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segunda-feira, 27 de junho de 2016

Morreu o cão de guarda do Internacional

Morreu às 7h30min da manhã de hoje (27), em Caçapava do Sul, sua terra natal, aos 61 anos de idade, Luis Carlos Melo Lopes, o “Caçapava”, um dos maiores volantes da história do Internacional, de Porto Alegre, vitimado por um infarto.

O ex-jogador seria o primeiro condutor da tocha olímpica na cidade do interior gaúcho. Ele jogou no time colorado entre 1972 e 1979, tendo conquistou dois Campeonatos Brasileiros e quatro Campeonatos Gaúchos, além de um campeonato cearense, pelo Ceará e um paulista, pelo Corinthians.

Era natural de Caçapava do Sul, por isso o apelido. Nasceu no dia 26 de dezembro de 1954. O volante deu seus primeiros passos no Gaúcho, time de Caçapava do Sul, quando tinha 18 anos de idade. Em 1972, transferiu-se para o Internacional, onde, aos poucos, começou a trilhar o caminho das grandes conquistas.

Em 1974, conquistou seu primeiro grande título com a camisa colorada, o Campeonato Gaúcho, que também ganhou em 1975, 1976 e 1978.

Um ano depois, deparava-se com um Beira-Rio completamente lotado para a grande final do "Brasileirão", diante do forte Cruzeiro. Placar de 1 X 0 para o Inter, gol do amigo Figueroa. Em 1976, veio o bicampeonato, vitória de 2 X 0 em cima do Corinthians de Neca e Ruço, entre outros.

Em um time onde quase todos atacavam e tinham qualidade para isso, "Caçapava" era o responsável pela guarnição da defesa colorada. Junto com Falcão, Carpegiani e depois Batista, formou um dos meios-campos considerados dos sonhos pelos colorados. Como marcador implacável, anulou grandes craques. Era o "cão de guarda" daquela equipe.

Depois, "Caçapava" ainda atuou por Corinthians (fez 148 jogos e marcou 5 gols), Palmeiras, Vila Nova, Ceará (campeão cearense em 1984), Novo Hamburgo e Fortaleza. Ele chegou a ter passagens pela Seleção Brasileira na década de 1970 e se aposentou em 1987.

Pouco antes de contratar "Caçapava", o presidente corintiano Vicente Matheus tentava a contratação do meio-campista Falcão, à época a principal estrela do Internacional.

Como o Colorado não tinha planos de perder seu melhor jogador para um time brasileiro, Falcão foi negociado posteriormente com a Roma, Matheus teve de se contentar em trazer o raçudo volante do Inter. "O melhor era o Falcão, mas o "Caçapava" estava também entre os melhores", contava Matheus.

"Caçapava" chegou ao Corinthians em 1979 e logo em seu primeiro ano no Parque São Jorge conquistou o título do Paulistão. O curioso é que além de Falcão e "Caçapava", o Corinthians tentou contratar mais um meio-campista colorado: Batista. Porém, Batista, embora tenha até colocado a camisa corintiana, jamais defendeu o alvinegro.

Na década de 1990, teve experiências como técnico no Piauí, dirigindo Ríver e Flamengo e paralelamente sendo pai de santo. Também dirigiu escolinhas de futebol para crianças carentes da sociedade local, em Timon (MA).

Também treinou a Escolinha de Futebol do 25º Batalhão de Caçadores - unidade militar do Exército Brasileiro - na divisa entre Teresina (PI) e Timon (MA) e ainda trabalhou no Internacional, nas categorias de base.

Em 2010, “Caçapava” foi homenageado em Piripiri (PI), com a reprodução de um clássico Gre-Nal em forma de “pelada”. O famoso volante gaúcho já havia treinado o 4 de Julho, time da cidade.

O Grêmio acabou levando a melhor no jogo: venceu por 5 X 3. E ao invés de sarapatel e buchada, o churrasco foi o prato do dia na confraternização final.

Atualmente, "Caçapava" trabalhava no setor de relacionamento social do Internacional e participava dos eventos consulares do Colorado. O velório ocorre a partir das 17h30 na Funerária Caçapava, sala 01. O enterro será realizado no Cemitério Municipal de Caçapava do Sul.

