Boa parte de um vasto material recolhido em muitos anos de pesquisas está disponível nesta página para todos os que se interessam em conhecer o futebol e outros esportes a fundo.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

A história do goleiro malabarista (2)

Após concluir os amistosos, encantado com o profissionalismo dos clubes europeus, Jaguaré foi para o Barcelona, junto com Fausto, a “Maravilha Negra”, onde sentiu na pele o preconceito por parte da torcida e dos dirigentes. Mas, como o time catalão contava no gol com o mito Ricardo Zamora, em maio de 1932, após uma discussão, ele voltou ao Brasil e, em 1934, passou a defender o Corinthians.

A diretoria resolveu substituí-lo pelo goleiro José Hungarez, o primeiro estrangeiro a vestir a camisa corinthiana. Em 1937, Jaguaré embarcou para a França, contratado pelo Olympique de Marseille, onde fez grande sucesso, ganhando o apelido de “Le Jaguar”. Com ele o clube conquistou o campeonato nacional no mesmo ano e no ano seguinte pela primeira vez a Taça da França.

Diz a lenda que tomou apenas um gol na temporada do título nacional e, no último e decisivo jogo, contra o Metz, vencido por 2 X 1 bateu um pênalti e marcou o primeiro gol de sua equipe, tornando-se o primeiro goleiro a marcar um gol em todo o mundo. Cerca de 32 mil torcedores viram o histórico momento.

O lance foi assim descrito pela revista "Sport IIustrado", em sua edição de 22 de junho de 1938. "Aos 22 minutos, Laurent, back do Metz, fez um penalty. Com surpresa de todos os assistentes, Jaguaré abandonou o seu posto e encaminhou-se para o goal adversário. Jaguaré collocou-se diante da bola , e quando o árbitro apitou, bateu o penalty.

"Ouviu-se uma exclamação da assistência. Jaguaré enviou a bola a um canto e marcou o goal de empate. Foi um lance sensacional. Um arqueiro fazer um goal contra o adversário! Em nossa capital, jamais houve um caso, em partida official, de um arqueiro executar um penalty."

Mas Jaguaré não se tornou o heróí do jogo apenas pelo gol que marcou. Fez mais: aos 28 minutos do segundo tempo, garantiu a vitória do Olympique ao defender "com um salto formidável" a cobrança de pênalti feita pelo jogador Donzelle. Pela sua atuação na decisão Jaguaré recebeu as felicitações do presidente da França.

Na Europa, as "brincadeiras" que Jaguaré fazia no Brasil não eram aceitas. Num jogo pela Copa da França, contra o Racing, fez uma defesa de bicicleta. Não foi mandado embora porque o Olympique venceu. Na Inglaterra, depois de uma defesa, atirou a bola na cabeça do adversário. O juiz parou o jogo, chamou o capitão do Olympique para adverti-lo que não iria admitir outra jogada como aquela, e puniu o time francês com um tiro livre indireto.

De vez em quando, aparecia no Brasil e era um sucesso. Um dia, anunciou que iria treinar no Vasco. São Januário encheu. Jaguaré apareceu de terno branco e chapéu chile pendido de lado. Trocou de roupa e ficou igualzinho a um goleiro europeu, de boné e luvas. Foi o primeiro goleiro brasileiro a usar luvas, pretas por fora e vermelhas por dentro.

Com a proximidade da II Guerra, o medo falou mais alto e ele retornou ao Brasil, caindo em decadência e entregando-se ao vício da bebida. E novamente sem dinheiro, porque gastou tudo o que ganhou. Sem conseguir vaga nos times de ponta, jogou no São Cristóvão, voltou à estiva e ao anonimato.

Depois, desapareceu. Sabe-se que foi para a cidade de Santo Anastácio no Oeste paulista. Em 27 de outubro de 1946, Jaguaré voltou a ser noticia dos jornais. Em um canto de página policial, estava registrado que o antigo goleiro do Vasco, tinha se envolvido em uma briga com policiais, que o espancaram até a morte. Triste fim para quem levou tanta alegria aos gramados. Jaguaré foi enterrado como indigente.

Jaguaré jogou por estes clubes: Atlético Santista (amador, de 1926 a 1927); Vasco da Gama (1928 a 1931); Barcelona (1932 a 1933); Corínthians Paulista (1934 a 1935); Olympique de Marseille, França (1936 a 1939). Foi campeão carioca pelo Vasco (1929); campeão francês pelo Olympique (1937) e campeão da Copa da França pelo Olympique (1938). Jogou três partidas pela Seleção Brasileira, vencendo todas (1928/1929).

O Vasco da Gama teve um outro “Jaguaré” em sua história, mas este não era jogador e sim o locutor oficial do clube. Walter Micelli ganhou o apelido por causa do goleiro Jaguaré. Aos seis anos de idade, foi levado à São Januário e viu o goleiro em ação. Como também atuava na posição em peladas em São Cristóvão, acabou ganhando o nome pelo qual ficou conhecido durante toda a sua carreira.

Walter Micelli, o outro “Jaguaré” morreu no dia 17 de outubro de 2001, aos 79 anos, vitimado por um infarto. Reconhecido pelo “Guinness Book” como o mais antigo locutor de estádio do mundo, “Jaguaré” começou a trabalhar no Vasco em 1947. Ele esteve presente em mais de quatro mil jogos. Teve contato com os maiores ídolos da história do clube, entre eles Roberto Dinamite, Romário e Edmundo, além de acompanhar de perto o famoso “Expresso da Vitória” com Ademir, Barbosa, Chico e outros. (Pesquisa: Nilo Dias)

Jaguaré no início de carreira.

terça-feira, 14 de abril de 2009

A história do goleiro malabarista (1)

As origens do futebol no Brasil não são populares, pelo contrário. Era só a elite que o praticava nos primeiros tempos, não dando lugar a pobres e principalmente a negros. Era, portanto um esporte elitista e racista, que com o passar dos anos deixou os salões da alta sociedade e chegou às camadas mais populares da população, conquistando rapidamente uma legião de novos e entusiasmados adeptos, que passaram a disputar partidas em campos improvisados em praças, parques e terrenos baldios.

Esses tempos difíceis de transição, principalmente antes da profissionalização oficial, em 1933, foram marcados pelo surgimento de lendários personagens, dos quais se contam muitas histórias. Hoje, é quase impossível saber o que é verdade ou o que é lenda.

Nesse contexto se insere “Jaguaré”, registrado como Jaguaré Bezerra de Vasconcelos, nascido no Rio de Janeiro em 14 de maio de 1905. Mas existem divergências em relação à data real de seu nascimento: algumas fontes apontam para o dia 14 de julho, outras para o 14 de maio. E também o ano, que poderia ser 1900 ou 1905. O próprio jogador ignorava o dia em que nasceu. Filho de Antônio Bezerra Vasconcelos e Raimunda Tavares de Vasconcelos cresceu na pobreza e passou a maior parte da sua infância na zona portuária carioca.

Ainda na adolescência começou a trabalhar de estivador no cais do porto. Foi dessa época, antes mesmo de se tornar jogador de futebol, que surgiram os primeiros fatos ou lendas em torno de seu nome. Diziam que cada vez que estufava o peito para segurar com apenas uma mão, sacos de 50 kg de farinha de trigo, destinadas ao Moinho Inglês, de quem era empregado, havia sempre uma enorme assistência para bater palmas.

Nas horas de folga Jaguaré gostava de jogar peladas nos campos de várzea do bairro da Saúde, onde era conhecido pelo apelido de “Dengoso”. Também jogou no Atlético Santista, time amador, de 1926 a 1927, até que em 1928 foi descoberto pelo zagueiro Espanhol, que o levou para fazer testes no Vasco da Gama. Ao chegar no estádio deixou a pior das impressões, calçava tamancos e a camisa estava para fora da calça, um ultraje para a época.

Mesmo assim ele participou do treino e fechou o gol, não permitindo que o ataque titular o vencesse uma única vez. Aprovado pelo técnico Welfare, foi imediatamente inscrito na Liga. Mas antes o Vasco teve que contratar um professor particular para lhe ensinar a assinar o próprio nome nas súmulas, pois era analfabeto. Valente e abusado, Jaguaré em pouco tempo se tornou um dos primeiros ídolos da torcida vascaína. A partir daí teve uma carreira fulminante. No mesmo ano de 1928, em que estreou no Vasco, tornou-se titular da seleção brasileira. Em 1929 foi campeão carioca.

Jaguaré era um verdadeiro “crianção”, sempre disposto a fazer molecagens, mesmo durante os jogos. Os torcedores adversários detestavam vê-lo realizar jogadas inusitadas, como rodar a bola ao estilo de malabaristas de circos, na ponta do dedo indicador depois de cada defesa, que muitas vezes fazia com uma só mão, inclusive nos pênaltis, segundo a lenda.

