Boa parte de um vasto material recolhido em muitos anos de pesquisas está disponível nesta página para todos os que se interessam em conhecer o futebol e outros esportes a fundo.

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

A aposentadoria de um craque

Juan Román Riquelme, um dos maiores jogadores do futebol argentino de todos os tempos, anunciou domingo (25) a sua aposentadoria, aos 36 anos de idade, depois de encantar os torcedores do mundo todo por vários anos.

O Cerro Porteño do Paraguai, queria contratá-lo, mas o jogador não se sentiu motivado. Foi um excelente cobrador de faltas e um dos mais talentosos craques argentinos de sua geração.

Nascido em Buenos Aires no dia 24 de junho de 1978, começou a carreira como amador no Argentinos Juniors, antes de se mudar para o Boca Juniors, onde ganhou títulos e fama, sendo um dos maiores ídolos da história do clube.

No time de “La Bombonera” foi bicampeão da Copa Libertadores da América, em 2000 e 2001, e do Mundo em 2000, ao vencer o espanhol Real Madrid na decisão. Em 2002, depois de ser cobiçado pelos grandes clubes da Europa, foi jogar no Barcelona, onde ficou um ano, não tendo maior destaque.

Acabou indo para o Villarreal, onde foi o grande nome, talvez motivado pelas presenças de outros jogadores sul-americanos como o argentino Sorín, o uruguaio Diego Forlán e o brasileiro naturalizado espanhol, Marcos Senna.

Com eles, o clube alcançou um inédito terceiro lugar no Campeonato Espanhol na temporada 2004/05, conquistando vaga para a “Liga dos Campeões”.

Na maior competição do futebol europeu, Riquelme voltou a ser o grande destaque de sua equipe, que conseguiu chegar a semifinal, depois de eliminar gigantes do velho continente como Manchester United, da Inglaterra e Internazionale, da Itália.

Na semifinal contra o Arsenal, Riquelme deu azar e errou um pênalti e viu sua equipe ser eliminada. Depois disso, nunca mais repetiu as grandes atuações que o consagraram na equipe espanhola.

Pela Seleção Argentina foi chamado pela primeira vez, aos 14 anos, para o time juvenil, pelo técnico José Pekerman. Pelo elenco principal disputou a Copa do Mundo de 2006, a Copa das Confederações de 2005, a Copa América de 2007 e os Jogos Olímpicos de 2008. No Mundial da Alemanha, usou a camisa 10 e foi o principal jogador do time.

Riquelme queria ajudar seu país a ser tricampeão mundial, em 2006, mas a eliminação veio nas quartas de final, numa decisão por pênaltis, justamente contra os alemães, donos da casa.

Depois da Copa, voltou ao Villareal, quando teve uma série de desentendimentos com o técnico do time, o chileno Manuel Pellegrini, que o afastou da equipe.

Sem clima e bastante desgastado, o craque regressou em fevereiro de 2007 ao Boca Juniors, por um período de empréstimo de apenas seis meses e recebendo um dos maiores salários da América do Sul.

No retorno ao clube argentino, Riquelme voltou a ser o jogador brilhante de antes, tendo realizado jogos magníficos e inesquecíveis na Copa Libertadores.

Na final contra o Grêmio, que valeu seu terceiro título na competição continental e o sexto na história do Boca Juniors, marcou gols importantes e deu show de técnica e categoria. De quebra, ainda foi eleito o craque do campeonato.

Na sua brilhante trajetória pelos gramados sulamericanos, Riquelme, com a camisa do Boca Juniors, não perdoou Palmeiras, Grêmio, Cruzeiro e Corinthians, sendo um implacável carrasco desses clubes.

No retorno ao Villarreal encontrou o mesmo clima hostil de antes. Não jogou durante todo o segundo semestre de 2007. Disse aos dirigentes do clube espanhol que aceitava ganhar menos para voltar ao Boca Juniors.

Em janeiro de 2008, após muitas negociações, o time espanhol o negociou definitivamente com o Boca Juniors. Pelo Villarreal disputou 187 jogos e marcou 51 gols.

Riquelme foi o camisa 10 da Seleção Argentina até Diego Maradona assumir a função de técnico da equipe, durante as eliminatórias para a Copa do Mundo de 2010. E os dois não se entenderam, o que fez com que o craque se recusasse a continuar jogando na Seleção, com Maradona de técnico, alegando não gostar de seu novo posicionamento em campo.

A partir dai a camisa 10 do "scratch" argentino passou para Lionel Messi. Mesmo assim a Argentina não foi além das quartas de final na Copa da África, tendo sido eliminada novamente pela Alemanha, dessa vez com uma goleada de 4 X 0, que resultou na saída de Maradona do comando técnico.

Com isso Riquelme abriu as portas para voltar a equipe nacional, colocando-se a disposição do novo técnico, Sergio Batista. No entanto, este não emplacou por muito tempo, sendo demitido após a Copa América de 2011, sem nunca o ter convocado. Sabella, que substituiu Batista, igualmente não o convocou nenhuma vez, talvez em razão de sua idade avançada.

O gol mais especial da carreira de Riquelme, foi contra o Brasil, em 2005, um retrato fiel de todas as suas qualidades. Primeiro, o meia deu um lindo toque de calcanhar para Mascherano. Depois, recebeu de Lucho González, girou facilmente sobre Roque Júnior e acertou um chute belíssimo, sem chances para Dida.

Crespo marcou os outros gols argentinos e Roberto Carlos descontou para o Brasil na vitória dos anfitriões por 3 X 1, no “Monumental de Núñez”.

Domingo, quando anunciou sua aposentadoria, Riquelme mostrou que não guardou mágoas de Maradona, pelos desentendimentos na Seleção. Ele até elogiou o antigo treinador, dizendo que ele era único e o maior da história.

Para o seu filho, é Messi, o maior nome da história do futebol argentino. Riquelme disse que se criou com o Maradona, e seu filho com o Messi. Acentuou que os argentinos são afortunados e ele teve a sorte de jogar com os dois.

Riquelme chegou a lembrar a convivência com Maradona no Boca Juniors, salientando que só ver o aquecimento dele, já era suficiente, se podia ir para casa feliz.

Na Copa Libertadores de 2012, depois do seu clube ser derrotado pelo Corinthians na decisão do título, Riquelme declarou que não pretendia continuar jogando no Boca Juniors.

Quase acertou sua vinda para o futebol brasileiro, pretendido pelo Atlético Paranaense e Palmeiras. Ficou sete meses sem jogar, e acabou acertando a continuidade no time de “La Bombonera”.

O ano passado jogou no Argentinos Juniors, da Segunda Divisão, ajudando o time a voltar para a elite do futebol porteño. Foi o clube que o revelou para o futebol e no qual havia jogado somente na juventude. Essa equipe ainda foi responsável por revelar jogadores como Maradona e Sorín. Assinou por 18 meses e já na estreia marcou um gol.

