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sexta-feira, 11 de outubro de 2019

O futebol feminino no Rio Grande do Sul

Não se sabe muito sobre o futebol praticado por mulheres no Rio Grande do Sul. Os registros encontrados são poucos. O que se sabe de real é que os primeiros registros sobre o futebol feminino no Rio Grande do Sul são de 1950 e mostram que em Pelotas dois clubes praticavam o esporte: o Vila Hilda Futebol Clube e o Corinthians Futebol Clubes, ambos fundados em abril daquele ano.

Isso foi até tema de uma reportagem que publiquei neste espaço, destacando que as duas agremiações eram bem organizadas, tinham sede própria e também equipes de futebol masculino.

Os times femininos duraram até que houve a proibição oficial deste esporte para mulheres. Notícias só voltaram a aparecer na década de 1980, após o término da proibição oficial.

Neste período surgiu em Porto Alegre a equipe “Pepsi-Bola”, que em 1983, tornou-se a equipe de futebol de mulheres do Sport Club Internacional comandada por Rosa Dutra.

Outra equipe também despontou com o intuito de fazer oposição ao recente clube do “Pepsi”, a equipe de futebol do Independente que mais tarde assumiria o escudo do Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense.

Foi neste mesmo ano que surgiu o primeiro Campeonato Gaúcho de Futebol Feminino que teve a participação de cinco equipes: o S.C. Internacional e o Grêmio Football Porto Alegrense, ambos de Porto Alegre, o Esporte Clube Internacional de Santa Maria, o Cerâmica Atlético Clube de Gravataí e o Clube Esportivo Bento Gonçalves da cidade de Bento Gonçalves.

Por mais incrível que possa parecer, não se encontrou em nenhum lugar qualquer menção a essa competição nos anos de 1984 a 1996. Não se sabendo resultados dos jogos e nem quem foi campeão.

Foram encontrados registros dessa competição apenas em 1997, embora Grêmio e Internacional tenham criado nos anos 1990 os seus Departamentos de Futebol Feminino garantindo apoio as equipes formadas por mulheres, tais como espaço para treinamentos, fornecimento de materiais esportivos, assim como
os uniformes de treino e de jogo, além da existência de comissões técnicas especializadas.

Sabe-se que no ano de 1993 foi convocada a primeira Seleção
Gaúcha de Futebol Feminino. Ela representou o Rio Grande do Sul em um torneio nacional de seleções, que reuniu equipes de Estados brasileiros.

Depois dessa competição surgiram equipes no Estado tais como a do Sport Clube Rio Grande, do Internacional e do Grêmio.

O desenvolvimento do futebol feminino em terras gaúchas, deve-se ao protagonismo de Eduarda Maranghelo Luizelli, a “Duda”, ex-jogadora de futebol, que no ano de 1996 assumiu a frente na retomada do Departamento de Futebol Feminino do Sport Club Internacional.

“Duda”, participou diretamente da reabertura do Departamento de Futebol Feminino do clube e ajudou a difundir a modalidade. O encerramento das atividades do Internacional aconteceu em 2004 e só foi novamente retomado no ano de 2017, outra vez por intermédio de “Duda”, que tornou-se referência da modalidade no Estado.

Destaque também para a criação da Associação Gaúcha de Futebol Feminino em 28 de abril de 2010, entidade que assumiu a
organização do campeonato gaúcho em todos os níveis, desde as categorias de base sub-15 e sub-17 até a categoria principal. Desde então o campeonato gaúcho não sofreu nenhuma interrupção.

A trajetória de Maria Ivete Gallas, outra atleta de destaque no futebol feminino, colaborou para a estruturação da modalidade no Brasil e no Rio Grande do Sul.

Maria Ivete Gallas nasceu em 4 de novembro de 1968, em São José do Sul interior da cidade de Montenegro (RS), sendo a quinta filha de uma família de seis irmãs e um irmão, filhas e filho de Fridolino Romeu Gallas e Ilse Terezinha Gallas.

