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quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Camisa de futebol também tem história

Muitos clubes de futebol tem hoje camisas bem diferentes de quando foram fundados. Alguns mantiveram às cores , mas as mudaram em outros aspectos. Outros, simplesmente trocaram tudo. E aconteceram em certas ocasiões dos clubes serem obrigados a usar outras camisas, que não as suas.

O Fluminense F.C., do Rio de Janeiro, por exemplo, nem sempre foi tricolor, como conhecemos hoje.Em 1902, quando da fundação do clube, o uniforme escolhido possuía as cores branca e cinza claro, metade da camisa de cada cor, gola e escudo sobre o coração, também metade branco e metade cinza, com as letrar FFC em vermelho.

O calção era branco e as meias pretas. Em reunião ocorrida no dia 15 de julho de 1904, o clube mudou as cores, tornando-se tricolor, o que perdura até hoje. A nova camisa foi usada pela primeira vez em 7 de maio de 1905, quando o Fluminense goleou o Rio Cricket por 7 x 1, em jogo amistoso.

O Flamengo foi fundado em 1905, mas como clube de remo. O primeiro uniforme usado nessa modalidade tinha as cores azul e ouro. Durou pouco tempo, pois havia dificuldade em conseguir tecidos com essas tonalidades. Então passou a usar o vermelho e preto.

No futebol, esporte que surgiu no clube somente em 1911, a camisa foi diferente: era composta por grandes quadrados, sendo dois vermelhos e dois pretos. Não deu outra, ganhou o apelido de “papagaio de vintém”. A camisa também lembrava aquelas pipas com que as crianças brincavam na época.

Em 1913, veio um novo uniforme, rubro negro, com listras em preto e vermelho separadas por pequenos frisos brancos. Ela ganhou o apelido de “cobra coral” e foi usada até 1916. Com a 1ª Guerra Mundial, o clube mudou novamente de roupa, pois o uniforme usado lembrava as cores da Alemanha.

Sorte do Flamengo, pois o novo uniforme dessa feita trazia as cores preto e vermelho, dispostas em listras horizontais. No peito esquerdo, as letras CRF. Essa camisa foi utilizada até 1984 com poucas alterações. E a partir daí o uniforme que é usado até hoje, com pequenas modificações.

O América F.C., um dos clubes mais antigos do Rio de Janeiro nem sempre foi vermelho e branco. Quando de sua fundação em 1904 sua camisa era preta, com um escudo branco bordado a mão, com as letrar AFC.
Somente em 1908 o clube passou a usar o vermelho, por inspiração da cor das camisas do Mackenzie College, de São Paulo e com as inicias AFC. O círculo que contorna as letras foi adotado em 1913. A proposta foi de Belfort Duarte.

O Botafogo desde a fundação foi sempre preto e branco, com listras verticais. Mas no inicio, em 1904, a camisa era branca, bem como os calções e as meias abóboras. Em 1906 passou a adotar a camisa listrada, lembrando a Juventus, de Turin, por sugestão de Itamar Tavares, um dos fundadores do clube que estudara na Itália e tinha predileção por aquele clube.

As camisas eram confeccionadas na Inglaterra, na fábrica Benetfink & Co. A estréia da camisa listrada foi em um jogo festivo contra o Fluminense. Em junho de 1909 passou a usar uniformes confeccionados em malha. Mas os escudos só estiveram presentes nas camisas a partir de 1913. O Botafogo adotou os calções pretos como titular pela primeira vez em 1935.

Já a primeira camisa do Vasco da Gama foi criada no ano de fundação e usada inicialmente pelo remo, era preta com uma faixa branca na diagonal partindo do ombro direito, o inverso do modelo atual e a cruz vermelha no centro da camisa.

No futebol a primeira camisa era toda negra, com gola e punhos brancos e a cruz colocada já sobre o coração. O uniforme foi inspirado no Lusitânia Futebol Clube, que realizou uma fusão com o Vasco em 1915, que por sua vez era inspirado no uniforme do combinado português que jogou uma série de amistosos no Brasil em 1913.

A partir dos anos 1930, foi adotado o novo desenho com a volta da faixa diagonal, mas com uma diferença, dessa vez ela saia do ombro esquerdo e com a cruz dentro da faixa na altura do coração. No dia 16 de janeiro de 1938 o Vasco adotou o padrão de uniforme que usa até hoje.

No Corinthians existe uma lenda de que o uniforme tenha sido bege nos primeiros tempos, camisa creme com faixas pretas nos punhos e na gola e calção branco.  E por sugestão de uma lavadeira, acabou sendo trocado pelo branco para não desbotar.

Mas essa versão parece mesmo não ser verdadeira, pois o clube nasceu pobre e certamente não teria dinheiro para comprar uniformes que não fossem brancos. De qualquer maneira, em 1912 o clube já vestia camisa branca, conforme provam fotografias da época. No início, esses uniformes brancos eram feitos com tecido reaproveitado de sacos de farinha.

O Santos F.C. em 1912, seu primeiro ano de fundação tinha camisas nas cores azul e branco, em listras verticais e, entre elas, frisos dourados, Só um ano depois, em 1913 o clube se tornou alvinegro e passou a usar o uniforme que é conhecido até hoje.

O Grêmio, de Porto Alegre, nem sempre foi tricolor. Em 1903, quando da fundação, o seu uniforme tinha listrar horizontais em havana, uma cor semelhante ao marrom telha e azul. Em 1904, ainda bicolor, trocou o havana pelo preto, mantendo o azul. No Grenal de 1917 o time entrou em campo usando uma camisa com listras verticais brancas e azuis, no estilo da Seleção Argentina. Somente em 1925 passou a usar o uniforme tricolor, em azul, preto e branco, que sofreu várias alterações até os dias de hoje.

