Boa parte de um vasto material recolhido em muitos anos de pesquisas está disponível nesta página para todos os que se interessam em conhecer o futebol e outros esportes a fundo.

domingo, 4 de dezembro de 2011

Morreu o “Doutor do Futebol”

O futebol brasileiro perdeu na madrugada deste domingo um de seus maiores ídolos em todos os tempos. Sócrates Brasileiro Sampaio de Sousa Vieira de Oliveira estava internado desde a noite da última quinta-feira, na UTI do Hospital Albert Einstein, em São Paulo, em razão de uma infecção intestinal causada por bactéria. Sócrates, sua mulher e um amigo teriam passado mal após o almoço na quinta-feira, no restaurante de um hotel em São Paulo, quando foi servido um estrogonofe. O ex-craque, de 57 anos, morreu às 4h30 desta manhã de domingo, em conseqüência de um choque séptico.

Essa foi a terceira e última internação de Sócrates nos últimos quatro meses. Ele foi internado pela primeira vez em 19 de agosto, com uma hemorragia digestiva causada pelo consumo prolongado de álcool. Foram nove dias hospitalizado. Em 5 de setembro, o ex-jogador voltou a ser internado - desta vez, por mais 17 dias. Com o fígado comprometido por uma cirrose hepática, o ex-atleta precisava de um transplante para voltar a ter vida normal. Sócrates deixou seis filhos.

Em recente entrevista para Ana Maria Braga, no programa "Mais Você", da rede Globo, Sócrates disse o seguinte: “Nunca precisei beber todos os dias e nunca tive abstinência, com tremores. Posso ficar meses sem beber. Mas comportamentalmente a bebida era importante para mim. O álcool era um companheiro, assim como o cigarro, que continuo fumando”, disse.

O ex-atleta nasceu em Belém (PA), no dia 19 de fevereiro de 1954. Foi revelado pelo Botafogo, clube de Ribeirão Preto (SP), onde foi considerado um fenômeno desde o início, pois quase não treinava em função de frequentar o curso de medicina na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (USP). Nesse time ele foi campeão do 1º Turno do Campeonato Paulista de 1977 e artilheiro do campeonato. Também se destacou no Campeonato Brasileiro, autor de um célebre gol de calcanhar contra o Santos em plena Vila Belmiro.

Antes de entrar na Faculdade de Medicina, Sócrates fazia cursinho em Ribeirão Preto e já jogava nas categorias de base do Botafogo. Seu pai queria que ele estudasse e não tinha muito interesse que o filho se tornasse futebolista. Certa vez, Seu Raimundo deixou Sócrates no cursinho e foi assistir a um jogo dos juniores do Botafogo. Qual não foi sua surpresa ao perceber que em campo estava o seu filho. Foi uma bronca e tanto.

Socrátes se firmou no Corinthians em 1978, refazendo a dupla com seu ex-companheiro Geraldo Manteiga. Mas seus grandes companheiros de ataque nesse time foram Palhinha e o amigo Casagrande. Sócrates só aceitou jogar para valer depois que se formou na faculdade de medicina. Na Seleção Brasileira estreou em 1979.

Sócrates se despediu do Corinthians num domingo, dia 03 de Junho de 1984,em um jogo realizado em Juazeiro do Norte (CE), para comemorar os 50 anos da morte do Padre Cícero. Foi um amistoso contra o Vasco da Gama (RJ), vencido pelo clube paulista por 3 X 0. Na ocasião Sócrates disse: “Acho que o povo sofrido daqui do sertão gostou. Eu gostei”.

E Sócrates teve motivos de sobra para ficar feliz: a torcida fez romaria para recepcioná-lo e vê-lo jogar. Após a partida, no vestiário, sentou-se num banco e cobriu o rosto com as mãos. Depois riu e abraçou todos os companheiros que estavam por perto, numa cena comovente.

Foi uma das estrelas de dois dos maiores esquadrões do futebol mundial: a Seleção Brasileira de Futebol da Copa do Mundo de 1982 e o Corinthians da década de 80. Teve ótimas atuações, marcou dois belíssimos gols nos jogos dificílimos contra URSS e Itália, e mostrou toda sua categoria. Mas não foi o suficiente para o Brasil se sagrar campeão.

Na Copa do Mundo de 1986 esteve novamente em ação, mas já fora da forma ideal. Ficou ainda marcado pelo pênalti desperdiçado contra a França, na decisão que desclassificou o Brasil.

O doutor Sócrates teve uma rápida e decepcionante passagem pela Fiorentina, onde sofreu com o frio e com a solidão. Seu melhor amigo era um argentino, Daniel Passarela. O craque brasileiro se sentia prejudicado pelos companheiros de quem suspeitava que manipulassem resultados. Quando rompeu o contrato com a equipe de Florença, deixou de receber algo em torno de um milhão e meio de dólares. “Eu não queria o dinheiro. Queria felicidade”, dise na ocasião.

Sócrates retornou ao Brasil para encerrar a carreira. Atuou ainda no Flamengo, no Santos e no Botafogo, de Ribeirão Preto. Em 2004, atendendo a um convite de um amigo, ele participou de uma partida com a camisa do Garfoth Town, equipe da oitava divisão da Inglaterra.

Os clubes onde Sócrates jogou: 1973 a 1978 Botafogo-SP; 1978 a 1984 Corinthians; 1984 a 1985 Fiorentina; 1986 a 1987 Flamengo; 1988 Santos e 1989 Botafogo-SP, onde encerrou a carreira.

Fora do futebol, Sócrates sempre manteve uma ativa participação política, tanto em assuntos relacionados ao bem-estar dos jogadores quanto aos temas correntes do país. Participou da campanha “Diretas Já”, em 1984 e foi um dos principais idealizadores do movimento "Democracia Corintiana", que reivindicava para os jogadores mais liberdade e mais influência nas decisões administrativas do clube.

Ele foi o revolucionário do futebol brasileiro. A “Democracia Corintiana” era uma espécie de auto-gestão em que todas as questões do clube eram decididas através do voto. Ali, no timão democrático, o reserva do reserva do goleiro tinha o mesmo peso de decisão que o presidente do clube. Sócrates, capitão do time, magro, fumante, boêmio incorrigível e avesso a treinos, tornou-se o próprio exemplo do anti-atleta mas, quando em campo, tornava-se genial.

Sócrates tinha tudo para não ser um bom jogador de futebol: fumava, bebia, não suportava concentração, tinha pé pequeno em relação à altura e ainda estudava medicina. Não era um exemplo de desportista e acabou virando um craque. Geralmente o grande jogador de futebol é aquele cara que vem de uma família pobre, que não tem estudo e que só sabe fazer aquilo. Sócrates foi uma exceção.

E ele via isso com naturalidade: “Numa sociedade como a nossa, que não tem educação, isso é natural. Todo mundo que tem um pouco de discernimento é uma exceção nesse país”. E completava dizendo: “O futebol é a cara do país, só que tem muita gente que não quer enxergar. O nível de ignorância que existe no futebol é o mesmo da sociedade brasileira”.

E contou que era uma exceção porque pode estudar. Seus pais lhe deram esta oportunidade. Seu pai não estudou, tinha o primeiro ano do primário incompleto e foi autodidata em tudo. E só conseguiu estudar quando estava estabilizado. Ele fez a faculdade junto com Sócrates. O seu nome, por exemplo, vem do autodidatismo do seu pai. Ele tinha uma necessidade absoluta de conhecimento, ele queria sair da merda que nasceu. E conseguiu. Na época ele estava lendo a “República”, de Platão e deu o nome para os três filhos: Sócrates, Sófenes e Sófocles.

Questionado se tinha algum ídolo no esporte, Sócrates foi categórico: “Não, no esporte não. Meus únicos ídolos foram o Che Guevara e o John Lennon”.

Sócrates não foi apenas um jogador de futebol. Ideologicamente, ele fez a cabeça de uma geração reprimida pelos anos de ditadura no Brasil. Em 1984, subiu a diversos palanques para defender o voto direto para presidente. Prometeu sair do país se o voto direto não fosse aprovado na Câmara. Dito e feito: frustrado, Sócrates partiu para a Fiorentina, na Itália.

Pela Seleção Brasileira, o jogador esguio e pouco afeito à preparação física foi um dos pilares da equipe de Telê Santana na Copa do Mundo da Espanha, em 1982. Mesmo sem ter sido campeão (foi eliminado pela Itália na segunda fase), o time é considerado o mais talentoso do Brasil desde 1970.

No México, em 1986, o time de Telê não repetiu a performance técnica do Mundial anterior, mas chegou às quartas-de-final, quando caiu derrotado pela França, na disputa nos pênaltis. Sócrates manteve sua tradição de contestação e arrumou uma briga com a Fifa por ter entrado em campo com uma mensagem política.

Sócrates, médico formado, comentarista da TV Cultura e da revista “Carta Capital”, realmente foi um jogador de futebol acima da média. Ele sempre costumava dizer que “nenhum ambiente, nem o de 1982, me fez tão bem como o da "Democracia Corinthiana". Não troco a alegria de ter sido capitão daquele Corinthians por nada”.

E orgulhava-se ainda de ter integrado o time daqueles que lutaram pelas “Diretas Já”, como os artistas Fafá de Belém, sua conterrânea, Chico Buarque, Fernanda Montenegro e Regina Duarte e os políticos Franco Montoro e Dante de Oliveira, cuja emenda em favor do movimento levava seu nome. Coincidência: o primeiro comício das "Diretas Já" em São Paulo foi em frente ao estádio do Pacaembu, onde o Corinthians mandava seus jogos.

