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terça-feira, 25 de setembro de 2012

A saga de um artilheiro

Emmanuele Del Vecchio, centroavante do Santos F.C. nos anos 50, nasceu em São Vicente (SP), no dia 24 de setembro de 1934. Começou a carreira no São Vicente A.C., de sua cidade natal. Em 1954 foi levado para o Santos pelo ex-goleiro santista “Cobrinha”. Junto de Del Vecchio também chegou o o ex-ponteiro esquerdo, Pepe, que ficou conhecido como o “Canhão da Vila”.

Del Vecchio foi um verdadeiro cigano do futebol. Jogou no Santos de 1954 a 1957 e em 1965, tendo atuado em 180 partidas e marcado 105 gols. Foi campeão paulista em 1955 e 1956 e também campeão do Torneio Internacional da Federação Paulista de Futebol (FPF). Foi artilheiro do “Paulistão” em 1955, com 23 gols.

Del Vecchio foi um atacante que tinha visão privilegiada do jogo. Era rápido, raçudo, técnico e goleador implacável. Tinha um físico perfeito para ser atleta: 1,75 de altura e 75 quilos. Eu tive a satisfação de ver Del Vecchio jogar. Foi quando de uma excursão do Santos ao Rio Grande do Sul, ao se exibir em Bagé, frente um combinado Ba-Guá, no dia 24 de março de1957. O jogo terminou 1 X 1.

Pelé entrou em campo aos dois minutos do primeiro tempo, substituindo ao astro da época, Del Vecchio, que já estava negociado com o futebol da Itália e que deixou o gramado contundido num choque com Athayde Tarouco. Pelé marcou o gol do Santos, tendo o combinado Ba-Gua empatado por Carlos Calvete.

A seleção bajeense, do treinador Alípio Rodrigues, formou com Léo Herzer - Saul Mujica - Carioca - Barradinhas e Bataclan - Athayde Tarouco e Sérgio Cabral - Carlos Calvete - Saulzinho - Max Ravaza e  Luiz Silva.

Pelo Santos, estiveram em campo Manga - Feijó - Hélvio - Ivan e Urubatão - Ramiro e Jair da Rosa Pinto - Dorval - Pagão (Zinho) - Del Vecchio (Pelé) e Tite. A arbitragem foi do paulista João Etzel Filho, que acompanhou a delegação santista na sua temporada por gramados do Rio Grande do Sul. A memorável promoção foi do Grêmio Atlético Bajeense e União Bajeense de Estudantes Secundaristas, com a renda alcançando a 174 mil cruzeiros, que serviu para cobrir as despesas e deixar um pequeno lucro para os organizadores.

Del Vecchio viu o menino Pelé chegar na Vila Belmiro e com ele jogou também na seleção paulista e quando retornou ao Santos, no final de 1965. A estréia de Pelé entre os profissionais santistas aconteceu em um amistoso contra o Corinthians, de Santo André. O time vencia por 5 X 0, quando Del Vecchio se machucou e Pelé foi chamado para substituí-lo. Em sua estréia, Pelé já marcou um gol.

Em 1957 Del Vecchio mudou-se para a Itália, para jogar no Verona, onde participou de 27 jogos e marcou 13 gols. Sua estréia foi no dia 13 de outubro de 1957, na partida válida pela Série A italiana, quando seu novo clube perdeu para o Roma por 3 X 1.

Depois jogou no Padova, foram 21 partidas e 8 gols. No ano seguinte mudou-se para Nápoles, onde permaneceu por três temporadas. No Napoli, jogou 68 vezes e anotou 27 gols. Em novembro de 1962, foi comprada do AC Milan, por quem disputou nove jogos e marcou três gols. Foi campeão italiano em 1962. De volta ao Padova participou de quatro jogos e não marcou.

Participando da Série A do Campeonato Italiano, Del Veccio jogou 125 partidas e fez 51 gols. Seu grande momento foi no jogo Verona 5 X 3 Sampdória, na temporada 1957/1958, em que marcou todos os cinco gols da sua equipe.

Da Itália para a Argentina, onde vestiu a camisa do Boca Juniors em seis oportunidades, marcando três gols. De 1964 a 1967 jogou no São Paulo, foram 69 jogos, 35 vitórias, 17 empates, 17 derrotas e 34 gols marcados, segundo o “Almanaque do São Paulo”, de Alexandre da Costa. Mesmo em tempo de "vacas magras" no São Paulo em sua primeira temporada marcou 25 gols em 41 jogos.

O único titulo conquistado no São Paulo foi em 1964, o Torneio de Firenze (Itália), disputado contra a Fiorentina, Firenze e Zenit (URSS), durante excursão por gramados europeus, em que Del Vecchio fez nove gols.

Ainda em 1967 defendeu o Bangu, do Rio de Janeiro, onde jogou oito vezes e fez dois gols. Entre 1968 e 1970 esteve no Atlético Paranaense, onde encerrou a carreira. Pela Seleção Nacional jogou nove vezes, entre 1956 e 1957 e marcou apenas um gol. Entre os jogos que participou, estão incluídos quatro pelo Campeonato Sul-Americano de 1956.

Del Vecchio jogou sua primeira partida pela Seleção em 24 de janeiro de 1956, contra o Chile. O único gol que marcou foi em 16 de junho de 1957, contra Portugal. Ele vestiu a camisa da Seleção pela última vez em 10 de julho de 1957, contra a Argentina. Pela Seleção foi campeão da Copa Roca, em 1955.

Como já acontecera antes no Santos, a três meses de completar 17 anos, Pelé foi chamado pelo técnico Silvio Pirillo para substituir Del Vecchio, no Maracanã, diante de 80 mil pessoas, pela Copa Roca. Os argentinos venceram por 2 X 1, mas Pelé deixou sua marca na rede do goleiro Carrizo.

Na estréia de Pelé, com a camisa 13, a Seleção, usando camisas amarelas, calções azuis e meias brancas, formou com: Castilho- Paulinho de Almeida – Bellini - Jadir e Oreco - Zito (Urubatão) e Luisinho – Maurinho - Mazzola (Moacir) - Del Vecchio (Pelé) e Tite. O árbitro foi o austríaco Erwin Hieger e, no lance do gol brasileiro, o flamenguista Moacir lançou, Pelé recebeu a bola bem próximo ao goleiro Carrizo e, com o pé direito, chutou a pelota à esquerda do grande arqueiro portenho.

Depois que deixou os gramados tornou-se técnico, tendo dirigido as equipes do Santos (1984) e Internacional de Limeira (1986).

O ex-craque santista faleceu aos 61 anos, em Santos, no dia 7 de outubro de 1995, dias depois de ter sido baleado em uma briga com Marcos Barbosa Silvestre, ex-namorado de sua filha, depois de uma discussão. Del Vecchio levou quatro tiros, mas ainda resistiu por oito dias, mas veio a falecer no Hospital Beneficência Portuguesa. Sua filha Maria Emmanuela Moreno Del Vecchio, é casada com Paulo Antonio Cruz.

O assassino de DelVecchio foi condenado por quatro votos a três, pelo Tribunal do Júri de Santos, a um ano e seis meses de detenção, por homicídio culposo (sem intenção de matar). Na condição de réu primário e com bons antecedentes, Silvestre cumpriu a pena em liberdade. (Pesquisa: Nilo Dias)

Del Vecchio na Seleção Brasileira. (Foto: Divulgação)

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