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quarta-feira, 3 de abril de 2013

O "Leão" pernambucano

Como e porque o “Leão” é o símbolo do Sport, tradicional clube do futebol pernambucano? Ginanildo Alves conta isso em detalhes nio seu livro “História do Futebol em Pernambuco”. Em 1919 o Sport promoveu uma excursão até Belém do Pará, para vários jogos contra equipes daquele Estado. Era a primeira vez que um clube de Pernambuco era protagonista de uma longa viagem fora do Estado.

Para isso o time foi reforçado com Bermudes, do América, e Lelis, do Flamengo, este incluído na delegação rubro-negra sem que seu clube tivesse autorizado. Por outro lado, o Sport conseguiu junto ao Santa Cruz permissão para levar Alcindo Wanderley, o célebre Pitota, considerado o primeiro grande ídolo do futebol pernambucano.

Só que ele viajaria como árbitro, não como jogador. Era comum naqueles tempos, jogadores apitarem. Fazia parte da rotina do futebol. Em três jogos dos rubro-negros em Belém, Pitota empunhou o apito, mas pelo menos em um, vestiu a camisa do Sport..


O time pernambucano saiu de Recife no dia 12 de março, a bordo do navio “Olinda”, tendo como chefe da delegação o desportista Hybernon Wanderley. Mais o secretário-geral, José Luiz da Silveira Barros, e os jogadores Mário Franco, Afonso Alarcon, Arlindo Lelis, José Bermudes, Antonio Mazullo, João Batista, Aníbal Madeira, Pedro Mazullo, Nestor Cruz, Luciano Pereira, Alcindo Wanderley, Mário Mattos, Henrique Adour, Ruy Gouveia, Carlos Wanderley e Rodrigo Carneiro.
O primeiro jogo do Sport em gramados paraenses foi no dia 23 de março, quando empatou em 3 X 3 com o Combinado Remo-Paysandu. No dia 27 enfrentou e venceu o Selecionado Paraense por 3 X 2, ganhando o "Troféu Lão do Norte". Nesse jogo o Sport mandou a campo: Mário Franco - Alarcon e Antônio Mazullo - Nestor Cruz - Bermudes e Lelys - Baptista - Pitota - Annibal - Ruy e Luciano Pereira.

No dia 30 perdeu de 4 X 0 para o Paysandu, mas se reabilitou no dia 3 de abril, derrotando mais uma vez o combinado Remo-Paysandu, desta vez por 2 X 1.

Na despedida, o onze pernambucano perdeu para o Remo por 1 X 0. A excursão foi considerada um sucesso, pois nos cinco jogos disputados venceu dois,empatou um e perdeu duas vezes.

A viagem de volta foi feita no navio “Rio Negro”, que atracou no cais do porto de Recife no dia 14 de abril. No portaló do vapor, vaidoso e sorridente, o chefe da delegação, Hybernon Wanderley, mostrava aos torcedores que recepcionaram o time, o enorme e rico troféu, denominado “Leão do Norte”, conquistado na partida contra a Seleção do Pará.

O bronze, até hoje guardado com carinho no Museu do Sport, é trabalho de um escultor francês, e representa um gladiador dominando um leão. O troféu está um tanto danificado, devido um incidente ocorrido momentos antes de o Sport regressar ao Recife.

A revista “Rubro-Negro”, edição de outubro de 1951, publicou matéria sobre o assunto que diz:

“O fato mais curioso da história do bronze ”Leão do Norte” está ligado à sua conquista. Os clubes do Pará tinham a certeza de que o bronze ficaria em Belém, por isso ostentava a legenda: “O caboclo paraense domina o Leão do Norte”.

Mas, tal não se deu e, como o Sport o conquistara, recusaram entregar-lhe o brinde, sendo necessário o presidente da embaixada rubro-negra ir à Polícia para reclamar direitos líquidos do clube pernambucano, para que o bronze fosse entregue a seus conquistadores. Foi o bronze levado para o vapor e lá deixado em exposição, quando apareceu um torcedor local que o mutilou, num protesto mudo porque o bronze não ficara no Pará”.

Cerca de 30 automóveis saíram do porto para o Cais José Mariano, sede do Sport, passando antes pelas principais ruas da cidade, onde o povo nas calçadas aplaudia os jogadores. O cortejo foi precedido pela banda de música da Escola Correcional do Recife, vindo logo em seguida um carro “Overland”, no qual iam, acenando para a multidão, Hybernon Wanderley, Carlos Médicis e Armando Loyo. À noite, no Restaurante Leite, a diretoria do Sport ofereceu um banquete aos jogadores e convidados especiais.

O memorável feito dos jogadores rubro-negros foi eternizado pouco tempo depois, com a adoção do "Leão" como símbolo do clube. (Pesquisa: Nilo Dias)

O troféu que originou a adoção do "Leão", como símbolo do clube.