“Caçapava” era o cão de guarda da meia cancha colorada, e não dava descanso e nem sossego para os atacantes e meias mais desavisados.

Em um time onde quase todos atacavam e tinham qualidade para isso, o volante "Caçapava" era o responsável pela guarnição da defesa colorada. Junto com Falcão, Carpegiani e depois Batista, formou um dos meios-campos considerados dos sonhos pelos colorados mais antigos.

Como marcador implacável, anulou grandes craques que ousaram ameaçar os defensores do Inter, como Adãozinho e Palhinha, na final do Campeonato Brasileiro contra o Cruzeiro em 1975, e Geraldão, do Corinthians, em 1976.

Dizem, que embora fosse um negro de porte físico avantajado, o que impunha respeito em seus adversários, "Caçapava" sofria de uma enorme fobia por cobras e aranhas. Bastava alguém ameaçar jogar algum desses animais, mesmo que de brinquedo, contra sua pessoa, que saia em disparada feito uma criança medrosa.

Em uma entrevista dada ao programa “Paredao do Guerrinha”, na Rádio Gaúcha, de Porto Alegre, em 2014, "Caçapava" disse que como jogador, sempre procurou “entender o campo”. Não era um “engenheiro” nem “loteador de terra”, mas loteava.

Teve a oportunidade de jogar com caras que tinham raciocínios diferentes, dribles diferentes. E ele era o complemento deles. O segredo “era dominar, ver e tocar", lembrava.

Com essa ideia de simplificar, "Caçapava" "facilitava" a vida dos craques dos time. Se precisasse, ele fazia uso da força para isso, sem rodeios.

"Se não der na técnica tem que dar no pau. No bom sentido... Tem que chegar junto”, resumia "Caçapava", que era tido pelo ex-zagueiro Elias Figueroa como fundamental para seu sucesso no Inter, já que o adversário "dificilmente passava pelo volante”.

O ex-volante do Inter, no entanto, não se restringia a marcar. "Caçapava" sabia o que fazer com a bola e na base do Inter e da Seleção chegou a atuar como meia e ponteiro, como relembrou no programa.

No entanto, a permanência dele no Inter, não foi tão fácil. Depois de um período de três meses, ele foi dispensado por Ernesto Guedes, mas o preparador físico da época o ajudou.

"Ele disse: os caras estão de sacanagem contigo. Vou te dar uma programação de exercícios e tu vais voltar para o Inter", lembrou o que foi dito. Um olheiro do Inter foi a Caçapava e assistiu a um jogo da base em que ele marcou gol. Com isso, o ex-jogador retornou ao clube do coração.

"Caçapava" via o título de 1975 como mais importante, já que foi a primeira conquista nacional do Inter. Daquele campeonato, a principal recordação foi a semifinal contra o Fluminense, onde ele não deixou Rivelino jogar e o Inter venceu no Rio de Janeiro por 2 X 0.

O técnico Rubens Minelli escalou o time com 10 na preleção e no fim da sua fala sentenciou. "Quem vai jogar nessa função é tu "Caçapava". Se tu marcares o Rivelino nós ganhamos o jogo", disse Minelli.

Como para "Caçapava" "missão dada era missão cumprida", ele aceitou o desafio e soltou uma frase que chocou os companheiros como Falcão, que chegou a chamar o colega de time de "louco".

"Tá 'morto' chefe!", disse Caçapava, confiante que anularia um dos melhores jogadores da época.

"Caçapava" "colou" em Rivellino desde o começo do jogo. Quando o craque do Fluminense tentou fazer o famoso "elástico", o volante deu com bola e tudo. Rivelino reclamou falta, mas o que ganhou foi um alerta de Dulcídio Boschilia.

"Do jeito que está esse “negão” vai te matar hoje", disse Boschilia, segundo lembra "Caçapava". Nova reclamação, desta vez de Paulo César Caju e o árbitro soltou: "calma ou ele vai matar dois".