Em um jogo contra o América, Jaguaré quase matou de raiva o jogador Alfredinho. Primeiro, defendeu um chute do atacante americano somente com uma das mãos. Depois atirou a bola na cabeça deste para fazer nova defesa. Com tantas "molecagens", nada mais natural que os estádios enchessem com torcedores atraídos pela fama do goleiro vascaíno.

O escritor Mário Filho, no seu livro “O negro no futebol brasileiro”, conta que certa vez Jaguaré prometeu driblar o atacante Ladislau, do Bangu. Dito e feito: na primeira oportunidade deu um “tapinha” e encobriu o adversário, e quando este tentou roubar a bola levou outro lençol. Jaguaré finalizou a jogada girando a bola no dedo, como era seu costume.

Jaguaré não queria saber de “sombra” no Vasco, onde era titular absoluto. Mesmo assim não admitia a presença de outro goleiro que pudesse tomar seu lugar. Quando alguém se apresentava para fazer testes, logo ele o chamava para treinar tiro livre. Assim que o pretendente a arqueiro ficava no centro da meta, Jaguaré desferia um tremendo chute botando-o a nocaute.

Um dia desafiou Grané, dono de um dos chutes mais potentes do futebol brasileiro. Para se ter uma idéia do chute de Grané, ele ia bater um “off-side” dentro da pequena área e os companheiros pediam-lhe que chutasse devagar. Porque se ele chutasse com força a bola atravessava o campo e ia perder-se atrás do outro gol. O artilheiro colocou a bola na marca do pênalti e os torcedores aos gritos pediam que Grané chutasse para fora, pois poderia matar o goleiro.

Jaguaré saiu do gol e cuspiu na bola, como sempre fazia, o que servia para descontrolar o cobrador. Quando o juiz apitou muitas pessoas viraram o rosto para não assistir a cena que poderia ser trágica. O chute partiu, Jaguaré pulou e segurou a bola, levantou-se e a rodou na ponta do dedo, assistindo a torcida em delírio gritar seu nome.

O Vasco, ainda na época do amadorismo, foi um dos primeiros clubes que reforçou seu time com jogadores negros. Em 1929, a equipe foi campeã carioca com um time inesquecível: Jaguaré – Brilhante – Itália – Tinoco – Fausto – Mola – Pascoal – Santana – Russinho - Mário Matos e 84.

Após uma década de tantas conquistas sociais e de diversos troféus, o Vasco tornou-se o segundo clube brasileiro a realizar uma excursão à Europa. Entre junho e agosto de 1931 disputou 12 jogos em gramados da Espanha e Portugal, que serviram como uma espécie de marco fundamental para o início da brilhante história internacional do clube. Antes, apenas o Paulistano (já extinto) havia jogado no “Velho Continente”, em 1925, quando realizou vários amistosos na França.

Quando foi convidado, o Vasco estava disputando o 1° turno do Campeonato Carioca daquele ano e havia aplicado, em abril, a maior goleada da história do confronto com o Flamengo, 7 X 0, em São Januário. Antigamente, as viagens eram feitas de navio e, por isso, acabavam sendo longas e cansativas. O Vasco viajou a Europa a bordo do navio “Arianza”.

Além dos notáveis Fausto, Pascoal e Russinho, um jogador que se destacou na excursão foi o goleiro Jaguaré. Folclórico como poucos, teve grandes atuações nos amistosos, sobretudo frente ao Benfica e ao Atlético de Madrid. Um detalhe interessante é que, para conquistar oito vitórias nos 12 jogos que disputou, o Vasco contou com os reforços de Nilo, Carvalho Leite e Benedito, atletas do Botafogo, e Fernando, do Fluminense.

Em Lisboa o clube brasileiro enfrentou o combinado Benfica-Vitória-Casa Pia. Lá pelas tantas, o juiz marcou um pênalti contra o time carioca. Ninguém gostou da marcação. Acalmados os ânimos, quando o centroavante Aníbal José se preparava para o chute, o jogador Fausto foi até a marca do pênalti e cuspiu na bola. Ninguém entendeu nada, muito menos o chutador, que bicou a bola por cima do travessão. O juiz mandou cobrar de novo. Fausto teria comentado para o goleiro Jaguaré que só estava “passando a saliva” na redonda.

O juiz mandou bater de novo. No momento em que o português Anibal José se preparava para o chute, Jaguaré jogou o boné sobre a bola. Perturbado, o cobrador errou novamente, mandando a bola por cima do travessão. O juiz mandou repetir a cena mais uma vez. Finalmente, já cansados do “lenga-lenga”, os brasileiros saíram de perto e Aníbal José fez o gol. Mesmo assim, o Vasco acabou vencendo por 4 X 2. (Pesquisa: Nilo Dias)

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Um dirigente acima de qualquer suspeita

Aos 87 anos de idade, morreu no último sábado, dia 5, no Rio de Janeiro, o ex-presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Giulite Coutinho. Ele estava internado em um hospital no Rio onde foi paciente na quinta-feira (2) de uma cirurgia na boca. Na manhã de sábado (4), sofreu uma hemorragia no local da cirurgia acompanhada de ataque no coração. O corpo de Coutinho foi cremado, em cerimônia onde apenas os familiares tiveram acesso. Ele deixou a esposa Lina e o filho Osmar Coutinho.

Giulite Coutinho foi um raro exemplo de honestidade no futebol brasileiro. O jornalista esportivo Juca Kfouri, ao lamentar a morte de Giulite Coutinho ressaltou que se tratava de um homem de convicções e decente até o último fio de cabelo. Coutinho não tirou um único tostão do futebol brasileiro e foi o principal responsável pelas mudanças ocorridas no campeonato brasileiro.

Ele era o presidente da antiga Confederação Brasileira de Desportos (CBD), quando foi criada em 24 de setembro de 1979 a atual Confederação Brasileira de Futebol (CBF), uma entidade voltada exclusivamente ao futebol, que dirigiu até 1986. Ao assumir a CBD, depois CBF, o nosso futebol passava por uma situação caótica, com campeonatos que chegaram a ter mais de 90 clubes participantes. Ele conseguiu reduzir para 40, mesmo sofrendo reações contrárias de parte de alguns clubes.

O Campeonato Brasileiro de Futebol começou a ser disputado em 1971. Entre 71 e 79 as equipes eram convidadas para participar. Naquela época a frase: “Onde a Arena vai mal mais um time no Nacional” era “obedecida” pela CBD, responsável pela organização dos Campeonatos Brasileiros. Apenas para recordar, a Arena era o partido do regime militar e ainda não existia a CBF. Em 1971 o campeonato teve 20 participantes, o de 1979 teve 94 e não contou com equipes importantes como Corinthians, Santos e São Paulo que estavam disputando o campeonato paulista.

Nesse mesmo ano, o Ministério da Educação e Cultura (MEC) resolveu estruturar entidades especificas para cada esporte e criou a CBF. Uma das promessas de campanha de Giulite Coutinho, que assumiu a presidência da entidade em 18 de janeiro de 1980, era reformular o Brasileirão. Ele definiu critérios objetivos para indicar os seus participantes. Giulite Coutinho moralizou e melhorou o Campeonato Brasileiro de então, mas as fórmulas de disputa ainda eram incrivelmente esdrúxulas. Ele deu o primeiro passo, mas as condições só melhoraram, gradativamente até chegar aos 20 clubes de hoje e pontos corridos.

Esteve à frente da Seleção Brasileira na Copa de 1982, quando não só foi montado um dos melhores times de todos os tempos como, ainda, formou-se um grupo de pessoas com quem dava gosto conviver: Chefe: Giulite Coutinho; Diretor de Futebol: Nelson Medrado Dias; Assessor: Tarso Herédia; Administrador: Ferreira Duro; Jornalista: Solange BIbas; Comissão Técnica: Técnico: Telê Santana; preparadores Físicos: Gilberto Tim e Moracy Santana; Preparador de Goleiros: Valdir Joaquim de Morais; Médicos: Drs. Ricardo Vivacqua e Neilor Lasmar; Massagista: Abílio José da Silva (Nocaute Jack); Auxiliar: Paulo César da Costa; Roupeiro: Nílton de Almeida e Cozinheiro: Mário Rocha.

Foi na gestão de Giulite Coutinho que nasceu a seleção permanente do Brasil, com jogos mensais, em vez de reuniões periódicas para longos períodos de amistosos. A idéia era construir o time a cada partida, a cada mês. E assim nasceu a fantástica seleção de Cerezo, Zico e Sócrates, com Falcão se incorporando à equipe apenas na Copa do Mundo, porque, à época, não se convocava quem jogava no exterior para os amistosos mensais.

Durante dois anos e meio, Telê formou uma das mais famosas equipes que o Brasil levou a Mundiais, e que deixou saudades, ao perder por 3 X 2 para a Itália, em 5 de julho de 1982 no Estádio Sarriá. Telê teve nova chance quatro anos depois, no México, e o Brasil foi desclassificado pela França, nos pênaltis, nas quartas-de-final.

