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segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

O gol mais bonito do mundo em 2015

Wendell Silva Lira, o brasileiro que ganhou hoje o “Prêmio Puskas” do gol mais bonito do mundo em 2015, é goiano, nascido em Goiânia no dia 7 de janeiro de 1989. Com apenas 10 anos de idade começou a jogar futebol na Escolinha da Ovel, na capital goiana.

Em 2002 foi para as categorias de base do Goiás. Em fevereiro de 2006 chegou ao time titular, fazendo o jogo de estreia em uma vitória de 2 X 1 frente o Itumbiara pelo Campeonato Goiano.

Nesse jogo o Goiás poupou vários titulares, pois paralelamente disputava a “Taça Libertadores da América”. Wendell entrou no decorrer da partida.

Nesse mesmo ano foi o artilheiro e revelação do Campeonato Brasileiro Sub 20, quando marcou 7 gols em oito jogos. Em agosto de 2006passou a integrar o grupo de profissionais do Goiás, ao lado de valores como Ernando, hoje no Internacional, de Porto Alegre e Amaral, emprestado pelo Palmeiras ao Coritiba.

Em setembro foi convocado para a Seleção Brasileira Sub-18, que disputou a Copa Sendai, ao lado de Alexandre Pato, Ernando e Leyrielton. Graças ao seu bom desempenho na competição recebeu proposta para jogar no Milan, da Itália.

Seu primeiro jogo como profissional foi em 12 de maio de 2007, pelo Campeonato Brasileiro, com derrota de 2 X 0. Estava no banco de reservas e entrou aos 18 minutos do segundo tempo para substituir Fabrício Carvalho.

Ele foi uma das principais promessas de uma geração do Goiás que revelou nomes como o zagueiro Rafael Toloi e o lateral-direito Douglas, que estão atualmente no futebol europeu.

Em janeiro de 2007, mesmo tendo idade para disputar a Copa São Paulo de Juniores, ficou em Goiânia com o elenco profissional a pedido do técnico Geninho. Em novembro sofreu uma entorse no joelho direito e rompimento do ligamento cruzado anterior. Terminou uma temporada sem conseguir se firmar, devido as seguidas lesões musculares que sofreu.

Em janeiro de 2008 foi submetido à primeira cirurgia no joelho. Em outubro voltou a jogar no sub-20 para pegar ritmo e confiança após a cirurgia. Em março de 2009 Wendell voltou a sofrer com lesões no Campeonato Estadual.

Em março de 2010, com a chegada do volante Wendel, vindo do Palmeiras passou usar o nome de Wendell Lira, que desde hoje passou a ser conhecido mundialmente após ter sido laureado com a escolha de seu gol contra o Atlético Goianiense, como o ganhador do “Prêmio Puskas”.

Em junho pediu para treinar em separado e foi emprestado ao Fortaleza, para as disputas do Brasileiro da Série C, voltando ao Goiás em outubro. Em dezembro casou-se com Ludymila Miranda. Em janeiro de 2011, sofreu nova entorse no joelho direito, com rompimento de ligamento, tendo que passar por uma outra cirurgia.

O seu contrato com o Goiás terminou em janeiro de 2012 e não foi renovado. Foi então contratado pelo Atlético, de Sorocaba (SP), por quem disputou o Campeonato Paulista da Série A2.

Depois se transferiu para o Trindade, tendo disputado a Divisão de Acesso do Campeonato Goiano. Em janeiro de 2013 trocou de time novamente, indo para o Goianésia, pelo qual disputou o “Goianão” e a Série D do Campeonato Brasileiro.

Outra vez não deu sorte. Em fevereiro de 2013 fraturou o ombro em choque com o goleiro Harlei, do Goiás, em jogo do Campeonato Goiano, tendo que passar de novo por cirurgia. Em maio nasceu a sua filha com Ludymila, a pequena Marcela, hoje com dois anos de idade.

Em setembro foi para o Novo Horizonte de Ipameri, time pelo qual conquistou o título de campeão goiano da Terceira Divisão de 2013. Em janeiro de 2014 foi para o URT, de Patos de Minas, por quem disputou o Campeonato Mineiro . Em maio já estava na Anapolina, de Anápolis por onde jogou o Brasileiro da Série D

Em janeiro do ano passado estava de volta ao Goianésia para disputa do Campeonato Goiano. No dia 11 de Março marcou o gol antológico no “Serra Dourada”, contra o Atlético Goianiense, que mudou a sua vida.

