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quarta-feira, 6 de novembro de 2013

O “fabricante” de vitórias

Paulo de Souza Lobo, o “Galego”, foi um dos grandes técnicos do futebol gaúcho. Poderia ter feito uma carreira mais vitoriosa se tivesse aceitado os convites que lhe foram feitos por Grêmio e Internacional. Preferiu sempre treinar clubes do interior do Rio Grande do Sul. Prestou serviços em somente três cidades, Pelotas, Rio Grande e Bagé.

Eu conheci muito bem o “Galego”. Em certa ocasião fomos colegas de rádio, pois ele quando não estava treinando nenhum clube atuava como comentarista esportivo na Rádio Pelotense. Nós até chegamos a “bater” uma bolinha juntos, no time de Futebol de Salão da emissora.

Eu guardo até hoje um recorte do jornal “Diário Popular”, de Pelotas, com uma foto da equipe salonista em que “posaram para a posteridade” eu, “Galego”, Benito Amato, Amir Curi, Volney Castro e José Carlos Cortez Sica.

 “Galego” também trabalhou como motorista de taxi. Era dono de um carro no ponto frente o Bar Cruz de Malta, na esquina da XV de Novembro com Voluntários da Pátria.

Nasceu na histórica cidade de Piratini, no dia 23 de fevereiro de 1926. Ainda era criança, com apenas seis anos de idade quando se mudou para Pelotas junto com o irmão João Alfredo, após ficarem órfãos. Passou a infância como qualquer criança da época, estudando em escola pública e brincando pelas ruas nas horas vagas. E pensava em um dia ser jogador de futebol.

Começou a carreira no time amador do G.E.America, de Pelotas. Em 1944 chegou às categorias de base do G.E. Brasil. Em 1945, já era titular absoluto do time profissional, que era treinado por Francisco Duarte Júnior, o “Teté”, que depois marcou época no S.C. Internacional, de Porto Alegre, quando montou o fabuloso time que ficou conhecido por “Rolo Compressor”. “Galego” era um centro-médio de boa técnica e forte liderança.

Depois de se sagrar campeão pelotense e do Interior por diversas vezes, “Galego” foi emprestado ao E.C. Cruzeiro, de Porto Alegre, em 1950. Mas não deu sorte no “estrelado” portoalegrense, pois sofreu uma séria lesão em um dos joelhos e foi obrigado a abandonar o futebol, como atleta, aos 26 anos de idade. Como jogador do “xavante” pelotense atuou em 182 jogos e marcou 76 gols.

Mas não deixou o futebol, sua grande paixão. Tornou-se treinador, profissão onde alcançou maior sucesso que na carreira de futebolista. Começou como treinador das categorias de base do G.E. Brasil, conquistando cinco campeonatos consecutivos. Foi guindado ao comando da equipe principal em 1953.

Com a chegada do futebol de salão a Pelotas em 1955, jogou no E.C. Pelotas, de quem foi treinador do time profissional, onde continuou a sequência de conquistas, como campeão da cidade, em 1956, 1957 e 1958. Em Pelotas, também dirigiu o G.A. Farroupilha. Em Rio Grande comandou o S.C. São Paulo e o F.B.C. Rio-Grandense. Em Bagé, o G.E. Bagé e por três vezes dirigiu seleções gaúchas, chamando sempre jogadores que atuavam em clubes do interior.

Foi no Bagé que mais trabalhou. Chegou ao clube em fevereiro de 1971, levado pelo presidente Jorge Kalil, para substituir Athayde Tarouco, depois de uma derrota para o Ypiranga, de Erechim pelo Campeonato Gaúcho da Divisão de Honra, competição que o jalde-negro disputava pela primeira vez.

Seu primeiro jogo como treinador do Bagé foi no dia 10 de março de 1971, com derrota de 2 X 0 para o Brasil, em Pelotas. A estreia em casa foi em 4 de abril, nova derrota de 2 X 0, dessa feita para o Grêmio Portoalegrense. A primeira vitória ocorreu em 4 de abril de 1971, em Santo Ângelo, 2 X 1 frente o Tamoio.

