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sexta-feira, 10 de janeiro de 2020

O criador do Campeonato Gaúcho de Futebol

O ano passado o “Campeonato Gaúcho de Futebol” completou 100 anos de existência. A primeira edição, realizada em 1919,  teve o Brasil, de Pelotas como vencedor, com uma goleada de 5 X 1, sobre o Grêmio.

O criador do torneio foi um bajeense, Aurélio de Lima Py, que foi o primeiro presidente da “Federação Gaúcha de Futebol” (FGF), na época, chamada de “Federação Rio-Grandense de Desporto” (FRGD), fundada no dia 18 de maio de 1918. Ocupou o cargo de 18 de maio de 1918 a 18 de maio de 1922.

Documentos históricos da FGF, mostram que a expectativa inicial era de que o primeiro campeonato fosse disputado em 1918, justamente o ano em que a entidade foi criada. 

Mas ninguém esperava que os danos causados pela gripe espanhola, que se espalhou pelo Estado e pais, fossem tão graves a ponto de causar o cancelamento da competição.

Quando da ideia de se criar um “Campeonato Gaúcho”, o vice-presidente da Federação era o pelotense Francisco Simões Lopes, tendo Washington Martins, como tesoureiro e Nestor Fontoura e José Revello, como secretários.
Aurélio Py tinha profundas ligações com o Grêmio. 

Tanto é verdade, que 28 anos depois da criação da FRGD recebeu o título de patrono do clube em sessão do Conselho Deliberativo, em 30 de julho de 1946. Pena é que tenha desfrutado da honraria por apenas três anos, uma vez que morreu em Porto Alegre, no dia 29 de agosto de 1949.

Conforme dados disponibilizados pelo “Memorial do Grêmio”, Aurélio de Lima Py nasceu na  “Estância da Candiota”, em Bagé, no dia 10 de fevereiro de 1882. Ele estudou na “Escola Brasileira”, concluindo o curso primário em 1892.

Depois fez o “Curso de Humanidades” com exames parcelados em Porto Alegre e Rio de Janeiro, em fevereiro de 1900. Na capital carioca, ingressou, no mês seguinte, na “Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro”.

Em 27 de novembro de 1905, defendeu a tese “Estudo Clínico da Aortite Atheromatosa” e recebeu o grau de "Doutor em Medicina". Ao retornar para o Rio Grande do Sul, casou-se com Celina Piegas Tavares, em 10 de dezembro de 1906 em Porto Alegre.

O casal teve quatro filhos: Ecyla, Cléa, Ayrton e Cely. Em março de 1907, foi contratado como professor da “Faculdade de Medicina de Porto Alegre”. Um ano depois, passou em concurso para o cargo de professor catedrático da “Clínica Propedêutica Médica”.

Ainda na carreira da Medicina, foi provedor da “Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre”, entre 1925 e 1930. Em 1938, foi nomeado reitor da “Universidade do Rio Grande do Sul”, tendo sido o primeiro médico a assumir o cargo. E 13 anos depois, a instituição foi federada.

No dia 4 de agosto de 2010, em sessão solene na “Assembleia Legislativa”, em homenagem aos 80 anos do “Hospital São Francisco”, Py foi homenageado em memória.

Na atividade política, fez parte do “Partido Republicano Liberal” (PRL). Na “Assembleia Legislativa”, cumpriu mandato como deputado entre 1924 a 1937. Mas em meio a vida pessoal, profissional e acadêmica, o futebol sempre foi sua eterna paixão.

Seus serviços prestados ao Tricolor porto-alegrense foram amplos. No quadro social desde 1910, exerceu a função de presidente em 1912-1913, 1915, 1919-1922, 1929-1930.

Depois de 100 anos dos feitos de Aurélio de Lima Py, o futebol permanece vivo na corrente sanguínea de familiares. O sonho de ser bem sucedido dentro do esporte levou o tataraneto a seguir o mesmo objetivo, porém, com um caminho bem diferente.

