e pelo thesoureiro Albino Schreiner Filho.

O que chama a atenção é que o diploma mostra claramente, no centro de uma coroa de louros, as palavras: “Fundado em 1908”. Isso certamente dá a entender que o clube na realidade foi fundado cinco anos antes do que se pensava e é comemorado, o que o tornaria mais velho que o Sport Club Internacional, de Porto Alegre e F.C.B. Rio-Grandense, de Rio Grande, por exemplo.

Mesmo que se mantenha o 18 de março de 1913 como a data oficial da fundação, isso em nada desmerece a história gloriosa do clube, que faz parte da seleta relação de centenários do futebol brasileiro. E o torna o mais antigo de São Lourenço do Sul e um dos mais antigos do Rio Grande do Sul.

O que se sabe com certeza, é que os seus fundadores foram os desportistas José Antônio Vieira, Octacílio Fiorame, Theodoro Brauner Sobrinho, Américo Soares Ferreira, Lothario Facundo da Silveira e Olímpio Macarthy. A senhorita Ondina Fiorame foi sua primeira rainha.

O interessante é que desde a fundação o agora E.C. São Lourenço ocupa o mesmo endereço, um quarteirão inteiro que pertencia à firma rio-grandina “Anselmi & amp”. O terreno foi adquirido por José Antônio Vieira, em nome do clube, no dia 25 de agosto de 1920.

O jornal “O Tempo”, que era editado na então Vila de São Lourenço, na edição que circulou três dias após a compra da área, noticiou que o terreno adquirido, localizado entre as ruas Pinheiro Machado, Deodoro, Garibaldi e Estero Belac, há anos vinha sendo ocupado pelo clube.

Na condição de proprietário o S.C. São Lourenço tratou de cercar a área, sendo o campo inaugurado em 17 de dezembro de 1933, na administração do presidente Fábio Bueno. O padrinho foi o Sport Club Marítimo, com seus primeiro e segundo times.

Na partida preliminar houve um empate sem gols. Apitou o jogo o senhor Carlos Schmidt, de Pelotas. Já o encontro principal terminou com a vitória do S.C. São Loureço, por 3 X 0. O time local mandou a campo as seguintes formações.

Aspirantes: Hugo – Arturzinho e Teodoro – Baiano – Oscar e Marinônio – Joãozinho – Lourenço - ??? - Dorneles e Heitor. Titulares: Antônio Cury – René Laforet e Juvenil Brauner – Olegário – Arno e Hugo Wienke - capitão Pinheiro - Nede e Pedro Tomaschewski. Na reserva ficaram: Geraldo, Sylvio Vieira, Armando, Jordão e Eloy, cujos sobrenomes não puderam ser confirmados, o que seria importante para a história esportiva lourenciana.

O E.C. São Lourenço quase sucumbiu em razão de forte crise financeira, ocorrida em 1935. Só conseguiu voltar em 1939, depois que foi eleita uma Diretoria, tendo a frente o presidente Guido Weymar.

Completaram a Diretoria: Presidente de Honra, Capitão Leônidas Ribeiro Marques, prefeito municipal; Vice-Presidente, Dario Brauner; 2o Vice-Presidente, Ignácio Crespo; 1º Secretário, Antônio Cury; 2º Secretário, Antônio Jesus dos Passos; Tesoureiro, Pamphilio Friedo Stenzel; 1º Orador, doutor Pio Soares Ferreira; 2º Orador, Darcy Di Calafiori; Capitão-Geral, Plinio Brauner; Adjunto, professor Armando das Neves; Guarda-Esporte, Sylvio Vieira e Adjunto, René Laforet.

Era intenção da nova Diretoria construir um muro de alvenaria em volta do campo e um pavilhão coberto. Uma grande campanha teve início, e já em abril desse ano o desportista Américo Ferreira da Silva doou mil telhas francesas para a cobertura da obra que, então, se iniciava.

