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segunda-feira, 4 de março de 2013

Morreu "El Negro"

Luis Alberto Cubilla Almeida, um dos maiores craques do futebol uruguaio em todos os tempos, morreu ontem (domingo), aos 72 anos, na Clinica Amsay, em Assunção, Paraguai, em decorrência de complicações de um câncer no estômago. Ele passou por uma cirurgia no último sábado à noite, teve complicações e acabou não resistindo.

O ex-jogador, que completaria 73 anos no próximo dia 28, sofria há alguns anos com o câncer gástrico, e recebia a solidariedade de dirigentes esportivos e do público em geral, que ajudavam nos gastos com a enfermidade. Ele recebeu mais de 100 mil mensagens de apreço e apoio pelas redes sociais, tanto de torcedores do Olímpia como do Cerro Porteño, os clubes mais populares do Paraguai.

O jornal paraguaio “ABC” publicou em sua edição de domingo que o técnico uruguaio Anibal “Maño” Ruiz, que era um grande amigo de Cubillas, telefonou pedindo noticias do ex-companheiro e foi tomado pela emoção.

Cubilla ganhara há pouco mais de uma semana uma questão trabalhista envolvendo o Olímpia. O ex-presidente do clube paraguaio, Eduardo Delmás, disse que analisava fazer o pagamento da indenização, e para tal era preciso vencer algumas questões burocráticas. "Cubilla é uma glória do Olímpia. Este é o momento de demonstrarmos o apreço e reconhecimento de todo o povo olimpista", declarou.

Nascido em Paysandu, Uruguai em 28 de março de 1940, foi apelidado “El Negro” e começou a carreira profissional no Peñarol em 1957. Jogou ainda pelo Barcelona, da Espanha, onde ganhou a Copa do Rei em 1963, River Plate, de Buenos Aires, Nacional, de Montevidéu, Santiago Morning, do Chile e Defensor Sporting, de Montevidéu.

A carreira de Cubilas como jogador foi vitoriosa, tendo conquistado três Copas Libertadores das Américas, duas pelo Peñarol e uma pelo Nacional, ambos de Montevidéu, nove títulos de campeão uruguaio e uma Copa Intercontinental (Copa Toyota), pelo Penãrol, de Montevidéu. Na Libertadores, foi ainda vice-campeão pelo River Plate, em 1966.

Teve destaque especial na primeira Copa Libertadores marcando a sete minutos do fim do jogo o gol de empate no Paraguai, que garantiu o título ao Peñarol contra o Olímpia - os paraguaios haviam sido previamente derrotados em Montevidéu.

Entre 1962 e 1964, jogou, sem tanto sucesso, no Barcelona, retornando à América do Sul como jogador do River Plate.

A equipe argentina não conquistava títulos desde 1957, mas foi à Taça Libertadores da América de 1966, como vice-campeã argentina. Cubilla esteve perto de faturar pela terceira vez o troféu, justamente contra seus antigos colegas do Peñarol.

Após duas vitórias para cada lado na decisão, os riverplatenses abriram 2 X 0 na finalíssima em campo neutro, mas perderiam de virada por 4 X 2 - derrota traumática que originou inclusive o pejorativo apelido “gallinas”, que acompanha o clube até hoje.

A passagem pelo River, além de não lhe trazer troféus - o clube só terminaria seu jejum em 1975 -, tirou seu lugar na Copa do Mundo de 1966, em uma época onde as seleções sul-americanas não convocavam quem atuasse no exterior. Pelo clube argentino Cubilla disputou 129 partidas e marcou 31 gols.

Dez anos depois de ser campeão uruguaio, continental e intercontinental pelo Peñarol, Cubilla conquistou os mesmos títulos no arquirrival Nacional. Em 1969, voltou ao Uruguai, contratado pelo Nacional, onde também venceu por quatro vezes seguidas a liga uruguaia, a exemplo do que conseguira no Peñarol.

O troféu continental veio sobre o Estudiantes de La Plata, então tricampeão seguido do torneio. O mesmo adversário havia derrotado o próprio Nacional, já com Cubilla, na decisão da Libertadores de 1969.

Cubilla deixou o Nacional em 1975, ano em que ficou na pequena equipe chilena do Santiago Morning. Já com 36 anos, encerrou a carreira novamente como campeão uruguaio, dessa vez pelo pequeno Defensor Sporting, em 1976, que se tornou o primeiro clube a ganhar um certame nacional sem ser Nacional ou Peñarol.

Também vestiu a camisa da Seleção Uruguaia por mais de 100 vezes, tendo participado de três Copas do Mundo, 1962, 1970 e 1974, quando marcou 4 gols.

Ele estreou pela Seleção Uruguaia em 1959, depois da “Celeste” ter ficado fora da Copa de 1958 pela primeira vez. Nas eliminatórias para o Mundial de 1962, os uruguaios bateram a Bolívia, com providencial ajuda de Cubilla: foi dele o gol “charrua” no empate obtido na altitude de La Paz.