O futebol, para Sócrates, só tinha importância se existisse um contexto social. “As minhas vitórias políticas são infinitamente superiores às minhas vitórias como jogador profissional. Um jogo acaba em 90 minutos. A vida prossegue. E ela é real”.

Sócrates tentou a carreira de treinador. Foi no Cabo Frio, que é um time pequeno do interior do Rio de Janeiro. Ficou sete meses por lá e conseguiu botar o time na primeira divisão do Estadual. Dirigiu o time em dois jogos na primeira divisão, e foi demitido.

O motivo para a sua demissão foi político. Quem bancava o clube era a prefeitura. Era ano eleitoral e o objetivo do prefeito era ter algum tipo de prestigio político com o clube. Sócrates como técnico estimulava as pessoas a lerem, e começou a criar programas educativos dentro do clube. E tudo isso incomodou o prefeito.

Títulos conquistados: Campeão do 1º turno do Campeonato Paulista de 1977 (Botafogo, de Ribeirão Preto-SP); Campeão Paulista pelo S.C. Corinthians (1979, 1982, 1983); Campeão da Taça Rio de Janeiro pelo C.R. Flamengo (1986); Campeão Carioca pelo C.R. Flamengo (1986); Vice-Campeão do Mundialito de Montevidéu pela Seleção Brasileira (1980); Campeão da Taça da Inglaterra pela Seleção Brasileira (1981); Campeão da Taça da França pela Seleção Brasileira (1981); Vice-Campeão da Copa América pela Seleção Brasileira (1983).

Além de títulos, Sócrates foi agraciado com vários troféus: Artilheiro do Campeonato Paulista, com 15 gols (1976); Bola de Prata da Revista Placar (1980); All-Star Team da Copa do Mundo da FIFA (1982); 6º Maior Jogador da Copa do Mundo FIFA (1982); 5º Melhor jogador do Mundo eleito pela World Soccer (1982); Melhor Jogador Sulamericano do ano eleito pelo jornal El Mundo (1983); 100 Craques do Século - World Soccer (1999); CNN Sports - 100 Maiores das Copas (2002) e Prêmio FIFA 100 (2004). (Pesquisa: Nilo Dias)

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

O centenário "Leão do Norte" (II)

O primeiro estádio do Commercial se localizava na Rua Tibiriçá, onde hoje fica a sede centro da Sociedade Recreativa. Foi um dos primeiros campos gramados do Estado de São Paulo, pois os freqüentadores eram ricos e reclamavam da poeira levantada durante os jogos no campo de terra batida. O Commercial o utilizou até 1936.

Em 1929, com a quebra da Bolsa de Valores de Nova York, os cafeicultores não tiveram mais condições de investir maciçamente no clube, que passou a enfrentar sérias crises financeiras. Em 1936 foi fechado o Departamento de Futebol Profissional, depois que o clube havia contratado os irmãos Bertoni, jogadores uruguaios, que ganhavam altos salários para a época.

Descontentes com isso, e querendo receber o mesmo, os demais jogadores se revoltaram. As finanças foram se deteriorando e as dívidas se acumulando. E a situação ficou pior quando os sócios de maiores posses, aqueles que achavam que o futebol deveria ser praticado por amor à camisa, se afastaram.

Com a possibilidade do futebol levar o clube à falência, jogando fora um patrimônio valioso, comercialinos como Camilo de Mattos e Antônio Uchôa Filho resolveram intervir. Convocaram uma assembléia e o Comercial foi anexado à Sociedade Recreativa que em 1937 absorveu a dívida de 40 contos que o Comercial chegou a dever para agiotas. Os diretores sumiram e só sobrou um Conselho, que tinha como presidente o mesmo dirigente que presidia a Recreativa.

O clássico da cidade entre Commercial X Botafogo teve início na década de 1930. Até 1936, tempo do amadorismo, foram realizados 19 jogos entre os dois times, mas ainda não era usado o termo "Come-Fogo". Foram 11 vitórias para o Commercial, 3 para o Botafogo e 5 empates. O primeiro jogo desta fase foi realizado no dia 30 de novembro de 1930, com resultado de 3 X 0 para o Comercial. O último jogo da fase aconteceu em 29 de março de 1936, com vitória comercialina por 3 X 1. De 1930 a 1954 não foram realizados jogos entre os dois times.

Passaram-se quase 20 anos para que o Comercial voltasse a campo. Em 1954, um grupo de antigos e fiéis comercialinos se reuniu para estudar o ressurgimento do clube. Entre eles, Domingos João Batista Spinelli, Oscar Moura Lacerda, José Monteiro, Áureo Alves Ferreira, Geraldo Leite de Castro, Pedro Paneli, José Grota, Belmácio Godinho, Jamil Jorge, Agenor Saheb, Antídio de Almeida, Lourenço Gueringueli, Álvaro de Oliveira, Monteiro de Barros, Prisco da Cruz, Arlindo Vallada, Jaime de Oliveira Vallada, Romero Barbosa, Baudilio Biagi, Plínio de Castro Prado e Francisco de Palma Travassos, que doou o terreno onde foi construído o estádio que leva seu nome.

No dia 8 de abril daquele ano, o Comercial foi reorganizado e em 7 de outubro, numa fusão com o Paineiras Futebol Clube, já filiado a Federação Paulista de Futebol, o “Leão do Norte” estava pronto para disputar o Campeonato Paulista da Segunda Divisão de Profissionais daquele ano. O nome do clube foi atualizado, passando de Commercial Football Club para Comercial Futebol Clube.

A reaparição do Comercial nos gramados se deu num amistoso estilo jogo-treino em agosto de 1954, na Fazenda Dumont, onde o Leão enfrentou o time local e venceu por 3 X 0. Em 15 de agosto de 1954, o Comercial enfrentou a A.A. Francana, em Franca e perdeu por 2 X 0. Era o primeiro jogo amistoso contra uma equipe profissional.

A primeira vitória do Comercial sobre um time profissional deu-se em 28 de agosto de 1954, quando o clube venceu a A.A. Francana no recém alugado Estádio Antônio da Costa Coelho, localizado na Avenida 1º de Maio, na Vila Virgínia, em Ribeirão Preto. O Comercial utilizou o estádio até o dia 29 de setembro de 1964, quando venceu por 2 X 0 o América F.C., do Rio de Janeiro.

Mesmo após o Comercial deixar de utilizar o estádio, o local ainda continuou recebendo jogos de futebol, porém, amadores. Hoje, o Estádio Costa Coelho ainda existe, e é sede do Clube Mogiana.

Outros amistosos marcaram o ano de retorno do Comercial, mas nenhum deles marcou tanto como o de 14 de novembro de 1954, quando o Comercial perdeu para o São Paulo F.C. por 4 X 2 no Estádio Antônio da Costa Coelho. Apesar da derrota, o jogo marcou o reencontro do “Leão” com grandes clubes.

No retorno aos gramados, o Comercial por pouco não conquistou uma vaga na elite do futebol paulista. O time fez uma campanha sensacional, chegando ás finais contra o Taubaté. O jogo terminou 0 X 0, mas a vitória poderia ter sido do Comercial, que teve um gol legitimo de Ademar, anulado pelo juiz Luís Batista Laurito, embora o bandeirinha tivesse corrido para o centro de campo. E ainda deixou de marcar um pênalti legitimo para o “Leão”. O Taubaté subiu e o Comercial ficou com o vice-campeonato e conhecido como "Campeão sem Coroa".

Em 1958, sem erros de arbitragem o Comercial ganhou o título e subiu para a Divisão Principal do futebol paulista, depois de uma final suada contra o Corinthians, de Presidente Prudente. Foram três jogos: o Comercial perdeu o primeiro fora de casa por 1 X 0, venceu o segundo em Ribeirão Preto, também por 1 X 0 e goleou de 4 X 0 no terceiro, disputado dia 21 de abril de 1958, no Estádio do Pacaembu, em São Paulo. Carlos César marcou duas vezes e Ademar e Lécio completaram o escore. A equipe que chegou ao titulo jogou com Santão – Toninho – Valdemar - Parracho e Candão – Valtinho – Lécio – Ademar – Otávio - Almeida e Carlos César. (Pesquisa: Nilo Dias)

O velho estádio da rua Tibiriçá, hoje desativado e servindo como sede social da Sociedade Recreativa.

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

O centenário “Leão do Norte” (I)

Não foi só o centenário do E.C. 15 de Novembro, de Campo Bom (RS), que passou despercebido por mim. A falha também aconteceu em relação aos 100 anos de fundação do Comercial Futebol Clube, da cidade de Ribeirão Preto, um dos mais importantes e tradicionais clubes do futebol do interior de São Paulo.

O clube nasceu graças a um grupo de comerciantes que almejava ter o seu próprio time de futebol. Eles se reuniram na noite de 10 de outubro de 1911 na “Casa Valeriano”, de Adaucto de Almeida, uma loja de armarinhos localizada na Rua General Osorio, número 47, onde hoje se encontra a Fonte Luminosa, com a finalidade de formar um novo time de futebol em Ribeirão Preto. Essa reunião foi até a madrugada, mas ficou acertado que a data de fundação seria mesmo o dia 10, quando a reunião teve início.

Os comerciantes considerados fundadores do Commercial F.B.C., e que participaram da histórica reunião foram Antônio Maniero, Guilherme Nunes, Francisco Arantes, Adaucto de Almeida, Timóteo Grota, Alvino Grota, Argemiro de Oliveira, Djalma Machado e Antídio de Almeida.

