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domingo, 16 de setembro de 2012

O goleiro que jogava de graça

Quem foi Roberto Gomes Pedrosa, que emprestou seu nome ao Torneio que antecedeu o Campeonato Brasileiro de Futebol? E o que ele fez para merecer tal honraria? Pedrosa, como era chamado, nasceu no Rio de janeiro em 8 de junho de 1913. Foi um goleiro que começou a carreira no Botafogo, do Rio de Janeiro e graças a suas boas atuações foi convocado para defender a seleção Brasileira, na Copa do Mundo de 1934.

Essa foi a primeira vez que a Copa se realizou na Itália. O Brasil foi prejudicado pelas brigas entre os dirigentes das entidades futebolísticas amadora e profissional. Aconteceram coisas quase inacreditáveis, como a tentativa de esconder alguns jogadores do Palestra Itália.

Romeu, Lara, Gabardo, Junqueira e Tunga chegaram a ser escondidos numa fazenda em Matão (SP), para não serem convocados pela antiga Confederação Brasileira deDesportos (CBD). A fazenda foi cercada de guardas armados. Como o lugar era tenebroso, assustando até os próprios jogadores, um diretor do Palestra Itália os transferiu para sua casa de praia.

Pedrosa defendeu a Seleção Brasileira em 19 oportunidades, segundo o livro “Seleção Brasileira – 90 anos”, de autoria de Antônio Carlos Napoleão e Roberto Assaf.

Pelo Botafogo foi tricampeão Carioca, em 1934. Do alvinegro carioca foi para o Clube Atlético Estudante Paulista, de São Paulo. Em 12 de setembro de 1938 assinou contrato com o São Paulo F.C., curiosamente na mesma data da fusão do tricolor com o seu ex-clube.

O que pouca gente sabe é que nessa incorporação, por pouco o São Paulo não mudou de nome. o Clube Atlético Estudantes de São Paulo, foi fundado por dissidentes do São Paulo F.C., em maio de 1935. Foram seus fundadores os são-paulinos Cássio Villaça e José de Godói. Veio a se estabilizar como uma entidade forte quando se uniu, em 2 de junho de 1937, com o C.A. Paulista, passando a se chamar Clube Atlético Estudantes Paulista e a jogar no Estádio Antônio Alonso, campo da Companhia Antárctica Paulista, na Rua da Móoca.

Bem estruturado e com elenco respeitável, fora de campo sofreu um grande baque após uma excursão ao Chile e ao Peru, entre junho e julho de 1938, quando um empresário fugiu com todos os rendimentos obtidos na viagem, deixando o clube em situação financeira grave.

Pelo vínculo histórico entre os dois clubes, o São Paulo ajudou a pagar o salário de alguns jogadores do Estudantes e até criou um festival amistoso, cuja meta era aliviar um pouco a situação dos atletas do clube irmão, que, aos poucos, foram contratados pelo próprio São Paulo.

Assim, em 25 de agosto de 1938, com oito novos jogadores provindos do Estudantes Paulista, o São Paulo F.C. goleou o Corinthians por 3 X 0, dando início a uma nova era vitoriosa. Com nomes como Armandinho e Araken Patusca, regressos, o São Paulo nessa temporada ainda aplicaria a maior goleada da história em cima do Palestra Itália, hoje Palmeiras: 6 X 0.

Já o cenário no Estudantes era problemático. Em 30 de agosto daquele ano, a diretoria do clube sofreu um ultimato do restante do elenco, impondo prazo de que até às 22h30min daquele dia lhes pagassem os ordenados devidos, ou então pediriam o passe e deixariam o time.

Sob pressão, recorreram ao São Paulo F.C. e à Liga de Futebol do Estado, representada nessa ocasião pelo presidente do Corinthians, Manoel Corrochel. A solução encontrada por todos foi solicitar um empréstimo de 5 contos de réis, junto à Liga, com o compromisso de saldá-lo após o jogo São Paulo e Corinthians, em 4 de setembro. Desde então, os passes e contratos de todos os jogadores do Estudantes passaram a pertencer ao São Paulo.