O escudo na camisa da Seleção tinha um ramo de café, fruto do contrato de patrocínio da CBF com o Instituto Brasileiro do Café (IBC), que durou até a Copa de 1990. Esta seleção canarinho não levantou a taça, mas ficou marcada pelo futebol arte, sendo considerada uma das melhores da história.

Também foi presidente do América F.C., do Rio de Janeiro e um dos homens mais importantes da história do clube. Conselheiro e torcedor fanático, sempre participou ativamente do seu dia-a-dia. Benemérito atuante ocupou cargos no futebol e também o de diretor da comissão de obras. Foi o grande responsável pela construção do novo estádio do América, que está localizado no bairro de Cosmorama no município de Mesquita, na Baixada Fluminense.

Como forma de imortalizá-lo, a diretoria do América concedeu o nome de Giulite Coutinho ao seu estádio, que foi inaugurado no dia 23 de janeiro de 2000, no jogo América 3 X 1 Seleção Carioca. O atacante Sorato, do América marcou o primeiro gol no estádio que tem capacidade para 16 mil torcedores. O recorde de público foi no jogo América 2 X 2 Flamengo, com 9.009 pagantes, em 5 de março de 2006. Ao final das obras de ampliação, a capacidade do estádio passará para 32 mil lugares.

Além do futebol, Giulite Coutinho trabalhou durante anos como empresário ligado ao ramo da exportação. Em 1972 ele fez parte da Comissão Empresarial do Brasil, que visitou a China pela primeira vez. (Pesquisa: Nilo Dias)

domingo, 5 de abril de 2009

S.C. Internacional, um gigante de 100 anos (Final)

Já garantido no Mundial de Clubes da FIFA, o Internacional fez uma preparação especial para a competição, sem descuidar do campeonato brasileiro. O técnico Abel Braga achou por bem utilizar um time reserva algumas vezes e o titular outras. O resultado até que foi bom, pois o time terminou como vice-campeão. Antes disso, nenhum clube que ganhou a Libertadores havia terminado o Brasileirão entre os dois primeiros colocados. Até então, um quarto lugar do São Paulo, em 1993 tinha sido o melhor resultado.

Depois de um ano de muitas conquistas veio 2007 e um mau começo de temporada. Mas aos poucos as coisas foram melhorando e o ciclo de vitórias foi completado com o título de campeão da Recopa Sulamericana, diante do Pachuca do México, que havia ganho a Copa sulamericana de 2006. No primeiro jogo, no Estádio Hidalgo, na Cidade do México o Internacional perdeu por 2 X 1. Alexandre Pato abriu o placar, mas Gimenez, com dois gols, virou para o time mexicano.

Na partida decisiva no Beira Rio, perante 51 mil torcedores, o Inter venceu por 4 X 0, a maior goleada da história da competição. Alex, de pênalti, Pinga, Alexandre Pato e Mosquera (contra) marcaram os gols. Com a conquista da Recopa, o Internacional que já havia vencido a Copa Libertadores e o Mundial de Clubes da FIFA em 2006, garantiu a inédita Tríplice Coroa Internacional.

No começo de 2008 o Internacional trouxe mais um título internacional, a Copa Dubai, nos Emirados Árabes. E venceu adversários temíveis, a começar pelo Stuttgart, da Alemanha. Um gol de Alex garantiu a vitória por 1 X 0 e a classificação para párea a final da competição, contra o poderoso Internazionale de Milão. Nova vitória, desta vez por 2 X 1, gols de Fernandão e Nilmar, de bicicleta.

De volta ao Brasil, o clube foi campeão gaúcho, após dois anos sem conquistar a competição. A decisão foi contra o Juventude. No primeiro jogo, no Estádio Alfredo Jaconi, o Inter perdeu por 1 X 0. Na partida decisiva, no Beira-Rio, um placar histórico: 8 X 1 para o Internacional, com três gols de Fernandão, Danny Morais, Alex, Nilmar, Índio e o goleiro Clemer, de pênalti, um cada. A vitória rendeu ao clube o 38° título e consolidou o Internacional como o maior vencedor da história do Campeonato Gaúcho.

Com uma campanha apenas regular no Campeonato Brasileiro, o Internacional ainda conquistou ao apagar das luzes do ano um título inédito para o futebol brasileiro: a Copa Sul-Americana, da qual foi campeão invicto, com 5 vitórias e 5 empates. Foi o quarto título internacional oficial do clube: Libertadores, Mundial, Recopa e a Sul-Americana, este último nenhum outro clube brasileiro conquistou. Com isto, o Internacional tornou-se, ao lado do Boca Juniors, da Argentina, “CAMPEÃO DE TUDO”, possuindo todos os títulos oficiais que um clube da América do Sul pode almejar. A partir do conceito "campeão de tudo", o Inter modificou seu escudo para 2009.

Ainda em 2008, o Internacional lançou uma campanha para chegar aos cem mil associados. Embora tenha se aproximado desse número, o objetivo ainda não foi alcançado. Mas, mesmo assim figura entre os dez clubes com maior número de sócios em todo o mundo.

Os principais títulos conquistados pelo Internacional: Taça de Campeão Mundial de Clubes FIFA em 2006; Copa Libertadores da América: 2006; Copa Sul-Americana: 2008; Recopa Sul-Americana: 2007; Campeonato Brasileiro de Futebol: 3 vezes (1975, 1976 e 1979); Copa do Brasil: 1992; Campeonato Gaúcho: 38 vezes (1927, 1934, 1940, 1941, 1942, 1943, 1944, 1945, 1947, 1948, 1950, 1951, 1952, 1953, 1955, 1961, 1969, 1970, 1971, 1972, 1973, 1974, 1975, 1976, 1978, 1981, 1982, 1983, 1984, 1991, 1992, 1994, 1997, 2002, 2003, 2004, 2005 e 2008); Campeonato de Porto Alegre: 24 vezes (1913, 1914, 1915, 1916, 1917, 1920, 1922, 1927, 1934, 1936, 1940, 1941, 1942, 1943, 1944, 1945, 1947, 1948, 1950, 1951, 1952, 1953, 1955 e 1972).

O Gigante da Beira-Rio

Seu nome de fato é Estádio José Pinheiro Borda, homenagem a um velho português que durante muitos anos comandou as obras, se tornando o maior realizador do grande sonho e que infelizmente não pode vê-lo concretizado. No dia 12 de setembro de 1956, o vereador Ephraim Pinheiro Cabral, um homem do futebol, que por várias vezes presidiu o Inter, apresentou na Câmara de Porto Alegre o projeto de doação de uma área que seria aterrada no rio Guaíba. Na verdade o Inter estava ganhando era um terreno dentro da água pois o aterro só teve início em 1958.

Só em 1959 o clube fincou as primeiras estacas do Beira-Rio. Na década de 60, uma época difícil para o Inter no futebol, o Beira-Rio, ironicamente chamado de "Bóia Cativa" parecia que jamais seria concluído. Cansados das derrotas do time nos Eucaliptos, ali pertinho, os torcedores saiam para ver as obras do novo estádio. Finalmente o estádio foi inaugurado no domingo de 6 de abril de 1969, dois dias e 60 anos depois da fundação do Inter.

No jogo inaugural, contra o Benfica de Portugal, Claudiomiro fez o primeiro gol no estádio. E de repente um homem grande começou a chorar, e a abanar para a torcida, enquanto dava a volta olímpica no gramado: era Rui Tedesco, o engenheiro que concluiu o Beira-Rio. Emocionados estavam também os dirigentes, mas nada era maior do que o orgulho dos torcedores. Naquela tarde nascia o Gigante da Beira-Rio.

A arquitetura do Estádio incorporou detalhes do Azteca, do México, San Siro, de Milão, e Olímpico de Tóquio. No início, existia o projeto de colocação de mais um nível de arquibancadas, o que poderia elevar a capacidade de público para 130 mil pessoas. O Beira-Rio foi construído em grande parte com a contribuição da torcida, que trazia tijolos, cimento e ferro para a obra, inclusive do interior.

Nesse sentido, havia programas especiais de rádio, para mobilizar os torcedores colorados em todo o Rio Grande do Sul. Consta que até Falcão, mais tarde ídolo colorado, chegou a trazer tijolos para a construção. Agora, o Inter se prepara para tornar o Beira-Rio um dos mais modernos estádios do mundo, para poder sediar jogos da Copa do Mundo de 2014, que será jogada no Brasil. É o projeto “Gigante para Sempre”, que prevê até mesmo a cobertura do estádio. Com isso o clube se adaptá às mais recentes exigências e padrões internacionais do futebol, pronto para sediar qualquer jogo nacional ou internacional, com um complexo esportivo sustentável.

O Sport Club Internacional é conhecido como “Celeiro de Ases”, por ser um dos principais formadores de jogadores no Brasil. De suas categorias de base saíram grandes craques nos últimos anos, como Lucio, Fábio Rochemback, Daniel Carvalho, Nilmar, Rafael Sóbis, Alexandre Pato e Taison, entre outros.

