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sábado, 26 de outubro de 2013

A tragédia do “Albertão”

No último dia 26 de agosto fez 40 anos da chamada “Tragédia do Albertão”, ocorrida durante a inauguração do Estádio Alberto Silva, em Teresina, com o jogo amistoso entre o time local da Sociedade Esportiva Tiradentes, que pertencia ao Clube dos Oficiais da Polícia Militar do Estado do Piauí, e o Fluminense, do Rio de Janeiro.

O estádio recebeu aproximadamente 30 mil pessoas, que lotaram as arquibancadas. Vieram torcedores do interior do Estado e também do Maranhão. Por volta de 25 minutos de jogo, um avião que sobrevoava o estádio, causou uma sensação de tremor.

Um torcedor não identificado teria gritado: “O estádio está caindo". Foi o que bastou para provocar uma enorme confusão. Os torcedores corriam desesperados tentando sair das arquibancadas, e devido a forte pressão uma das barras de segurança rompeu, jogando várias pessoas dentro do fosso, que tinha uma profundidade de quase 3 metros.

Até hoje não há certeza absoluta de quantas pessoas morreram na queda, mas segundo os jornais da época, teriam sido de cinco a sete. E centenas de outros torcedores sofreram ferimentos. O jogo teve de ser paralisado por cerca de uma hora. Até os jogadores ajudaram no resgate das vítimas. Os feridos foram levados para os hospitais Getúlio Vargas, Casamater e Samdu, que ficaram superlotados.

O jogo recomeçou e foi até o seu final, porque o próprio presidente da CBD deu a opinião que o jogo continuasse, porque se não a repercussão ia ser pior ainda. Mas o estrago já estava feito, o que era para ser uma festa acabou em tragédia. O resultado foi um empate em 0 X 0.

O Tiradentes jogou com Toinho – Marinho - Ivan Limeira - Murilo e Tinteiro (Valdeci Lima) - Gérson Andreoti e Joel – Gringo – Sima – Ventilador (Russo) e Bira. O Fluminense levou a campo Vitório – Toninho – Bruñel - Assis e Marco Antônio - Carlos Alberto e Kléber (Adílson) – Marquinhos – Manfrini – Dionísio (Té) e Lula.

As investigações policiais que se seguiram, bucaram identificar o torcedor que teria gritado dizendo que o estádio estava caindo. Mas não obtiveram êxito. O avião que sobrevoara o estádio trouxera o presidente da antiga Confederação Brasileira de Desportos (CBD), João Havelange, que veio assistir o jogo.

A imprensa da época abordou o caso de forma responsável, e até a oposição política ao governador do Estado portou-se de forma conveniente. A certeza era uma só, que algum irresponsável ao gritar que o estádio estava caindo, levou os demais torcedores a situações de desespero, resultando em algumas mortes.

Passados 40 anos da tragédia, inexplicávelmente até hoje não se chegou a um consenso no numero de mortos do acidente. Segundo as autoridades e noticias dos jornais da época ficou entre 5 a 7 mortos. Mas há quem diga que foi mais, e que a verdade não chegou ao público porque vivíamos no regime militar, e não era interessante a publicação de coisas negativas.

Depois da tragédia, o “Albertão” foi fechado por ordem das autoridades e ficou um ano sem sediar jogos, quando passou por profundas reformas. A partida de reabertura foi entre Flamengo (PI) X Vasco da Gama (RJ), pela Copa do Brasil, com vitória do time carioca por 4 X 1. O público registrado nessa partida foi de mais de 25 mil pagantes.

Tempos depois, por ordem da já Confederação Brasileira de Futebol (CBF), a capacidade de público do “Albertão” foi diminuída para 40 mil expectadores. Por isso o recorde de público verificado em 1983, quando 60.271 torcedores assistiram o jogo Tiradentes 1 X 3 Flamengo, do Rio de Janeiro, nunca será quebrado. Antes, em 1975, o Flamengo já havia jogado no “Albertão”, quando enfrentou o mesmo Tiradentes e perdeu por 3 x 2, pelo Campeonato Brasileiro.

O recorde absoluto de público, no entanto, não foi obtido por torcedores de futebol e sim pelos fãs mirins do grupo musical “Balão Mágico”, que fez muito sucesso na primeira metade da década de 80.

O maior estádio do Piauí tem muita história. Por seu gramado já passaram craques da envergadura de Rivelino, Ronaldo “Fenômeno”, Dirceu Lopes, Zico, Sócrates, Dunga, Carpegianni, Edinho, Edu, Clodoaldo, Marco Antônio, Sima, Roberto Carlos, Tulio e tantos outros.