Durante a reunião, foram eleitos os comandantes da nova equipe, e os mesmos tomaram posse de seus cargos imediatamente. Foram eleitos: Antidio de Almeida como Presidente, Alvino de Souza Grota como Vice, Adaucto de Almeida como Tesoureiro, Djalma Machado como Secretario, Sebastião Viana como Procurador, Sebastião Ruvald como primeiro Capitão e Florentino de Almeida como segundo Capitão.

Após a posse, foi posto em votação o nome do clube, e por dez votos venceu a sugestão dada por Argemiro de Oliveira, de Commercial Football Club. As quatro primeiras propostas votadas pela recém criada diretoria comercialina foram:

I – A mensalidade e as jóias seriam de mil reis cada; II – Os considerados sócios fundadores teriam isenção das jóias e mensalidades; III – A aceitação ou expulsão de sócios seriam de responsabilidade da diretoria e IV – Isenção ou abono de mensalidade de sócios desempregados ou enfermos (impossibilitados de trabalhar) durante tal período. Todas essas propostas foram aprovadas.

O primeiro Estatuto do Commercial foi redigido ainda na reunião que deu origem ao clube. Foram responsáveis pela criação do mesmo: Alvino de Souza Grota, Argemiro de Oliveira e Djalma Machado.

Após a fundação, o primeiro problema enfrentado foi achar um bom local para treinos e jogos. O primeiro campo de treinamentos do Commercial foi onde hoje se localiza a Praça Luiz de Camões.

Em seguida o clube ganhou um outro local para os treinos, um terreno doado pela Fundação Antonio e Helena Zerrener. Depois, em 1917, teve seu espaço aumentado, quando adquiriu, por 9 contos de Reis, uma das propriedades de Emilio Moço.

O primeiro jogo da história comercialina foi um amistoso disputado no dia 15 de novembro de 1911, contra a Associação Athletico Gymnasial, tradicional equipe de Ribeirão Preto do começo daquele seculo, que venceu o confronto por 3 X 1.

O jogo foi disputado no antigo campo do Athletico Ribeirão Preto, outra tradicional equipe da cidade na época, e onde hoje localiza-se a Praça Sete de Setembro. O jornal "A Cidade", o mais antigo jornal de Ribeirão Preto ainda em atividade, fez a cobertura do amistoso.

Curiosamente, na manchete do Jornal, o Commercial foi anunciado como Sport Cub Commercial. A correção só aconteceu com o passar dos anos. Loyolla foi o autor do primeiro gol da história do Commercial.

O juiz foi Jefferson Nogueira. Os gols foram marcados por Arlindo, Luiz e J. Franco, para o Athletico Gymnasial. Loyolla descontou para o Commercial F.C.

Athletico Gymnasial: Hugo - Jonas - Luiz - Guttemberg - J. Franco - Cervantes - Gama - Luiz - Arlindo - Ortiz e José.
Commercial FC: A. Oliveira - Moreira - Fritsch - F. Almeida - Jose Grota - A. Almeida - S. Reinaldo - Djalma Machado - J. Lima - V. Mello e Loyolla.

Daí para a frente o clube começou a crescer e a jogar campeonatos amadores e partidas amistosas. Não demorou para chamar a atenção dos coronéis do café, que resolveram adotar o time.

Nos anos que seguiram, grandes vitórias animavam a crescente torcida do Commercial. Em 1915, o Commercial enfrentou uma equipe da Capital pela primeira vez em Ribeirão Preto, o S.C. Germania. Apesar de toda a tradição do time paulistano, o Commercial não se intimidou e venceu por 4 X 1.

Daí seguiram jogos emblemáticos, que sempre mobilizavam a torcida, até que em 1916 alguns jogos começaram a ganhar maior destaque, até nas manchetes dos jornais: Commercial F.C. 1 x 1 Amparo F.C. (28 de maio – amistoso que parou a cidade); Commercial F.C. 3 x 0 E.C. Bandeirante, de Jaú (8 de setembro – Taça Bandeirante); Commercial F.C. 5 x 0 Black Team, de Campinas (23 de setembro – amistoso); e Commercial F.C. 4 x 0 Palestra Itália E.C., de Ribeirão Preto (sem data – amistoso).

O jogador considerado pelos historiadores como o primeiro grande craque do Commercial foi o meia-atacante "Zé Macaco", que atuou pela equipe de 1916 até meados da década de 20, antes de se transferir para o Botafogo (RJ).

Em 1917, veio a primeira conquista expressiva com a vitória na "Taça Castellões". “O Commercial foi considerado um Campeão do Interior. A competiação foi organizada por uma Liga de futebol independente, criada no interior paulista, a Liga de Foot-Ball do Oeste do Estado, pois ainda não existia a Federação Paulista.

A "Taça Castellões" reuniu varios clubes do interior paulista. O troféu foi oferecido pela Companhia de Grande Manufactura de Fumos e Cigarros Castellões (daí a origem do nome do Torneio), era de prata maciça com detalhes em ouro.

Disputaram o torneio: Commercial F.C. e Palestra Itália E.C. (Ribeirão Preto); C.A. Pirassununguense (Pirassununga); A.A. São João (São João da Boa Vista); União Atletica Casabranquense (Casa Branca), E.C. Taubaté (Taubaté), e representantes das cidades de Batatais, Taquaritinga, São Simão, São Carlos, Tambaú, Piracicaba e Franca.

O Commercial foi campeão, com a seguinte campanha: Commercial 20 x 0 Taquaritinga (8 de março – maior goleada da história do clube), Commercial F.C. 3 x 1 São Carlos (22 de abril), Commercial F.C. 6 x 0 São Simão (13 de maio), Commercial F.C. 2 x 0 Palestra Itália E.C. (20 de maio), Commercial F.C. 7 x 0 Franca (8 de julho) e Commercial F.C. 4 X 1 Palestra Itália E.C. 12 de outubro).

Em 25 de março de 1917, o Commercial conquistou a "Taça Besquizza" ao vencer o C.A. Paulistano, campeão paulista de 1916 por 4 X 1, em Ribeirão Preto. Entre os anos de 1917 e 1918, eram comuns as disputas de jogos amistosos valendo algum premio ou troféu.

Destaques ficaram para as conquistas dos troféus: "Taça Café Pinho" (vencendo o Velo Clube, de Rio Claro por 4 X 1), "Taça Hotel Modelo" (vencendo o White, de Campinas) e a "Taça Clark" (ao vencer o S.C. Corinthians Paulista), todas em 1918.

Ainda em 1918, o Commercial inscreveu uma equipe extra (uma espécie de expressinho) na Liga Municipal de Clubes de Ribeirão Preto, e conquistou a "Taça Prefeitura Municipal de Ribeirão Preto".

A primeira grande contratação de um atleta, que não residia em Ribeirão Preto, feita pela diretoria do Commercial, concretizou-se no dia 14 de julho de 1917, quando o clube recebeu o ponta-direita e atacante Belmácio Pousa Godinho, que vinha do XV de Piracicaba (clube ao qual a família de Belmácio participou da fundação em 1913).

Belmácio não era um craque, mas jogava muito bem. Além do mais, as contribuições que Belmácio traria ao alvinegro, não seriam só proveitosas dentro dos gramados, pois ele passaria a lutar pelo Commercial mesmo após abandonar o futebol.

Com dinheiro sobrando, não demorou para que o Commercial alcançasse uma ascensão meteórica. Em 1919, foi o primeiro time de futebol de Ribeirão Preto a disputar um campeonato importante. O torneio disputado pelo alvinegro foi o Campeonato Paulista - Divisão do Interior da APEA (Associação Paulista de Esportes Athléticos).

No torneio, o Commercial demonstrou muita força, mas na final acabou sendo derrotado pelo E.C. Taubaté, ficando com o vice-campeonato.

Em 22 de março de 1920, já completamente consolidado como clube, o Commercial foi convidado pelo Sport Club do Recife a excursionar ao Norte e Nordeste do Brasil, para realizar uma série de jogos amistosos. Outras equipes paulistas foram convidadas, mas apenas o Commercial aceitou o convite.

A delegação comercialina embarcou na estação da Mogiana em Ribeirão Preto na manhã de 29 de abril, passando por Campinas (SP), até chegar ao Rio de Janeiro, onde embarcou no navio "Itapuy", que seguiu viagem até a Bahia, e depois a Pernambuco, onde chegou as 6 horas da manhã do dia 7 de maio de 1920. Ao todo o Commercial disputou oito partidas, vencendo sete e empatando apenas uma. Foram estes os resultados dos jogos:

09/05/1920 - Combinado América/Santa Cruz F.C. 0 X 1 Commercial F.C.
13/05/1920 - Sport Club do Recife 2 X 3 Commercial F.C
16/05/1920 - Liga Pernambucana de Desportos Terrestres 2 X 2 Commercial F.C.
20/05/1920 - Santa Cruz F.C. 0 X 1 Commercial F.C.
23/05/1920 - América 1 X 2 Commercial F.C.
26/05/1920 - Clube Náutico Capibaribe 0 X 2 Commercial F.C.
28/05/1920 - Liga Pernambucana de Desportos Terrestres 1 X 5 Commercial F.C.
01/06/1920 - Liga Baiana 1 X 2 Commercial F.C.

A vitória mais festejada foi sobre o Santa Cruz, que contou com a ajuda do arbitro que foi a campo com um revolver para favorecer na marra, o time local. Mas de nada adiantou a intimidação, o Commercial marcou um gol de fora da área, logo ao início do jogo. E o escore se manteve até o último minuto, quando o juiz marcou um pênalti inexistente contra o Commercial, que o goleiro defendeu. No retorno a São Paulo a torcida fez uma grande festa, ocasião em que surgiu o apelido de “Leão do Norte”, que acompanha o clube até hoje.