O Hino

Nelson Silva, o compositor do hino colorado era carioca e torcedor do Flamengo. Veio ao Rio Grande do Sul para fazer shows com um conjunto do qual participava e acabou ficando. Certo dia o Grêmio ia jogar contra o Flamengo. Nelson comprou ingresso e foi ver seu time jogar. Foi barrado na entrada do estádio por ser negro.

Devolveram-lhe o dinheiro do ingresso e disseram-lhe que não poderia entrar no estádio devido à cor da sua pele. Isso foi em 1946. Depois disso Nelson Silva aproximou-se do Internacional, tanto que apaixonou-se pelo clube.

No final dos anos 50, o Internacional sentiu necessidade de ter um hino, uma canção formal de celebração dos sentimentos colorados. Foi realizado um concurso para a escolha do hino, havendo muitos candidatos. Mas nenhum dos hinos satisfez a alma colorada como aquele que fora feito numa tarde de sofrimento de torcedor. O torcedor era o carioca Nélson Silva, compositor de morro, músico do conjunto "Águias de la Madianoche", e que morava há nove anos em Porto Alegre quando compôs o hino colorado.

O Inter desandava contra o Aimoré, o ano era 1957. Ele escutava o jogo e esperava a namorada Ieda, mas esqueceu o compromisso daquela tarde. Sentou-se brabo na mesa de um bar em frente, e por razões de quem é artista, começou a escrever um hino de louvação ao Internacional.

Quando concluiu a última estrofe “com o Clube do povo do Rio Grande do Sul”, teve a sensação de que era isto que seria cantado pelo torcedor. Foi o que aconteceu, “Celeiro de Ases” é hoje o hino oficial do Sport Club Internacional e do torcedor colorado.

Há alguns anos, a torcida também costumava cantar uma antiga marchinha carnavalesca: “Papai é o maior/Papai é que é o tal/ Que coisa linda, que coisa rara/Papai não respeita a cara”.

Mascote

Para identificar o Inter como um clube do povo, nas páginas esportivas da antiga Folha Desportiva e do jornal A Hora, surgiu na década de 50 a figura do Negrinho, um personagem cheio de ironia e malandragem. O avesso do maior rival do Inter, o Grêmio Porto Alegrense.

Com o tempo, o Negrinho acabou virando o Saci, aquele que gosta de armar ciladas contra as pessoas, como uma analogia ao que o Internacional faria nos campos de futebol. (Pesquisa: Nilo Dias)

Primeiro troféu de 2009.

sábado, 4 de abril de 2009

S.C. Internacional, um gigante de 100 anos (5)

A partir daí é que o apelido de “Rolo Compressor”, dado por Vicente Rao ganhou fama. Os grandes clubes do eixo Rio-São Paulo apareciam com propostas milionárias, mas os jogadores recusavam-se a sair de Porto Alegre. O time mais ofensivo de todos os tempos já surgido no Rio Grande do Sul durou praticamente toda a década, e teve um sucessor, o "Rolinho", comandado pelo inesquecível técnico Teté, nos anos 1950.

Antes de se consagrar no Internacional, Teté já tinha fama no interior do Estado de bom treinador. Quando treinava o Brasil de Pelotas, Teté havia estabelecido um sistema de sinais com os jogadores. Algo como: se sacasse o lencinho da lapela, o time tinha de recuar; se vestisse o paletó, era hora de atacar; se coçasse a cabeça, devia investir pelo lado direito. Essas coisas.

Clássico da cidade. Começou o jogo, Teté estudando a movimentação inimiga, tira conclusões e aperta furiosamente o nariz. Os jogadores compreendem. Fazem o que ele pede. Mas o Pelotas é quem marca o primeiro gol. Teté levanta-se do banco e bate três vezes na testa. Os jogadores mudam de posicionamento, mas o Pelotas acaba fazendo 2 X 0. No intervalo, Teté insiste para que os jogadores cumpram à risca suas determinações.

Segundo tempo. Passados cinco minutos, Teté enfia uma mão no bolso esquerdo das calças e outra no direito do casaco. E o Pelotas enfia 3 X 0! Desolado, Teté sai do banco de reservas. Ergue os braços para o alto. Olha para o céu e brada: “tudo perdido!” E cruza os braços atrás da nuca. Desistiu. Largou.

Lá do gramado, os jogadores vêem os gestos do treinador. O que será que ele quer? Que sinal era aquele mesmo? Alguém sugere que está determinando a troca de lugar dos ponteiros. É o que fazem. Teté está arrasado. Mal enxerga o jogo. Mas a mudança dá certo. O Brasil marca um gol, outro, e mais outro, e o quarto. E vira o jogo! Teté, feliz, não entende o que aconteceu. Os jogadores, mais felizes ainda, aplaudem a genialidade do seu treinador.

Teté chegou ao Estádio dos Eucaliptos em 1950. Um dos precursores de esquemas táticos organizados com base em defesas sólidas e ataques velozes, o pelotense Francisco Duarte Júnior, o Teté, foi um dos mais importantes técnicos da história do Internacional. Trouxe vários jogadores do Rio, onde morou durante os anos 40 e conheceu Flávio Costa, treinador da Seleção Brasileira. Teté ainda foi o técnico da Seleção Brasileira na conquista da medalha de ouro do Pan-Americano de 1956, time que tinha sete jogadores do Inter.

A seleção brasileira jogou sua primeira partida em 1914, mas só ganhou seu primeiro título no exterior em 1952, o Pan-Americano do Chile. Quando uma seleção gaúcha foi designada para representar o futebol brasileiro na edição seguinte do torneio, em 1956, no México, a responsabilidade portanto era muito grande.

Mas o jovem time do Rio Grande do Sul voltou a ganhar o título para o país. Entre os jogadores, oito eram colorados. E, cumprindo o destino de grandeza do clube, sete desses foram titulares do time que ganhou o bi-campeonato para o Brasil. O técnico também era colorado, Francisco Duarte Júnior, o Teté.

Em resumo: foi uma campanha invicta de quatro vitórias e um empate, com apenas cinco gols contra e 14 a favor, um de Ênio Andrade do Renner, um de Raul Klein do Floriano de Novo Hamburgo e outros 12 de craques colorados - Larry e Chinesinho, 4 cada, Bodinho 3 e Luizinho 1.

No dia 26 de setembro de 1954 o Internacional estragou a festa de inauguração do estádio Olímpico, goleando impiedosamente o Grêmio por 6 X 2 perante 24.595 assistentes. Carlos Alberto Vigorito foi o juiz e os gols foram anotados por Sarará e Zunino para o Grêmio, e Larri (4), Jerônimo e Canhotinho para o Internacional.

O ano de 1967 foi marcante na história do Internacional. Até então as atenções do futebol brasileiro praticamente se voltavam apenas para os clubes do Rio de janeiro e São Paulo. Os demais, só apareciam em raras vezes, durante um torneio nacional chamado de Taça Brasil, que começou em 1959 e terminou em 1968. O Internacional participou da edição de 1962, classificando-se em 3º lugar, atrás somente de Santos e Botafogo.

A alavanca que impulsionou o crescimento do Internacional a nível nacional foi com a modernização do Torneio Rio-São Paulo, que passou a chamar-se Roberto Gomes Pedrosa, o “Robertão” e estendido a dois clubes do Rio Grande do Sul, dois de Minas Gerais e um do Paraná. O Internacional mostrou sua força de cara, sendo vice-campeão já na primeira participação.

A consolidação nacional veio no dia 28 de maio de 1967, quando da histórica vitória de 1 X 0 sobre o Corinthians, gol de Lambari em pleno Estádio Pacaembu. Essa foi a primeira vitória de um clube gaúcho contra um paulista, em São Paulo. E com um gostinho todo especial, o Corinthians estava invicto há quinze jogos e era considerado quase imbatível.

Em 1968, o Internacional foi vice-campeão de novo. No ano seguinte, depois da inauguração do “Gigante da Beira-Rio”, o clube colorado conseguiu montar um dos mais poderosos times da história do futebol brasileiro, onde despontavam valores como Falcão e Figueroa, entre outros, que encantou o Brasil e o mundo na década de 1970. Em 1974, um feito histórico, o Internacional conquistou o Campeonato Gaúcho com uma campanha impressionante: 18 vitórias em 18 partidas.

Em 1975 a consagração: o Internacional foi o primeiro clube gaúcho a conquistar o Brasil. Depois de boas campanhas, onde aparecia sempre entre os cinco primeiros colocados, finalmente sagrou-se campeão. O título foi ganho em um jogo emocionante no Beira Rio contra o Cruzeiro de Belo Horizonte, que tinha em sua equipe craques da envergadura de Nelinho, Dirceu Alves, Piazza e Tostão. O Internacional venceu por 1 X 0, gol do zagueiro chileno Figueroa. Este gol tornou-se conhecido como “gol iluminado”, pois no exato momento nem que Figueroa subiu para cabecear a bola para a rede adversária, surgiu sobre ele um facho de luz do sol.

