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quinta-feira, 12 de junho de 2008

Sport, glória do futebol nordestino

O Sport Club do Recife sagrou-se de forma merecida o campeão da Copa do Brasil e alcançou classificação para a Copa Libertadores da América do ano que vem, dois feitos inéditos na história do clube que há dois anos penava na Série B do Campeonato Brasileiro. Em 1989 o Sport já havia chegado a final da Copa do Brasil, mas perdeu para o Grêmio de Porto Alegre. A última grande conquista do futebol nordestino havia sido o título de Campeão Brasileiro de 1988 pelo S.C. Bahia.

O Sport ganhou a competição com toda a justiça. Passou por cima de dois gigantes do futebol brasileiro, Palmeiras e Internacional, e ainda venceu o Imperatriz (MA), Vasco da Gama, Brasiliense e Corinthians Paulista, na grande final de ontem à noite.

No surgimento do Sport repetiu-se o que já acontecera em São Paulo e outros centros futebolísticos do país. Um estudante de nome Guilherme de Aquino Fonseca, filho de uma das mais tradicionais e abastadas famílias de Recife, retornou em 1903 de uma temporada de cinco anos de estudos na tradicional “Hooton Lown School”, em Londres, trazendo na bagagem bolas de futebol, camisas, meias, pares de botas especiais, precursoras das chuteiras, apitos e cópias das regras da “Foot-Ball Association” e tentou de todas as formas difundir o esporte em terras pernambucanas.

Primeiro, uma tentativa frustrada no Clube Náutico Capibaribe, que na época se dedicava exclusivamente ao remo. Depois, com apoio de funcionários das empresas inglesas “Great Western” e “Western Telegraph” fundou o Sport Club do Recife, o clube de futebol mais velho de Pernambuco. Não há notícia da existência de outra agremiação de futebol no Estado, antes do rubro-negro. A fundação aconteceu em 13 de maio de 1905, na sede da Associação dos Empregados do Comércio de Pernambuco, sendo eleito primeiro presidente o desportista Elysio Alberto Silveira. Guilherme de Aquino Fonseca foi escolhido para diretor de Esportes Terrestres.

Os descendentes de Guilherme de Aquino Fonseca até hoje se mantém ligados ao Sport. Em 2005, nos festejos do centenário do clube, o artista plástico Frederico Fonseca, sobrinho-neto do fundador confeccionou um troféu que marcou a importante data. Em 1995 ele já havia doado ao clube uma foto do seu tio-avô.

O primeiro jogo do novo clube foi realizado no dia 22 de junho de 1905, na “Campina do Derby”, contra o “English Eleven”, combinado de funcionários das companhias inglesas. Um regular público, na maioria de ingleses radicados em Recife, compareceu ao evento. No fim do "match" registrou-se um empate de 2 x 2.

A primeira vitória do Sport aconteceu em 1906, 1 x 0 sobre o “Western Telegraph”, gol do atacante Fellows. O primeiro título de campeão pernambucano veio em 1916, quando o Sport derrotou o Santa Cruz por 4 x 1, no jogo final realizado em 16 de dezembro daquele ano, com gols de Mota (2), Asdrúbal e Vasconcelos. Antes, o rubro-negro já havia massacrado o Náutico, com uma goleada de 8 x 0.

O Sport mantém uma rivalidade histórica com o Clube Náutico Capibaribe. O confronto entre ambos é conhecido como o “Clássico dos Clássicos”, o terceiro mais antigo do país. E também rivaliza com o Santa Cruz Futebol Clube no chamado “Clássico das Multidões”. E no passado havia o “Clássico dos Campeões”, contra o América Futebol Clube. O jogo recebeu essa denominação por que até o início da década de 1930 eram os dois principais times de Recife, e detentores da maior quantidade de títulos.

Em 1919 o Sport fez sua primeira excursão para fora do Estado. Foi a Belém do Pará, na época um centro futebolístico mais desenvolvido e no primeiro jogo conseguiu um empate em 3 x 3 contra o combinado Remo-Payssandu. Depois, valendo o “Troféu Leão do Norte”, o Sport venceu o mesmo combinado por 3 x 2. Os torcedores paraenses, inconformados com a derrota tentaram retomar o troféu, ocasionando a quebra da cauda do leão. A partir daí, o clube pernambucano adotou a figura do “rei das selvas” como símbolo. O troféu pode ser visto na sede do Sport, onde até hoje é mantido com a cauda partida, unida por um laço.

Segundo a “Wikipédia” o primeiro brasão do Sport nada tinha a ver com o atual. Num dos primeiros estatutos do clube era assim definido: "Sobre uma âncora, tendo no braço a data 13/05/1905, apoiada sobre um par de remos cruzando com um mastro contendo flâmulas descendentes e um criquete, um salva-vidas, tendo no centro uma bola de futebol entre um pau de criquete e uma raquete de tênis, cruzados, e encimada pelas letras SCR, entrelaçados em monograma e, no corpo, escrito Sport Club Recife". O distintivo representava todas as modalidades esportivas praticadas pelo clube na época, desde o críquete até a caça submarina. O brasão era muito complexo, de difícil reprodução e não trazia as cores vermelha e preta.