Cubilla foi ao mundial do Chile junto de seu irmão mais velho, Pedro Cubilla. No jogo de estreia os uruguaios venceram a Colômbia, que saiu na frente, por 2 X 1. Cubilla fez o gol que empatou a partida.

Machucado, ele ficou de fora da segunda partida. Sem força no ataque o Uruguai perdeu para a Iugoslávia por 3 X 1. No último jogo da primeira fase precisavam vencer a União Soviética para seguirem em frente. Mas um gol no último minuto mandou a “Celeste” para casa mais cedo.

Entre 1962 e 1968, Cubilla atuou em clubes estrangeiros, o que lhe impediu de voltar a ser convocado para a seleção do seu país, para a Copa de 1966. Em 1970 os jogadores uruguaios que atuavam no exterior puderam ser convocados.

Na preparação para a Copa do México, Cubilla, que anteriormente era ponteiro, foi utilizado como único atacante em um esquema cauteloso. Mostrou-se importante na segunda fase: nas quartas-de-final, aproveitou os últimos espaços do campo para realizar o cruzamento que terminou no gol de seu colega de Nacional, Víctor Espárrago, o único da partida contra a União Soviética.

Já na semifinal, ele marcou o gol que abriu o placar contra o Brasil. Os uruguaios fecharam-se na defesa, mas sofreram a virada. Já com o placar em desfavor, Cubilla quase voltou a empatar, tendo seu cabeceio à queima-roupa defendido de forma considerada "milagrosa" por Félix. Os brasileiros ainda fariam mais um e conseguiram seu lugar na final. Os celestes acabariam em quarto, sem muito entusiasmo no jogo pelo terceiro lugar contra a Alemanha Ocidental.

Ele, já aos 34 anos, foi levado também para a Copa do Mundo de 1974, onde amargou nova eliminação uruguaia na primeira fase após ser derrotada pela Holanda e empatar com a Bulgária nos dois primeiros jogos. A “Celeste” precisava vencer a Suécia, mas deu vexame e perdeu por 3 X 0. Cubilla entrou nesse jogo com o placar ainda em branco. Foi a última de suas 38 partidas por seu país, com o qual marcou ao todo 11 gols.

Em 2006 foi eleito pela Federação Internacional de História e Estatísticas do Futebol (IFFHS) o décimo melhor jogador sul-americano do século.

Como treinador também conheceu o sucesso. Exerceu a profissão quase sempre no Paraguai, onde conseguiu um feito histórico, levando o Olímpia a se tornar o primeiro time fora do eixo Argentina-Brasil-Uruguai a ganhar um título de campeão da Copa Libertadores das Américas, em 1979.

Pela equipe paraguaia, o treinador ainda venceu o título Intercontinental contra os suecos do Malmö. Onze anos depois, o forte Milan não permitiu que a conquista se repetisse. Ganhou 10 campeonatos nacionais (1978, 1979, 1980, 1982, 1988, 1989, 1995, 1997, 1998 e 1999), duas Recopas Sul-americanas (1990 e 2003), uma Super Copa Sul-Americana (1990) e uma Copa Nehru (1990). Treinou ainda o Newell’s Old Boys, Racing, Talleres e Barcelona, de Guayaquil entre outros. Em 1981, faturou seu quinto título uruguaio no Peñarol, o primeiro e único na nova função.

Como treinador, seu fracasso mais retumbante acabou sendo na direção de seu país. Cubilla foi contratado para treinar o Uruguai após a Copa do Mundo de 1990, ano em que suas conquistas no Olimpia o fizeram ser eleito o melhor técnico sul-americano daquele 1990. Ficou marcado por desentender-se com os principais jogadores uruguaios daquele momento, que atuavam na Europa, insinuando que seriam meros dinheiristas, no que era apoiado por boa parte da população.

Em 1990 foi eleito o melhor técnico do continente. Dirigiu ainda Danubio, Newell's Old Boys de Rosario, Nacional de Medellín, River Plate, de Buenos Aires, Talleres, de Córdoba e Defensor, por quem foi campeão uruguaio, entre outros. Seu último trabalho como técnico foi pelo Tacuary, do Paraguai, no ano passado.

Sem Enzo Francescoli, Rubén Sosa, Carlos Alberto Aguilera, José Oscar Herrera e outros, sofreu vergonhosa eliminação na primeira fase da Copa América de 1991. Já com alguns deles trazidos de volta, não se saiu muito melhor na Copa América de 1993 e ainda perdeu a vaga na Copa do Mundo de 1994, perdendo lugar ainda no meio da campanha rumo aos EUA para Ildo Maneiro.

Tido como um ponteiro imprevisível tanto técnica como emocionalmente e também como "asqueroso" por ser bastante irritante com os adversários, Cubilla era baixo e um tanto gordo, 74 quilos para seu 1,69 metros de altura. (Pesquisa: Nilo Dias)

Cubilla quando jogava no Nacional, de Montevidéu.