Em 1976, novas conquistas, o Octacampeonato Gaúcho (1969 a 1976), a maior série de títulos consecutivos de campeonatos estaduais no Rio Grande do Sul, e uma das maiores do Brasil, e o bicampeonato nacional. O Internacional bateu no Beira-Rio, o Corinthians por 2 X 0 no Beira-Rio, gols foram marcados pelo folclórico Dario, que terminou a competição como principal artilheiro, com 16 gols.

Veio o ano de 1979 e com ele uma façanha até hoje inédita no nosso futebol: o Internacional sagrou-se Campeão Brasileiro pela terceira vez, porém de forma invicta. Na partida decisiva, no Beira-Rio, vitória de 2 X 1 sobre o Vasco da Gama, gols de Jair e Falcão para o Inter, e Wilsinho para o Vasco. No jogo anterior, em pleno Maracanã o Inter já havia vencido por 2 X 0, com dois gols de Chico Spina.

O Internacional, que em 1976 foi o primeiro clube gaúcho a jogar a Copa Libertadores da América, em 1980 também foi o primeiro a chegar a uma final da competição sul-americana. Frustração da massa colorada. No primeiro jogo, no Beira-Rio, um inesperado empate de 0 X 0 com o Nacional uruguaio, que no jogo de volta venceu no Centenário em Montevidéu por 1 x 0 , gol de Waldemar Victorino.

Em 1984 o Internacional representou o Brasil na Olímpiada de Los Angeles, quando forneceu praticamente todo o time. Nove dos onze titulares da Seleção Brasileira eram jogadores colorados, que conseguiram uma inédita medalha de prata. Na fase de classificação, o Brasil venceu bem a Alemanha Ocidental, Arábia Saudita e Marrocos. No jogo contra o houve empate no tempo normal e na prorrogação, e o Brasil se classificou nos pênaltis, graças ao goleiro Gilmar Rinaldi.

O Brasil chegou a grande final, depois de eliminar a forte seleção da Itália. Na decisão a França levou a melhor, por 2 X 0, gols de François Brisson e Daniel Xuereb. O Brasil levou para a Los Angeles estes jogadores: Gilmar Rinaldi – Ronaldo – Pinga - Mauro Galvão - André Luís – Ademir – Dunga - Gilmar Oliveira – Silvinho – Tonho – Kita - João Marcos - Luís Carlos Winck – Davi - Paulo Santos - Chicão e Milton Cruz, que foram dirigidos tecnicamente por Jair Picerni.

Já gozando de merecido destaque fora do país, o Internacional foi convidado a participar do Troféu Joan Gamper, em Barcelona. E lá mostrou seu poderio, ao eliminar o poderoso Barcelona de Maradona e companhia. No jogo final levantou a taça depois de derrotar o Manchester City, da Inglaterra, por 3 X 1. De sobra, naqueles anos 80 o Inter ainda foi tetracampeão gaúcho, de 1981 a 1984. No âmbito nacional, em 1984 ganhou o Torneio Heleno Nunes e por duas vezes consecutivas, 1987 e 1988, chegou as finais do Campeonato Brasileiro.

A década de 1990, não foi nada boa, salvo o ano de 1992, quando o Internacional conquistou a Copa do Brasil, derrotando no jogo final ao Fluminense do Rio de Janeiro. O gol do título foi marcado pelo zagueiro Célio Silva, num polêmico pênalti aos 42 minutos do segundo tempo, que até hoje é motivo de choro para os cariocas. Nessa década, o Internacional ainda foi campeão gaúcho quatro vezes 1991, 1992, 1994 e 1997.

Depois de uma boa campanha no Campeonato Brasileiro de 1997, onde terminou em terceiro lugar, o Internacional passou por um dos mais delicados momentos de sua história em 1999, quando quase caiu para a Segunda Divisão nacional. O sufoco só acabou no último jogo, quando o capitão Dunga marcou um gol ao apagar das luzes sobre o Palmeiras de Luiz Felipe Scolari, no Beira-Rio, mantendo o time na elite do futebol brasileiro. Nessa década o Internacional deixou de liderar o ranking de pontos do campeonato brasileiro, nacional, posição que manteve por 24 anos seguidos, de 1975 até -1998.

Uma nova ameaça de rebaixamento fez os colorados tremerem em 2002. Outra vez o risco de queda para a segundona só teve fim apenas na rodada final. Foi uma tarde nervosa de domingo, pois desta feita o jogo era fora de casa, em Belém do Pará, contra o Paysandu, que era quase imbatível em seus domínios. Mas o Internacional venceu por 2 X 0, gols do saudoso Maicon Librelatto e Fernando Baiano Depois, o Internacional recuperou a hegemonia do futebol gaúcho, ganhando quatro estaduais consecutivos 2002, 2003 (no centenário do Grêmio), 2004 e 2005.

Em 2006, as coisas não pareciam ser muito favoráveis ao Internacional, que já havia perdido o Campeonato Gaúcho para o Grêmio. Mas muitas alegrias estavam reservadas ao torcedor colorado. O time, que tinha no comando o técnico Abel Braga, surpreendeu o país ao sagrar-se campeão da Copa Libertadores, no dia 16 de agosto de 2006, quando mais de 57 mil torcedores lotaram o Beira-Rio para verem o empate de 2 X 2 contra o São Paulo.

Os gols do Inter foram marcados por Fernandão e Tinga, enquanto Lenílson e Fabão marcaram para o São Paulo. O Inter jogou desde os 27 minutos do segundo tempo com um jogador a menos, depois que Tinga foi expulso por comemorar o gol. No primeiro jogo, disputado no Morumbi, em São Paulo, o Internacional havia vencido por 2 X 1, com dois gols de Rafael Sóbis, que teve magnífica atuação. (Pesquisa: Nilo Dias)

Teté foi um dos melhores técnicos da história do Internacional.

sexta-feira, 3 de abril de 2009

S.C. Internacional: um gigante de 100 anos (4)

O Estádio dos Eucaliptos foi a casa colorada até o aparecimento do Beira-Rio, em 1969. No dia 26 de março de 1969, o Internacional realizou a sua última partida no Estádio dos Eucaliptos. No amistoso de despedida, o Colorado goleou o S.C. Rio Grande por 4 X 1, gols de Sérgio, Valdomiro, Gilson Porto e Marciano, marcando Motine para o visitante. Nesta partida, o ex-craque Tesourinha, então com 47 anos, voltou a jogar por alguns minutos com a camisa do Inter.

Após a criação do Estádio dos Eucaliptos, em 1931, o clube fez a sua primeira viagem fora do Rio Grande do Sul, e também a primeira fora do Brasil, para um amistoso contra o Oriental, no dia 25 de maio em Rivera, no Uruguai. O Internacional venceu por 4 X 2.

Na década de 1930 teve início uma grande mudança social no Internacional. Com o segundo título estadual ganho em 1934, os jogadores já recebiam alguma forma de remuneração. O time não era mais formado por tios, primos, filhos, e amigos da família. Estavam em campo jogadores das ligas periféricas, gente mais simples, alguns pobres, e negros. Também foi nesta época que se construiu a eterna rivalidade do futebol gaúcho.

A temporada de 1936 iniciou com duas polêmicas agitando os meios esportivos. Em uma delas a polícia gaúcha resolveu punir o jogo violento com autuação em flagrante por agressão. Instantes antes de uma partida entre Cruzeiro e Internacional, no dia 01 de maio, o delegado responsável pelo policiamento do jogo, Amantino Fagundes, ingressou no gramado e advertiu os jogadores, em frente ao juiz, do risco de prisão em caso de faltas violentas. O presidente da AMGEA reagiu, declarando através da imprensa que a polícia não tinha o direito de estender sua jurisdição para dentro do gramado.

Somente após um acordo entre a AMGEA e o chefe da Polícia do Estado, Poty Medeiros, a situação foi resolvida e os juízes puderam manter a autoridade durante as partidas. A outra polêmica foi em relação à visita ao Rio Grande do Sul, no mês de abril, de uma delegação das entidades esportivas “especializadas” (profissionais), buscando estender suas ramificações até o Estado.

A imprensa divulgou boatos de que a Federação Rio Grandense de Desportos (FRGD) e a Liga Atlética do Rio Grande do Sul (LARGS) poderiam aderir às “especializadas”, porém as mesmas ignoraram os visitantes. Contudo, no ano seguinte os grandes clubes de Porto Alegre criariam a AMGEA “Especializada”, rompendo com a FRGD. Durante três anos a dupla Gre-Nal ficou afastada das competições estaduais, até a profissionalização completa do futebol gaúcho.