O agora ex-jogador deixou claro que jamais conseguiria enfrentar o seu clube de coração, algo que aconteceria na temporada 2015 caso continuasse no Argentinos. "Eu não poderia jogar contra o Boca, essa é a realidade. Tenho um sentimento especial. É meu clube, minha casa", afirmou.

Em entrevista ao canal ESPN neste domingo, o argentino manifestou o desejo de organizar uma partida de despedida e prometeu continuar frequentando as partidas do Boca Juniors, agora na condição de torcedor.

Riquelme gostava de dizer que jogou no melhor time da história do Boca. Foram 40 jogos sem perder, ganhando até do Real Madrid. O time tinha, Córdoba, Ibarra, Samuel, Delgado, Serna e Palermo, entre outros. Era como o Barcelona de Guardiola.

O ex-craque diz que agora vai ser torcedor e sofrer com o Agustín (seu filho), nos jogos do Boca Juniors. Os dois são fanáticos e com certeza serão vistos no estádio com frequência.

Títulos conquistados: Boca Juniors. Campeonato Argentino, Clausura: (1998, 1999, 2000, 2001, 2008, 2011); Copa Libertadores da América: (2000, 2001 e 2007); Copa Intercontinental: (2000); Campeão Mundial de Clubes (2000); Recopa Sul-Americana: (2008); Copa Argentina: (2011-12). Villarreal. Copa Intertoto da UEFA: (2003 e 2004). Barcelona. Troféu Joan Gamper: (2002 e 2003). Seleção Argentina. Campeonato Sul-Americano de Futebol Sub-20: (1997); Campeonato Mundial de Futebol Sub-20: (1997); Torneio Internacional de Toulon: (1998) e Ouro nos Jogos Olímpicos: (2008).

Individuais. Revelação do Campeonato Argentino: (1997); Revelação de Ouro (Clarín de Ouro): (1997); Consagração de Ouro (Clarín de Ouro): (2000 e 2001); Equipe Ideal do Sul-Americano Sub-20: (1997); Melhor Jogador do Torneio de Toulon: (1998); Melhor jogador das Américas:  (2000 e 2001); Melhor jogador estrangeiro da Liga BBVA (Don Balón): (2004-05); Jogador mais técnico e habilidoso da Liga BBVA (Diário Marca): (2004-05); Jogador com mais assistências da Liga BBVA: (2004-05); Melhor jogador da Liga BBVA (por comentaristas e jogadores do Diário Marca): (2004-05); Melhor jogador argentino no estrangeiro (Clarín de Ouro): (2005); Bola de Prata da Copa das Confederações: (2005); Equipe Ideal das Eliminatórias da Copa do Mundo FIFA: (2006); Jogador com mais assistências na Copa do Mundo FIFA: (2006); Bola de Prata da Copa América: (2007); Equipe Ideal da Copa América: (2007); Jogador com mais assistências da Copa América: (2007); Chuteira de Prata da Copa Libertadores: (2007); Melhor jogador da final da Copa Libertadores: (2001 e 2007); Melhor jogador da Copa Libertadores: (2000, 2001 e 2007); Melhor jogador da América (Fox Sports): (2007 e 2008); Consagração do Campeonato Argentino (Clarín de Ouro): (2000, 2001, 2007, 2008 e 2011); Seleção Ideal das Américas: (1999, 2000, 2001, 2007, 2008 e 2011); Jogador argentino do ano (Olimpia de Plata): (2000, 2001, 2008 e 2011); Melhor jogador do ano (Olé): (2012); Seleção da Copa Libertadores: 2000, 2001, 2007, 2008 e 2012).

Outros. Jogador com mais assistências na história do futebol pela FIFA; Jogador não-atacante com mais gols na Copa Libertadores; Eleito o melhor jogador da história do Boca Juniors (por sua torcida); Eleito o melhor jogador da história do Villareal (de presidente para o mundo inteiro); Nominado a Bola de Ouro e melhor jogador do mundo da FIFA e France Football: (2005, 2006, 2007 e 2008); Segundo melhor batedor de faltas do mundo pela FIFA: (2008); Nominado a Bola de Ouro da Copa do Mundo FIFA: (2006); Ballon d'Or: (2005 e 2007); Sexto melhor jogador do Mundo (World Soccer): (2005); Sétimo melhor jogador do Mundo (World Soccer): (2006); Quinto melhor jogador do Mundo (World Soccer): (2007); Quarto melhor criador de jogadas do mundo (IFFHS): (2007); Terceiro maior artilheiro do mundo (IFFHS): (2007) e Seleção de todos os tempos da Copa Libertadores. (Pesquisa: Nilo Dias)


domingo, 25 de janeiro de 2015

Morre um campeão brasileiro de 1978

Morreu na madrugada de hoje aos 67 anos, em Londrina (PR), o ex-goleiro Hélio Miguel, mais conhecido por “Neneca”, que ganhou fama ao se sagrar campeão brasileiro de 1978 pelo Guarani, de Campinas (SP). 

Desde novembro de 2014 ele vinha lutando contra um mieloma múltiplo, doença hematológica maligna que afeta originalmente a medula óssea e se caracteriza pelo aumento do plasmócito, além atingir também os ossos. Amigos e familiares contaram que o ex-goleiro chegou a tomar morfina para livrar-se das dores.

“Neneca” estava internado há cinco dias no Hospital do Câncer de Londrina, onde morreu por volta das 3 horas da madrugada de hoje. O velório acontece na Capela 2 do Cemitério Parque das Oliveiras, na sua terra natal e o sepultamento está previsto para amanhã, segunda-feira, às 10 horas, no Cemitério Padre Anchieta. "Neneca" teve ao todo sete filhos – um deles já falecido – com três mulheres diferentes.

O ex-goleiro era natural de Londrina, onde nasceu em 18 de dezembro de 1947. Ainda muito jovem, apreciava jogar como atacante antes de ser praticamente encaminhado para debaixo das traves. 

Sua carreira começou na Portuguesa Londrinense e logo em seguida passou a atuar pelo extinto Paraná Esporte Clube, onde assinou seu primeiro compromisso profissional. Esse clube se fundiu com o Londrina Futebol e Regatas, dando origem ao atual Londrina Esporte Clube.

Depois de um período de testes no Santos foi para o América (MG). Estreou no time mineiro em 1973, num jogo contra o Botafogo, do Rio de Janeiro, válido pelo Campeonato Brasileiro, quando defendeu um pênalti.