Radicado nos Estados Unidos, desde 2002, Roberto Moreira Linck Júnior, 30 anos, conhecido como "Roberto Linck" ou "Betu", decidiu fundar seu próprio clube: o “Miami Dade F.C.”. A criação ocorreu no dia 20 de maio de 2014. Hoje, ele é dono e jogador da equipe.

Natural de Cachoeira do Sul, Linck vive nos EUA desde os seus 13 anos, acompanhado da família. Apaixonado por futebol, começou no futebol de salão profissional, pelo “Chicago Storn”, e no “CSM Ramnic Valcea”, da Romênia.

Em 2010, assinou contrato na” Major League Soccer” (MLS), principal liga do país, para jogar pelo “New England Revolution”. Porém, em 2011, sofreu uma lesão grave no tendão e afastou-se do futebol profissional.

A ideia de criar um time começou quando um amigo seu, que é dono de um grupo em Boston, lhe falou da necessidade de começar a pensar no futuro. Disse que um dia o futebol vai acabar. E se começar agora, daqui a 10, 20 anos, estará muito a frente nos seus projetos. E aconselhou que não esperasse tua carreira acabar para fazer isso.

Então, quando se machucou, aproveitou esse tempo para criar seu projeto, que é o “Grupo Linck".

E do Grupo Linck, surgiu a criação do “Miami Dade FC”, que é vinculado à “United Premier Soccer League” (UPSL), das divisões inferiores nos EUA. Em pouco tempo, conquistou a “National Adult League” (NAL), uma espécie de quarta divisão.

Hoje, ele tem como sócios, no clube, dois ex-jogadores: o volante Emerson e o meia Fábio Simplício. Mas o “Grupo Linck” tem um conceito muito mais amplo, com ênfase, também, com tecnologia, moda, eventos e gestão de talentos. A empresa tem sede em Miami, Flórida, porém, há uma extensão no Brasil, com investimentos da família.

Um dos aplicativos mais conhecidos, desenvolvidos pelo “Grupo Linck”, é o “Ginga Scout”, que consiste em proporcionar uma rede de contatos de jogadores com treinadores, olheiros e investidores.

A ideia partiu num diálogo entre Linck e o ex-lateral esquerdo Roberto Carlos. Perguntou ao ex-craque sobre quantos jogadores lhe pediam oportunidade. Ele disse que eram muitos, mas que conseguia ajudar um que outro.

Daí, veio a ideia do “Ginga Scout”. O jogador se registra e a empresa encaminha o contato para vários treinadores e olheiros do mundo inteiro. A família já possuia no Brasil a “Softmovel, que é administrada pelo seu pai e por um tio.

Dessa forma, Linck concilia os negócios empresariais com a paixão pelo futebol. Agora, com uma visão mercadológica do segmento, ele aponta que o futebol norte-americano tem crescido exponencialmente nos últimos anos.

Ele acredita que o "salto" se deu quando o meio-campista inglês, David Beckham acertou para jogar pelo “Los Angeles Galaxy”, em 2007, na MLS. Linck chegou aos Estados Unidos com 13 anos, em 2002.

Na época, o futebol não era nem perto do que é hoje, pois evoluiu muito. O impacto foi com o Beckham. O noticiário só falava de futebol, foi um pulo gigantesco. Hoje, o futebol está por todos os lados na cidade, com gente jogando. Hoje, os clubes tem grandes torcidas e há um interesse muito maior.

Sobre a semelhança com Aurélio de Lima Py, sobre a paixão com futebol, Linck afirma que  o tataravô, que tem uma grande história,  foi sempre uma referência para ele. Sempre as pessoas que o procuram, falam das semelhanças entre ambos.

Aurélio Py trabalhava com um clube no Sul do Brasil e Linck trabalha com um do Sul dos Estados Unido. Garante que se espelha nele e espera que um dia consiga fazer, nos Estados Unidos, o mesmo que ele conseguiu no Grêmio. E quanto a Bagé, disse que gostaria muito de visitar a cidade, um dia. (Pesquisa: Nilo Dias)


Aurélio Py, o gremista que foi o primeiro presidente da hoje Federação Gaúcha de Futebol

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