A euforia dos dirigentes e torcedores era quase indescritível. O jornal “A Notícia”, edição de 15 de abril, chegou a noticiar que o clube pensava em construir também, quadras de tênis em suas instalações, o que causou merecidos aplausos, especialmente do sexo feminino.

A inauguração do pavilhão pioneiro deu-se com muita festa no dia 25 de dezembro de 1939, com a presença do padrinho Esporte Clube Pelotas, da vizinha cidade. Nessa ocasião o estádio já estava totalmente cercado com muros, duas faces com alvenaria e duas com tábuas. O gramado obedecia às regras internacionais de futebol.

Na noite de 20 de agosto de 1948, aconteceu a festiva inauguração de mais um notável melhoramento na sede do clube, a reforma da bonita, moderna e confortável arquibancada coberta, que levou o nome de “Pavilhão Doutor Pio Soares Ferreira”.

O corte da fita inaugural foi realizado pelo doutor Pio Ferreira. Uma placa de mármore – oferecida pelo sócio Pio Sotero de Quevedo – fixada na obra, dizia: “Pavilhão Dr. Pio S. Ferreira”.

Diretoria da época: Presidente, Pedro Tomaschewski; Vice-Presidente, Hilmar Berwaldt ; Tesoureiro, Manoel Balreira Vargas; Diretor de Patrimônio, Alexandre Berwaldt; Orador, doutor Álvaro de Carvalho e Presidente de Honra, Pamphilio Friedo Stenzel.

O pavilhão tinha 12 espaçosos camarotes, que garantiam uma panorâmica visão de todo o campo. As arquibancadas possuiam assentos de madeira sobre os degraus de cimento. A escadaria era de concreto armado, tudo devidamente pintado.

A associação futebolística vermelha e branca era motivo de orgulho para todos os seus associados. Os consecutivos presidentes revezavam-se em realizações. Jamais, em toda sua história, o Esporte Clube São Lourenço havia experimentado tantas melhorias. A equipe principal, dificilmente perdia um jogo mesmo jogando fora de casa e em cidades vizinhas.

Em que pese a participação social importante, a atividade principal do clube era a esportiva e, dentro dela, o futebol preponderava. O Esporte Clube São Lourenço chegou ao auge no ano de 1943, quando se sagrou vice-campeão estadual de amadores, tendo na presidência Sinibaldo Russo.

Naquela época São Lourenço e Grêmio, e também, durante poucos anos, o Mocidade, disputavam a liderança do futebol em São Lourenço do Sul. E até os anos de 1970 ainda foram realizados jogos entre a dupla principal.

No entanto, já na década de 1960, o clube vermelho e branco dava os primeiros sinais de que estava enfraquecido. Isso, no entanto, não condizia com suas tradições gloriosas. Uma tentativa de reerguimento estava por acontecer.

Chegou até a ser planejada a construção de um ginásio coberto. Era presidente Divino Meyer e o clube comemorava 60 anos de fundação. Porém, passaram-se 10 anos e nenhuma ata encontrada, sabendo-se que o sonho da grande obra havia sido desfeito.

Nesse meio tempo, no entanto, surgiu, de novo, um movimento que deu uma “sacudida” no clube. No ano de 1979, um grupo de torcedores, empenhou-se em restaurar o campo de futebol, que a tempos estava inativo.

E, a 2 de dezembro daquele ano, após várias semanas de atividades na reconstrução do estádio, em especial na restauração dos muros, foi realizada uma intensa programação, com jogos de futebol.

Seguiu-se a inauguração, às 12 horas, de uma churrascaria a qual foi dada o nome de “Nedilande Vargas Corrêa”, tendo sido a fita desatada pela sua viúva, Rose Mari Lobato Corrêa e pelo então presidente do São Lourenço, Mário Luiz Corrêa.

Mas a tentativa de movimentar o mais antigo clube de futebol da
cidade, mais uma vez não deu certo. Até que em uma reunião ocorrida no dia 10 de abril de 1983 na churrascaria do clube, em que esteve presente o prefeito Ruhd Hübner, foi eleita uma nova Diretoria, com a responsabilidade de recuperar o E.C. São Lourenço.