Em 10 de outubro de 1920, o Rei Alberto da Bélgica, esteve no Estádio da Rua Tibiriçá para assistir um jogo do Palestra Itália, de São Paulo (atual Palmeiras) contra o Palestra Itália, de Ribeirão Preto. O time da capital venceu por 4 X 1.

Em 1921, durante um torneio amistoso chamado "Taça Círculo Italiano", o Commercial, que entrou como convidado, derrotou a já poderosa equipe do Palestra Itália, de São Paulo, atual Palmeiras, por 5 X 2.

O primeiro jogo internacional do Commercial terminou empatado em 1 X 1, e foi contra a Seleção Argentina. O jogo aconteceu em 1922, num amistoso realizado no então Estádio da Rua Tibiriçá, em Ribeirão Preto. A Argentina estava no país para disputa do Campeonato Sul-Americano e Copa Rocca, ambos vencidos pelo Brasil.

Em 1923, o Commercial jogou pela primeira vez contra equipes cariocas. Enfrentou em 24 de junho o C.R. do Flamengo, e perdeu por 5 X 1. No mesmo ano, em 26 de dezembro, empatou em 0 X 0 com a Seleção da Bahia, que estava em São Paulo disputando o extinto Campeonato Brasileiro de Seleções Estaduais.

Em 1927 e 1928, se tornou a primeira equipe da região de Ribeirão Preto a disputar o Campeonato Paulista da 1ª Divisão. O primeiro jogo do Commercial na elite do futebol paulista aconteceu no dia 3 de maio de 1927, e seu adversário foi o poderoso Palestra Itália, atual Palmeiras, que terminou campeão daquele ano.

A primeira vitória na primeira divisão aconteceu no dia 15 de maio de 1927, 3 X 0 sobre o Ypiranga. O Commercial só voltou a vencer em 21 de agosto de 1927, por 2 X 1 sobre a A.A. São Paulo de Alpargatas, tradicional time da capital paulista. A terceira vitoria do "Leão", foi no dia 4 de setembro de 1927, com o placar de 2 X 1 sobre o Corinthians, de São Bernardo do Campo.

Em 1928 enfrentou o time do Peñarol Universitário (atual Peñarol) e venceu por 2 X 0, com gols de Vespu e Chapa. O jogo foi em Ribeirão Preto, no Estádio da Rua Tibiriçá, e aconteceu no dia 1 de julho de 1928.

Mesmo com a má campanha na Divisão Principal de 1927, onde só somou 6 pontos, em 1928 o Commercial disputou novamente o Torneio Início e a 1ª Divisão. No Torneio Início empatou por 2 X 2 com o Guarani Futebol Clube, mas no critério de desempate, que era na época, escanteios, o Commercial acabou eliminado, derrotado com 2 escanteios a 0 para o Bugre de Campinas. Este jogo fez com o que o Commercial abandonasse a APEA e se transferisse para a LAF. (Pesquisa: Nilo Dias)

Plantel da década de 20 antes de jogo na Rua Tibiriçá. (Foto: Aquivo Histórico Municipal)

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

O centenário "15" de Campo Bom (Final)

Mas o primeiro grande momento do clube como profissional, ocorreu em 2002. A diretoria investiu pesado e formou um excelente time, o que possibilitou chegar as finais do “Gauchão” e disputar o título contra o S.C. Internacional. Foi vice-campeão, fato que serviu para mobilizar ainda mais a direção e a torcida. Em 2003 a repetição do ano anterior. Depois de uma campanha superior à de 2002, o "15" chegou mais uma vez ao vice-campeonato gaúcho, também diante do S. C. Internacional.

E em 2004, graças ao vice-campeonato estadual, o time participou pela vez primeira da Copa do Brasil, competição que garante uma vaga na Taça Libertadores da América, o maior torneio futebolístico da América e sonho de qualquer clube. O técnico da equipe era o hoje comandante da seleção Brasileira, Mano Menezes. E o “15” fez história na competição nacional.

Ficou em terceiro lugar, atrás somente do Santo André e Flamengo, e ainda teve em Dauri um dos artilheiros da competição. O grande feito do onze interiorano gaúcho, foi sem dúvida a goleada no Vasco da Gama, em pleno Estádio São Januário, pelo escore de 3 X 0, eliminando o onze carioca da competição.

Em 2005 o “15” superou a campanha de 2004, no “Gaúchão”, se constituindo na melhor equipe do campeonato. Chegou novamente a decidir o título contra o Internacional, perdendo de 2 X 0 no Beira Rio e ganhando pelo mesmo escore, em Campo Bom. Na prorrogação o Internacional venceu por 2 X 1 e se sagrou campão. Em 2006, mais uma participação na Copa do Brasil e a conquista da Copa Emidio Perondi, em dois jogos finais contra a UIbra, a quem derrotou por 3 X 1, em Canoas, e 3 X 0, no Sady Schmidt.

Na Copa do Brasil, o "15" eliminou o Noroeste, de Bauru (SP), vencendo em casa por 4 X 1 e perdendo fora por 2 X 0. Na segunda fase, o "15" eliminou o Grêmio, a quem venceu em Campo Bom por 1 X 0. Perdeu pelo mesmo escore em Porto Alegre, e eliminou o clube da capital nas penalidades máximas por 6 X 5. Na sequência, foi eliminado pelo Volta Redonda, que venceu o primeiro jogo, no Rio de Janeiro, por 1 X 0. Em Campo Bom, vitória do "15" por 2 X 1. O gol qualificado beneficiou o Volta Redonda.

2007 e 2008 foram dois anos difíceis para o "15". Uma forte crise econômica no setor coureiro-calçadista teve reflexos por demais negativos no município de Campo Bom, com algumas importantes empresas encerrando suas atividades. O clube sofreu muito com isso, não conseguindo manter-se na elite do futebol gaúcho e teve que pedir licença à Federação Gaúcha de Futebol.

Hoje, quem chegar ao Estádio Sady Arnildo Schmidt, verá em plena execução um projeto que visa a formação de jogadores, com uma Escola orientando garotos de várias faixas etárias. Este projeto foi minuciosamente elaborado pelo vice de futebol Armin Rudy Blos e reflete a necessidade do clube em apostar nas categorias de base, programa que nunca deveria ter sido esquecido.

Dentro das comemorações do Centenário, o “15” promoveu dois amistosos festivos. A equipe de veteranos enfrentou um combinado da dupla Gre-Nal e do São José, de Porto Alegre, equipe organizada pela Federação Gaúcha de Futebol especialmente para o evento. O time visitante venceu por 2 X 1. Na preliminar, a equipe juvenil do “15” enfrentou os juvenis do Gramadense, que venceu o jogo por 3 X 2.

O Esporte Clube 15 de Novembro, nas décadas 50/60, mantinha o Departamento de Punhobol, com participações em competições nacionais e internacionais. Em 1961, ano do cinquentenário do "15", realizou-se, em Campo Bom, o 1º Campeonato Sul-Americano de Punhobol, com a participação de vários países. Quem venceu foi a Argentina.

Em duas oportunidades, 1992 e 2001, a equipe de veteranos do "15" realizou partidas amistosas em solo europeu. Obteve excelentes resultados. Em uma gincana realizada esta semana, em Campo Bom, uma das tarefas era dar detalhes de um suposto jogo entre o "15" e uma Seleção Brasileira, que teria sido realizado em 1968, quando da comemoração dos 75 anos do clube. Porém, nada a esse respeito foi encontrado, o que se supõe que tudo não passou de uma bricadeira.

Hoje com o Departamento de Futebol desativado, o clube conta com departamentos de diversos esportes: tênis, tiro, bolão, arqueirismo, handebol e xadrez.

Títulos do “’15”: Campeão do Sul-Brasileiro de Amadores (1988); Campeão do Interior (2002, 2003 e 2005); Campeão da Copa Emídio Perondi (2006); Campeão Gaúcho de Amadores (1960, 1961, 1963, 1964, 1966, 1968, 1970, 1971, 1972, 1973, 1976, 1977, 1987 e 1990; Campeão da Zona Sul do Estado (1957); 3º colocado na Copa do Brasil (2004); Vice-Campeão Gaúcho (2002, 2003 e 2005); Vice-Campeão Gaúcho da 2ª Divisão (1994 e 1999); Campeão Gaúcho de Bolão Masculino (1962); Campeão Gaúcho de Bolão Feminino (2001, 2004, 2005 e 2006); Artilheiro do Campeonato Gaúcho: Sandro Sotilli (2002 com 21 gols); Artilheiro da Copa do Brasil (2004, Dauri com 8 gols).

Ídolos históricos: Balalo, Bilu, Celso, Ediglê, Dauri, Elúcio, Geada, Ismar, Júlio Rodríguez, Lampinha, Luís Fernando Gaúcho, Perdigão, Raul, Sandro Sotilli, Paulinho e Carazinho.

Alguns presidentes do clube: João Pedro Dias, Otto Faller, Bertholdo Konrath, Adonis Güntzel da Silva, Babi Mendonça Vaz, Oddone Aurécio Dias, Carlos Alberto Von Reisswitz, José Claudio Blos, Gilberto Wallauer, Armin Rudy Blos e Marco Aurélio Feltes.