Em 1974 jogou no Náutico, de Recife, onde foi recordista nacional por ficar 1.636 minutos, mais de 18 partidas, sem tomar gol. Ele perde apenas para Mazaropi, do Vasco da Gama, que ficou 1.816 minutos sem ser vazado entre 1977 e 1978. No time pernambucano, “Neneca” foi campeão estadual. Em 1976, chegou ao Guarani, onde em 1978 foi campeão brasileiro.

Do Guarani foi para o Operário (MT). Não demorou muito por lá, retornando ao Londrina onde jogou de 1981 a 1984 e em 1986, sendo campeão paranaense em 1981. Defendeu ainda o Bragantino, Fluminense (BA), Votuporanguense (SP), Bandeirantes, de Bandeirantes (PR) e Nove de Julho, de Cornélio Procópio (PR), onde encerrou a carreira em 1988


"Neneca" destacava-se pela altura, já que na ocasião não era comum goleiros altos. Também tinha ótima colocação e reflexos apurados. Depois de aposentado dedicou-se a jogos pela Seleção Brasileira Master e preparação de goleiros em alguns clubes, entre os quais o próprio Londrina.

Guarani e Londrina emitiram notas oficiais lamentando a morte de “Neneca”. O clube de Campinas destacou a perda de mais um ídolo em sua história. Já o time paranaense disse estar de luto e se solidarizou com os familiares e amigos do ex-jogador.

“Neneca” alcançou o ápice da carreira como jogador profissional, quando defendeu o Guarani. Sua primeira conquista com a camisa do Bugre foi o titulo do primeiro turno do campeonato paulista de 1976. Depois, foi campeão brasileiro em 1978, quando venceu o Palmeiras duas vezes por 1 X 0, uma em São Paulo e outra em Campinas.

Do pé direito do goleiro partiu uma bola que terminou no domínio de “Careca”, e no gol da vitória sobre o Palmeiras, que garantiu a maior conquista da história da agremiação campineira, no dia 13 de agosto de 1978. O Guarani divide com o Santos a honra de serem os únicos clubes fora de capitais, a se sagrarem campeões nacionais.

Todos que o conheceram dizem que se tratava de um dos líderes daquele grupo jovem de jogadores. Era um dos mais experientes do elenco campeão, que jamais será esquecido por seu jeito simples e humilde de ser, fosse dentro ou fora de campo.

O time do Guarani campeão brasileiro de 1978 era o seguinte: Neneca – Mauro – Gomes - Édson e Miranda – Zé Carlos – Renato  e Zenon – Capitão – Careca e Bozó. Técnico: Carlos Alberto Silva. (Pesquisa: Nilo Dias)


sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Um goleiro espetacular

Bernhard Carl Trautmann, ou simplesmente Bert Trautmann, futebolista e treinador, nasceu em Bremen, Alemanha, no dia 22 de outubro de 1923. Era o filho mais velho de um carregador químico das docas. Desde a juventude foi seduzido – igual a outros milhões de jovens alemães – pelo discurso nacional socialista de Adolf Hitler, se engajando na Juventude Hitlerista.

Quando a guerra teve início, não titubeou em alistar-se na “Luftwaffe”, sendo enviado para a recém invadida Polônia, onde desempenhou a função de operador de rádio. Depois, como paraquedista, foi transferido para a Frente Oriental e teve que lutar contra o Exército russo, conseguindo sobreviver a essa experiência, fazendo jus a cinco medalhas, entre as quais a “Cruz de Ferro”, por seus méritos no campo de batalha.

Trautmann ainda combateu na Frente Ocidental, tendo sobrevivido a um bombardeio dos Aliados na cidade de Kleve, onde foi feito prisioneiro por dois soldados americanos, mas milagrosamente escapou da prisão.  Ele ficou enterrado vivo por três dias, quando os aliados bombardearam uma escola onde sua unidade estava alojada; a maioria de seus companheiros foram mortos.

Ele foi um dos 90 soldados de um regimento de 1000 homens, que conseguiram sobreviver. Depois de passar algum tempo na prisão belga, Trautmann foi transferido para outro campo de prisioneiros em Malbury Hall, na Inglaterra.

Pouco tempo depois, quando a guerra estava próxima do fim, ele foi preso novamente, dessa vez por um esquadrão britânico, que o levou para um campo de prisioneiros na Bélgica. 

No momento da prisão os soldados ingleses teriam dito: "Olá Fritz, você gostaria de uma xícara de chá?" Sua história de amor eterno com a Grã-Bretanha começou naquele momento. Nessa prisão, para aliviar o tédio, eram organizadas partidas de futebol entre os soldados britânicos e um grupo de prisioneiros.

Quando a guerra terminou, ele não quis ser deportado para a Alemanha, pois tinha plena consciência de que seu país estava em ruínas, decidindo, por isso, começar uma vida nova em solo inglês. Para sobreviver, não recusava nenhum tipo de trabalho, muitas vezes em granjas, outras em fábricas. Nas horas de folga se dedicava à sua paixão: o futebol.

Mesmo com 25 anos de idade, ganhou chance em um clube amador chamado St. Helens Town, nas cercanias da cidade de Wigan. Mesmo jogando em um time sem a menor importância, sua estatura e a agilidade como goleiro chamaram a atenção dos grandes times ingleses. O Manchester City levou a melhor e o contratou para a temporada 1949 – 1950, para substituir seu grande número 1, Frank Swift.

A torcida não gostou nem um pouco dessa contratação, e a imprensa inglesa também, pois não esqueciam que Trautmann fora um paraquedista da “Luftwaffe”. Até mesmo entre os jogadores do clube, cujo capitão, Eric Westwood, era um veterano do desembarque na Normandia, a presença de um "kraut" na equipe não era bem vinda.

Até uma lista com 20 mil assinaturas foi feita contra sua contratação. Os torcedores iam aos treinos e aos jogos do Manchester carregando faixas que diziam: "Fora Alemão". Mas como o tempo é o melhor remédio para curar todas as mágoas, os torcedores acabaram por aceita-lo, mesmo tendo jogado apenas cinco das 250 partidas realizadas pelo clube na temporada.

Somente os torcedores rivais ainda o insultavam das arquibancadas, quando o time jogava fora de casa. E foi num jogo fora de casa que o goleiro começou a se converter em um mito. Em janeiro de 1950, o Manchester City foi a Londres enfrentar o Fulham.

Essa foi a primeira vez que Trautmann iria jogar em Londres , desde sua chegada a Grã-Bretanha. O Manchester passava por um momento difícil e o adversário era o favorito, com a imprensa achando que haveria uma goleada.

Foi quando surgiu a figura colossal de Trautmann, que realizou defesas impossíveis, fechando o gol. A torcida adversária o xingava de todos os palavrões possíveis. O Manchester City ganhou por 1 X 0, e o goleiro foi aplaudido de pé pelos torcedores rivais e até pelos próprios jogadores do Fulham.