Ficou acertado a partir dali o fim do C.A. Estudantes Paulista, mas sua incorporação pelo São Paulo Futebol Clube se deu somente em 12 de setembro, em Assembléia Geral do Tricolor, ao custo de 700$000 réis mais o passivo do absorvido, no valor de 168.880$000 e os compromissos firmados com a Companhia Antárctica Paulista para o uso de seu estádio.

O detalhe, porém, é que por muito pouco o São Paulo F.C. não teve seu nome original alterado. Nessa mesma Assembléia Geral de 12 de setembro de 1938, a possibilidade de mudança de nomenclatura da agremiação, sem que outro nome tivesse sido sugerido, de fato, esteve em votação por causa da união com o Estudantes e permaneceu empatada até o “Voto de Minerva”, de Piragibe Nogueira, a favor da manutenção de São Paulo Futebol Clube.

Em 23 de abril de 1939, num clássico entre Corinthians X São Paulo (1 X 1), válido pelo campeonato paulista de 1938, a decisão foi, pela primeira vez, disputada em dois dias. Na última rodada, Corinthians e São Paulo se enfrentaram no Parque São Jorge. O Corinthians precisava apenas do empate para garantir o bi. O São Paulo, do goleiro Pedrosa, tinha que vencer para forçar um jogo-desempate.

O São Paulo abriu o placar no segundo minuto, por meio de Mendes, mas a chuva levou à interrupção do jogo aos 21 minutos. O tempo restante foi disputado dois dias depois. Em 25 de abril, o Corinthians empatou a partida com um dos gols mais polêmicos da história do futebol paulista. Lopes cruzou da direita e o goleiro Pedrosa rebateu. Da entrada da área, Servílio chutou torto, mas Carlito desviou a bola para o gol. Com a cabeça... ou com a mão? Muitos cronistas da época afirmaram que foi com a mão

Roberto Gomes Pedrosa defendeu o tricolor paulista até 1940, quando foi eleito conselheiro do clube. Segundo o “Almanaque do São Paulo”, de Alexandre da Costa, disputou 32 jogos pelo clube entre 1938 e 1940, com 16 vitórias, seis empates e 10 derrotas.

Em 1941, foi nomeado diretor do Departamento de Futebol e um ano depois recebeu o título de Sócio Benemérito. Em 1943, foi indicado diretor do Departamento Técnico da Federação Paulista de Futebol (FPF). Em 1944 ocupou o cargo de secretário geral da FPF, e em 1945, eleito membro do Conselho Regional de Desportos.

Foi escolhido em 1946 para ocupar a presidência do São Paulo F.C., e sua profícua atuação deixou marcas indeléveis na vida do clube. Em 1947, foi eleito presidente da Federação Paulista de Futebol, cargo que exerceu até 1954, ano de seu falecimento.

Quando atleta, Pedrosa jamais aceitou receber dinheiro para jogar. Seus contratos costumavam ser assinados em branco. Certamente esse foi um dos motivos que o levaram a ser homenageado das mais diversas formas. A praça localizada frente o estádio do Morumbi tem o seu nome.

Em 1967 foi criado o Torneio Roberto Gomes Pedrosa, embrião do atual Campeonato Brasileiro, em substituição ao Torneio Rio-São Paulo, que era disputado desde 1955. A nova competição deixou de ser disputada apenas entre clubes do Rio de Janeiro e de São Paulo, e passou a contar com equipes dos Estados de Minas Gerais, Paraná e Rio Grande do Sul.

Em 1968 clubes de Pernambuco e da Bahia completaram a lista de participantes. O torneio ficou conhecido como "Robertão", e a partir desse ano foi disputado também com o nome de "Taça de Prata".

Roberto Gomes Pedrosa faleceu no Rio de Janeiro, em 6 de janeiro de 1954, com apenas 41 anos de idade.

Seleção Brasileira que disputou a Copa doMundo de 1934, na Itália. O goleiro Pedrosa é o primeiro (de chapéu), a contar da esquerda para a direita.