A vida dá muitas voltas. Antes de acertar com o Goianésia Wendell havia abandonado o futebol atendendo um pedido da mãe, Edileuza, que chorando disse não aguentar mais vê-lo sofrer tanto. Tentar, tentar e nada dar certo.  Por quase dois meses o atacante trabalhou com Dona Edileuza e a esposa Ludymila em uma lanchonete no condomínio onde mora, em Goiânia.

Tinha que acordar todos os dias às cinco e meia e ia dormir meia noite. Como era muito puxado passar o dia inteiro na lanchonete, achou por bem voltar ao futebol. E retomou a carreira.  

Em maio foi contratado pela Tombense, de Minas Gerais que participou do Campeonato Brasileiro da Série C. Em Julho rescindiu com o time mineiro, ficando desempregado. Mas depois disso começaram às notícias boas. No dia 6 de novembro ficou sabendo que o eu gol estava na lista de 10 indicados pela Fifa para concorrer ao “Prêmio Puskas”.

No dia 11, foi contratado pelo Vila Nova, de Goiânia que foi campeão da Série C e subiu para a Série B do Campeonato Brasileiro. Outros times das Série B e C e equipes goianas o procuraram, mas preferiu o Vila Nova.

No dia 30, o número de gols concorrentes foi reduzido para três e o goiano ficou ao lado de Messi e do italiano Florenzi. A viagem para Zurique estava garantida

Em dezembro começou a treinar entre os garotos do time Sub-20 do Vila, para chegar em forma na pré-temporada

Hoje, com 27 anos de idade, ele ganhou o “Prêmio Puskas”, alcançando 46,7% dos votos, contra 33,3% do segundo lugar, Lionel Messi. Antes dele, apenas um brasileiro levou o título, Neymar, em 2011.

Wendell conta que soube que seu gol havia sido escolhido como concorrente ao “Prêmio Puskas”, quando estava almoçando na casa da sua mãe. O telefone tocou e ele não quis atender. Achou que era uma pegadinha. Só depois que entrou na Internet viu que era verdade.

Depois veio uma carta da Fifa com as explicações, de como seria, quando. E ainda um telefonema da secretária da Fifa, informando as mesmas coisas.

O autor do gol mais bonito de 2015, não usa de falsa modéstia e o considera muito bonito, não só pela finalização, mas pela jogada em si, pela triangulação, o passe perfeito e, num estilo brasileiro, teve o instinto e pode fazer aquele voleio, aquela meia bicicleta.

E hoje lá estava ele em Zurique, na Suíça, vivendo um sonho até então improvável, virar estrela num universo de gente famosa, como Messi, Cristiano Ronaldo e Neyma, com quem aproveitou para tirar fotos. Na véspera da solenidade ele confessou que estava um pouco nervoso. Sua esposa passou muito mal na viagem, vomitou e estava bastante ruim no quarto. Foi a primeira vez que ela viajou de avião.

Na solenidade Wendell apareceu bem vestido, usando um terno normal, preto, camisa branca e gravata. Conta que muitas pessoas o ajudaram, tendo ganhado dois ternos de uma loja de Goianésia.

O jogador admitiu que não tinha o que vestir na festa, quando em uma entrevista na TV Bandeirante, soube pelo apresentador Neto, que uma loja de Goianésia lhe forneceria os ternos sob medida, em troca de propaganda. A esposa dele também foi bonita, com um vestido vermelho longo, escolhido pelo próprio jogador.

Ela queria ir de preto, mas Wendell achou que preto não é um tom tão adequado para um momento como o de hoje. O vermelho é um tom vivo, que demonstra paixão e é isso que ele sente pelo futebol e pela vida.

Wendell conta como aconteceu o seu magistral gol. O lance contra o Atlético Goianiense ocorreu na nona rodada da primeira fase do Campeonato Goiano, no dia 11 de março. Tudo começou com Nonato, que evitou a saída de bola na linha de fundo. Ele ainda tabelou com Da Matta, que tocou por cobertura para Wendell Lira.

Em velocidade, o jogador estava ultrapassando a linha da bola, mas se virou com uma meia-bicicleta e marcou um golaço. Wendell Lira admitiu que não conseguiu ver na hora o que considera o gol mais bonito da sua carreira e reconhecido internacionalmente como o mais bonito de 2015.

O sonho de Wendell não é diferente da maioria dos jogadores brasileiros, um dia poder jogar na Europa. Espera que a conquista de hoje possa lhe dar algo mais na carreira que nunca chegou a decolar. Confessa que desde pequeno sempre pensou na Europa.

Acha que os campeonatos da Itália, Espanha e França são todos muito bons, mas ele é fã do Campeonato Espanhol. Sempre acompanha os jogos do Barcelona e Real Madrid. Gostaria de jogar na Espanha, que considera o local ideal para ele.