Em 1956, já como titular absoluto, foi escolhido o melhor jogador do campeonato inglês. Sua atuação na final da Copa da Inglaterra do mesmo ano foi o coroamento de um ano espetacular. Quando faltavam 17 minutos para o término do jogo, Trautmann sofreu uma grave lesão, depois de "mergulhar" nos pés do jogador Peter Murphy.

Ele conseguiu segurar a bola, mas não conseguiu impedir a cabeça de colidir com a perna de Murphy. Trautmann ficou tonto e cambaleando, mas estava determinado a jogar. Mesmo gravemente lesionado ele continuou em campo, sendo fundamental para que o escore favorável ao seu time se mantivesse nos 3 X 1.

Ao receber a medalha de campeão, seu pescoço estava visivelmente torto. Três dias depois, um raio-x mostrou que havia cinco vértebras deslocadas, sendo que uma delas estava partida em dois. A gravíssima lesão o afastou dos gramados por um ano.

No final do jogo, Trautmann foi ajudado a subir os degraus para receber sua medalha de vencedor, o tempo todo esfregando a "rigidez do pescoço". Ele foi forçado a passar cinco meses envolto em gesso da cabeça aos quadris.

Um mês depois de seu heroísmo na final da Taça, o seu filho de seis anos de idade, foi morto ao atravessar a estrada. Trautmann lutou muito para superar o trauma causado com sua perda, que com o tempo levou ao rompimento de seu casamento.

Trautmann jogou no Manchester City até 1964, com um saldo de incríveis 545 partidas disputadas, durante 15 temporadas na “Football League”. Encerrou a carreira no mesmo ano, depois de jogar duas partidas pelo Wellington Town, atual Telford United. Em 2005 ele entrou para o “The English Football Hall of Fame”, sendo um dos poucos jogadores não britânicos a receber essa honraria.

Partiu para tentar uma carreira de treinador, inicialmente em equipes de divisões inferiores da Inglaterra e Alemanha. Ainda foi treinador das Seleções da Birmânia, Libéria, Tanzânia, Iêmen do Norte e Paquistão.

Trautmann viveu por um tempo na Alemanha, e em seguida mudou-se para a Espanha, onde possuía uma vinha perto de Valência. Bert Trautmann casou com Margaret Friar, em 1950. Seu segundo casamento, com Ursula von der Heyde, também não durou muito tempo.

Depois de aposentado mudou-se para a Espanha com sua terceira esposa, Marlis. Ele tinha outros dois filhos de seu primeiro casamento, e uma filha de um relacionamento anterior com Marion Greenhall.

Em 2000, Trautmann foi escolhido um dos 100 jogadores do século. Em 2004 foi apresentado à rainha e ao duque de Edimburgo no "Berlin Sinfonia", onde 66 anos antes, ele havia sido homenageado pelo ministro dos Esportes de Hitler por ter sido segundo lugar no atletismo em todo o "Reich".

Trautmann faleceu em 13 de julho de 2013, em La Lossa, Espanha aos 89 anos. Ele sofreu dois ataques cardíacos no inicio do ano.

Títulos conquistados. Manchester City: FA Cup (1956). Prêmios individuais: Futebolista Inglês do Ano pela FWA. (1956) e Membro do Hall da Fama do Futebol Inglês. (Pesquisa: Nilo Dias)


segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Um artilheiro recordista

Belarmino Carlos Leal D'Ávila, ou simplesmente “Bendionda”, foi um centroavante que fez sucesso no S.C. Internacional, de Porto Alegre, sendo um dos primeiros artilheiros da história do clube. Tinha 1m83 de altura. Ele nasceu em Santana do Livramento, no dia 24 de Novembro de 1896. Faleceu em 5 de maio de 1980, em sua terra natal. Era tio do folclorista gaúcho, Paixão Cortes.

Em 13 de agosto de 1911 o Internacional jogou sua primeira partida fora de Porto Alegre, contra o Ginásio Conceição, em São Leopoldo, com vitória colorada por 2 x 1. Dias depois o time leopoldense ganhou da Seleção de Porto Alegre.

No time do Ginásio jogavam alguns santanenses, como Mita Ávila, Felizardo e Simão. Os três foram convidados a jogar no Internacional. Mita e Felizardo eram irmãos de Bendionda e o trouxeram para Porto Alegre, ainda menino. Isso em 1911, ingressando nas categorias de base do Internacional, subindo para o time principal em 1913.

Permaneceu na capital e no Internacional até 1917, quando concluiu os estudos e retornou a sua cidade natal, para jogar no E.C. 14 de Julho e trabalhar como diretor da Empresa Elétrica de Rivera.

Quando da histórica primeira vitória e goleada do Internacional sobre o Grêmio, 4 X 1, em 31 de outubro de 1915, Bendionda marcou dois gols.

Foi um feito espetacular, visto que o clube rubro tinha apenas seis anos de existência e o rival era dono de mais organização, recursos e experiência. Dizem que o dirigente Antenor Lemos saiu pelas ruas gritando: “O lacre está quebrado”!

O Internacional mandou a campo: Bais - Simão e Dornelles – Bitú – Kluwe e Lucídio. Túlio – Oswaldo – Bendionda - Muller e Vares. Gols: Túlio (2), Bendionda (2) e Muller.

Bendionda divide com César (1920) e Carlitos (1939) um recorde importante e não superado até hoje, ter marcado sete gols num único jogo, na vitória de 10 X 2 sobre o Fussball, dia 26 de setembro de 1915, em amistoso realizado no “Estádio da Baixada”.

O curioso é que Bendionda, já morando em Livramento e defendendo o 14 de Julho, toda a vez que viajava Porto Alegre atuava em amistosos pelo Internacional, e até mesmo jogou um Gre-Nal em 1919.

Bendionda foi campeão do Citadino de Porto Alegre pelo Internacional em cinco oportunidades. (1913, 1914, 1915, 1916, 1917); Jogando pelo 14 de Julho foi campeão de Santana do Livramento, três vezes. (1918, 1919, 1920). (Pesquisa: Nilo Dias)


sábado, 17 de janeiro de 2015

O "Burro da Central"

O Esporte Clube Taubaté, da cidade paulista de Taubaté, foi oficialmente fundado no 1 de novembro de 1914, depois de uma Assembleia Geral ocorrida na residência de Francisco de Paula Pereira Barbosa, dia 25 de outubro, com a presença de 48 sócios.

A assembleia foi presidida pelo doutor Gastão da Câmara Leal, prefeito da cidade, que nessa mesma sessão foi eleito o primeiro presidente do clube, e secretariada pelos senhores Tito Barbosa e Ildefonso de Almeira.