Nos anos 40 surgiu o “Rolo Compressor”, um time de craques extremamente ofensivo formado pelo dirigente Hoche de Almeida Barros (o Rocha), quando assumiu a presidência do clube em 1940. No Rolo, se consolidavam aos poucos as peças de um time de futebol que seria invencível.

Só havia uma maneira de fazer os jogadores do “Rolo Compressor”, brigarem entre si: acabar uma partida sem marcar gol. Nenhuma derrota irritava tanto quanto um confronto onde o time acabava com o placar em branco. A razão dessa fúria era a vocação ofensiva daquela equipe. Todos os movimentos tinham o objetivo do gol. E eles quase sempre surgiam aos montes.

Naquela época, os clubes atuavam com cinco atacantes. E o Rolo se dava ao luxo de contar com alguns dos mais extraordinários que passaram pelos gramados do Rio Grande do Sul, como Tesourinha, Carlitos e Villalba. O Rolo conquistou um hexacampeonato estadual entre 1940 e 1945, empilhou vitórias em Gre-Nais e se tornou em uma das melhores formações do futebol gaúcho em todos os tempos.

Mas o segredo do Rolo, não estava só na técnica formidável. Havia um companheirismo inabalável entre os jogadores. A maioria se criou no próprio Inter, desde os juvenis. Somaram-se ainda alguns valores garimpados nas ligas de "canela preta", como eram chamados os times formados por negros. E por tradição, o Inter foi o primeiro a incorporar negros na equipe.

Orientado em boa parte pelo técnico uruguaio Ricardo Diaz, o “Rolo Compressor” amassava seus adversários. Havia Assis, dono de um chute violentíssimo e de um fôlego raro para um homem de quase 100 quilos. Ou o zagueiro Nena, de habilidade incomum para um defensor. Ou ainda o ponteiro-direito Tesourinha, que muitos apontam como o melhor do Brasil, depois de Garrincha.

Sem contar com o meia Rui, apelidado de Motorzinho pala sua movimentação intensa. Ou ainda o centromédio Ávila, de grande Vigor. Impossível esquecer Carlitos, o maior artilheiro da história do clube. Foram 485 gols em 14 anos de Inter. Com tantos craques em um mesmo time nada mais natural que uma revolta fosse armada a cada partida sem gols. Nada mais natural.

Carlitos, adorava aprontar confusões em campo, tanto que ganhou o apelido de “Sujeira”. Certa vez, antes de uma cobrança de escanteio, ele prendeu o calção do goleiro gremista Júlio em um prego solto na trave. Quando o jogador saiu para fazer uma defesa, seu calção rasgou. Além de maior artilheiro do Inter, Carlitos também foi o autor do gol mais rápido do Rio Grande do Sul até hoje, 10 segundos.

Quem criou a expressão "Rolo Compressor" foi Vicente Rao, Rei Momo e maior mito do Carnaval de Porto Alegre em todos os tempos, cujo reinado durou 22 anos, de 1950 a 1972. Ele foi um homem bondoso e ingênuo, um soberano cheio de alegria e magnetismo pessoal . Conhecido como "O Primeiro e Único", ele comandava o bloco "Tira o Dedo do Pudim", certamente o mais engraçado de todos.

Semanas antes do Carnaval, Vicente Rao escrevia "comunicados" no estilo dos comandos militares. Claro, era pura galhofa. A extinta "Folha da Tarde" costumava os publicar sempre com destaque, e com a assinatura "Vi-100-T Rao". Era a alma da festa, o Carlos Magno, o Júlio César, o Napoleão da folia.

Jogador do Internacional na década de 20, inclusive fazendo parte do grupo que conquistou o primeiro Campeonato Gaúcho do clube, em 1927, acabou escrevendo seu nome na história colorada como o insuperável animador de torcida. Gostava de futebol e da juventude, tanto que foi ele quem criou as primeiras escolinhas de futebol do Internacional.

Vicente Rao nasceu justamente em 4 de abril, data de aniversário do Internacional. Gostava de dizer que não havia nascido, “foi inaugurado”. Rao, que era um excelente e criativo desenhista fazia desenhos dos jogadores do Inter e do time todo, em forma de um rolo compressor, amassando todos os adversários. Depois, levava suas charges pessoalmente aos jornais.

Antes de fazer história na folia porto-alegrense, ele era colorado do bigodinho aos sapatos. Mais do que isso, era olheiro do clube. Foi o criador da primeira torcida organizada do país: a Camisa 12, que costumava receber o time com foguetes, serpentinas e barulho de sinos e sirenes. Na época, o time era considerado de negros e pobres desassistidos. A torcida era uma espécie de desforra à sua situação de classe, se comparadas ao chamado elitismo de cor do arqui-rival, o Grêmio. Rao também criou faixas e bandeiras, sempre provocando a gozação dos tricolores.

Porém, ele tanto insistiu na moda que ela acabou pegando entre os torcedores adversários. Em pouco tempo, eram os gremistas que criavam faixas e bandeiras. Ao ver o sucesso da sua idéia perante os azuis, Vicente Rao preparou o deboche. Num Gre-Nal na Timbaúva, o estádio do Força e Luz, o futuro Rei Momo esperou que os gremistas levantassem a primeira faixa para erguer a sua, onde se liam em letras garrafais a frase provocativa e zombeteira: “IMITANDO OS NEGRINHOS, HEIN?”.

Certa vez, encontrou uma cabrita que pastava no terreno de um certo Lothar, e pediu-a emprestada. Batizou-a de “Chica”. Desde então, a mascote era o talismã do Rolo, e freqüentava sempre as arquibancadas do velho estádio. Rao dizia que ela era o símbolo da sorte e da força do time.

Na final do Campeonato Citadino de 1943, disputado no Fortim da Baixada, a primeira sede do Grêmio, ele tentou entrar com “Chica” no campo gremista. Os dirigentes azuis, já acreditando na tal história da "sorte", acharam por bem impedi-la de entrar. Sem se dar por vencido, Rao arranjou auxílio de alguns torcedores, arrancou algumas tábuas da arquibancada e contrabandeou a cabrita pelo vão do muro.

Qual não foi a surpresa de todos os presentes ao Gre-Nal quando “Chica” apareceu, feliz da vida, no meio da torcida. Reza a lenda que, no fim do disputado jogo, brilhou a estrela do "talismã" colorado quando, na cobrança de falta de Rui, a bola que ia certa para a linha de fundo, desviou até cair na forquilha esquerda do gol do assombrado Júlio, que viu o Grêmio perder mais um título. No fim, “Chica” foi carregada nos ombros dos torcedores da Baixada até os Eucaliptos. Para quem viu, foi uma das cenas mais burlescas que a cidade já presenciara até então...

Vicente Rao morreu em 1973 e virou nome do museu do Internacional, que foi fundado em 1994 e que uma geração de desmemoriados condenou às traças. Até pouco tempo atrás, ele se reduzia a uns poucos adereços guardados em caixas de papelão, numa sala do ginásio Gigantinho. Em novembro de 2005, a diretoria do Inter finalmente fez um projeto de revitalização do antigo museu, que foi inaugurado em 2006.

Na década de 40, o Internacional teve um retrospecto avassalador contra o rival: em 28 Gre-Nais venceu dezenove, empatou cinco e perdeu apenas quatro. Nessa mesma época, conquistou o hexacampeonato estadual, de 1940 a 1945, sendo que em 1942, 1943 e 1945 foi de forma invicta. Em 18 de novembro de 1945, o Internacional ganhou o inédito título de hexacampeão gaúcho, na Timbaúva, estádio do Força e Luz, jogando contra o Pelotas. Pesquisa: Nilo Dias)

Vicente Rao foi um dos mais ardorosos torcedores do clube. Rei Momo de Porto Alegre, atleta colorado na década de 20 e fundador da primeira torcida organizada no Brasil. (Foto: Museu Vicente Rao)

quinta-feira, 2 de abril de 2009

S.C. Internacional, um gigante de 100 anos (3)

A chegada do ano de 1927 marcou o primeiro grande título conquistado pelo Sport Club Internacional, o de Campeão Gaúcho, quando a equipe sofreu algumas modificações: na zaga, Carlito, jogador da seleção gaúcha foi substituído pelo jovem Gilberto, que veio do 14 de Julho de Santana do Livramento. Ao seu lado o canoense Grant. Na linha média continuavam os experientes Ribeiro e Lampinha, e a revelação Paulo "Manotaço".

No ataque, Nenê, Miro e o uruguaio Ross entraram na equipe, ao lado de Veiga e Barros. Mas a grande mudança foi no gol: Moëller, revelação do Novo Hamburgo. Como o profissionalismo era oficialmente proibido, a imprensa noticiou que Moëller “transferira sua residência” para a capital, e decidira associar-se ao Internacional para continuar a praticar o futebol.

No campeonato municipal, o Internacional empatou logo na segunda rodada com o Cruzeiro, enquanto o Grêmio venceu seus dois jogos. Mas no Gre-Nal o Colorado mostrou que queria o título. Saiu vencendo a partida por 2 x 0, sofreu o empate, mas foi buscar o terceiro gol. Ainda no primeiro turno, porém, o Internacional perdeu mais um ponto, ficando igualado ao rival.