O presidente eleito, Mário Luís Vieira, conseguiu reunir em sua diretoria grandes baluartes do clube, assim como novos nomes que então surgiam. E o trabalho deu frutos.

Por ocasião das comemorações do centenário do município, em 1984, o clube da “Baixada Rubra”, como era conhecido, levantou vários títulos em diversas modalidades, especialmente programadas para aquelas festividades.

Naquele ano foi campeão no futebol de campo (citadino e veteranos), futebol de salão, tênis (masculino individual, classe A), bolão masculino e voleibol feminino, quando era presidente, ainda, Mário Luiz Vieira.

Também voltou a tona a idéia da construção do ginásio de esportes coberto, além da construção da sede social, pista de atletismo, um restaurante e sala de jogos. Mas faltava o principal: verba.

Cerca de três anos depois, os associados foram surpreendidos com a possibilidade de haver uma permuta entre o município e o Esporte Clube São Lourenço, envolvendo um terreno de sua propriedade, com frente para a rua Mariz e Barros, para que ali pudesse ser construída a nova Estação Rodoviária de São Lourenço do Sul.

Os associados do clube já conheciam a planta da tão sonhada sede social, o que entusiasmou uma comissão representativa, para que fossem feitas as tratativas da permuta sugerida pela Prefeitura Municipal.

Em Assembléia Geral realizada no dia 7 de junho de 1990, o prefeito municipal doutor Sérgio Renato Becker Lessa, propôs a desapropriação da área referida, pelo valor de Cr$ 3.500.000,00 (três milhões e quinhentos mil cruzeiros), comprometendo-se a municipalidade de construir a nova sede social do São Lourenço, dentro do restante patrimônio existente.

Obra que deveria ter seu início imediato e terminada tão logo quanto possível, de acordo com um anteprojeto que deveria ser aprovado por ambas as partes. Proposta que foi aceita por unanimidade.

A obra, que resultou na sede atual, levou cerca de um ano e meio para ser concluída, entre julho de 1990 e janeiro de 1992. A inauguração aconteceu em sessão solene, no dia 8 de fevereiro de 1992, com a presença da diretoria, autoridades, simpatizantes e convidados.

Constava o grande prédio de dois andares, de um salão de festas, duas cozinhas, duas copas, quatro banheiros, bar, e dependências completas para duas saunas (uma seca e outra a vapor), tudo devidamente mobiliado, bem como de todos os eletrodomésticos necessários, prontos para serem usados.

Usaram da palavra na ocasião o presidente do clube, engenheiro agrônomo Sérgio Wienke; o prefeito municipal doutor Sérgio Renato Becker Lessa; Pandiá Pereira Cardoso e Isaac Nementhala Curi.

Desde 1995, o E.C. São Lourenço vem realizando, em promoção conjunta com a Prefeitura Municipal, o “Baile do Vermelho e Branco”, sempre algumas semanas antes do período momesco, para a escolha da Rainha Municipal do Carnaval.

Títulos conquistados pelo E.C. São Lourenço. Campeão municipal (1941, 1942, 1943, 1944, 1946, 1947, 1948, 1949, 1950, 1951, 1952, 1953, 1954, 1955, 1962, 1964, 1965, 1968 e 1983, em comemoração ao “Centenário do Município”).

Foi vice-campeão estadual em 1943, com apenas quatro derrotas em todo o campeonato, mesmo jogando em Caxias, com o Abramo Eberle, que era um time “amador-disfarçado” (5 X 2 para o São Lourenço), Santa Cruz e Cruz Alta.

O São Lourenço perdeu em Porto Alegre para o Cruzeiro, que era formado quase todo por profissionais. (Fonte: Livro “São Lourenço do Sul - Radiografia de um Município das Origens ao Ano 2000”, de autoria do médico e escritor Edilberto Luiz Hammes – Devidamente autorizada a publicação)

Esta é a foto mais antiga do E.C. São Lourenço. (Foto: Acervo fotográfico do clube)