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segunda-feira, 17 de março de 2008

Íbis, o pior time do mundo (Parte III - Final)

O folclore também acompanha a vida do Ibis. Em 20 de julho de 1980 ele derrotou o Ferroviário, num jogo nos Aflitos, gol do atacante Almeida. Ansioso, Almeida esperou os jornais do dia seguinte para ler o comentário do jogo, pois sonhava em se transferir para uma grande equipe. E foi surpreendido com a informação errada, que atribuía o gol a um certo Valdir, que sequer jogou. Havia sim, Valdísio, parecido fisicamente com o desiludido Almeida.

Depois de uma vitória sobre o Náutico, os dirigentes e jogadores do Íbis foram comemorar num restaurante no bairro de Santo Amaro, tudo patrocinado por Leça, um vendedor de maçãs que ajudava o clube. O Sport, interessado no resultado deu Cr$ 5 mil para cada jogador ibiano. E até Amaro Silva, um dos fundadores, foi acordado em sua casa e levado para participar da festa. Mas como alegria de pobre dura pouco, o Íbis acabou perdendo os pontos no TJD, por ter escalado de maneira irregular o misto de jogador e marinheiro, Altino.

Uma goleada de 11 X 0, sofrida ante o Sport, foi creditada ao fato do jogo ter sido retardado por mais de uma hora, pela descoberta de uma casa de marimbondos, numa das traves do campo, exatamente onde estava o goleiro do Íbis. O árbitro teve que pedir socorro ao Corpo de bombeiros para poder recomeçar o jogo.

Mas o goleiro do Íbis passou o jogo todo ameaçado por dois ou três marimbondos que escaparam da blitz e retornaram a procura da casa. E outra coisa não fez, do que se esquivar dos ferrões. Ocupado em fugir dos marimbondos, deixou a goleira livre para alegria dos atacantes adversários.

Um dos episódios mais hilariantes envolvendo o Íbis aconteceu no início dos anos 70. O então chamado ”rubro-negro de Santo Amaro”, foi ao Estádio do Arruda para enfrentar o Sport. O treinador Batista levou um susto ao ver que não havia chuteiras suficientes para todo o time. A solução foi pedir ao adversário, seis pares de chuteiras emprestados.

Como o Sport levava o Íbis de barbada, pois na rodada anterior havia levado 6 X 0 do Náutico, cedeu o material, sem imaginar que estava botando asa para formiga voar. O Íbis venceu por 1 x 0, gol de Antônio Carlos, hoje advogado. Debaixo de vaias, o então técnico do Sport, que também dirigiu a seleção Brasileira, Zezé Moreira, jogou um caixão sobre os revoltados torcedores.

Numa das vitórias do Íbis sobre o Náutico, aconteceu um caso inusitado. Estava tudo pronto para o início do jogo, quando o juiz chamou a atenção para a falta de goleiro no time rubro-negro. Imediatamente foi chamado o reserva Banana, que há muito tempo não jogava e nem treinava. Entrou em campo só para completar os 11, pois era para perder mesmo e não faria diferença quem estivesse jogando.

Mas não foi isso que ocorreu em campo. O íbis segurou o ataque do Náutico de maneira quase heróica, com Banana operando verdadeiros milagres e os zagueiros dando chutões para todos os lados. Aos 43 minutos do segundo tempo, o improvável aconteceu: no único chute que deu, o Íbis fez 1 X 0 e o jogo acabou assim. Foi uma festa sem tamanho para a torcida ibiana: “Chico do Táxi”, o presidente do clube e três familiares.

Em outra ocasião jogavam Santa Cruz e Íbis, no Arruda. Os torcedores “corais” ocupavam todos os espaços. No meio deles “Chico do Táxi”, o torcedor número um do Íbis. Num contra ataque o rubro-negro fez gol e ele comemorou, chamando a atenção dos adversários. Só não foi linchado porque um torcedor mais ajuizado o salvou: “Se a gente matar esse cara, mata a torcida inteira do Ibis”.

Há coisas difíceis de explicar, como a decisão do jornaleiro Carlos Andrade, que era torcedor do Sport, e depois de assistir uma partida entre os dois rubro-negros, em 1988, trocou de time, mesmo com a goleada de 10 X 1 sofrida pelo Ibis. Ele garante que foi amor a primeira vista. É capaz de deixar sua casa, no distante bairro de Águas Compridas, para ver o Íbis jogar pela Segundona. Assim o fez, num feriado: foi a Paulista, em pleno domingo de Páscoa. Se diz fã do Íbis na vitória ou na derrota. E como se isso fosse pouco, tem um time de botão chamado Íbis, e guarda com carinho a revista “Placar” na qual o time aparece na capa, com o rótulo de "pior do mundo".

Como organização, o Íbis é o exemplo do que não deve ser um time de futebol. Em 1950, em jogo de campeonato, o próprio presidente do clube teve de entrar em campo para completar o número mínimo de sete jogadores.

A última eleição do Íbis, ano passado, era para ser realizada na sede de um clube carnavalesco no centro da cidade. Quase na hora da votação, à frente do prédio estavam a urna, os candidatos e os conselheiros votantes, menos o porteiro, que não apareceu. A eleição acabou sendo feita num bar ao lado e a comemoração começou logo em seguida, inclusive com a participação do candidato derrotado.

O Ibis foi ameaçado de desfiliação pela CBF em 2001, por haver desafiado a Seleção Brasileira. Já em 2002 convidou o S.C. Corinthians Paulista, que havia perdido 10 jogos seguidos, para uma partida amistosa que definiria qual o pior time do mundo. O clube paulista não aceitou. O ano passado o dirigente Felipe Gomes anunciou a disposição do clube em ajudar Romário a fazer o milésimo gol. Que escolhesse uma das duas opções: um amistoso com o Vasco ou jogar a segundona pernambucana pelo Íbis. Não houve resposta. (Texto e pesquisa: Nilo Dias)

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