Na abertura do returno, novo Gre-Nal e nova vitória colorada, 3 x 1. Mas logo em seguida o time tropeçou no Americano. A seguir, ganhou todas as outras partidas, enquanto o Grêmio empatou com o Cruzeiro e era goleado pelo Americano por 6 x 3. O Internacional ganhou um título municipal depois de cinco anos e conquistou o direito de disputar seu primeiro campeonato gaúcho.

O campeonato gaúcho, na época era disputado pelos campeões citadinos, e nas seis edições anteriores, os clubes do interior haviam vencido a metade. Pelotas e Bagé eram os grandes centros esportivos, e Rio Grande, Alegrete, Uruguaiana, Cruz Alta, Santa Maria e Santana do Livramento também possuíam equipes tradicionais.

A campanha do Internacional começou contra o Itapuí, de Guaíba. Como o adversário não podia utilizar o seu capitão Nona, por estar mal inscrito, o Itapuí propôs entregar os pontos ao Internacional e disputar uma partida amistosa, o que foi aceito pela FRGD e vencida pelo clube da capital por 3 x 0. Na partida seguinte, o Internacional venceu o Nacional de São Leopoldo por 4 x 1, gols de Veiga (2), Ross e Nenê.

Vencedor da chave metropolitana, o Internacional enfrentou na decisão o vencedor da chave do interior, o G.E. Bagé, campeão estadual em 1925, que tinha alguns jogadores conhecidos, entre eles Pasqualito, atacante famoso pelo forte chute. O jogo foi realizado dia 7 de setembro no Campo da Baixada, perante quatro mil expectadores.

Era uma tarde fria e chuvosa, quando o time do Inter venceu o Grêmio Sportivo Bagé por 3 X 1, com dois gols de Barros e um de Miro. O time campeão de 1927 formou com Grant – Gilberto – Daré – Moller – Miro – Barros - Ross - Veiga – Nenê – Paulo - Lampinha e Ribeiro. Naquele tempo os jogos eram disputados em dois tempos de 40 minutos.

Em 1928, o clube campeão gaúcho atravessou uma grande crise econômica, ao ponto de quase fechar. O Asilo da Providência, dono da chácara dos Eucaliptos comunicou a intenção de venda do terreno. O Inter tinha prazo e preferência de compra, mas não tinha o dinheiro, 40 mil contos de réis. Embora o preço fosse alto, a família Chaves Barcellos concordou em doar a quantia. Mas o dirigente Antenor Lemos foi contra e o negócio não se concretizou. Em março de 1933 foi anunciado nas páginas do “Correio do Povo” a venda de terrenos no novo “Condomínio Jardinópolis”, onde se localizava a antiga Chácara dos Eucaliptos.

Em 1929 o engenheiro Ildo Meneghetti foi eleito presidente do Inter e encontrou um terreno disponível na Rua Silvério, que na época estabelecia o limite da cidade de Porto Alegre. O Inter fez a compra por 220 contos de rés. Dez por cento foram pagos à vista, e o clube parcelou o restante em mensalidades de 3 contos. Os últimos 40 contos foram pagos após a negociação de Sílvio Pirillo, vendido por 50 contos, no final da década de 1930. O estádio recebeu o nome de Eucaliptos porque Oscar Borba, que presidiu o clube em 1927 cercou a área com mudas de eucaliptos, trazidas de Viamão. Assim, o Internacional teve finalmente, o seu primeiro patrimônio, 20 anos depois de sua fundação.

A inauguração era para ter ocorrido no dia 8 de março de 1931, mas um temporal que caiu em Porto Alegre obrigou a transferência do jogo para o dia 15 do mesmo mês. O adversário convidado foi o tradicional rival Grêmio. O Inter venceu por 3 X 0, com os três gols marcados por Jawel, que curiosamente nunca foi campeão pelo time vermelho. Seu único título ocorreu quando jogou pelo Grêmio. Mas ele nunca escondeu que era colorado. O Inter jogou com Peña – Miro e Risada – Alfredo – Magno e Moreno – Jawel – Ribeiro – Honório - Marroni e Mancuso. Juiz: Heitor Deste

O Eucaliptos, que mais tarde ganhou o nome de Ildo Meneghetti teve inicialmente 10 mil lugares, com um pavilhão de madeira na Rua Silvério e uma arquibancada de cimento no lado oposto. Para a Copa do Mundo de 1950 o pavilhão da Silvério também passou a ser de concreto, por conta da Confederação Brasileira de Desportos (CBD). O Mundial teve dois jogos no estádio, Suiça x México, e México x Iugoslávia.

Em reconhecimento ao seu grande esforço, o Internacional homenageou o presidente Ildo Meneghetti, anos mais tarde, com o título de patrono colorado. A partir de 14 de fevereiro de 1944, o Estádio dos Eucaliptos recebeu oficialmente o nome de Estádio Ildo Meneghtti. A última partida no Eucaliptos foi disputada em março de 1969: o Inter ganhou do time mais antigo do futebol brasileiro, o Rio Grande, por 4 X 1. O velho ídolo Tesourinha entrou só no final, jogou alguns minutos, e arrancou a rede de uma das goleiras.

O ano de 1934 marcou o segundo título de nível estadual conquistado pelo Inter. No campeonato da cidade, o time colorado venceu a final contra o Grêmio por 2 X 1. E no jogo final do “Gauchão”, o Internacional ganhou do 9o Regimento, de Pelotas por 1 X 0, gol de Tupan. No final do jogo, aconteceu uma pequena confusão: o time derrotado acusou o Inter de ter vencido o jogo através de um pênalti supostamente mal marcado pelo árbitro.

O 9º Regimento era uma grande equipe, mas o Colorado tinha um bom retrospecto contra pelotenses, em 1934. Já havia disputado e vencido dois amistosos: 6 X 0 no próprio Regimento e 6 X 3 na Seleção de Pelotas. O 9º Regimento ainda faria sucesso no futebol gaúcho, e hoje é conhecido por G.A. Farroupilha.

Houve um desafio de revanche, que não foi aceito pelos colorados, que só queriam mesmo era comemorar o seu segundo título estadual. O resto dos anos 30 determinou um certo domínio do interior sobre a capital, ganhando quase todos os títulos. (Pesquisa: Nilo Dias)

Campanha do bônus, idealizada por Ildo Meneghetti, para construção do Estádio dos Eucaliptos.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

S.C. Internacional, um gigante de 100 anos (2)

S.C. Internacional, um gigante de 100 anos (2)

Os primeiros treinos do Inter, em 1909, foram em um terreno baldio no fim da Rua Arlindo, entre a Saldanha Marinho e José de Alencar. Em 1910 o time foi para o Campo da Várzea, dividido com o time do Colégio Militar, na Volta do Cordeiro (referência ao comerciante português José Antônio Cordeiro, que cedeu um galpão onde os jogadores guardavam as goleiras depois de cada treino e jogo, para evitar que elas fossem roubadas por ladrões de madeira).

Sulcos no chão eram marcados com leite de cal para demarcar as linhas do gramado, em dias de futebol. Depois de algumas divergências com os alunos do Colégio Militar, em 1912 o Inter alugou a Chácara dos Eucaliptos. Era uma alameda com frente para a Rua da Azenha, no início da José de Alencar, o primeiro local de jogos exclusivo do Inter. Tinha uma cerca de tábuas e um portão de madeira firmado em colunas de alvenaria, parapeitos, vestiários com cobertura de zinco e chuveiros, e arquibancadas de madeira, construídas nos próprios eucaliptos, que firmavam a sua estrutura.

O primeiro jogo da história do S.C. Internacional foi um amistoso frente o Militar F.C., disputado no dia 7 de setembro de 1909, no campo da Escola de Guerra de Porto Alegre, que terminou empatado em 0 x 0. No dia 12 de outubro, em nova partida contra o Militar, perante cerca de mil expectadores o Internacional obteve sua primeira vitória, 2 X 1. O meia Benjamin Vignoles marcou o primeiro gol da vida do clube e também os dois da partida. O juiz foi Carlos Moreira.

O primeiro Gre-Nal foi disputado no dia 18 de julho de 1909, no Estádio da Baixada, no bairro Moinhos de Vento, contra a vontade do presidente João Leopoldo Seferin, que considerou uma loucura bater-se contra tão poderoso adversário. Mas foi derrotado pelo entusiasmo de Antenor Lemos, um pelotense que marcaria de forma notável a sua trajetória no clube. O Grêmio, tinha seis anos de fundação, jogara um total de 16 partidas, 15 contra o Fuss-Ball PortoAlegre e uma contra o S.C. Rio Grande. O Internacional tinha apenas três meses. O resultado não poderia ser outro, uma goleada de 10 X 0.