Com o volante anulando as jogadas de ataque, o Inter derrotou em pleno Maracanã um Fluminense considerado uma verdadeira "Seleção". Para ele, naquele momento, o Inter teve que mostrar empenho acima de tudo.

"Não existe sorte. Existe empenho e dedicação. Cada um sabia sua função e o que podia render", recordava "Caçapava".

A morte do exjogador pegou seus ex-companheiros de surpresa. Valdomiro Vaz Franco, disse que estava arrasado:

"Não perdi um amigo, perdi um filho", comentou. Ele ainda destacou a garra de "Caçapava" em campo: "Ele fazia da bola um prato de comida. Aquela vontade de jogar. Aquela garra. Era uma pessoa que todo mundo gostava."

Valdomiro revelou ainda uma amizade muito próxima com ´"Caçapava": "Eu fui padrinho de casamento dele. Aconselhei ele quando foi pro Corinthians. Ele não queria sair do Inter. De jeito nenhum."

Através de sua assessoria de imprensa, Paulo Roberto Falcão, amigo e ex-companheiro de quarto nas concentrações do Internacional na década de 70, se declarou muito triste com a notícia do falecimento de "Caçapava". Confira a nota na íntegra:

Recebi com muita tristeza a notícia da morte do meu querido amigo e irmão "Caçapava". Se dentro das quatro linhas ele foi um grande jogador, fora foi uma das pessoas mais doces e sensíveis com quem convivi e de cuja sincera amizade compartilhei por muitos anos.

Que a família deste grande homem tenha o conforto necessário para enfrentar este difícil momento. (Pesquisa: Nilo Dias)

sexta-feira, 24 de junho de 2016

Pontenovense, um clube centenário

O Pontenovense Futebol Clube, de Ponte Nova, Minas Gerais, foi fundado em 11 de outubro de 1911, por um grupo de cidadãos, que queriam que a cidade tivesse um time de futebol.

E conseguiram o apoio do prefeito da época, o médico e fazendeiro Caetano Machado da Fonseca Marinho, que cedeu uma vasta área plana, da sua “Fazenda do Engenho”, para os treinos do time. Em 1913, o “stadium” já contava com os vestiários e os serviços de água e luz.

A primeira grande vitória do clube, em uma partida oficial, ocorreu em 1914, quando derrotou a equipe da vizinha cidade de Viçosa. Em outras excursões, como às cidades de Juiz de Fora e Belo Horizonte, o time local obteve vitórias memoráveis.

O Pontenovense se estruturou com o passar do tempo. Em 1923 foi publicado o seu primeiro Estatuto; em 1926, foi criada, também de forma pioneira na região, a equipe de basquetebol e, em 1929, foi instalado o seu Departamento Recreativo.

No dia 18 de agosto de 1935, quando a Sede Social ainda funcionava em imóvel alugado, foi inaugurada a Praça de Esportes, numa vasta área adquirida três anos antes, na Vila Oliveira. Aquele espaço ainda possuía quadras para a prática de Vôlei, Basquete e tênis.

O ano de 1950 também marcou a história do Pontenovense. Com festas suntuosas inaugurou-se a Sede Social, feita construir na Avenida Caetano Marinho.

Sete anos mais tarde, com as ruidosas apresentações dos “Aqualoucos” e do campeão sul americano de Saltos Ornamentais, foram inauguradas as duas piscinas da Praça de Esportes.

Outro acontecimento marcante, a criação do Departamento Cultural do Pontenovense Futebol Clube, ocorreu no ano de 1958. Em ofício encaminhado aos associados, o referido Departamento informava que entraram em atividade:

1 - Biblioteca (livros, revistas e jornais, para adultos e crianças). 2 - Secção de Xadrez e Damas. 3 - Escolinha de modelismo (aeromodelismo, modelismo naval). 4 - Jardim de Infância (dentro dos modernos princípios didáticos). 5 - Concursos de arte, com prêmios destinados aos expositores e participantes. 6 - Criação do Boletim do Clube. 7 - Escola de Ballet. 8 - Concertos e Recitais. 9 -  Exposição de Artesanato e Artes Plásticas. 10 - Cursos Práticos de Línguas. 11 - Exibição de Filmes para adultos e crianças. 12 - Excursões Culturais. 13 - Instituição do Clube do Disco e do Cinema e- Palestras periódicas (Literatura, Economia, Educação, Sociologia, Política, Administração, Relações Públicas, Legislação Fiscal e Trabalhista).

