Boa parte de um vasto material recolhido em muitos anos de pesquisas está disponível nesta página para todos os que se interessam em conhecer o futebol e outros esportes a fundo.

sábado, 8 de outubro de 2016

E Deus não para de levar meus antigos colegas

Minha Nossa Senhora, o que está havendo? Deus está levando embora muitos companheiros de imprensa, que comigo conviveram durante muito tempo.  Dia desses foi o Jonas Cardoso, uma das mais bonitas vozes do rádio de Rio Grande. Fez parte da equipe esportiva da Rádio Cultura Riograndina, por mim comandada nos anos 80, e com certeza uma das melhores que existiram na Zona Sul do Estado, em todos os tempos.

Antes, já haviam partido o Jorge Ravara, advogado e comentarista esportivo dos melhores que conheci. Gilson Tilmann, repórter de campo experiente. E mais recentemente Ney Amado Costa, que além de comentarista esportivo teve carreiras brilhantes como jogador e depois técnico. Poucos dias atrás se foi o Pedro Pinheiro, excelente narrador de futebol.

O rádio esportivo de Rio Grande já tinha perdido, anteriormente, outros valores de renome, como o comentarista Volni Dutra e o narrador Paulo Corrêa, este, sem dúvida o grande nome da imprensa esportiva pelotense e riograndina em todos os tempos. E ainda José Paulo Rodrigues Nobre, narrador de qualidade e poeta admirável.

E nesta semana mais um golpe inesperado, com o falecimento do grande narrador de futebol, Carlos Roberto de Freitas Brauner, com quem tive a honra de trabalhar na Rádio Pelotense, nos anos 1970. Brauner nasceu em Pelotas, no dia 7 de novembro de 1951 e faleceu em Porto Alegre, ontem, 7 de outubro de 2016, na idade de 64 anos. 

Era sobrinho de Clóvis Brauner, grande jogador de futebol do passado, que brilhou no E.C. Pelotas, Grêmio Gabrielense, Santos e Seleção Brasileira.

Em um post em sua página no Fabebook, o narrador esportivo Mário Lima, da Rádio Eldorado, divulgou uma nota de pesar, ontem, sexta-feira pela morte do colega radialista Roberto Brauner.

Na mensagem, Mário Lima lamentou a perda do colega: “Dia triste para todos que conviveram com o querido Roberto Brauner, um cara do bem e grande narrador esportivo. Trabalhamos em prefixos diferentes desde os anos oitenta e dividimos muitas viagens e muitas mesas com muitas histórias ao final de cada transmissão. O “Bob, como eu o chamava não passou em vão neste plano. Vá em paz parceiro”.

Também fui colega do Mário Lima, na Cultura Riograndina. Eu o levei para lá. Pena que tenha ficado pouco tempo. A saudade de Porto Alegre falou mais alto e ele preferiu voltar para o rádio da Capital.

Desde cedo Brauner mostrava vocação para a narração esportiva. Já aos 11 anos de idade andava pelos corredores da Rádio Universidade, de Pelotas, ensaiando transmissões esportivas. Com menos de 20 anos, já era o narrador principal da emissora da Universidade Católica.

Depois foi para a Rádio Pelotense, levado por mim. Eu era o chefe da equipe esportiva da mais velha emissora gaúcha. Além do Brauner levei outro narrador de grandes qualidades, Luiz Carlos Martinez, falecido há pouco tempo.

O Martinez, além de excelente radialista foi um goleiro de futebol de salão dos melhores que o Estado do Rio Grande do Sul conheceu. Defendeu a meta salonista do E.C. Pelotas, que tinha um timaço: Martinez - Rosinha - Vianinha - Aldrovando Dutra – Joca - Galego e Gringo. O "Galego" era o grande treinador Paulo de Souza Lobo.

Eu e o Brauner apresentávamos quase todos os programas esportivos da emissora. Aos domingos à noite ia ao ar a “Grande Resenha Esportiva Mesbla”, também com a presença do Martinez.

O Brauner ria por qualquer coisa. Certa vez, em meio ao programa, o saudoso plantão esportivo Romeu Machado dos Santos, o “Machadinho”, abriu a porta do estúdio com o programa no ar, perguntando insistentemente: “Interessa bolão?”. Ele se referia a noticias sobre o bolão, esporte muito praticado em Pelotas, especialmente pela colônia alemã lá existente.

Foi o que bastou para o Brauner explodir em risadas. E como eu não era e nem sou de ferro, acabava por rir, também, o que provocava a pronta intervenção do técnico de som, colocando uma providencial cortina musical.