O maior rival do 15 de Novembro é o Esporte Clube Novo Hamburgo, da cidade de Novo Hamburgo. (Pesquisa: Nilo Dias)


Lance do jogo 15 de Novembro X Vasco da Gama, pela Copa do Brasil de 2004.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

O centenário “15” de Campo Bom (I)

Eu tenho que me desculpar perante os torcedores do glorioso Esporte Clube 15 de Novembro, de Campo Bom (RS), por não ter escrito nada sobre os 100 anos comemorados no último dia 15. Eu estava inteiramente voltado para um trabalho de degravação de um evento para a Frente Nacional de Prefeitos (FNP), e esqueci de comentar o fato na sua data original. Mas hoje estou me redimindo da falha e contando a história do mais novo integrante do seleto grupo de clubes brasileiros centenários.

O “15”, como é carinhosamente chamado por sua torcida, foi fundado no distante dia 15 de novembro de 1911, depois que alguns operários da firma Vetter & Irmão, assistiram alguns jogos de futebol em Porto Alegre. Entusiasmado com o novo esporte, o senhor Blauth, um dos fundadores, comprou uma bola de futebol no comércio da capital, e a levou para Campo Bom, que na época era apenas uma vila.

Na volta resolveram criar um time de futebol, para se distraírem nas horas de folga. A Vetter era uma indústria calçadista, que se instalou na localidade em 1904. O primeiro campo foi em um potreiro no Morro das Pulgas, nos fundos da empresa. Ali o novo time treinava e jogava, até que adquiriu outro campo, que com o passar dos anos se transformou no atual estádio Sady Arnildo Schmidt.

No dia 17 de novembro de 1912, um ano após a fundação, foi inaugurada a bandeira do clube, numa festa que teve a presença do Esporte Clube Colombo, de Porto Alegre, que aplicou uma goleada de 5 X 1. Outros amistosos importantes para a época foram disputados, com destaques para aqueles contra equipes de expressão, como o Frishhauff e Americano, ambos da capital, e o Sport Novo Hamburgo.

Eram outros tempos, onde o que importava era o amor ao clube. E dentro desse espírito totalmente amadorista, os próprios jogadores financiavam seus fardamentos, passagens e demais despesas. E todos se orgulhavam muito do que faziam.

Em 1917, juntamente com duas outras entidades, a Sociedade Alemã de Tiro e a Sociedade de Canto, o “15” participou da fundação da Sociedade Concórdia, um clube social com vários departamentos sociais e esportivos. No dia 30 de abril de 1975, conforme consenso das lideranças comunitárias, o Esporte Clube 15 de Novembro e a Sociedade Concórdia (antiga Sociedade Alemã de Atiradores, criada em 3 de março de 1893 para a prática de tiro esportivo) promoveram uma fusão, passando a denominar-se Clube 15 de Novembro, e é hoje o mais importante clube social da cidade.

Hoje a entidade conta com os seguintes departamentos: social, futebol, piscina, tênis, tiro, bolão, arco e flecha, escoteirimo, filatelia, handebol, sauna, ginástica e musculação, departamento jovem, relações públicas e departamento de divulgação.

Bem antes disso, em 12 de abril de 1943, a diretoria da Sociedade Concórdia resolveu extinguir o departamento de futebol que se tornou independente, até no nome: surgia o Esporte Clube Independente, adotando às cores preta e branca. Esta decisão provocou muita polêmica, mas a verdade é que o futebol, desvinculado da Sociedade Concórdia, encontrou mais espaço para progredir.

Depois de um grande movimento popular, o E. C. Independente voltou a chamar-se 15 de Novembro, recebendo de volta suas cores originais: amarelo, vermelho e verde. Isso aconteceu no dia 29 de setembro de 1949.

O “15” participava de muitas competições, em especial as organizadas pela Liga Leopoldense de Futebol, em que tomavam parte equipes localizadas no município de São Leopoldo, do qual Campo Bom era distrito. Mas os importantes títulos amadores começaram a ser conquistados somente quando o clube passou a disputar competições a nível estadual, patrocinadas pela FGF. O primeiro título de expressão foi ganho em 1957, o de Campeão da Zona Sul do Estado.

Em 1959 a FGF mudou a forma de disputa do Estadual de Amadores. Em razão do mau estado das estradas, que dificultavam a locomoção dos clubes, a competição passou a ser disputada em cinco zonas. Cada uma delas foi identificada por uma cor: o "15" integrou a série Branca.

Em 1960, o clube montou uma estrutura vitoriosa e não deu outra: venceu pela primeira vez o Campeonato Estadual de Amadores, Série Branca, passo inicial para outras grandes conquistas. No primeiro confronto, dia 11 de dezembro, o 15 de Novembro venceu ao Brasil, de Farroupilha, pelo placar de 5 X 4, em partida apitada por Jaime Soligo.

Os gols da partida foram marcados por: Lauro, Cléo, Erich, Dario e Gilberto (para o 15 de Novembro), e Lino, Walter, Armando e Barth (para o Brasil de Farroupilha). No dia 18 de dezembro, no Estádio dos Eucaliptos, um empate em 1 a 1 deu o título ao 15 de Novembro, sob o comando do treinador Raul Freitas. Marcaram Barth, logo aos 4 minutos de partida, para o Brasil de Farroupilha, e Gilberto, quase ao final de partida. O juiz foi Ney da Luz Barbosa.

No ano de 1961, conquistou o bicampeonato contra o Independente, de Flores da Cunha. Após um empate em 1 X 1 na primeira partida (gol do zagueiro Bráulio, para o "15"), o título veio em uma virada por 2 X 1, em partida disputada em Campo Bom. Remo abriu o marcador para o Independente, de Flores da Cunha, enquanto Delmar fez dois gols e garantiu o título.

Em 1963, o 15 de Novembro perdeu o primeiro jogo das finais por 2 X 0 para o Paladino, em Gravataí, no dia 1º de dezembro. Venceu em Campo Bom por 2 X 1, em 6 de dezembro, havendo necessidade da realização de uma terceira partida. No dia 15 de dezembro, houve empate em 1 X 1 no estádio do Lansul, em Esteio, com a partida sendo encerrada devido à invasão de campo e briga entre torcedores e jogadores.

Por isso, o tempo restante do jogo foi realizado em uma nova data, 19 de janeiro de 1964, no Estádio Passo D'Areia em Porto Alegre. Persistiu o empate e, na prorrogação, Ithon marcou em cobrança de falta o gol do terceiro título do Estadual de Amadores do 15 de Novembro.

Em 1968, participando da Série Especial do Estadual de Amadores, o 15 de Novembro enfrentou o Pampeiro, de Soledade nas finais. Venceu em Campo Bom por 3 X 2, perdendo o segundo, em Soledade, por 2 X 0. Na prorrogação, o 15 de Novembro venceu por 2 X 1 e conquistou o título.
Ainda pelo Absoluto de Amadores, o "15" foi campeão estadual em 1970, 1971, 1972, 1973, 1976, 1977, 1982, 1987 e 1990. Foram ao todo 14 títulos estaduais, que fizeram do clube o maior vencedor do futebol amador do Rio Grande do Sul.

Em 1988, participando do 1º Campeonato Sul-Brasileiro de Futebol Amador, como representante do Rio Grande do Sul, o "15" conquistou o inédito título, superando o União Capão Raso, do Paraná, no jogo final. Em 1990, nesta mesma competição, o "15" ficou com o vice-campeonato.

Já nos anos 90 sentia-se que muitos clubes amadores pagavam seus jogadores, o que vinha dificultar a prática do amadorismo 100% puro do Clube 15 de Novembro. E diante dos insistentes pedidos da Federação Gaúcha de Futebol, a direção do clube resolveu profissionalizar o futebol e em 1994 disputou a segunda divisão do futebol gaúcho.

E a experiência foi vitoriosa, já que no primeiro ano sagrou-se vice-campeão da Segunda Divisão de Profissionais, o que valeria o acesso a Divisão principal do Estado. Porém, a Federação Gaúcha de Futebol (FGF), useira e viseira em viradas de mesa, mudou as regras do jogo e dividiu a Primeira Divisão em duas séries, “A” e “B”. Em 1998 o 15 conquistou o segundo lugar na Copa Abílio dos Reis, e se classificou para a Série A do “Gaúchão” de 1999. Dessa vez foi pra valer, pois não houve virada de mesa.

Ainda em 1998, o “15” disputou o Campeonato Brasileiro da Série C, chegando até as oitavas de final. Terminou a competição em 10º lugar, entre 65 clubes participantes. Nos 14 jogos que disputou venceu 7, empatou 3 e perdeu 4. O ataque marcou 27 gols e a defesa sofreu 24. Na primeira fase o 15 participou do Grupo 11, que era composto por Avaí, Tubarão e Chapecoense, de Santa Catarina e os gaúchos 15 de Novembro, Pelotas e Brasil, de Pelotas. Avaí, Brasil e “15” se classificaram para a etapa seguinte da competição.

Na segunda fase o “15” enfrentou o Mogi Mirim (SP). No primeiro jogo no interior paulista empate em 2 X 2. Jogando em Campo Bom venceu por 2 X 1 e se classificou para a terceira fase, quando se deparou com mais um clube paulista. Dessa vez o adversário foi o Rio Branco, de Americana. Fora de casa um empate em 2 X 2, que se repetiu no Sady Schmidt. Nos pênaltis os visitantes levaram a melhor por 4 X 3.

Já no ano seguinte, a primeira experiência na elite gaúcha não deixou boas recordações. O time ao final da competição estava rebaixado e de retorno a Série B. No segundo semestre do ano, fez boa campanha e voltou para a Série A. No ano de 2000, o “15” teve um desempenho bem melhor.

