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segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Vale a pena visitar

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Para ser xavante não basta uma vida

O blog faz sua homenagem ao glorioso G.E. Brasil, de Pelotas, reproduzindo um bonito e emotivo artigo assinado pelo jornalista Nauro Júnior, 39 anos, fotógrafo de "Zero Hora", em Pelotas e publicado no blog "Rumos do Sul", no site do jornal "Zero Hora", de Porto Alegre.

"O futebol gaúcho se vestiu de luto, e as cores da tristeza são o vermelho e o preto. A torcida do Brasil de Pelotas, conhecida pela irreverência e pela alegria, acordou incrédula na última sexta-feira.

Uma tragédia na noite de quinta-feira tirou a vida do maior ídolo xavante dos últimos anos. Ele era amado e amava driblar, ouvindo o urro ensurdecedor que vinha das arquibancadas do caldeirão da Baixada. Junto com ele se foram o zagueiro Régis e o preparador de goleiros Giovani, dois tímidos guerreiros que, assim como Claudio Milar, amavam vestir as cores do time mais alucinado do interior do Estado.

Na quinta-feira de manhã, a delegação do Brasil de Pelotas saiu para jogar um amistoso em Santa Cruz. Claudio Milar, o craque, me dizia na saída que pretendia voltar até a 1h para dormir em casa com a sua amada Caroline e o pequeno Agustín. Não voltou mais. Doze horas depois de termos nos visto, quando ele projetava que este era o ano do xavante, me encontrei novamente com o amigo já sem vida.

Milar sempre me pedia pelas mais de 500 fotos que tenho dele vibrando, fazendo gols, dando autógrafos para seus admiradores, e até uma dele vestindo a camisa com o número 100 às costas, a preferida dele. Jamais imaginei que teria de fazer uma foto do amigo morto.

Era 1h30min da madrugada de sexta feira quando tive a incumbência de dar a terrível notícia pela Rádio Gaúcha. Milar, Régis e Giovani já faziam parte da delegação Xavante em outra dimensão. Minutos depois, em Pelotas, xavantes começaram a vagar pela volta do Estádio Bento Freitas como almas à procura de alguma explicação.

Os caixões só chegaram ao Bento Freitas no meio-dia de sexta, quando torcedores lotavas as arquibancadas. Como São Tomé, talvez só vendo acreditassem que não se tratava de um pesadelo. Junto com a xavantada, entravam abraçados torcedores do Pelotas, do Farroupilha, colorados, gremistas, jogadores, ex-jogadores, habitantes de uma cidade que ama o futebol. Em cada canto do estádio havia um rosto incrédulo. Velhos, moços, mulheres, crianças, gente de todas as raças e classes sociais choravam como se houvesse morrido alguém da família. E quem disse que Milar, Régis e Giovani não eram da família? Na claque xavante, todos têm o mesmo DNA. São apaixonados, loucos, fiéis e não desistem nunca. É isso mesmo, não desistem nunca.

O caixão de Milar foi o primeiro a sair do estádio, e os gritos da torcida vinham da arquibancada como nos tempos recentes em que o uruguaio entortava zagueiros com o seu drible desconcertante bem próximo ao alambrado, lá na ponta direita, onde os xavantes e o ídolo se encontravam no momento de maior cumplicidade e paixão.

Com os gritos de guerra "Ei, Ei,Ei, Milar é nosso Rei", a majestade foi embora para ser enterrada no Uruguai. O túmulo de Milar será um templo de peregrinação dos torcedores do Brasil.

O corpo de Régis e Giovani foram velados pelo resto da tarde. Milhares de pessoas passaram para dar o último adeus. Às 18h entrou no estádio um silencioso caminhão de bombeiros e nele foram colocados os dois caixões, cobertos por uma montanha de coroas de flores. Minutos depois o veículo começou a sair lentamente do estádio, e uma horda de xavantes começou a caminhar atrás do cortejo. À medida que o caminhão vermelho aumentava a velocidade, eles apressavam o passo e cantavam, enquanto Régis e Giovani passavam pela última vez pelas ruas da cidade onde nasceram. As pessoas derramavam lágrimas em sacadas de prédio, portões das casas e nas esquinas.

Por um momento parecia que o tempo parou, tudo parou, somente se ouvia a sirene do caminhão que se movia em câmera lenta, com uma multidão que não desistia de correr atrás gritando. O suor se misturava as lágrimas, e as lágrimas se misturavam com as cores da dor em cada esquina. Pois naquele dia Pelotas chorava lágrimas em vermelho e preto. Os torcedores rubro-negro invadiram o cemitério de Pelotas, a família pediu um momento de intimidade, que foi aceito, mas não compreendido, pois todos que estavam ali eram da família de Régis e Giovani, da família xavante.

Às 19h, os caixões foram depositados nos túmulos. Na mesma hora suas almas alçaram voo, e já foram treinar em um gramado encantado de um estádio que tem lá no céu, onde só quem tem um amor inexplicável como a paixão que os xavantes sentem conseguem o ingresso para entrar. Depois chegou o Milar e se juntou a eles, com a xavantada que mora lá em cima há muito tempo. Para amar como os xavantes amam, não basta uma vida."

Torcida do Brasil de Pelotas transformou cemitério em estádio. (Foto: Globoesporte.com)

O técnico Cuca, do Flamengo, que já treinou o Brasil de Pelotas, colocou uma camisa especial no amitoso contra o Tupi, de Juiz de Fora (MG), para homenagear clube gaúcho. (Foto: Globoesporte.com)