Muitas foram às transmissões esportivas que fizemos juntos. Uma, foi inesquecível. O Pelotas foi jogar em São Leopoldo, contra o Aimoré, em uma quarta-feira a tarde. A direção da emissora esqueceu de pedir a linha. Mas ainda assim eu e o Brauner fomos para São Leopoldo e conseguimos junto a Companhia Telefônica a condição para transmitir o jogo.

O telefone foi cedido pelo dono de um restaurante, que ficava a uns 300 metros do Estádio Cristo Rei. Mas houve a condição de que nós instalássemos a linha. A Telefônica nos cedeu uma escada e os fios, e fizemos o trabalho em tempo recorde.

A tarde transmitimos o jogo. O Brauner de narrador e eu de comentarista e repórter. Quase ao fim do jogo, o atacante Mortosa, aquele mesmo que é o eterno companheiro de Luiz Felipe Scolari, o “Felipão”, ponteiro-direito do áureo-cerúleo foi derrubado dentro da área. E gritamos ao mesmo tempo: é pênalti que o juiz não marcou.

Para que. Os torcedores que se encontravam abaixo da nossa cabine, partiram para a agressão. Derrubaram o aparelho de transmissão no chão. E se não fosse a pronta intervenção de soldados da Brigada Militar, não sei o que de pior poderia ter acontecido.

Brauner já alcançara a condição de narrador tipo exportação. Pelotas já ficara pequena para sua grandeza. E foi buscar novos horizontes, indo para a Rádio Gaúcha, de Porto Alegre, onde estreou no dia 2 de fevereiro de 1977, narrando a final da “Copa Governador do Estado”, entre Brasil, de Pelotas e Esportivo, de Bento Gonçalves.

Permaneceu na rádio por mais de 20 anos, tendo  feito a cobertura das Copas do Mundo de 1978, 1982, 1986, 1990, 1994, 1998 e 2002.

Além de futebol era excelente narrador de outras modalidades esportivas. Esteve presente no tricampeonato de Ayrton Senna, jogos de Gustavo Kuerten na Copa Davis, jogos de vôlei da Frangosul, as 24 horas de Tarumã, as Olimpíadas de Atlanta 96 e várias outras modalidades, dentre elas, o basquete.

Em 1999 trocou de endereço, indo para à Rádio Pampa onde permaneceu até 2007, quando a emissora fechou o Departamento de Esportes. Apresentou o programa matutino “Grande Porto Alegre”, na Rádio Bandeirantes, entre 2007 e 2009.

Depois transferiu-se para à Rádio Eldorado, de Criciúma (SC), onde narrou os jogos da equipe do Criciúma na Série B. Foi demitido no mesmo ano, por ter alto salário na emissora e pelo fato de o time criciumense não ter subido àquele ano. Ganhou três “Prêmios Press” de melhor narrador esportivo em 2000, 2001 e 2002.

Além de esportes, Brauner também atuou em eleições, em Porto Alegre, quando estava na Rádio Gaúcha. Aposentado, confessou estar sentindo muita falta da vida de comunicador.

O velório aconteceu entre 15h e 20h, no Cemitério São Miguel e Almas, onde o corpo foi sepultado.

Fazia muito tempo que eu não via o Brauner. A última vez que falei com ele foi em 1991, quando eu era presidente da S.E.R. São Gabriel. Depois de um jogo amistoso com o Internacional, de Porto Alegre, vencido pelo “colorado” por 2 X 0, oferecemos um churrasco aos visitantes, no salão de festa dos Lederes, frente o Estádio.

E lá estava o Brauner, que havia narrado o jogo pela Rádio Gaúcha. Conversamos bastante e matamos à saudade dos bons tempos do rádio em Pelotas.

Para concluir esta matéria de saudade, lembro também de outros companheiros de rádio esportivo em Pelotas, que Deus já levou: Dinei Avelar, que foi o melhor plantão esportivo da cidade, levado por mim para a Rádio Tupancy. Depois foi para a RU, onde ganhou notoriedade.

Izabelino Tavares, meu irmão, que foi plantão esportivo na Rádio Tupancy. Benito Amato, comentarista esportivo. Trabalhamos juntos na Rádio Pelotense, nos tempos do prédio da rua Félix da Cunha. E também Paulo de Souza Lobo, o "Galego".

Fernando Cunha e Honório Sinott, colegas no jornal “Diário Popular”. Abrãao Gonçalves, o “repórter do rei”, que levei para a Rádio Pelotense. Antônio Carlos Alves, com quem formei uma inédita dupla de narradores de futebol, na Rádio Tupancy. E quem sabe tenha esquecido de outros, e peço desculpas por isso (Texto e pesquisa: Nilo Dias)


Roberto Brauner.