Foi campeão da Fase Classificatória, Chave 2, e conquistou o direito de participação no Octogonal final do campeonato, etapa disputada somente pelos chamados grandes do futebol gaúcho. Após brilhante campanha, o estreante "15" ficou em 5º lugar, atrás somente de Grêmio, Internacional, Caxias e Juventude. (Pesquisa: Nilo Dias)

Time do 15 de Novembro, em 1911. (Foto: Acervo do E.C. 15 de Novembro)

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

O último dos capitães (Final)

Na história do futebol são contados muitos casos de façanhas como a do Uruguai, no IV campeonato Mundial, onde um homem dotado de um imenso carisma, se transformou no fator decisivo para uma extraordinária conquista. O futebol tem revelado grandes personagens, que passaram à história por seus brilhantes desempenhos. Entre eles, Édson Arantes do Nascimento, o “Pelé”, Ferenc Puskas, Alfredo Di Stéfano, Johan Cruyff, Michel Platiní, Gerd Müller, Franz Beckenbauer, Lothar Mattheus, Paolo Maldini, Ronaldo (Luís Nazário), Diego Armando Maradona, Zinedine Zidane e muitos outros.

E todos eles se destacaram pela grande técnica que eram possuidores. O difícil foi encontrar um jogador, que com recursos técnicos infinitamente inferiores, tenha se convertido em um personagem mítico, igualando-se aos grandes craques que escreveram a história do futebol mundial.

Obdúlio Varela deixou os gramados em 1955, para dedicar-se a família. O maior espaço de sua vida era para a esposa, os filhos e os amigos mais chegados. No final da carreira, recebeu como recompensa um emprego público no glamuroso Casino Carrasco de Montevidéu, hoje privatizado.

Durante o resto de sua vida foi muito procurado pela imprensa escrita, rádios e por último a televisão. Quase sempre recusava dar entrevistas. Nas várias décadas que se seguiram após sua retirada dos campos, foram poucas as ocasiões em que alguém conversou com ele.

O sujeito era uma fera, não só em campo, mas também fora dele. Sua casa ficava na periferia da capital, próxima a uma poluente fábrica de pneus e era do tipo daquelas que ficam afastadas do portão. Na frente deveria haver um jardim, mas não havia.

Mas dentro dessa grande personalidade, de postura firme e sólida, se ocultava também um homem pobre e humilde. Obdúlio foi diferente daqueles ídolos que depois de saírem de cena, tinham necessidade de aparecer a qualquer custo, de serem reconhecidos, entrevistados, vistos. Pois sem isso parece que ficavam vazios, desprotegidos. Com Obdúlio Varela nada disso aconteceu. Ele não necessitava desses “pontos de apoio”. Ele sempre se considerou acima dessas coisas.

Por causa da personalidade forte, sua vida se resumia as pessoas queridas e aos poucos amigos íntimos. Isso era suficiente para satisfazer o seu modo de vida. Esse homem, que quando jogador podia assustar até mesmo o diabo, bastasse sair do sério, era também de uma personalidade muito sensível. Em 1996 faleceu o grande amor de sua vida, sua esposa Catalina.

Obdúlio Varela não conseguiu suportar a perda, e poucos meses depois, exatamente no dia 2 de agosto do mesmo ano, ele também sucumbiu ante a morte, aos 78 anos de idade. O Presidente da República, Júlio María Sanguinetti, ordenou que fossem tributadas homenagens especiais ao grande herói nacional. Praticamente todo o Uruguai parou para chorar a perda do famoso “Negro Jefe".

O que Obdúlio Varela representou no mundo do futebol, está resumido em algumas frases ditas ou escritas a seu respeito: "Ele não atava as chuteiras com cordões, mas com as veias." (Nélson Rodrigues, jornalista e cronista brasileiro.); “Fiz um país chorar de tristeza mais do que o meu país de alegria. E acho que se pudesse jogar aquela final novamente faria um gol contra.” (O próprio Obdúlio Varela, sobre o dia do fatídico "Maracanazzo" de 1950.)

"Na já citada vergonha de 50, éramos superiores aos adversários. Além disso, levávamos a vantagem do empate. Pois bem: e perdemos da maneira mais abjeta. Por um motivo muito simples: porque Obdúlio nos tratou a pontapés, como se vira-latas fôssemos." ((Nelson Rodrigues - Complexo de Vira-Latas - Manchete Esportiva - 31/5/58)); "A humilhação de 50, jamais cicatrizada, ainda pinga sangue. Todo escrete tem sua fera. Naquela ocasião, a fera estava do outro lado e chamava-se Obdúlio Varela". (Nelson Rodrigues). “O tapa em Bigode ardeu no rosto da multidão" (Nélson Rodrigues)

Obdúlio tinha caráter. Na metade dos anos 50, o Peñarol aceitou um contrato de patrocinador, novidade na época, em suas camisas. Os jogadores ganhariam algum dinheiro também. Mas o “Nego Jefe”, que em pouco tempo pararia de jogar, se recusou. O Peñarol entrou em campo com dez jogadores patrocinados, mas Obdúlio preferiu a velha camisa de sempre. E explicou a negativa: "Antes, nós os negros, éramos puxados por uma argola no nariz. Esse tempo já passou”.) Genioso, precisou ser convencido a jogar a Copa no Brasil: julgava-se velho demais.

No gramado, gritava o tempo todo. Nunca perdoou o fato de o tesoureiro da delegação uruguaia ter sumido depois do jogo do Maracanã, o que obrigou os jogadores a fazerem uma “vaquinha” para comprar sanduíches e cervejas para comemorar. Sentia uma amargura pelo descaso dos dirigentes uruguaios para com os campeões, humilhando-os a ponto de alguns terem que viver como funcionários estatais quando deixaram o futebol.

A recompensa pela maior façanha do futebol uruguaio foram medalhas de prata e algum dinheiro para os jogadores. Com o prêmio Obdúlio comprou um carro Ford 1931, que foi roubado uma semana depois. Já os dirigentes, deram medalhas de ouro para eles próprios. Quando terminou tudo aquilo, precisava comprar uns presentinhos para a família, mulher e dois filhos. Não tinha dinheiro, pediu 2.500 pesos de adiantamento, pensando que dariam pelo menos uns 10.000, pouco para quem tinha dado tanta satisfação a uma nação. Com muito custo conseguiu o dinheiro. Disse que queriam humilhá-lo.

Varela, após parar de jogar, tentou ser técnico, mas não conseguiu admitir a interferência de diretores. O velho capitão seguiu então caminho similar aos de seus antigos colegas, cuja maioria ingressara no funcionalismo público. Ele foi trabalhar no Cassino de Montevidéu, onde aposentou-se em 1972, afastado e desgostoso com o futebol da época: "Não presta. Falta raça". Curiosamente, trabalhou ali ao lado do ex-colega de Peñarol e Seleção Uruguaia Alcides Ghiggia.

Obdúlio Varela não viu a camisa celeste e as chuteiras que ele usou em 50 e guardou a vida inteira, serem leiloadas em 2004. A Associação Uruguaia de Futebol as arrebatou e o então presidente do Uruguai, Jorge Batlle, declarou-as "monumentos nacionais". Hoje, estão expostas permanentemente no museu do Estádio Centenário, em Montevidéu, onde, às proximidades, há o "Espacio Libre Obdulio Varela". Foi homenageado postumamente pelo pequeno Villa Española, que batizou seu campo de Estádio Obdúlio Jacinto Varela.

Em sua vitoriosa carreira, Obdúlio Varela foi campeão uruguaio em 1944/45, 1949, 1951, 1953/54, pelo Peñarol. Campeão da Copa América (1942) e Mundial (1950) pela Seleção do Uruguai. Jogou 52 vezes pelo seu país e marcou 8 gols.

O único jogador vivo daquela fabulosa seleção uruguaia de 1950, é Alcides Edgardo Ghiggia, ou simplesmente “Ghiggia”, o homem que marcou o gol que deu o título a “los hermanos”. Ele vai completar 85 anos de idade, no próximo dia 22 de dezembro. Em 2009, emocionado, deixou a marca de seus pés na calçada da fama do estádio que o celebrizou. Orgulha-se ao dizer que apenas ele, João Paulo II e Frank Sinatra calaram o Maracanã.

O gol de Ghiggia provocou um grande silêncio no Maracanã, o mais estrepitoso silêncio da história do futebol. Ary Barroso, músico autor de “Aquarela do Brasil”, que estava transmitindo o jogo para todo o país, decidiu abandonar para sempre a função de narrador de futebol. (Pesquisa: Nilo dias)

Na final de 50, os capitães Obdúlio Varela (Uruguai( e Augusto (Brasil). (Foto: Divulgação)

terça-feira, 8 de novembro de 2011

O último dos capitães (I)

Obdulio Jacinto Muiño Varela, ou simplesmente Obdulio Varela, nasceu em 1917 em Montevidéo, Uruguai. Foi criado em um bairro humilde e estudou apenas até o terceiro ano. Na infância enfrentou problemas de asma e era filho de pais separados. Ganhou as suas primeiras moedas aos oito anos como vendedor de jornais. "Os diários só têm duas coisas verdadeiras: o preço e a data", costumava dizer.

Começou a jogar futebol em peladas nos campos do bairro onde morava. Depois foi jogar no Club Deportivo Juventud, onde exibiu um temperamento vigoroso e começou a se destacar como centromédio.

Em 1937 foi contratado como jogador semiprofissional do legendário Club Montevidéo Wanderers. Em 1943 teve seu passe adquirido pelo Club Atlético Peñarol, onde permaneceu até 1955. Debutou no selecionado uruguaio em 1939 e em 1942 se sagrou campeão sulamericano.