Em 2011, o Pontenovense Futebol Clube comemorou o seu centenário. São cem anos de muita história e de muitas glórias.

Nas comemorações do “Centenário”, entre outras realizações foi apresentado o projeto “Minas em Serenata”, com o apoio do SESC-MG, ACIP/CDL, Sindicomércio e Prefeitura Municipal de Ponte Nova.

Para marcar o centenário o Pontenovense Futebol Clube teve sua Historia eternizada em um livro escrito pelo historiador da cidade, Antônio Brant.

Toda a historia de criação e e construção do clube dentro de um contexto político e Histórico regional. O lançamento do livro ocorreu no mês de aniversário e teve uma linda tarde de autógrafos.

Para comemorar um século de existência, o Pontenovense Futebol Clube pautou sua programação em diversas atividades festivas. Como forma de homenagear todos os desportistas, dirigentes e admiradores, que já vestiram a camisa alvi-rubra, aconteceu o “jogo do século”, dia 15/10 de 2011.

A equipe do Pontenovense enfrentou o Esporte Clube Palmeirense que venceu partida classificatória, contra a equipe da Sociedade Esportiva Primeiro de Maio. O jogo ficou empatado em 1 X 1 no tempo normal, e nos pênaltis o Palmeirense venceu por 5 X 4.

A elegância, uma das marcas da sede social do Pontenovense, foi destaque no Baile de Gala, no dia 15. Além de homenagens o evento teve como atração artística a banda Super Som C & A.

As senhoras Maria Auxiliadora Harmendani de Freitas Castro (Dorita), Maria José Marinho Monteiro, Elza Maciel Martins da Silva e Maria Elisa Carvalho apagaram as velas do bolo de 100 anos. O baile em comemoração ao centenáriofoi realizado no dia 15 de outubro.

Ainda foi homenageado José Reinaldo de Lima, ou simplesmente Reinaldo, o maior artilheiro da história do Atlético Mineiro, clube cuja torcida o apelidou de Rei. Oriundo do Pontenovense ele chegou ao “Galo” no final de 1971, sendo considerado por todos como futuro craque (o que realmente se concretizou).

Mostrava habilidade impressionante nos treinos e era sempre o destaque nos jogos das categorias de base. Estreou profissionalmente no Atlético em 1973. (Pesquisa: Nilo Dias)


Uma das formações históricas do Pontenovense Futebol Clube. (Foto: Acervo fotográfico do clube)

quarta-feira, 22 de junho de 2016

Da várzea para a glória

Talvez muitos não saibam que o aclamado técnico campeão do mundo de 2002 pela Seleção Brasileira de Futebol, Luiz Felipe Scolari, foi  jogador do Grêmio São Cristóvão, time amador de Canoas (RS), fundado em 29 de outubro de 1959, no bairro Igara daquela cidade.

O nome de São Cristóvão é uma homenagem ao padroeiro da igreja situada no bairro. O clube existe até hoje, mas o futebol não tem a mesma expressão do passado, mas sua sede social continua a pleno vapor, promovendo bailes com o mesmo entusiasmo de antigamente.

E foi nesse ambiente festivo que o então garoto Luiz Felipe participava de animadas reuniões dançantes. O clube não tinha um campo de futebol, por isso os treinos eram realizados em praças e campos baldios.

A situação só melhorou, quando o taxista Demétrio Machidonski, que trabalhava em um ponto na capital gaúcha, penalizado com as dificuldades da gurizada comprou um uniforme esportivo na Loja Cauduro e doou ao time.

As camisetas eram azuis com duas listras verticais amarelas. Demétrio ainda providenciou na confecção do distintivo do clube e dessa maneira o São Cristóvão começou a participar de certames varzeanos em Canoas e localidades próximas. Foi o primeiro time de Luiz Felipe Scolari, que já jogava como zagueiro.