O rival Internacional sempre foi vermelho e branco. Logo após a fundação as camisas tinha listras verticais simétricas em vermelho e branco, gravatas nas duas cores, calções brancos e meias pretas Esse primeiro uniforme foi feito por Humbertina Fachel, irmã de dois fundadores do clube.

Depois do insucesso o primeiro Grenal, e com a demissão do primeiro presidente, o Internacional adotou aquele que viria a ser seu uniforme atual: camisas vermelhas, escudo na altura do coração, frisos brancos nas mangas e golas, calções e meias pretas (hoje brancas).

Depois, vários modelos apareceram: a camiseta branca com uma faixa diagonal vermelha; a camiseta totalmente branca, calções e meias vermelhas; e, mais recentemente, meias cinzas. Além disso, os uniformes de treinamento também sofreram alterações, ultimamente aderindo às cores dourada, além do cinza.

O Cruzeiro, de Belo Horizonte foi fundado com o nome de Palestra e as cores da bandeira italiana, verde, branco e vermelho. Com a Guerra Mundial, o Governo Vargas proibiu as entidades usarem nomes ou qualquer coisa que lembrassem os países do Eixo. Por isso o clube teve que mudar o nome para Ypiranga, com camisa vermelha e um “Y” no peito. Esse nome durou um só jogo, foi contra o Atlético, pela última rodda do returno do Campeonato Mineiro.

Três dias depois os conselheiros desaprovaram o nome e decidiram por unanimidade adotar o nome Cruzeiro Esporte Clube. A camisa escolhida não foi a tricolor do Palestra e nem a vermelha do Ypiranga, sim uma o azul celeste com branco e escudo em formato circular, também azul, tendo ao centro a configuração da constelação do Cruzeiro do Sul, que perdura até hoje.

O Atlético Mineiro nunca mudou as cores, foi preto e branco desde a fundação. As diferenças com o passar do tempo foram nos modelos adotados. Nos primeiros anos a camisa era listrada, mas com predomínio da cor preta, com pequenos frisos brancos e o escudo no lado esquerdo do peito. As primeiras composições do uniforme do Atlético Mineiro traziam calções brancos e meias pretas. Grandes alterações na camisa atleticana foram vistas em seu símbolo que, pouco a pouco, se transformou até chegar ao atual.

Já o América Mineiro tinha na fundação as cores verde e branca. Tempos depois o preto foi incorporado, mantendo o modelo até hoje, com o segundo fardamento em branco.

A Seleção Brasileira já teve vários uniformes. Em 1914, no primeiro jogo da história usou uma camisa toda branca, com detalhes em azul nas mangas. Em 1916, no Sulamericano da Argentina a camisa tinha listras verticais em verde e amarelo. Em 1917 vestiu uma camisa toda branca, tendo pela primeira vez o escudo da antiga CBD. Em 1918, usou uma camisa branca com duas listras horizontais no peito, em verde e amarelo.

Ainda em 1918, durante um amistoso em Dublin, a Seleção se apresentou com uma camisa branca, com detalhes azuis e vermelhos nas mangas. De 1919 a 1934 o uniforme foi praticamente igual, camisas brancas e calções azuis. Aconteceram pequenas modificações no escudo.

No primeiro jogo da Copa do Mundo de 1938 a Seleção entrou em campo com um uniforme todo azul. A partir do segundo jogo utilizou camisas brancas e calções azuis.

Na Copa do Mundo de 1950, realizada no Brasil, o uniforme principal era branco, com detalhes azuis na gola e mangas e calções azuis. O reserva tinha camisas azuis, com detalhes em branco na gola e mangas e calções brancos.

A partir da Copa do Mundo de 1954 a Seleção passou a usar o uniforme atual, que foi escolhido em um concurso vencido pelo jornalista gaúcho Aldyr Garcia Schlee. De lá para cá o uniforme teve pequenas alterações, mas sempre mantendo o formato original.

O mais curioso, e que pouca gente sabe, é que a Seleção Brasileira já vestiu camisa vermelha. Foi em 1917 no Campeonato Sul-Americano realizado no Montevidéu, no Uruguai. Antes do jogo entre Brasil X Argentina, em 3 de outubro de 1917, foi feito um sorteio para definir quem jogaria com sua camisa principal, pois dois times tinham como 
padrão, camisas brancas.

O Brasil perdeu o sorteio e foi obrigado a trocar de camisa. E os dirigentes tiveram que correr atrás, e a cor escolhida foi o vermelho. Considerando que esse era um torneio oficial, foi a primeira vez na história que a Seleção Brasileira veio a usar o vermelho como sua camisa de jogo. A segunda e ultima vez foi no dia 12, ainda pelo Sul americano contra o Chile, pelo mesmo motivo.

No Mundial de 1950, disputado no Brasil, uma outra Seleção teve que trocar de uniforme, a do México, num jogo contra a Suíça, realizado no antigo Estádio dos Eucaliptos, do Internacional. As duas seleções tinham camisas vermelhas e o México perdeu o sorteio. Então usou as camisas azuis e brancas do Cruzeiro, de Porto Alegre. (Pesquisa: Nilo Dias)

Em 1917 a Seleção Brasileira usou essa camisa vermelha, no Sulamericano de Montevidéu. (Foto:Divulgação)