Obdulio Varela foi um dos jogadores mais emblemáticos da história da Copa do Mundo da FIFA. O inesquecível meio-campista vestiu a camisa celeste em mais de 57 partidas, a mais famosa delas no Maracanã no dia 16 de julho de 1950. Naquela tarde, com a inesperada obtenção do título mundial, nasceu uma verdadeira lenda, que sobreviveu à morte física do grande capitão no dia 2 de agosto de 1996.

Naquela competição, o centromédio aguerrido e com voz de comando foi vital mesmo sem marcar nenhum gol na histórica decisão diante dos brasileiros. Como líder em campo, com a faixa no braço, assumiu a responsabilidade de administrar psicologicamente uma das finais mais surpreendentes da história.

A história é bem conhecida. O Brasil organizou a Copa do Mundo da FIFA 1950 com um único objetivo: erguer o troféu no Maracanã. Um empate bastaria ao selecionado do técnico Flávio Costa diante de um elenco uruguaio que, para muitos, não passaria de um “sparring”.

Antes dos uruguaios entrarem em campo para a grande final contra o Brasil, um de seus dirigentes foi até o vestiário e disse aos jogadores que "perdiendo por menos de cuatro goles de diferencia se salvaba el honor". Rápidamente Obdulio Varela respondeu com verdadeira autoridade: “Perder?... Nosotros vamos a ganar este partido!"

"Não pensem em toda essa gente, não olhem para cima", aconselhou os colegas já no túnel, consciente de que havia mais de 170 mil pessoas no estádio. "A partida é jogada aqui embaixo, e se ganharmos não vai ter problema nenhum. Nunca teve problema nenhum. Quem está fora não joga."

A conversa motivadora rendeu frutos até os dois minutos do segundo tempo, quando Friaça abriu o marcador para delírio da torcida brasileira. A história já parecia escrita para todos, menos para o capitão. "Quando fizeram o gol, Varela correu 30 metros para pegar a bola e pedir um impedimento inexistente ao juiz", recordava o também falecido Roque Máspoli, o goleiro uruguaio naquela tarde.

Anos depois, em uma das suas poucas entrevistas, o capitão explicou os motivos de tanto teatro. "Sabia que, se não esfriasse a partida, iriam nos demolir. Queria retardar o reinício da partida, nada mais. Levei a discussão ao extremo, até tiveram de chamar um intérprete para que eu pudesse dialogar com o árbitro. O estádio ficou em silêncio, e então vi que poderíamos ganhar a partida."

Dito e feito: o Uruguai cresceu no jogo, Varela passou a mandar na meia-cancha e Juan Schiaffino e Alcides Ghiggia, nos minutos finais, balançaram as redes para virarem o placar. A "Celeste" era bicampeã contra todos os prognósticos.

Obdulio Varela recebeu o troféu das mãos do presidente da FIFA, Jules Rimet, em um encerramento insólito, sem cerimônia de entrega nem discursos oficiais. As comemorações dos uruguaios à noite tiveram uma particularidade: Varela decidiu sair para se misturar com os torcedores brasileiros nas ruas.

"A tristeza de todos era tanta que terminei sentado em um bar bebendo com eles", relembrou. "Quando me reconheceram, pensei que iriam me matar. Felizmente foi tudo o contrário, me parabenizaram e ficamos bebendo juntos."

Depois de algumas cervejas, “El Negro Jefe” foi chamado pelo dono do bar. Havia um torcedor brasileiro que queria falar com ele. Varela se levantou preparado para o pior: um xingamento, uma agressão. O torcedor se aproximou, encarou-o olho a olho, abraçou-o e desabou num choro desesperado e convulsivo. Conta a lenda, ainda, que o capitão uruguaio consolou esse torcedor durante mais de meia hora.

Muito tempo depois, numa entrevista, Varela diria que nesse momento, com o torcedor brasileiro chorando em seu peito, ele se havia dado conta da dimensão daquela derrota para o Brasil. Também teria afirmado que se soubesse que aconteceria tal tragédia nacional, ele não teria se esforçado tanto para ganhar, pois, afinal de contas, só os cartolas uruguaios lucraram com aquela vitória. Varela regressou ao hotel ao amanhecer e se sentiu aliviado.

Quatro anos mais tarde, completou a sua participação com o quarto lugar no Mundial da Suíça, em 1954. Com ele em campo, a “Celeste” não perdeu nenhuma partida pela competição máxima do futebol mundial.

E como era Obdulio Varela do ponto de vista técnico? Jogava na posição que hoje é chamada de volante, mas que naquela época se designava como "center hallf". Era um jogador não mais que aceitável, ou apenas bom. Não era muito veloz ao correr, e pouco corpulento, dominava os recursos técnicos dentro do que se poderia esperar normalmente de um jogador de primeira divisão. E nada mais. Nesse aspecto não se sobressaia.

E quando foi o momento em que se converteu em um personagem futebolístico que chegou a transcender através da história esportiva do mundo? Em sua personalidade, quando ganhou o apelido de "Negro Jefe".

Sem gritos e sem histeria sabia como conduzir com severidade aos seus companheiros de equipe, quando estes não faziam as coisas como deviam. Bastavam umas poucas palavras e talvez uma olhada cheia de rigor como a de um pai severo com seus filhos, para dar-se conta que teria de ter mais empenho no jogo.

Dessa forma passou a ser respeitado até pelos adversários, que sabiam que “com esse "gran negro" não era conveniente buscar problemas. Obdulio Varela foi um jogador do tipo correto, sempre foi defensor do jogo limpo, sem brutalidade.

Em certa ocasião como capitão do Peñarol, um adversário cometeu uma falta grosseira em um de seus companheiros, o que deveria ter sido punido com expulsão. Mas de forma equivocada e surpreendente, o juiz marcou a falta como se fosse comum, uma contingência do jogo.

Obdulio Varela de imediato pegou a bola, se dirigiu ao juiz e de maneira respeitosa observou que se em algum momento qualquer jogador de sua equipe, cometesse tamanha brutalidade ele pediria por favor que o expulsasse de campo, visto que como capitão, não poderia tolerar que um de seus capitaneados realizasse semelhante ato tão desleal.

Entretanto, a laureada carreira acabou não influindo no seu estilo de vida. Pelo contrário, assim como ocorreu com outros grandes ídolos da época, Obdulio Varela nunca desfrutou dos louros do sucesso. Assim como Garrincha, Varela pertenceu à lista dos jogadores fora de série que nasceram, cresceram e morreram na pobreza. (Pesquisa: Nilo Dias)

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

A morte do "comentarista da palavra fácil"

O rádio esportivo brasileiro perdeu ontem (27), um de seus nomes mais importantes. Luiz Pineda Mendes, gaúcho de Palmeira das Missões, nascido a 9 de junho de 1924, faleceu aos 87 anos, devido a complicações decorrentes de uma leucemia linfocítica crônica. Desde o dia 17 de outubro estava internado no Hospital São Lucas, em Copacabana, na Zona Sul do Rio. O radialista sofria de diabetes e tinha parte de uma perna amputada por conta do problema.

Deixou a mulher, a atriz, radialista e ex-deputada estadual Daisy Lúcidi, que conheceu na Rádio Globo e com quem estava casado há 60 anos, um filho netos e bisnetos. O velório aconteceu no salão nobre de General Severiano e o enterro no cemitério São João Batista, hoje, às 10h.

Luiz Mendes começou a vitoriosa carreira em 1941, quando ainda era menino, no serviço de alto-falante da cidade de Ijuí, no Rio Grande do Sul. Mas foi em Porto Alegre, na Rádio Farroupilha, que ele se tornou locutor. No fim de novembro de 1944, esteve no Rio de Janeiro para fazer a transmissão de um jogo do campeonato brasileiro de seleções, pela Rádio Farroupilha, e ficou sabendo que a Rádio Globo seria inaugurada no dia 2 de dezembro.

Com apenas 19 anos de idade, foi até lá e procurou o Rubens Amaral, o locutor-chefe. Assim que mostrou a carteirinha da Farroupilha, uma das emissoras mais fortes do país na época, ele pediu para que Mendes retornasse no dia seguinte. “Não para fazer testes, se você é locutor da Rádio Farroupilha, será locutor da Rádio Globo”. E assim, quase no grito, foi um dos fundadores da emissora. E até ontem era um dos dois últimos sobreviventes da inauguração. Agora, só resta Benedito Silva, que era o Tesoureiro e hoje está com 92 anos.

Quando morava no Rio Grande do Sul, Mendes era um apaixonado torcedor do Grêmio. Ao mudar-se para o Rio de Janeiro, transferiu sua paixão para o Botafogo carioca.

Pela Rádio Globo trabalhou em 16 Copas do Mundo, tendo inclusive narrado a final do Mundial de 1950, o famoso "Maracanazzo", quando a Seleção Brasileira perdeu o título para o Uruguai, em pleno Maracanã, por 2 X 1. E foi o único brasileiro a transmitir a final da Copa de 1954, na Suíça, vencida pela Alemanha.

Anos depois, em uma entrevista para a televisão, confessou que enquanto narrava o jogo decisivo da Copa do Mundo de 1950, teve um baque emocional bastante forte logo após os uruguaios fazerem 2 X 1. Ele era um dos que consideravam ser quase impossível o Brasil perder a Copa. Mas, apesar de um tanto atordoado, seguiu narrando o jogo normalmente até o fim.

Em 1995, integrou a equipe de esportes da Super Rádio Tupi, retornando à Rádio Globo em 1999. Era conhecido como “O comentarista da palavra fácil” e foi um dos idealizadores do debate esportivo "Mesa Redonda" na televisão brasileira, com a criação da “Grande Resenha Facit”, na década de 1950, na TV Rio.