“Felipão”, como ficou conhecido depois, filho de Benjamim e de Cecy (Leda) Scolari, nasceu em Passo Fundo, no dia 9 de novembro de 1948. Como em Canoas já moravam dois dos seus irmãos, Alcides e Alberto, Benjamim resolveu mudar-se para lá.

Alcides e Alberto eram sócios de uma transportadora de Passo Fundo e possuíam uma frota de caminhões-tanque. Em 1954, Alcides resolveu ir para Canoas, para expandir os negócios. Um ano depois Alberto tomou o mesmo rumo.

Trataram de adquirir um terreno à beira da BR 116, rodovia movimentada que corta a cidade de Canoas, onde montaram um posto de gasolina, que começou a funcionar em 1959. Em 1964, eles chamaram Benjamim, que se mudou de Passo Fundo para Canoas, com a mulher  Leda  e os filhos Luiz Felipe e Cleonice.

Apenas Cleuza, a filha mais velha permaneceu em Passo Fundo, pois era casada com Euclides Schneider, e tinha quatro filhos. Um deles era Darlan, que depois de se formar em Educação Física, trabalhou no Grêmio e no Cruzeiro, além de integrar a comissão técnica da Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 2002. Os demais, são Tarcísio, Elson e Delano.

Benjamin tornou-se sócio dos irmãos na transportadora de combustíveis, enquanto Leda, habilidosa costureira, fazia roupas que vendia na cidade. Luiz Felipe ajudava no sustento da casa, trabalhando no posto de gasolina, ao mesmo tempo em que estudava no curso técnico de contabilidade.

Quando tinha apenas 16 anos de idade, “Felipão” conheceu a menina Olga Pasinato, da mesma idade que ele. Ela era filha do dono de um hotel localizado em frente ao posto de gasolina. Namoraram durante nove anos, até que casaram em 1973.

“Felipão” jogou no São Cristóvão dos 17 aos 19 anos. Depois, a carreira de atleta profissional deu-se no Aimoré de São Leopoldo, no Futebol Clube Montenegro, da cidade de mesmo nome, Caxias e Juventude, de Caxias do Sul e Brasil, de Pelotas, onde também deu inicio a carreira de treinador.

Jogou sempre de zagueiro, e inclusive, em 1978, quando defendia o Caxias, foi escolhido o melhor da posição no Campeonato Estadual. (Pesquisa: Nilo Dias)


1967, no campo do São Cristóvão, hoje Centro Olímpico Municipal de Canoas, "Felipão" e Hilton, em pé, e Volmar, agachado. (Foto: Arquivo do Grêmio São Cristóvão)

sábado, 11 de junho de 2016

Os clássicos do futebol baiano

O futebol brasileiro, todos sabem, é dono de um folclore muito rico. Mas nenhum Estado consegue bater o futebol baiano nesse item. Os torcedores e a imprensa sempre foram pródigos em criar nomes sugestivos para batismo dos clássicos que enriquecem o futebol da “boa terra”. Não só na capital, mas também no interior.

O maior clássico do futebol baiano indiscutivelmente é Bahia X Vitória, chamado de Ba-Vi. Mas nem sempre foi assim. Sabe-se que o Vitória, fundado em 13 de maio de 1899 com o nome de Club de Cricket Victoria, só passou a jogar futebol em 1901.

No dia 22 de maio desse ano ele enfrentou o Sport Club Internacional, um time formado as pressas por integrantes das tripulações de navios ingleses atracados no porto. O jogo foi realizado no “Campo da Pólvora” e foi vencido pelos baianos por 3 X 2.

Mas o jogo considerado primeiro na história do clube deu-se em 13 de setembro de 1902, data em que o Departamento de Futebol foi oficialmente inaugurado, contra o São Paulo Bahia Football Club, time formado por integrantes da colônia paulista, com vitória rubro-negra por 2 x 0. Na verdade, o Vitória só veio dar uma importância maior ao futebol só a partir dos anos 1950.

O Bahia só veio a ser fundado em 1 de janeiro de 1931. Portanto, existiram muitos outros clássicos na Bahia antes do agora tradicional Ba-Vi, envolvendo clubes que ainda existem ou fecharam as portas.