Na ocasião foi determinado que de acordo com aprovação na reunião anterior, a nova agremiação se chamaria Sport Club Taubaté. Também ficou decidido que as cores do clube seriam o azul e o branco. O original dessa Ata não existe mais. Contudo, em 13 de fevereiro de 1976, o senhor José Marcelino de Moura Moraes conseguiu uma cópia que se encontrava arquivada na secretaria do Clube.

A primeira Diretoria teve como Presidente o doutor Gastão da Câmara Leal; Vice presidente, doutor Silva Barros; 1º Secretário, senhor Enéias Natividade; 2º Secretário, professor Tito Barbosa e Thesoureiro, senhor Antonio Valente.

Depois de empossada a nova diretoria foram nomeadas as comissões de estatutos e angariamentos de sócios, ficando assim constituídas: Estatutos: senhores Renato Granadeiro Guimarães, Tito Barbosa e Enéias Natividade. Expansão: doutor Adolpho Leonardo Francisco de Mattos e Ildefonso de Almeida. Na proposta do senhor Tito Barbosa foi aclamado diretor esportivo o doutor João Rachou.

As atividades esportivas do S.C. Taubaté tiveram início com treinamentos de vários jogadores no campo do Parque Municipal da Praça Monsenhor Silva Barros. O primeiro treino teve duas equipes assim constituídas:

Time A: Enéas - Simi e Machado – Giudice - Valle e José Benedicto – Tonico – Octávio – Irito - Bicudo e Fêgo. Time B: Santinho - Leão e Ferreira – Mattos - Synésio e Camargo – Waldemiro – Hugo – Renato  Abreu e Álvaro.

Devido o grande interesse demonstrado pela rapaziada, os treinamentos seguintes passaram a contar com três equipes, surgindo a necessidade da realização de treinamentos em dias diferentes, ou seja: às terças-feiras treinavam os times A e B. Às quintas-feiras, treinavam os times A e C e aos sábados, os times B e C.

As formações desses times eram as seguintes: Time A: Renato - Simi e Paiva – Hugo - Jacinto e Paulinho – Synésio – Guimarães – Abreu - Waldemiro e Giudice. Time B: Santinho - Leão e Ferreira – Sérgio - Valle e Lobato – Álvaro - José Benedicto – Machado - Irito e Tonico. Time C: Ponzzi - José Menino e Camargo - Mattos - Braga e Heráclito – Fego – Otctávio – Bicudo - Nenê e Costa.

A festa de inauguração do Sport Club Taubaté aconteceu no dia 25 de dezembro de 1914, sexta-feira, quando, no Estádio da "Praça Monsenhor Silva Barros", o antigo "Campo do Bosque", como era conhecido, recebeu um grande número de torcedores.

O S. C. Taubaté enfrentou em partida amistosa a A. A. Palmeiras - não confundir com o antigo Palestra, atual S.E. Palmeiras -, equipe filiada à Associação Paulista dos Sports Athléticos (A.P.S.A.). O placar final foi de 6 X 1 para a A.A. Palmeiras.

Naquela oportunidade o S.C. Taubaté formou com: Paulinho - Luiz Simi e Paiva – Synésio - Sérgio Areão e Hugo - Paulo Silva – Waldemiro - Renato Granadeiro (capitão) - Abreu e Jacinto. Irito também participou do jogo inaugural. A A.A. Palmeiras jogou com Rachou - Morelli e Paulo Pinto – Gilberto - Lincoln e M. Barros - P. Paulo – Loureiro – Nazareth - Italo e Godinho.

Cinco anos depois da histórica assembléia realizada no dia 1º de Novembro de 1914, o jovem Esporte Clube Taubaté levantou seu primeiro troféu em um torneio de futebol. Ainda atuando no amadorismo, o time foi "Campeão do Interior", após vencer o Comercial de Ribeirão Preto por 3 X 1.

A conquista desse troféu foi motivo de profundo orgulho e entusiasmo por parte dos então fundadores e primeiros diretores do E.C. Taubaté. Apesar de jovem, o time entrava para a história do futebol paulista e já vislumbrava um futuro rico em conquistas.

Começaram a surgir os primeiros torcedores fanáticos. Recatados, é verdade, sob seus paletós, chapéus e bigodes, gente de todo tipo começava a nutrir simpatia pelo time azul e branco que representava a cidade.

Um deles era Nestor Borella, conhecido comerciante na época, que passou a ver no Taubaté grande potencial para se tornar um time bom. O “football” começava a ganhar mais espaço na cidade.

Mas também havia os que mandavam contra e não viam no troféu conquistado nada de mais. Não gostavam de um esporte chulo e violento como o futebol. Um dos maiores opositores era um português conhecido apenas por Mouta. Odiava o Taubaté e o futebol, dizendo que aquilo tudo era uma baboseira.

Nestor acreditava no futuro. Mouta não. O tempo mostrou que Nestor Borella estava certo. Ele ainda viu o Taubaté ser bicampeão do interior em 1926, vencendo o E.C. Lemense por 2 X 1, e o tricampeonato conquistado em 1942, após a vitória por 7 X 0 na final contra o Luzitana F.C.

Dois irmãos escreveram seus nomes na história do E.C. Taubaté. A história teve inicio em 1916 com os irmãos José Maria Ludgero, o “Jajá” e Aristides Ludgero que, em uma tarde de domingo, derrotaram a A.A. Palmeiras pelo placar de 2 X 0 em pleno campo da Floresta na capital paulista. Os gols foram de “Jajá” e Renato Granadeiro Guimarães.

O feito taubateano foi destaque até no jornal internacional "Il Piccolo", que no dia seguinte à grande vitória definiu: "La ala sinistra Del Taubaté, constituta da due Fratelli Neri, Jajá e Aristides, simplesmente fenomenale". Jajá e Aristides foram campeões pelo E. C. Taubaté em 1919.

Alguns anos depois de sua fundação, o time passou a disputar com destaque os campeonatos amadores de futebol e por três vezes conquistou o titulo do Campeonato do Interior. Em 1919 e 1926 pela APEA, e em 1942 pela FPF.

O Taubaté participou pela primeira vez do “Paulistão” em 1927. O campeonato, na época, era organizado pela Liga Amadora de Futebol (LAF). No entanto, acabou desistindo no meio da competição ao lado de Corinthians, Independência, Sílex e Sírio.

Em 1947 o clube se tornou profissional e tomou parte na recém-criada "Segunda Divisão" do Campeonato Paulista, atual A2. Em 1954 veio o seu primeiro titulo e acesso a elite do futebol paulista, disputando o “Paulistão” de 1955 a 1962, ano que foi rebaixado. Sua primeira partida na "Divisão Principal Paulista" foi contra o Comercial, da cidade de Ribeirão Preto, no campo do Bosque, em Taubaté.