Ivete, iniciou seus primeiros contatos com o futebol através de brincadeiras com suas irmãs e irmão. Aos 12 anos de idade, incentivada pela irmã Maria Iris Gallas, Ivete passou a integrar
a equipe de futebol vinculada a uma fábrica de taninos, na cidade de Montenegro denominada de “Tanac”.

A empresa fundada em 1948 iniciou a produção de extratos vegetais de acácia negra em Montenegro. Sua produção era direcionada à indústria coureira, ao tratamento de águas de abastecimento e de efluentes industriais, além de condicionadores de lama para perfuração de poços de petróleo, adesivos para madeira, entre outras aplicações.

Ivete relatou participações em jogos e torneios com a equipe do “Tanac”, treinava aos sábados e jogava aos domingos, Durante a semana frequentava a escola, e às vezes não ia à aula aos sábados para poder treinar.

Diante da incerteza da continuidade das competições, o futsal de traduzia em uma alternativa para continuarem competindo no Estado. Em 1993, Ivete contou que não haviam mais equipes de futebol de mulheres no Rio Grande do Sul competindo, por isso a adesão ao futsal com a equipe “Funil/Kombisul” de Alvorada.

As atividades do futebol de campo estavam estagnadas no Estado desde 1987. As atletas que compunham os departamentos dos clubes migraram para o futsal para que pudessem se manter em atividade.

Foi somente no ano de 1993 que a Federação Gaúcha de
Futebol realizou uma peneira com vistas a participar da “I Taça Havelange”, competição nacional que correspondia ao campeonato brasileiro.

Ivete relembrou que foi realizada uma seletiva para reunir a seleção gaúcha: eles convocaram as atletas para fazer uma peneira lá no campo suplementar do Beira-Rio. Ela chegou lá e era tanta mulher no campo que o pessoal conhecido só ria. Era muita gente, todo mundo queria ser da Seleção.

Nesse mesmo período Ivete também participou do Campeonato Estadual de Futsal, atuando na equipe “Funil/Kombisul”, de Alvorada que tinha como grande rival a equipe “Sociedade Esportiva Recreativa Bruxas”, composta por suas colegas de equipe na seleção gaúcha, “Duda”, Maria Giovana e Bel.

No campeonato brasileiro de Futsal disputado em Itapeva, Ivete narrou a importância dessa competição em sua trajetória, pois foi nesse momento que conheceu Romeu Castro, na época, presidente do SAAD e organizador do campeonato da FIFUSA.

O Romeu tinha feito levantamento no histórico do brasileiro de campo e Ivete não estava sabendo disso. Após o primeiro contato com ele a equipe do SAAD foi a Porto Alegre disputar um torneio
realizado com equipes de São Paulo, Porto Alegre e Curitiba.

E foi nesse torneio que Ivete recebeu a proposta para integrar a equipe do SAAD. Devido a uma lesão no joelho não conseguiu manter-se nos treinamentos e acabou optando por investir na gestão esportiva do clube.

O SAAD Esporte Clube foi pioneiro em categorias de base no futebol de mulheres. Grande parte dessa organização se deu pelo empenho de Ivete que ao longo do tempo administrou as categorias de base dessa equipe assim como geriu o Centro de Treinamento do SAAD.

Em 1998, Ivete retornou a Porto Alegre e começou a acompanhar os treinamentos do Grêmio Foot-ball Porto Alegrense. Em seguida foi convidada a treinar essa equipe na qual se tornou campeã gaúcha em 2001.

Analisar a trajetória de Maria Ivete Gallas no contexto histórico permitiu reconstruir a história do futebol de mulheres no Rio Grande do Sul. Os poucos registros oficiais encontrados demonstram a necessidade de que se criem estratégias de visibilidade para o futebol praticado por elas.

Conhecer e reconhecer a trajetória de mulheres que fizeram e fazem a história do futebol torna-se uma estratégia importante uma vez que acabam por constituir as fontes de pesquisa e registros desse esporte no Rio Grande do Sul e no Brasil. (Pesquisa: Nilo Dias)

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