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segunda-feira, 17 de março de 2008

Íbis, o pior time do mundo (Parte II)

Com o passar dos anos a fama de pior time do mundo se consolidou tanto, que numa jogada de marketing o clube resolveu explorar isso comercialmente. Hoje se trata de uma marca registrada, não só no Brasil, como em todo o mundo. O clube dá força a essa condição ao escolher como slogan a frase: “O importante não é competir, mas sim existir”.

Nessa trajetória de quase 70 anos, não foram unicamente tristezas. Algumas poucas alegrias também fizeram a história do clube: Vice-Campeão Pernambucano da 2ª Divisão, em 1999 (perdeu a final para o Ferroviário de Serra Talhada); Campeão do Torneio Início em 1948 e 1950; Campeão do Torneio Incentivo em 1975 e 1976 e Campeão Pernambucano de Juniores em 1948 e 1995.

O torcedor mais importante do Íbis foi o governador Miguel Arraes, já falecido. Quando Arraes estava exilado na Argélia, em 1978, recebeu das mãos de seu filho uma revista “Placar”, com matéria sobre o folclórico “Chico do Táxi”, até então o único fiel torcedor do Íbis. Miguel Arraes, ao ler a matéria teria dito para o filho: "Agora, o Íbis tem dois torcedores".

Recentemente o Ibis ganhou um novo e influente torcedor, Pedro Arraes, filho do ex-governador Miguel Arraes, que recebeu dos dirigentes do “Pássaro Preto” a carteira de sócio e a camisa oficial do clube. Quanto à torcida, é incrível, existe, embora não vá aos jogos. Aquela residente no Brasil já se acostumou as derrotas e não se importa mais quando elas acontecem. O Ibis agora tem torcedores até em Portugal e na Holanda, que choram, ficam indignados e enviam telegramas de protesto quando o time ganha, “pois quebra a tradição”.

Mas torcedor, torcedor mesmo, de ir ao campo em todos os jogos, o Íbis só teve um: o motorista de táxi Francisco Imperiano, o “Chico do Táxi”. Mas nem ele escapou de cair em tentação. Quando se dirigia ao estádio da cidade de Paulista para assistir a mais uma derrota do Íbis, ele foi parado na rua por um passageiro que queria, de qualquer maneira, ir para João Pessoa, no vizinho Estado da Paraíba. Chico tentou resistir e pediu um preço absurdo. O homem aceitou. Pediu cinqüenta por cento no ato e o homem pagou.

Sem escolha, com o táxi a caminho da Paraíba, ele ligou o rádio e foi ouvindo o jogo. Na altura do município de Igarassu, o Íbis fez um gol. Chico foi para o acostamento, parou o carro, saltou e começou a gritar, a urrar e a dançar. O passageiro, assustado, pegou a mala e deu no pé. Chico deu meia-volta e ainda chegou ao estádio a tempo de ver o fim do jogo. O passageiro nunca mais apareceu.

Passaram pelo Ibis alguns nomes que fizeram história no futebol brasileiro: Bodinho, artilheiro do S.C. Internacional, de Porto Alegre nos anos 50; Vavá, centro-avante do Vasco da Gama e Seleção Brasileira, nos anos 50 e 60; Rildo, lateral-esquerdo que jogou pelo Santos, Botafogo e Seleção Brasileira e Vasconcelos, atacante que também defendeu o Santos.

Embora esses jogadores tenham alcançado grande sucesso profissional em outras equipes, nenhum deles representou tanto para o Íbis quanto o folclórico meia-esquerda e camisa 10, Mauro Shampoo, considerado o maior ídolo do clube em todos os tempos, embora tivesse marcado um único gol em toda a sua carreira de jogador profissional. Foi o gol de honra, na goleada de 8 X 1 sofrida frente o Ferroviário do Recife.

Shampoo teve uma infância pobre, cresceu trabalhando como engraxate na praia de Boa Viagem, no Recife, onde nos fins de tarde jogava peladas na areia. Ainda jovem aprendeu o ofício de cabeleireiro, que até hoje lhe garante o sustento. Sua grande paixão, porém, sempre foi o futebol. Durante 10 anos jogou pelo Íbis Sport Club, o time do seu coração, como diz até hoje.

Shampoo não é mais simplesmente o maior jogador da história do Íbis. É também ator cinematográfico. Os produtores Paulo Henrique Fontenelle e Leonardo Cunha Lima fizeram o documentário em curta metragem "Mauro Shampoo, jogador, cabeleireiro e homem". O título reproduz a maneira como o próprio personagem se define. Ao atender o telefone em seu salão, numa galeria no Terminal de Boa Viagem, diz: “Mauro Shampoo, jogador do Íbis, cabeleireiro, homem e um dos piores jogadores da história do futebol brasileiro". A trilha sonora do filme é de autoria de Oswaldo Montenegro, onde se destaca a música “A incrível história de Mauro Shampoo”, gravada em CD o ano passado.

No salão de Mauro, onde a clientela só fala de futebol, podem ser vistas mais de 500 fotografias do Íbis, inclusive algumas atuais onde aparece seu filho, Homed Thorpe, também centro-avante e que joga no Íbis, pensando em repetir “os feitos” do pai. Além de Shampoo, outra "grande" vedete do time foi o goleiro Jagunço, que sofreu 366 gols com a camisa rubro-negra. O substituto, Eudes, levou 129 gols entre 2003/2004.

A Diretoria do Íbis tem alguns planos ambiciosos para este ano de 2008: a publicação de um livro contando a vida do clube, o lançamento de um DVD histórico, comemorativo aos 70 anos de fundação, além de uma excursão para o exterior e a construção de um estádio próprio. Hoje, o Íbis realiza seus jogos em Paulista, na Região Metropolitana do Recife.

Se o Íbis não faz bonito no jogo, agora faz na apresentação. Por iniciativa do norte-americano Michael Getchell, que morou alguns anos em Pernambuco, o clube recebe seu material esportivo da multinacional Umbro. Já vão longe os tempos em que, como num jogo contra o Sport, no estádio da Ilha do Retiro, seus atletas entraram descalços no gramado, porque o time não tinha dinheiro nem patrocinador para pagar as chuteiras. (Texto e Pesquisa: Nilo Dias)

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