O "Gigante do Vale", como o clube era conhecido naquela época, venceu o Comercial por 6 X 3. Porém, na ocasião, o atacante Alcino entrou em campo sem estar com a sua documentação regularizada junto a FPF. Por este motivo, o Comercial pleiteou os pontos da derrota, sendo prontamente atendido pela entidade esportiva.

Nem a imprensa perdoou pelo grotesco erro. Uma charge publicada no diário esportivo “Gazeta Esportiva” se referiu ao Taubaté com o desenho de um burro. O animal, que seria motivo de chacota pelas torcidas adversárias, foi carinhosamente adotado pela torcida taubateana como sua mascote. O jornalista Thomaz Mazzoni , foi o responsável pelo apelido.

Até hoje o clube é chamado de o "Burro da Central". Não procede a informação de que o complemento do apelido "da Central" só surgiu em 1968, após a construção do Estádio Joaquim de Morais Filho. Desde o início, o apelido foi "Burro da Central", pelo fato de passar por Taubaté a Estrada de Ferro Central do Brasil.

Outros clubes ganharam apelidos relacionados à rede férrea: Botafogo, de Ribeirão Preto, a "Pantera da Mogiana" e C.A. Linense, o "Elefante da Noroeste".

Em 1979, depois de 18 anos longe da elite paulista, o clube ganhou a “Divisão Intermediária”, atual A2 e voltou a disputar o "Paulistão", desta vez por mais cinco temporadas, 1980 a 1984. Rebaixado mais uma vez, retornou ao "Acesso do Estadual", onde ficou no período de 1985 a 1993. Com as reformulações realizadas pela Federação Paulista de Futebol (FPF), o time passou a disputar a Série A3 em 1994, correspondente a "Terceira Divisão".

Depois do título de campeão paulista da Série A3, em 2003, o Taubaté conquistou o acesso a Série A2, onde ficou até 2007 quando foi novamente rebaixado à Série A3. Em 2008 foi rebaixado a “Segundona”, a quarta divisão do Estadual. Em 2010 retornou a Série A3 e agora briga para subir à Série A2 do Campeonato Paulista. Eventualmente também disputa a "Copa Paulista de Futebol".

O Taubaté manda seus jogos no estádio Joaquim de Morais Filho, o “Joaquinzão”. O nome é uma homenagem ao grande presidente Joaquim de Morais Filho, que dirigiu o clube por 19 anos, em cinco períodos: 1953-1957, 1960-1962, 1964-1965, 1966-1968 e 1969-1974.

Foi em uma de suas administrações que teve início a construção do estádio. Em sua primeira gestão, o “Burro da Central” disputou, pela primeira vez, a principal divisão do Campeonato Paulista de Futebol.

Títulos conquistados: Campeonato Paulista do Interior. (1919, 1926 e 1942); Campeonato Paulista - Série A2. (1954 e 1979); Vice-Campeonato Paulista A2. (2004 e 1947); Campeonato Paulista - Série A3. (2003); Vice-Campeonato Paulista A3. (1998); Torneio Miguel Couto Filho. (1956); Torneio do Vale do Paraíba. (1953); Copa do Vale do Paraíba. (1986 e 1987); Campeonato Paulista Sub-20 - Segunda Divisão. (1985).

Os tradicionais rivais do Taubaté são as equipes profissionais das demais cidades do Vale do Paraíba, em particular o São José (contra quem o Burro faz o equilibrado Clássico do Vale) e a Esportiva de Guaratinguetá, sendo que esta última foi extinta nos anos 90.

Até meados da década de 60 o grande rival do E.C. Taubaté foi a Esportiva de Guaratinguetá, pois o São José só se profissionalizou definitivamente em 1964. Atualmente o Burro disputa a mesma divisão de um outro time do Vale do Paraíba, o Joseense, embora não haja ainda uma rivalidade significativa entre as duas equipes.

Não se deve esquecer que antes da fundação do E.C. Taubaté, a cidade teve um outro clube de futebol, o "Club Sportivo Taubateense", fundado em 1904 e pioneiro na disseminação do futebol na região do Vale do Paraíba. 

Antes de sua criação, os “ensaios” (eram assim chamados na época, os treinos de foot-ball) aconteciam durante os intervalos das provas ciclísticas que eram realizadas no "Velódromo Taubateense", localizado na rua 4 de Março, região central da cidade.

O Taubateense foi fundado no dia 10 de Junho de 1904, por iniciativa dos desportistas José Pedro de Oliveira, Jayme Tindal e Frederico Livrero, que se reuniram no edifício da Associação Comercial com a ideia de fundar uma equipe de futebol na cidade. Já nesse primeiro encontro decidiu-se que a equipe levaria o nome de "Club Sportivo Taubateense".

Constou em ata que o novo clube teria como objetivo proporcionar a seus associados todos os gêneros de jogos esportivos como: corridas a pé e de tandens, de bicicletas, em sacos, foot-ball e Tamburello. Cobrava-se à época taxa mensal de 2$000 dos seus associados.

O local escolhido para sua sede, seus treinos e jogos foi o “Velódromo Taubateano”,  inaugurado em 3 de abril de 1914, que logo se tornou o ponto de encontro dos desportistas da cidade. 

A sua inauguração foi marcada por uma grande festa, com a presença da "Corporação Philarmonica Taubateense e Jacareyense", a “Banda João do Carmo”, membros da diretoria do “Velódromo Taubateano”, do “Velo Clube de Jacarey” e do doutor Pereira de Mattos, redator do jornal “O Povo”, de Caçapava.

Na época o ciclismo era o esporte preferido dos paulistas. Em Taubaté não era diferente, por isso aconteceram uma série de provas na abertura dos festejos. Os intervalos eram preenchidos com apresentações da “Orquestra Filarmônica” da cidade. (Pesquisa: Nilo Dias)

Time campeão do interior em 1919. (Foto: Arquivo do Clube)

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

O futebol mundial está de luto

Na Copa do Mundo de 1954, disputada na Suíça, uma seleção encantou o mundo, a da Hungria, embora não tivesse chegado ao título. Era um time composto por verdadeiros craques, do goleiro ao ponta-esquerda: Grosics – Buzánski - Lóránt e Lantos - Bozsik e Zakarías - M. Tóth – Kocsis – Hidegkuti - Puskás e Czibor. Técnico: Gusztáv Sebes.

Essa verdadeira máquina de jogar futebol conseguiu ficar invicta de junho de 1950 até o fatídico dia 4 de julho de 1954, quando perdeu para a Alemanha, na decisão do Mundial da Suíça. O time húngaro chegou a estar vencendo por 2 X 0.

Foram 32 partidas, com 28 vitórias e quatro empates, espantosos 146 gols marcados, 36 sofridos e uma impensável média de 4,56 gols por jogo. Este recorde só foi superado 40 anos depois, pela Seleção Argentina, que se manteve invicta por 31 partidas, entre 1991 e 1993.

