Boa parte de um vasto material recolhido em muitos anos de pesquisas está disponível nesta página para todos os que se interessam em conhecer o futebol e outros esportes a fundo.

domingo, 11 de maio de 2008

Sima, o “Pelé do Piauí”

Dia desses um amigo meu se queixava da grande imprensa brasileira, principalmente a Rede Globo que dedica os maiores espaços de seus noticiários esportivos para os clubes de futebol do Rio de Janeiro e São Paulo. Lá de vez em quando se fala alguma coisa sobre os clubes de Minas Gerais, Rio Grande do Sul e algum outro Estado que tenha representante na Série A do Campeonato Brasileiro. E os outros? Absolutamente nada, a não ser que aconteça alguma coisa de ruim. Lembrem as mortes acontecidas no Estádio da Fonte Nova, na Bahia. Por vários dias o acidente ocupou grandes espaços na mídia.

O amigo tem toda a razão. Mas, convenhamos o próprio torcedor é culpado nessa situação, pois além de comprar os pacotes de transmissão dos jogos, ainda torce por equipes de fora do seu Estado de origem. No Nordeste isso acontece com freqüência. No Distrito Federal, é bem pior. Nunca vi um jogo no Estádio Mané Garrincha, em que o time local tivesse mais torcedores que o adversário. A imprensa sabe disso, e não vai mesmo dar importância para quem não está na vitrine. É a velha história do peixe maior que come o menor.

O meu amigo é do Piauí e mora em Brasília há vários anos. E torce pelo Flamengo, o do Rio de Janeiro. Quer dizer, não dá para entender a preocupação com o futebol da sua terra, onde tem um cronista esportivo de apelido Garrincha, um jogador de nome Maradona e um time chamado Flamengo. De qualquer maneira, procurei pesquisar sobre a carreira de um jogador piauiense, que esse meu amigo falou maravilhas. E confesso que nessa particularidade existe mesmo desinformação. Eu nunca tinha ouvido falar no jogador Sima, que foi chamado por lá de “Pelé do Piauí” e “Pelé do Nordeste”.

Simão Teles Bacelar, é o nome da fera, nascido em 7 de março de 1948, na cidade de Miguel Alves (PI). Não encontrei nada que explicasse o porquê do apelido Sima, mas é fácil perceber que isso tem a ver com o nome Simão. Mas o importante é que ele está inserido na seleta lista dos 10 maiores artilheiros do futebol brasileiro em todos os tempos, ao lado de Friedenreich, Pelé, Zico, Roberto Dinamite, Romário, Túlio e outros monstros sagrados.

Entre 1969 e 1983, o centroavante conseguiu a proeza de ser dez vezes o artilheiro do campeonato estadual. Em 1977 foi o maior goleador dos campeonatos estaduais em todo o país, quando fez 33 gols jogando pelo River Atlético Clube. O que, convenhamos é um feito para ficar na história.

Sima fez 529 gols em toda a carreira, números impressionantes para quem jogou apenas em clubes sem muita expressão no cenário futebolístico nacional. Ele me lembra um artilheiro lá do Rio Grande do Sul, Antônio Azambuja Nunes, o “Nico”, um grande amigo meu, que fez mais de 700 gols jogando no Rio-Grandense, de Rio Grande.
Mas essa é outra história, que oportunamente quero contar.

A carreira de Sima teve início nos juvenis do Piauí Esporte Clube em 1964. Na temporada de 1967 defendeu Barras no torneio Intermunicipal e foi o artilheiro da competição com 12 gols. Em 1968 passou a titular do Piauí e começou uma trajetória de títulos e gols. No próprio Piauí, no Tiradentes e no River foi várias vezes campeão estadual e bateu todos os recordes de gols.

O artilheiro, que hoje é empresário no ramo de material esportivo lembra de dois gols marcantes na carreira: em 1974, contra o Internacional de Figueroa e companhia, em pleno Estádio Beira Rio, em Porto Alegre, na derrota do River por 2 X 1. E em 1975, em São Januário, no Rio de Janeiro no empate de 1 X 1 do extinto Tiradentes, com o Vasco. O gol que ele considera o mais bonito da carreira foi marcado contra o Botafogo, no Maracanã, em 1982, num chute quase sem ângulo.

Lá pelas bandas do Piauí correu uma história de que o clube que almejasse ser campeão estadual teria de contar com Sima e mais 10. Uma vez ele fez quatro gols num jogo contra o América de Natal, pelo Campeonato Brasileiro e ficou algumas semanas como artilheiro isolado da competição, na frente de Zico, Roberto Dinamite e Serginho Chulapa.

Mesmo com toda a predestinação de artilheiro, Sima não chamou a atenção de nenhum grande clube do centro do país. Sua carreira foi quase toda limitada aos clubes do Piauí e do Nordeste, principalmente, o River. Em 1972 jogou o campeonato baiano e o Brasileirão pelo Bahia, sem muito brilho. Sua passagem pela “boa terra” é lembrada pelo gol que marcou contra o time rival do Vitória, no clássico que levou o tricolor baiano até as finais do campeonato.

Na pesquisa que fiz, o que mais me chamou a atenção sobre Sima, não foi nem seu faro de gol, técnica, velocidade ou qualquer outra coisa do gênero, sim a disciplina. Ele nunca sofreu uma punição na carreira, o que lhe valeu o prêmio Belfort Duarte, que era outorgado pela CBF ao atleta que ficasse 10 anos sem ser expulso de campo.

Os 529 gols que marcou foram divididos assim: River (PI) (1977 a 1983 e 1987), 185; Piauí (1966 a 1971 e 1984 a 1986), 156; Tiradentes (PI) (1973 a 1976), 93; Auto Esporte (PI) (1983/1984), 30; Ferroviário (CE) (1981), 12; Seleção de Barra (PI), 12; Flamengo (PI), 10; Moto Clube (MA), 09; Bahia, 09; Seleção Piauiense, 04; Seleção da Agpi (PI), 04; Sergipe (SE), 02; Seleção Prata da Casa (PI), 02; Leônico (BA), 02 e Seleção de Teresina (PI), 01. (Texto e pesquisa: Nilo Dias)
Sima, o maior craque da história do futebol piauiense (Foto: Site do River Atlético Clube)