É o caso do Clube de Natação e Regatas São Salvador, clube que ao longo da história conquistou por duas vezes o Campeonato Baiano de Futebol, em 1906 e 1907 e vice em 1905. Com a extinção da Liga Baiana, o clube desistiu do futebol, mas existe até hoje, participando de competições aquáticas.

O clube foi fundado no dia1 de setembro de 1902, pelo desportista Torquato Corrêa, que ao regressar do Rio de Janeiro, onde remava pelo Flamengo, notou a falta de clubes náuticos em Salvador, onde existia apenas o Esporte Clube Vitória, com uma pequena flotilha.

Ele reuniu alguns amigos em sua casa na Piedade e fundou o Clube de Natação e Regatas São Salvador. Animado com a grande adesão de associados, voltou ao Rio de Janeiro e de lá trouxe duas canoas e aos domingos e feriados no Porto dos Tainheiros se exercitavam os amadores e amantes do novo esporte, despertando grande interesse público.

Em janeiro de 1905, cerca de 20 associados do Vitória deixaram o clube e se transferem para o São Salvador, sendo criada a seção de futebol sob a direção de Carlos Costa Pinto.

Conquistando logo a preferência do público, tornou-se a sociedade esportiva mais querida da época. Nesta mesma ocasião, por proposta de Arthur Moraes, suas cores foram mudadas do amarelo e preto para o branco e verde, que adota até hoje.

Em 1905 tomou parte no 1º Campeonato Baiano de Futebol no Campo da Pólvora sagrando-se vice-campeão. No ano seguinte levantou o título, e no outro o bicampeonato.

No remo era o "Bicho Papão" levantando quase todas as regatas. Com o correr dos tempos, deixou o futebol devido a extinção da Liga Bahiana e no remo, devido a algumas crises, perdeu a liderança para o E. C. Vitória. Agora o C.N.R. São Salvador se reorganizou, voltando a ser destaque nos meios náuticos.

O clássico que o Vitória mantinha com o São Salvador, nos primórdios do futebol na Bahia, era chamado de "Ajuste de Contas". Por quais razões, não se sabe.

O maior clássico da atualidade em terras baianas só se popularizou na segunda metade do século 20. Antes do Ba-Vi, diversos confrontos dividiam os corações dos baianos. Os maiores deles foram o “Clássico de Ouro”, entre Ypiranga e Galícia, maiores campeões do estado depois de Bahia e Vitória, e o “Clássico do Povo”, disputado entre Ypiranga e Bahia.

Entre tantos clássicos além do Ba-Vi, o “Clássico do Pote” é um dos mais folclóricos do estado. Ainda nos tempos do “Campo da Graça”, antiga praça esportiva, o já tradicional Botafogo enfrentou pela primeira vez o então recém-criado Bahia, em 1931.

Naquela ocasião, um torcedor botafoguense levou um pote enfeitado com fitas e cores do “Mais Simpático”. A brincadeira não adiantou muita coisa, e o tricolor venceu aquela partida.

Durante seis anos, e 12 jogos, o torcedor repetiu a “simpatia”, carregando o pote que era recebido debaixo de delírio da torcida botafoguense e de lá voltava sem ser quebrado.

Em 5 de setembro de 1937, finalmente o Botafogo derrotou o Bahia. Após o jogo, no centro do campo, foi o pote quebrado com indescritível entusiasmo.

A reedição do clássico poderia ter ocorrido novamente em campo no Campeonato Baiano de 2013, após 23 anos, mas não aconteceu devido ao formato da competição.

“Clássico de Ouro” é o nome dado ao confronto entre Esporte Clube Ypiranga e Galícia Esporte Clube, que já foi considerado o maior clássico do futebol baiano muitas décadas atrás.

Entretanto, com o crescimento de Bahia e Vitória e a decadência de Galícia e Ypiranga, o clássico perdeu força e, com seguidos descensos das equipes, tem sido realizado com frequência muito menor. Ás vezes transcorrendo anos sem que haja uma edição sequer do dérbi.