Um momento de muita emoção aconteceu em 1977, quando Flamengo e River, protagonistas do clássico “Rivengo”, decidiram o campeonato estadual em três jogos memoráveis. Mais de 100 mil pessoas foram assistir os jogos (40 mil só no terceiro jogo), no maior sucesso de bilheteria até hoje no certame piauiense.

Em 1982 aconteceu o jogo épico entre as seleções de Juniores do Piauí e Rio Grande do Sul, decidindo o Campeonato Brasileiro entre seleções estaduais. O Piauí venceu o forte time gaúcho, que contava com atletas do porte de Dunga e Branco, que depois se tornaram estrelas mundiais do futebol, por 2 X 1.

Embora vencendo o time piauiense perdeu o título no saldo de gols, já que o Rio Grande do Sul havia vencido o primeiro jogo por 2 X 0, em Porto Alegre.

Outro momento grandioso vivido no estádio foi quando o Tiradentes derrotou o Corinthians Paulista, por 2 X 1. Era o tempo da famosa “Democracia Corinthiana”, liderada pelo saudoso craque Sócrates.

Também não podem ser esquecidos outros jogos históricos pelo campeonato brasileiro: Tiradentes 1 X 0 Corinthians-SP (1973); Tiradentes 2 X 1 Botafogo-RJ (1974); Tiradentes 3 X 2 Flamengo-RJ (1975); Tiradentes 1 X 0 Palmeiras-SP (1975); River 3 X 1 Fluminense-RJ (1981) e Cori-Sabbá 1 X 0 Botafogo-RJ.

E o jogo em que a Seleção Brasileira, com três gols de Ronaldo “Fenômeno”, ganhou do selecionado da Lituânia por 3 X 0. Foi uma das melhores atuações do craque vestindo a camisa da Seleção. O time canarinho jogou outras duas vezes no “Albertão”: a primeira, em 1989, quando derrotou o Paraguai por 2 X 0. A outra, em 1991, oportunidade em que a Seleção Pré-Olímpica perdeu para a Argentina por 1 X 0.

O primeiro gol no “Albertão” foi marcado na noite de 29 de agosto de 1973 no jogo entre Cruzeiro, de Minas Gerais e Tiradentes. O autor foi Dirceu Lopes aos 17 minutos do segundo tempo, para o time mineiro. Sete minutos depois, Joel marcou para o Tiradentes e o placar final foi 1 X 1.

O Governador Alberto Silva construiu as primeiras etapas da obra. As seguintes, até chegar à capacidade total de 60 mil pessoas (hoje baixou para 40 mil), foram construídas nas administrações dos governadores Dirceu Arcoverde e Lucídio Portela.

Nos últimos tempos, pouco foi feito no “Albertão”. Partes importantes do projeto nunca foram executadas, por falta de interesse dos governos e por falta de trabalho dos clubes que não fazem boas campanhas nos campeonatos que disputam, e em consequência não  provocam ações concretas do poder público.

Neste ano de 2013, quando o “Albertão” completou 40 anos, apenas um jogo foi disputado lá: Flamengo (Piauí) 2 X 2 Santos, pela Copa do Brasil. No mais, o estádio permaneceu fechado e continua assim. Até quando, não se sabe. (Pesquisa: Nilo Dias)

A tragédia deixou um saldo de cinco a sete mortos. (Foto: Divulgação)

5 comentários:

Unknown disse...

Eu estava la neste dia, eu e minha irmã...foi uma cena que guardo na memória até hoje. Andei muito perto de cair naquele fosso fui puxada pra tras, alguém me puxou, minha irmã também alguea segurou ela pra não cair.... Nasci de novo... hoje conto a história, mas lamento pelas pessoas que morreram e as que saíram machucadas. Foi muito triste aquele dia.

Unknown disse...

Meu esposo estava presente no dia dessa tragédia, inclusive participou das preliminares por ser jogador do alto sport na época comandado pelo Tassu. Hoje ele se encontra com 72 anos e se emocionou por ver essa notícia. Seu nome; Átila.

ALEXANDRE MAGNO disse...

29.979 pagantes, mas o que se foi comentado na época é que havia MUITO mais torcedores presentes, causando superlotação. A maneira responsável da imprensa em comentar o caso, poderia ter sido censura do governo militar, outro comentário comum no Rio de Janeiro durante anos a partir de então.

Unknown disse...

Minha mãe e meu pai também tiveram nesse dia e por pouco não morreram

Unknown disse...

Helder Pontes

Meus pais também estavam lá nesse dia trágico. Foram arrastados pela multidão e minha mãe caiu. Meu pai a protegeu de não serem pisoteados. Ele conta que foi horrível e um sufoco enorme!