Logo depois do insucesso contra o Grêmio, alguns meses após a fundação, e com a demissão do primeiro presidente, o Internacional adotou aquele que viria a ser seu uniforme atual: camisas vermelhas, escudo na altura do coração, frisos brancos nas mangas, golas, calções e meias brancas.

Antenor Lemos, o desafiante do primeiro Gre-Nal nutria forte ódio contra o rival. Certa feita, quando era presidente da Federação e percebeu que o Grêmio ganharia uma pendenga, convocou uma reunião para uma sala fechada e distribuiu charutos para os representantes dos clubes. Quando chegou o dirigente do Cruzeiro, um senhor asmático e favorável a tese gremista, a sala estava cheia de fumaça. Não deu outra, arquejando e tossindo o cruzeirista teve que ir embora e a votação terminou empatada. Antenor deu o voto de minerva, naturalmente favorável a tese do Internacional.

A primeira vitória contra o rival aconteceu no dia 31 de outubro de 1915, por 4 X 1, em plena Baixada. Os gols colorados foram marcados por Muller, Bedionda (2) e Túlio. Sisson descontou para os tricolores. A arbitragem foi do tenente Aristides Prado. Ao término do jogo Antenor Lemos gritou a plenos pulmões: “Está quebrado o lacre, está quebrado o lacre”.

Em 30 de julho de 1916, o Inter aplicou mais uma goleada no rival: 6 X 1, já na Chácara dos Eucaliptos. O ponta-esquerda Francisco Vares jogou como se estivesse possuído e marcou todos os seis gols do Inter. Scalco fez o gol solitário do Grêmio. A partir desses dois jogos o Internacional passou a ter uma superioridade de vitórias sobre o rival, que permanece até hoje.

Até o ano de 1909, nenhum campeonato de futebol havia sido realizado no Rio Grande do Sul. Eram jogados apenas amistosos entre os clubes da capital e do interior. No ano de 1910 foi fundada a Liga de Foot-Ball Porto-Alegrense, que de imediato organizou o primeiro campeonato entre os times de Porto Alegre. Participaram sete equipes: Grêmio, Internacional, Fussball, Nacional, 7 de Setembro, Frisch Auf e Militar, que se sagrou campeão. O Inter foi terceiro colocado. Os clubes se enfrentaram em turno único.

No final de 1910 a Escola de Guerra foi transferida para o Rio de Janeiro o que ocasionou a extinção do Militar. O Frisch Auf também afastou-se da Liga, reduzindo para cinco o número de clubes participantes: Internacional, Grêmio, Fussball, Nacional e 7 de Setembro. O Grêmio foi campeão e o Inter vice.

Em 13 de agosto de 1911 o Internacional disputou sua primeira partida intermunicipal, quando foi a São Leopoldo e perdeu para o Ginásio Conceição por 4 X 1. Essa mesma equipe leopoldense derrotou logo depois a seleção porto-alegrense. Em jogo revanche, disputado em Porto Alegre o Inter venceu por 2 x 1.

Jogavam no Ginásio Conceição alguns jogadores de Santana do Livramento: Ávila, Felizardo e Simão. Com a ajuda de Lay, também santanense, os três foram convidados a transferirem-se para o Internacional. Pouco depois veio Bendionda, irmão de Ávila e Felizardo, e um dos primeiros craques colorados.

Com o ano de 1912, veio para o Inter a certeza de melhores resultados. Seus treinos eram realizados em uma vasta área situada no campo da Redenção. Ainda nesse ano, aproveitando o intervalo do primeiro para o segundo turno, o clube fez uma visita a Pelotas, disputando lá dois jogos: vitória de 6 X 0 contra o Sport Club União e derrota de 2 X 1 para o Pelotas. Nessa ocasião, o Inter conquistou a sua primeira taça, graças à vitória contra o União. No campeonato da cidade, foi novamente vice-campeão.

A chegada do ano de 1913 apresentou mudanças no rumo do futebol no Rio Grande do Sul. O Internacional, com apenas quatro anos de fundação, conquistou por cinco anos consecutivos o campeonato da cidade de Porto Alegre. Isso trouxe a impressionante marca de que, com apenas oito anos de idade, o colorado já era Pentacampeão Porto-Alegrense.

O título citadino de 1913, conquistado de forma invicta, foi o primeiro da história colorada. No jogo final, realizado dia 11 de agosto de 1913, o Internacional massacrou o S.C. Nacional com um retumbante 16 X 0, até hoje a maior goleada aplicada pelo clube. O jogo foi disputado no antigo Estádio da Baixada. Os gols foram marcados por Vares (4), Galvão (4), Pedro Chaves (3), Túlio (3), Carlos Kluwe (1) e Scabilion (1). Depois, o Internacional emendou conquistas ganhando os campeonatos municipais de 1914, 1915, 1916 e 1917.

A seqüência foi interrompida em 1918, por força do surto de febre espanhola que atingiu todo o mundo. O time do Internacional era formado na maioria por estudantes, e como as escolas e as faculdades suspenderam as aulas com receio de contágio, ficou praticamente sem ter quem colocar em campo para jogar. Nos anos de 1920 e 1922, voltou a ser campeão, mas a Federação Riograndense de Desportos (FRGD), liderada por um gremista, Aurélio Py, preferiu reconhecer a liga dissidente gremista em lugar da liga oficial da cidade. Assim, o Colorado ficou de fora do campeonato estadual.

Em 1919 também começou a ser disputado o campeonato gaúcho, que se baseava em uma pequena série de jogos entre o campeão da capital e o campeão do interior. No primeiro “Gauchão”, o G.E. Brasil, de Pelotas, conquistou o título.

A partir da década de 1920 o Internacional começou a viver uma nova fase, quando abriu a sua sede e deu lugar no time aos jogadores que pertenciam às muitas ligas que organizavam competições entre clubes representativos de negros. Entre elas, a famosa “Liga da Canela Preta”, de funcionários públicos, comerciários e estivadores.

Até então, o clube já havia conquistado cinco campeonatos da cidade. Mas fazia dois anos que o fato não se repetia. Por causa disso, Antenor Lemos assumiu a presidência, conquistando o 2o lugar no campeonato citadino logo em seu primeiro ano de mandato. Também nesse ano o Grêmio se retirou da liga de futebol, começando a participar somente da Associação Porto-Alegrense de Foot-Ball.

Com o tempo, o Internacional foi melhorando em todos os sentidos. Já era detentor de uma invejável posição no Rio Grande do Sul, pois era um dos únicos clubes que não devia dinheiro a ninguém, além de possuir um excelente plantel de jogadores: Bard, Meneghetti, Só, Ribeiro, Lampinha, Moreno, Rosário, Ary, Genny e Maia. Foram esses os jogadores que reconquistaram o campeonato da cidade, no mesmo ano.

O ano de 1922 marcou o centenário da independência e também foi declarado “Ano Santo” pela Igreja Católica. Em alguns casos falava-se em campeonato do centenário, em outros, em campeonato do “Ano Santo”. A Associação Portoalegrense de Desportos (APAD) optou por organizar o campeonato do “Ano Santo”. O Internacional começou o ano vencendo o Torneio Início, em abril.

Em junho a Sociedade Carnavalesca Filhos das Ondas organizou um concurso para saber qual o clube esportivo de maior simpatia na cidade. O público votou em cupons localizados na sede da entidade e em uma loja do centro de Porto Alegre, até o dia 05 de julho. Em 24 de junho os clubes mais votados foram o Barroso, Internacional, Ciclista Riograndense e Concórdia.

Em 08 de setembro o Internacional venceu o Torneio do Centenário, levando o troféu "Bronze da Independência", oferecido pelo Governo do Estado. Além do Internacional, participaram Cruzeiro, Porto Alegre, São José, Americano, Tabajara, Ypiranga, Riograndense (Rio Grande) e Brasil (Pelotas). A disputa foi em forma de torneio início. Equipe campeã: Bard - Meneghetti e Só – Ribeiro - Lampinha e Moreno – Rosário – Ary – Genny - Eduardo e Gallego.

No ano de 1923, Antenor Lemos recebeu o título de Sócio Benemérito do Inter, por sua atuação em três anos de extrema dificuldade para o clube. Ele costumava dizer o seguinte, quando se sentia inconformado com as derrotas: "a vitória material foi deles, mas a moral que é a que interessa e foi nossa".

Antenor Lemos sempre tentou agravar a rivalidade já existente na época entre o Internacional e o Grêmio, chamando o clube rival de "grupo de almofadinhas", enquanto o colorado era o "clube do povo". Isto ficou evidenciado quando, no ano de 1925, Lemos introduziu no plantel do time um jogador negro, Dirceu Alves, que atuava como zagueiro. Durante vinte anos, Antenor Lemos trabalhou no Internacional. Nesse tempo, dedicou-se de corpo e alma ao seu clube de coração, tendo uma grande importância na história do Internacional. (Pesquisa: Nilo Dias)