Um outro momento marcante na história do rubro-negro de Recife aconteceu ao início dos anos 40, numa vitoriosa turnê pelos gramados do Sudeste e Sul do país. A diferença técnica do futebol entre essas duas regiões e o Nordeste era enorme, por isso a imprensa pernambucana dizia que o Sport iría fazer uma excursão suicida pelos Estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

Disputou 17 partidas, venceu onze : América (MG), 5 x 1; Atlético (MG), 4 x 2; Britânia (PR), 1 x 0; Coritiba (PR), 4 x0; Coritiba (PR), 3 x 1; Savóia (PR), 5 x 0; Joinville (SC), 5 x 3; Força e Luz (RS), 3 x 2; Grêmio (RS), 3 x 0; Vasco da Gama (RJ), 5 x 4 e Flamengo (RJ), 3 x 1. Empatou dois jogos: Palestra Itália (MG), 0 x 0 e Internacional (RS), 2 x 2. E perdeu apenas quatro jogos: Flamengo (RJ), 3 x 1; Santos (SP), 4 x 3; Juventus (SP), 8 x 5 e Coritiba (PR), 2 x 1. O êxito da excursão fez com que os principais jogadores do time fossem contratados pelos grandes clubes do centro do país. Zago, Djalma e Ademir foram para o Vasco, Magri para o América (RJ), Piromba para o Flamengo e Pinhegas para o Fluminense.

Em 1957 aconteceu a primeira excursão do Sport a Europa. Foram 17 jogos, com 6 vitórias, 3 empates e 8 derrotas, com 40 gols pró e 60 contra. Os resultados foram estes: Sporting Lisboa 5 x 1 Sport; Seleção de Israel 2 x 2 Sport; Haifa-Macabi (Israel) 1 x 5 Sport (estréia do goleiro Manga); Seleção de Israel 2 x 5 Sport; Selecionado de Haifa (Israel) 1 x 3 Sport; Seleção da Turquia 2 x 5 Sport; Fenerbache (Turquia) 2 x 3 Sport; Besiktas (Turquia) 2 x 2 Sport; Beykoz (Turquia) 3 x 2 Sport; Seleção da Turquia 1 x 2 Sport; Real Madrid (Espanha) 5 x 2 Sport; Marseille (França) 8 x 0 Sport; Stade-Reims (França) 6 x 2 Sport; Sochaux (França) 5 x 4 Sport; Fortuna Dusseldorf (Alemanha) 1 x 1 Sport; Fortuna Dusseldorf (Alemanha) 3 x 0 Sport e Osasuña (Espanha) 7 x 2 Sport.

O Sport é o clube dono do maior patrimônio e da maior torcida em todo o Nordeste. O Estádio da Ilha do Retiro, onde manda seus jogos foi inaugurado em 4 de julho de 1937, num amistoso contra o Santa Cruz, em que o “Leão” venceu por 6 X 5. No dia 11 de julho aconteceu o primeiro jogo oficial no novo estádio, um empate em 2 x 2 entre Sport X “Tramways”, pelo Campeonato Pernambucano. Em 1950, o Estádio da Ilha do Retiro sediou um jogo pela Copa do Mundo, em que o Chile goleou os Estados Unidos por 5 x 2.

O nome Ilha do Retiro se deve ao fato do estádio ter sido construído sobre uma ilha e aterrado em torno. Foi no dia 29 de novembro de 1935 que o Sport comprou por 85 contos de réis o terreno onde construiu o estádio, cujo nome oficial é Adelmar Costa Carvalho, que presidiu o clube quando da conquista dos títulos estaduais de 1955 e 1956.

Em 1988 o Sport participou da Copa Libertadores da América. Os resultados de seus jogos foram estes: Sport 0 x 1 Guarani (Campinas); Universitário (Peru) 1 x 0 Sport; Alianza Lima (Peru) 0 X 1 Sport; Guarani (Campinas) 4 x 1 Sport; Sport 5 x 0 Alianza Lima (Peru); Sport 0 x 0 Universitário (Peru). O.Sport foi terceiro colocado no grupo e eliminado da competição.

A maior glória veio em 1987, quando sagrou-se campeão brasileiro ao bater o Guarani em campo e o Flamengo nos tribunais. Três anos depois, foi campeão brasileiro da Série B. Outras glórias são os vice-campeonatos da Copa do Brasil, em 1989, e da Copa dos Campeões, em 2000. Foi campeão pernambucano 37 vezes: 1916, 1917, 1920, 1923, 1924, 1925, 1928, 1938, 1941, 1942, 1943, 1948, 1949, 1953, 1955, 1956, 1958, 1961, 1962, 1975, 1977, 1980, 1981, 1982, 1988, 1991, 1992, 1994, 1996, 1997, 1998, 1999, 2000, 2003, 2006, 2007 e 2008. Ganhou a Copa Pernambuco em três vezes: 1998, 2003 e 2007. (Texto e pesquisa: Nilo Dias)
Sport faz renascer o futebol nordestino (Foto: Site oficial do Sport Club do Recife)