É verdade que o seu salário melhorou com a nomeação para o “Prêmio Puskas”, mas consegue ser inferior àquilo que Messi e CR7, por exemplo, ganham apenas em uma hora por dia. No Goianésia ele ganhava de 3 mil a 4 mil por mês limpos.

Hoje ganha um pouco acima, mas não é muito mais, segundo ele o suficiente para sobreviver e dar uma vida melhor para a sua família. Também apareceram propostas de lojas de roupas e marcas de Goiânia para trabalhar com ele, que estuda qual a melhor.

Já Messi e CR7 ganham cerca de €18 milhões limpos por ano (R$ 78,6 milhões), o que dá R$ 6,5 milhões por mês e cerca de R$ 220 mil por dia. Em cada hora das 24 que tem um dia, os maiores astros do Real Madrid e Barcelona recebem aproximadamente R$ 9 mil reais, o dobro do que ganha Wendell Lira no mês.

Wendell diz ser fã de Cristiano Ronaldo, que considera o jogador mais completo do mundo e de Marcelo, lateral-esquerdo, ambos do Real Madrid.

Para provar que o seu gol não foi mero acaso, Wendell o repetiu quando de uma entrevista exclusiva para o “Esporte Espetacular”. Ele tentou, e conseguiu repetir a façanha da meia-bicicleta que lhe colocou entre os três finalistas do “Prêmio Puskas” e a consequente conquista.

O autor do gol mais bonito do mundo na temporada atribui à "infância sapeca" a capacidade de improviso no lance do gol. Passou a infância em Goiânia. Sempre jogou bola na rua, terrão, cansando de perder os tampões dos dedos no asfalto, nas quinas de meio-fio. Mas garante que foi uma infância bacana.

Um período que descreve como feliz e de bastante apoio da mãe Maria Edileuza e dos irmãos Paulo Roberto, mais velho, e Thalles Rodrigo, mais novo. Do pai, sabe pouco. Caso esteja vivo, Wendell acredita que José Lira Filho esteja no Pará. Ele nunca mais entrou em contato com a família.

O voto que consagrou o gol de Wendell Lira foi popular, através das redes sociais. Ele ganhou a adesão de vários blogs e também de emissoras de rádio e TV que dispararam uma campanha pedindo para os brasileiros acessarem o site oficial da Fifa e votarem nele.  E deu certo. O autor desta matéria também votou no seu gol.

Não foi a primeira vez que Wendell viajou ao exterior. Ele já havia ido ao Japão e também a Ilha de Malta. As despesas todas da viagem de agora a Suíça foram bancadas pela Fifa. O jogador não teve custo nenhum.

Quando o apresentador anunciou que ele era o vencedor do “Prêmio Puskas”, Wendelle estava sentado ao lado da mulher, Ludymila Miranda. Ele usava um fone de ouvido, com a tradução simultânea da cerimônia da “Bola de Ouro”.

Ao ouvir seu nome, fechou os olhos, se levantou, beijou a companheira, abotoou o paletó e seguiu para o placo. Cumprimentou o japonês Nakata, que lhe entregou o troféu e enxugou uma lágrima antes de falar.

Wendell preparou um discurso com uma passagem bíblica. Com o queixo tremendo, o jogador goiano segurou as lágrimas e terminou o texto que preparou. Não soluçou ou gaguejou. Até o fim do discurso, olhou a plateia com os olhos vermelhos, denunciando a vontade de cair no choro no momento mais importante da carreira.

Leia, na íntegra, o discurso de Wendell

"Queria, primeiramente, agradecer a Deus por este momento único na minha vida. Poder estar aqui conhecendo grandes jogadores que são meus ídolos, que eu conhecia só de videogame e hoje estou aqui conhecendo pessoalmente.

Queria agradecer muito à minha família, à nação brasileira que votou em mim, à minha esposa e minha filha, que são tudo para mim. Minha filha Marcela está em casa esta hora. Queria deixar uma passagem bíblica.

Quando Golias apareceu, todo mundo olhava para ele e falava: 'ele é muito forte. Ele é muito grande, não tem como ganhar dele'. E Davi, quando olhou para Golias, disse: 'ele é muito grande, não tem como errar'. E assim temos de lidar com nossos problemas diários na nossa vida. Assim, agradeço a todos. Muito obrigado." (Pesquisa: Nilo Dias)

Wendell marcou o gol mais bonito de 2015, no mundo. (Foto: Jornal "O Popular", de Goiânia)

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