Desse time restava até ontem (domingo), apenas um jogador vivo: Jenö Buzánszky. Ele faleceu ontem à noite, aos 89 anos de idade, no hospital de Esztergom, ao Norte de Budapest, onde estava internado desde 12 de dezembro. Não resistiu a cirurgia que foi submetido.

Em 13 de junho do ano passado havia morrido o ex-goleiro Gyula Grosics, o “Pantera Negra”, aos 88 anos, que juntamente com Buzánszky eram os últimos remanescentes da equipe magiar. Puskas, o maior nome da Seleção da Hungria morreu em 17 de novembro de 2006, aos 79 anos.

Czibor, outro nome forte da “Equipe de Ouro” morreu em 1 de setembro de 1997, aos 68 anos. Sandor Kocsis, também brilhante jogador faleceu em 22 de julho de 1979, com a idade de 68 anos.
Buzánszky nasceu no dia 3 de maio de 1925, em Újdombóvár.

Sua carreira vitoriosa teve início na sua cidade natal, aos 13 anos de idade. Depois defendeu as equipes húngaras do Pécsi VSK e Dorogi Bányász, por quem disputou 274 partidas na “Primeira Liga Húngara”. Era lateral-direito.

Na Seleção de seu país jogou 49 partidas, entre 1950 e 1956. Em 1952 foi medalha de ouro nos jogos Olímpicos de Helsinque, Finlândia. Encerrou a carreira em 1960.

Mas não deixou o futebol, iniciando uma carreira de treinador, tendo dirigido vários clubes em Dorog e Esztergom. Desde 1993 era membro da direção da Federação Húngara de Futebol.

O estádio de Dorog, onde jogou entre 1947 e 1960, tem o nome de Buzánszky desde 2010. Outros estádios que homenageiam ex-jogadores da Seleção Húngara são: József Bozsik, do Honved, em Budapeste; Nándor Hidegkuti, do MTK Hungária e Puskás Ferenc, o maior multiuso da Hungria, com capacidade para 69 mil torcedores. (Pesquisa: Nilo Dias)


domingo, 11 de janeiro de 2015

O alviverde de Cosmópolis

No dia 15 de novembro deste ano teremos mais um integrante na seleta lista de clubes centenários do futebol brasileiro. Trata-se do Cosmopolitano Futebol Clube, o alviverde da cidade de Cosmópolis, no interior de São Paulo.

O clube foi fundado em 15 de Novembro de 1915, quando de uma reunião entre esportistas da então Vila de Cosmópolis, em um prédio alugado na Avenida Ester, próximo à estação de trens da Companhia Sorocabana.

O nome foi uma homenagem a Vila de Cosmópolis e aos próprios fundadores do clube, funcionários da Companhia Sorocabana e da antiga Companhia Funilense.

Entre os fundadores estavam descendentes de escravos, descendentes e imigrantes italianos, libaneses, portugueses, espanhóis, alemães, uma miscelânea de povos que formavam a então chamada “A Nova Campinas Paulista”, apelido de Cosmópolis no inicio do século 20.

Embora não exista uma documentação oficial que comprove a sua veracidade, sabe-se que antes de ser Cosmopolitano, o clube se chamava Guarany.

O time oficial do Cosmopolitano entrou em campo pela primeira vez no dia 12 de agosto de 1917. Era formado na sua maioria por funcionários da Companhia Sorocabana.

Um antigo livro ata, datado de 8 de dezembro de 1912, registra nas suas páginas iniciais não a fundação do Cosmopolitano, mas sim a do Guarany.

Fala de uma reunião realizada na casa de Manoel Fonseca onde estiveram presentes 14 sócios, estabelecendo neste dia regulamentos, artigos, e a criação da primeira diretoria do clube, nomeando como primeiro presidente Henrique Leonardo e o vice Manoel Fonseca.

Os demais membros eram Joaquim Azevedo 1º secretário, tesoureiro João Marun, Artur Patti como cobrador das mensalidades dos associados, e fiscal de campo (juiz) Antônio Simões.

Em 1914 dois anos depois da fundação do Guarany, um grupo de associados teria se desfiliado do clube, dando inicio ao surgimento do Cosmopolitano Foot Ball Clube, oficialmente criado em 15 de Novembro de 1915.

Essa hipótese ganha força, depois que os irmãos Flomberg, historiadores da cidade encontraram em 2008, um pequeno registro publicado no jornal “O Município” em 15 de Novembro de 1953, que dizia o seguinte:

“Em 1912, um grupo de elementos esforçados se reuniu em um salão de barbeiro de nossa cidade, que naquela época era Vila, conhecida pelo prenome de “Funil”, e resolveu dotar esta Cosmópolis com um clube de futebol. Daquela ideia surgiu o Guarany Foot Ball Clube. Mas como esse nome nada representava para Cosmópolis, mais tarde o mudaram para Cosmopolitano, e daí nunca mais se falou em mudanças”.

Com certeza existiram outros livros de atas do clube posteriores a 1912. No livro “Memórias de um mestre”, escrito por Felício Marmo, o primeiro professor oficial de Cosmópolis e criador da primeira escola pública da cidade em 1905, ele relata sua chegada a Vila de Cosmópolis, mencionando que os funcionários da Companhia Sorocabana já praticavam o Foot Ball em terras cosmopolenses.

O próprio professor se encarregou de ensinar aos seus jovens alunos o novo esporte, que teria aprendido na capital com funcionários da Companhia São Paulo Railway de trens e estradas de ferro.

Dizem que os demais livros de ata desapareceram décadas passadas, depois que um ex-presidente do clube mandou fazer uma “reforma” e “limpeza” na sede, quando uma boa parte do acervo foi praticamente jogada fora.

Todo o histórico do clube não foi perdido, porque alguns sócios conseguiram salvar de uma caçamba de lixo uma grande parte de documentos. Essa falta de material é que dificulta saber se Guarany e Cosmopolitano tiveram algo a ver um com o outro.

As dúvidas crescem, quando de acordo com atas do Cosmopolitano, o Guarany existiu oficialmente de 1912 ao último registro feito em 25 de Março de 1916.

O ex-jogador e membro de diretorias de vários clubes da cidade, o saudoso Juquita, falecido ao início da década de 1990 com 103 anos de idade, lembrava de uma época em que o Guarany era comandado por um pequeno grupo, que tinha a frente o Major Arthur Nogueira, que se intitulava o dono do clube.

Os principais jogadores não recebiam o incentivo necessário e apoio do grupo de diretores do Guarany, para atuação profissional nos campeonatos de Foot Ball que surgiam no estado de São Paulo.

A primeira sede oficial do Cosmopolitano Futebol Clube, que se localizava na rua Baronesa Geraldo de Rezende, esquina com Sete de Setembro, foi vendida pelo clube no final da década de 80.

