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quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Mestre Acir, o descobridor de Alex

Acir Côrtes, mais conhecido por “Sisico” trabalhou 34 anos como técnico nas categorias de base do Coritiba, um verdadeiro recorde, tratando-se de Brasil, onde os treinadores não conseguem criar “limo”, como diz o ditado. Ultimamente integrava a comissão técnica permanente do time sub-20.

Com mais tempo de casa no clube, ficou somente atrás de Dirceu Krüger que tem nada mais, nada menos, que 49 anos de Coritiba. Kruger. Iniciou sua carreira profissional em 1963, aos 17 anos, no extinto Britânia Sport Club, no qual atuou até 1966, quando foi comprado pelo Coritiba.

Foram 10 anos de clube entre 1966 e 1976.  Foi campeão paranaense nos anos de 1968, 1969, 1971, 1972, 1973, 1974, 1975 e 1976. Depois de se aposentar como jogador, o ídolo trabalhou como técnico, auxiliar e coordenador das categorias de base do “Coxa”. Kruger, nos tempos de atleta, era conhecido pelo apelido de "Flecha Loira".

Certa ocasião chegou a ficar entre a vida e a morte em razão de um choque em um jogo entre Coritiba e Água Verde, em 1970, pelo Campeonato Paranaense. Ele bateu com a barriga no joelho do goleiro adversário, foi mal para o hospital, mas conseguiu se recuperar. Chegou a receber a extrema-unção.

Foi técnico da equipe principal em 185 ocasiões, sendo a primeira vez, em 1979. Como técnico, está entre os profissionais que mais comandaram o clube em toda a sua história. E como homenagem por tantos anos de serviços prestados, a equipe do Alto da Glória batizou o alojamento das categorias de base com seu nome.

Já “Sisico” não foi cria do Coritiba. Chegou ao clube em 1 de março de 1981 por indicação de Dirceu Kruger. Esteve sempre envolvido no futebol, onde foi torcedor, jogador de várzea e atleta profissional. Aos 23 anos, aposentou-se da meia-direita, onde se destacava como um dos melhores batedores de pênalti da época, e assumiu o comando da categoria de base do Britânia Sport Clube.

Mas veio a se destacar mesmo foi como treinador, no próprio Britânia. Depois que chegou ao “Coxa” mostrou dedicação total ao clube. O Estádio Couto Pereira virou praticamente a sua casa.

Chegava pela manhã e só saia de lá à noite. Isso não impediu que também fosse extremamente carinhoso com a família. Casou-se com Ana Lucia na década de 1960 e da união teve dois filhos, Marcos e Carlos Alberto, este falecido em 2014. O “Mestre” também viu a chegada de cinco netos: Carlos Eduardo, Giuliane, Alisson, Alan e Matheus.

Embora sua ligação com o futebol, não fez esforço algum para que os filhos seguissem a mesma carreira. Incentivou-os aos estudos, fazendo questão de vê-los formados. Ainda assim os dois jogaram nas categorias de base do Coritiba. Mauro foi treinado por “Sisico”, mas não teve chances no time do pai.

Por ser um homem muito correto, não queria ver seu trabalho questionado, por isso não escalava o filho, evitando com isso que alguém dissesse que ele o estava favorecendo. Por isso Mauro saiu do Coritiba e foi jogar no Ferroviário, onde foi tricampeão jogando as finais justamente contra o Coritiba, treinado por seu pai.

Diferente da carreira como jogador profissional, seu trabalho como técnico foi longo. Somou 57 anos como comandante de equipes.

Era um treinador muito exigente. Os jogadores tinham que repetir as jogadas até que ele estivesse satisfeito. Seu método de trabalho certamente rendeu bons frutos. Foram revelados por ele nomes importantes como o de Alex, Pachequinho, Rafinha, Adriano, Miranda, Henrique, Luccas Claro, William Farias, o meia Dudu e os atacantes Pachequinho e Keirrison.

E os jogadores não esqueciam dele. Prova disso que foi convidado de honra no jogo mil de Alex e na partida da aposentadoria do meia.

Sobre Alex, “Sisico” lembra que o “castigava” muito. Depois dos treinos fazia com que ele ficasse mais uns 15 minutos chutando de direito e esquerdo, acertando as camisas que eram penduradas nas traves.

Os treinos eram realizados em um campo no “Mossunguê”, que tinha uma árvore enorme ao lado. “Sisico” mandava que Alex acertasse a bola na árvore. E Alex sempre reconheceu que o primeiro treinador de verdade que ele teve foi “Sisico".

Alex sempre elogiou a visão do ex-treinador, que já o ensinava técnicas do presente no passado. Considerava o ex-treinador um “monstro”, salientando que tudo o que ouviu de Felipão, Zico, Luxemburgo e Aragonês, sobre conceito de bola, de jogar na posição, de como se portar perante qualquer situação, já ouvira do “Sisico”, quando tinha apenas 15 anos de idade.

Além do futebol tinha verdadeira paixão pelo jogo de Sinuca, onde era um habilidoso jogador. Apesar do gosto pelo jogo, odiava as mesas de bar. Jogava apenas nos clubes de Curitiba. A Sociedade Morgenau, por exemplo, sempre foi o reduto dos campeonatos de sinuca entre ele e os amigos.

Além de “Mestre Sisico”, Acir também ficou conhecido como “Cabra”. Por onde andava o chamavam pelo apelido que surgiu por não conseguir decorar nomes. “Ele chamava todo mundo da mesma forma: “cabra”, não importava quem fosse”.

“Sisico“ não era muito chegado a frequentar restaurantes. Gostava muito de doces, que sua esposa sabia fazer muito bem. Em pratos salgados não dispensava uma boa lasanha.

“Sisico” tinha problemas nos rins e acabou sendo vitimado por isso. Morreu em Curitiba, dia 28 de agosto deste ano, aos 80 anos de idade. Ele esteve internado durante todo o mês de agosto em um dos hospitais de Curitiba. O velório aconteceu no “Espaço Belfort Duarte”, no Estádio Couto Pereira e o sepultamento no Cemitério de Água Verde.

Ainda em 2014, o Coritiba criou o "Troféu Acir Cortes", entre equipes Sub-20, homenageando o segundo funcionário mais antigo da história do clube. Na final da competição, disputada dia 26 de novembro de 2014, no CT do Atuba, o “Coxa” derrotou o Atlético Paranaense por 4 X 0 , gols de Anderson,  Juninho,  Guilherme Paraguaio e Fábio, e sagrou-se campeão. (Pesquisa: Nilo Dias)

Alex, no seu jogo mil, homenageou "Sisico", seu primeiro treinador. (Foto: Albari Rosa)