A primeira partida foi realizada em 25 de julho de 1934 no “Campo da Graça”, principal cenário do futebol baiano da época, com vitória do Ypiranga por 1 a 0.

Desde então o Galícia Esporte Clube obteve cinco títulos baianos (1937, 1941, 1942, 1943 e 1968) enquanto o Esporte Clube Ypiranga obteve mais dois títulos, em 1939 e 1951.

Já o clássico Ypiranga X Leônico, também foi jogado diversas vezes na “Fonte Nova”. Dividia as preferências esportivas do famoso canal Jorge Amado e Zélia Gattai. Ele era torcedor ardoroso do Ipiranga. Ela, do Leônico, chamado de “Moleque Travesso” dos campos baianos.

Em um de seus livros, "A Cidade da Bahia", Jorge fala com bom humor do duelo caseiro ao descrever a sua paixão pelo “Mais Querido”:

No futebol baiano, não há nenhum clube de tão gloriosa tradição quanto o Ypiranga, o time de “Popó”, antigamente poderoso, milionário, invencível, supercampeão, hoje pobre e batido, mas, em glórias, quem se compara a ele?

Nem o Bahia, nem o Vitória, nem o Galícia, nem o Leônico (cito o Leônico sob violenta pressão familiar: minha mulher é torcedora do Leônico, creio que a única, apesar das afirmações em contrário).

Sou torcedor do Ypiranga há mais de 50 anos. O Ypiranga pode perder à vontade, porque já ganhou demais, já deu muita alegria aos seus fiéis torcedores, escreveu Jorge.

O jogo entre Bahia e Galícia é chamado de “Clássico das Cores”. O primeiro confronto entre eles ocorreu pelo primeiro turno do Campeonato Baiano de Futebol de 1934, no dia 16 de agosto. O Bahia venceu a partida por 3 X 1. No segundo turno da mesma competição, novamente o Bahia venceu o Galícia, por um placar mais apertado, 3 X 2, no dia 18 de outubro do mesmo ano.

Em 9 de fevereiro, pela segunda fase do Campeonato Baiano de 2014, o clássico voltou a ocorrer depois de um intervalo de 15 anos. A volta veio com a vitória do “Demolidor de Campeões”, de virada sobre o Bahia, que havia ganho a última partida até então, no dia 21 de fevereiro pelo Baiano de 1999, edição na qual o Galícia foi rebaixado.

“Clássico do Povo” ou “Clássico das Multidões” é a denominação dada ao encontro entre Esporte Clube Ypiranga e Esporte Clube Bahia.
O nome se deu devido aos dois times soteropolitanos terem um grande número de torcedores e serem bastante populares.

O “Clássico da Laranja” é um clássico do futebol baiano entre os clubes Catuense e Atlético de Alagoinhas . Tem esse nome porque a Catuense usou por um tempo a cidade de Alagoinhas como sua casa, mandando seus jogos no “Carneirão”. Nessa época a cidade era a maior produtora de laranja do Estado.

O “Clássico do Sertão” é o nome dado ao confronto clássico entre o Alagoinhas Atlético Clube e o Fluminense de Feira Futebol Clube.

“Clássico do Cacau” identifica o jogo entre Itabuna Esporte Clube, de Itabuna, e Colo Colo de Futebol e Regatas, de Ilhéus, clubes do interior da Bahia. Envolvendo muita rivalidade, o clássico, que já é antigo, leva milhares de pessoas aos estádios em qualquer ocasião.

O confronto entre o Guanambi Atlético Clube e o Serrano Sport Club é conhecido como “Clássico do Sudoeste”, uma vez que opõe as cidades de origem dos dois clubes, respectivamente, Guanambi e Vitória da Conquista, são do sudoeste baiano.

Os confrontos entre o Juazeiro Social Club e Sociedade Desportiva Juazeirense configuram um recente clássico do futebol baiano, conhecido como Ju-Ju. E, finalmente, as partidas entre o Esporte Clube Primeiro Passo Vitória da Conquista e Serrano Sport Club, ~são chamadas de “ Clássico do Café”. (Pesquisa: Nilo Dias)

Jorge Amado foi o mais ilustre torcedor do Ypiranga.