“Galego” treinou o Bagé, de 1971 até 1977, tendo conquistado a “Copa Governador do Estado” em 1974 e a “Taça Cidade de Bagé”, por duas vezes, além de se sagrar campeão de grupos, tanto na Divisão Especial como na “Segundona” e ter levado o time à elite do futebol gaúcho. Os torcedores do jalde-negro passaram a chamá-lo de “fabricante de vitórias”, pois nunca antes em sua história, o clube havia alcançado tão altos patamares.

Em 1978, voltou a Pelotas. Em 1979, reassumiu no Bagé em meio ao campeonato e permaneceu até 1980, quando retornou definitivamente a Pelotas, onde trabalhou novamente na dupla Bra-Pel. Em 1983 um encontro histórico, Luiz Felipe Scolari era o técnico do Brasil e Paulo de Souza Lobo, o “Galego”, dirigia o Pelotas.

Ao todo os dois treinadores se enfrentaram em seis oportunidades. “Galego” levou a melhor, não tendo perdido nenhum clássico para o hoje treinador da Seleção Brasileira. Foram quatro empates e duas vitórias do áureo-cerúleo.

Em 1994, quando completou 50 anos de atividade profissional, "Galego" decidiu abandonar o futebol, às vésperas do jogo festivo Seleção da Rússia 2 X 1 Pelotas, no qual seria homenageado. Era 9 de fevereiro, quando a Diretoria do clube áureo-cerúleo lhe ofereceu um almoço que contou com a presença do técnico da Seleção Brasileira, na época, Carlos Alberto Parreira, e de seu auxiliar Zagalo.

O experiente treinador, que aglutinava também outros adjetivos como exigente e disciplinador, estava decidido que iria descansar na praia do Laranjal como legítimo aposentado. A decisão durou pouco tempo. No começo do ano seguinte já estava dirigindo o time do Pelotas no "Gauchão".

Dirigiu o Bagé em 311 jogos consecutivos, um recorde que persiste até hoje, com 120 vitórias, 94 derrotas e 97 empates, 314 gols marcados e 247 sofridos. Participou de 39 clássicos Ba-Guá, com 14 vitórias, 16 empates e 9 derrotas.

“Galego” foi muito mais que um treinador no G.E. Bagé. Era uma espécie de gerente. Morava na concentração junto com os jogadores e se encarregava até mesmo da alimentação dos seus comandados. Nos treinos era o técnico e ao mesmo tempo o preparador físico.

"Galego" sempre foi um faz tudo, como lembrou o saudoso cronista esportivo, Paulo Corrêa, em um comentário escrito no jornal "Agora", de Rio Grande:

"Jamais assinou contrato a valer mesmo e por isso não ficou riquíssimo. Dizia que o que vale é a palavra, porque papel se presta para tudo, até para embrulho. Não fumava, não bebia álcool nem permitia excessos nos seus jogadores, proibidos de dar pontapé. Era preparador técnico, físico, cozinheiro, dirigente, gerente, fazia rifas para ajudar o clube, cuidava da concentração, amparava famílias de jogadores, enfim, era um verdadeiro pai de todos".

Seus números como treinador impressionam. Ao todo foram 455 partidas pelos sete clubes que dirigiu. O seu trabalho mereceu o reconhecimento da Câmara Municipal de Bagé, que lhe concedeu o título de “Cidadão Bageense”, em 1977, por proposição do vereador Iolando Maurente. Em Pelotas foi homenageado com o título de “Cidadão Pelotense”, em 1988.

Era casado com Dona Geni Rodrigues Lobo, com quem teve três filhos. Morreu em 9 de outubro de 1996. Seus restos mortais estão sepultados no “Cemitério São Francisco de Paulo”, em Pelotas. “Paulo de Souza Lobo” é nome de rua, na Praia do Laranjal, em Pelotas. (Pesquisa: Nilo Dias)


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