O local ainda existe, e abriga uma hospedaria de funcionários terceirizados da Petrobras. O prédio do antigo salão social foi inaugurado em 31 de Março de 1934, um projeto criado por Armando Madsen.

O antigo Estádio Thelmo de Almeida, que ficava entre as ruas Moacir do Amaral e Rua Campinas foi demolido no inicio dos anos 2000. O local foi palco de muitas glórias na história do futebol cosmopolense, onde se realizavam grandes festas como os shows de aniversários, festas de posse do poder legislativo, palco final dos desfiles cívicos como o dia da pátria, festas religiosas. Na década de 90 foi alugado para circos e parques de diversões.

Nenhum cosmopolense esquece às festas do Clube Cosmopolitano, como os “Bailes da Chita”, onde o traje obrigatório tinha que ser confeccionado com o popular tecido.

O “Baile Verde e Branco”, o “Baile das Debutantes”, criado no inicio da década de 60. As festas e comemorações do aniversário do Clube sempre com a presença de grandes bandas da época.

Na década de 80 o famoso e tradicional Baile do Hawaii, as festas organizadas pela Master Som, TransaSom, TriAgito, a discoteca da Albatroz, os bingos beneficentes, ou os grandes bingos do clube com sorteio de carros, motos e altos prêmios em dinheiro.

Exibições de filmes foram a sensação do clube na época, que "competia" na bilheteria com o Cine Teatro Avenida e a Sociedade do Mútuo Socorro. Filmes do Mazzaropi, Jim da Selva, Bem Hur, Os dez mandamentos, O vampiro da meia noite, entre tantos outros sucessos de bilheteria.

As festas particulares de casamentos, eventos como o Miss Cosmópolis, Rainha do Clube, e shows de grandes artistas. Não esquecendo os carnavais do clube, que marcaram época, e eram considerados pela critica especializada entre os melhores carnavais do estado de São Paulo.

Os corsos, cordões e blocos do Cosmopolitano desfilando pelas ruas da cidade, as matinês no salão do clube que eram a alegria da molecada... São muitas lembranças e histórias, são páginas e páginas de muito alegria para serem contadas. (Pesquisa: Nilo Dias)

Em pé: Ferrucio – Tcheco - Manolo e um atleta não identificado. Abaixo: Marcelo - Ceará e Zeca. Sentados: Telmo de Almeida - José Lugli - Antônio Simões - Fritz e Sebastião de Almeida. (Foto: Acervo Cosmopolense)

quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

A primeira tragédia no futebol

A primeira tragédia na história do futebol aconteceu no dia 5 de abril de 1902, no lendário “Estádio Ibrox Park”, em Glasgow, Escócia, durante um jogo entre as seleções da Escócia e Inglaterra, válido pelo Campeonato Britânico, uma espécie de Campeonato da Europa, jogado apenas entre as seleções das ilhas britânicas.

O estádio havia sido recentemente ampliado com a construção de uma arquibancada nova, com capacidade para 20 mil espectadores, feita de madeira e ferro com mais de 75 metros de altura, que estava sendo inaugurada naquele dia.

Cerca de 68 mil torcedores encontravam-se no estádio, quando aos 51 minutos de jogo a nova arquibancada cedeu, abrindo um alçapão que acabou por engolir centenas de adeptos e tirar a vida de 25 pessoas e ferindo outras 500. Em pânico os torcedores começaram a fugir do campo e o jogo foi interrompido por 20 minutos.

Depois de meia hora de terror, o jogo foi retomado por uma questão de segurança, para evitar que o pânico aumentasse e os torcedores que permaneciam no estádio tentassem sair em massa, pondo em perigo não só as suas vidas, como também atrapalhando a ação daqueles que faziam o trabalho de resgate. A partida terminou empatada em 1 X 1, mas foi anulada e novo jogo realizado em 3 de maio de 1902 em Villa Park, em Birmingham.

O “Estádio Ibrox Park” foi projetado pelo arquiteto Archibald Leitch e construído em 1899 ao custo de £ 20.000. Antes que o clube “Rangers” se mudasse para lá, teve de solucionar problemas com a propriedade da terra, mudar seu estatuto jurídico e vender ações para levantar fundos que permitissem erguer o estádio, quase todo feito de madeira.

No inquérito realizado após a tragédia, o arquiteto Leitch acusou a empresa construtora “Stadium Alexander MacDougall”, de ter usado madeira de qualidade duvidosa e menos durável. Ao final das investigações Leitch e a construtora foram absolvidos.

O recorde de público é de 118.567 torcedores, em Janeiro de 1939 no clássico contra o Celtic FC. É um dos 27 estádios “5 Estrelas”, segundo a UEFA e um dos dois da Escócia (o outro é o "Hampden Park"), podendo receber finais da Liga dos Campeões da UEFA e da Copa da UEFA.


Mesmo depois de todas as reformas que passou ao longo de sua história, desde a pequena capacidade para 4.500 pessoas, até chegar a 75 mil e hoje podendo receber 50.987 torcedores, o Ibrox manteve a fachada original, que lembra uma antiga fábrica.

Em 2 de Janeiro de 1971 a tragédia se repetiu, no agora “Ibrox Stadium”. Dessa feita em números bem maiores, com 66 pessoas perdendo a vida. Tudo aconteceu quando barreiras de aço na escadaria 13 cederam, esmagando torcedores do “Rangers”, que saiam do estádio, depois de Colin Stein ter marcado o gol de empate, nos acréscimos contra o Celtic.

Atletas que participaram desse jogo lembram que o gramado estava enlameado, bastante frio e com muito nevoeiro. Um dia terrível, tanto que a iluminação estava acesa, embora o jogo se realizasse de tarde. Alguns deles contam que ao saírem de campo, viram pessoas que se encontravam deitadas em mesas, mas não sabiam se estavam vivas ou mortas.

Estava um verdadeiro pandemônio, com pessoas correndo de um lado para o outro, quase pisando nos corpos deitados ao longo da linha lateral, desde a linha de meio-campo até ao topo do estádio.

Inicialmente, os jogadores do Celtic não estavam cientes da tragédia que decorria, uma vez que 10 minutos após o apito final, toda a equipe já estava no autocarro. O treinador Jock Stein foi quem disse que houve um acidente com mortes. Ele e os membros da sua equipe técnica ficaram em Ibrox a auxiliar os feridos. 

Desde então diversas adaptações foram realizadas visando oferecer segurança e conforto para os clientes que ali passam. Entre elas a obrigatoriedade de todos os torcedores estarem sentados e a criação de três diferentes módulos para as torcidas, projeto que foi inspirado no estádio de Dortmund, na Alemanha, em 1978. (Pesquisa: Nilo Dias)


O estádio mantém até hoje a sua fachada original. (Foto: Divulgação)