Também trabalhou na Rádio Nacional, Rádio Continental, TV Tupi e TV Educativa. Luiz Mendes narrou ou comentou mais de mil competições internacionais e pelo menos, 10 mil disputas nacionais. E encontrou tempo para escrever quatro livros sobre futebol: "As Táticas do Futebol Brasileiro - Da Pelada à Pelé" (1963), "As Táticas do Futebol (Antigas e Atuais)" (1979), "Futebol, Regras e Táticas" (1979) e "Sete Mil Horas de Futebol" (1999). Deixou um vasto e rico arquivo, agora aos cuidados da viúva Daisy Lucidi.

Luiz Mendes fez parte de uma geração de inesquecíveis nomes da radiofonia esportiva, como Galiano Neto, Oduvaldo Cozzi, Ari Barroso, Valdir Amaral, Sérgio Paiva, João Saldanha, Clóvis Filho, Jorge Curi, Doalcei Camargo e Orlando Batista.

O governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral ao lamentar a morte do radialista, “um profundo conhecedor do futebol”, disse que Mendes era um gaúcho com espírito de carioca, que mesmo não tendo perdido o sotaque bonito do sul, tinha uma grande identificação com o Rio. Já o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes lembrou que ainda era muito “moleque”, quando conheceu Luiz Mendes na cabine da Rádio Globo e depois os dois construíram uma sólida amizade. (Pesquisa: Nilo Dias)

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

A violência entra em campo

Creio que foi ao início dos anos 80, quando eu trabalhava na Rádio Cultura, de Rio Grande (RS), que aconteceu o fato que vou narrar a seguir. A emissora realizava durante o verão, na praia do Cassino, um campeonato de futebol amador denominado “Culturão”. Num domingo pela manhã durante um jogo, em que não recordo entre quais equipes, torcedores de uma delas, descontentes com a atuação do árbitro, um sujeito conhecido como Paulinho “Navalha”, tentaram linchá-lo.

Foi uma covardia. Cerca de 30 marmanjos partiram para cima do juiz, mas este soube defender-se com galhardia, fazendo jus ao apelido. Com uma navalha na mão, desencorajou os agressores, que ficaram a distância dele. E não sofreu um arranhão sequer, pois a Brigada Militar não demorou a chegar.

Recordei esse acontecimento, que poderia ter acabado de maneira trágica, para servir de "gancho" aos fatos que conto a seguir .

Na tarde de 11 de outubro deste ano, o jogador João Vitor, da S.E. Palmeiras, de São Paulo por pouco não foi linchado por torcedores. O fato aconteceu frente a loja do clube, no bairro de Perdizes, Zona Oeste da capital paulista e foi registrado como lesão corporal e injúria no 7º Distrito Policial.

Tudo começou quando um torcedor de 29 anos cobrou mais raça do jogador, que estava em um carro importado. Ele negou ter chutado o veículo e disse que quem iniciou as agressões foram dois amigos do atleta, que se encontravam com ele.

Pouco depois outros torcedores reforçaram o protesto, o que provocou o tumulto. Policiais militares ao chegarem à Rua Turiassu se depararam com uma briga generalizada, envolvendo aproximadamente 15 pessoas. O foco maior do conflito era três pessoas, sendo o jogador, o cunhado e um amigo.

Em agosto deste ano, no “Estádio dos Operários, em Pequim”, os jogadores da Inter, de Milão, realizavam um treinamento para o jogo da Supercopa da Itália contra o Milan. Até ai tudo bem. Entretanto, um torcedor do Milan de repente colocou uma camisa rubro-negra bem no meio dos torcedores da Inter. Resultado: O solitário torcedor quase foi linchado e sua camisa rasgada, até a chegada da policia que conseguiu evitar o massacre.

No dia 18 de Setembro de 2010, no jogo São José X Treze, no Estádio Roseana Sarney, em Campina Grande (PB), pelo Campeonato de Máster da cidade, o jogador Francisco de Assis, zagueiro camisa nº 4 do time do Treze, agrediu o arbitro Euvaldo Barros Ribeiro, conhecido por Reizinho.

E começou um grande tumulto, pois vários torcedores, revoltados com a atitude do jogador entraram em campo com o objetivo de linchá-lo. Se não fosse a chegada da policia, possivelmente a tragédia teria se consumado. Protegido pela policia o jogador foi algemado e conduzido para a Delegacia de Polícia da Cidade Operária, e o árbitro Reizinho levado as pressas para o Hospital Socorrão II.

No ano de 2007, em Maceió, o zagueiro Alex Mareal, do time de juniores do CRB por detalhes não foi linchado, após ser pego se masturbando na praia da Pajuçara. Ele chegou a ser agredido e levou algumas pedradas na cabeça, atiradas por pessoas que passavam pelo local. De acordo com o boletim de ocorrência, o jogador se masturbou após observar um casal namorando na mesma praia em que se encontrava.

Em 6 de agosto deste ano, um lance bastante inusitado ocorreu na 6ª Divisão do futebol argentino. Jogavam na cidade de Santa Fé as equipes do Unión, de San Guillermo e Club Atlético Tostado, ambos da Liga Ceresina, que reúne equipes da cidade. Num dado momento, o árbitro da partida, Alfedro Belén paralisou o jogo.

Não se sabe se ele marcou uma falta ou flagrou o soco que o jogador do Atlético Tostado deu num adversário. O certo é que o clima ficou bastante pesado dentro do campo, que mal tinha grama. O juiz mostrou cartão amarelo, e o infrator reagiu com ofensas, criando-se uma grande confusão.

O jogador do Atlético largou a bola e partiu para cima de Belén, com uma peitada acompanhada de um soco. Todo o time do agressor foi ajudar a bater no pobre árbitro, que levou até algumas voadoras. Ele tentou se defender dos pontapés, mas era um embate desigual, um contra nove jogadores do Atlético Tostado, batendo por todos os lados.

Poucos segundos depois, dirigentes do clube visitante também aproveitaram para descontar no árbitro a raiva. Os bandeirinhas tentaram apartar a confusão, se postando entre Belén e os jogadores, sem sucesso. A única saída que Alfredo Belén encontrou foi fugir do campo e pular as grades do estádio. Alguns jogadores ainda correram em seu encalço, mas ele conseguiu escapar.

O Tribunal de Justiça Esportiva agiu de forma dura com os agressores. O jogador Leandro Pajon, foi suspenso por 10 anos, mesmo período concedido a Marcos Plotino. Já Matias Chávez, ficará quatro anos longe dos gramados, enquanto Mariano Aguirre, não poderá jogar em campeonatos amadores argentinos por três anos.

Outros atletas, que estavam no bolo, mas não chegaram a agredir o árbitro e também não procuraram apartar a briga, tiveram punições em número de jogos. Ficarão sem jogar 15 partidas o jogador Amilcar Barreto e sete Franco Oros. Um dos dirigentes do Atlético Tostado, Fernandéz Nery Gastón foi expulso da Liga Ceresina para sempre. O placar da partida ficou em 2 X 1 para o San Guillermo.

Em março deste ano o zagueiro panamenho Luis Moreno, do Deportivo Pereira deu um chute em uma coruja que era mascote do Junior, da Colômbia. O animal morreu um dia depois pelo estresse causado pelos golpes da bola e do zagueiro. Moreno revelou estar com medo pelas ameaças que vem recebendo por telefone, e se desculpou dizendo que não teve a intenção de machucar o animal, e que só fez aquilo para que a coruja voasse.

O jogador, que precisou de proteção policial para deixar o campo, pois o público queria linchá-lo, disse estar preocupado com seus familiares no Panamá, que estão com medo da repercussão do caso. Moreno foi levado para um zoológico colombiano, onde teve uma aula sobre corujas. Ele prometeu voltar ao local uma vez por mês para realizar trabalhos voluntários. Mesmo assim, não escapou de levar uma multa de US$ 560 e dois jogos de punição.

No dia 21 de novembro do ano passado, uma tragédia chocou o povo da Ucrânia. O zagueiro Vladislav Piskun, do Sevastopol, provocou um acidente que resultou na morte de quatro pessoas. O jogador estava conduzindo seu veículo da marca BMW, conversível, acima do limite de velocidade, quando perdeu o controle. O automóvel invadiu uma calçada e atropelou uma mulher e suas duas filhas, de cinco e dois anos. As três morreram.

A outra vítima foi a mulher, que estava grávida e que acompanhava Piskun. Ela chegou a ser socorrida, mas faleceu no hospital. O jogador foi internado com uma fratura na perna e lesão cerebral, porém, não tinha sinais de embriaguez. Ciente do ocorrido, o jogador admitiu a culpa e foi preso. De acordo com informações da agência UNIAN, o jogador teria encontrado um amigo em um outro veículo, um Mitsubishi, e ambos decidiram fazer um racha.

De acordo com relatos do próprio jogador, ao ver que estava perdendo a “corrida”, o defensor tentou uma ultrapassagem pela pista oposta, mas perdeu o controle, chocou-se contra um poste, atingiu uma parede e acertou a mulher e suas filhas. A polícia teve de dar suporte ao resgate do jogador, após o acidente. Isso porque um grupo de pessoas, revoltado com o episódio, tentava linchar o jogador.

O pior mesmo, aconteceu com o goleiro Samiou Yessoufou, da Seleção Sub-20, de Benin. Ele morreu no dia 17 de janeiro de 2005, por conseqüência do espancamento que sofreu de torcedores revoltados com a derrota para a Nigéria, pelo Campeonato Juvenil Africano.

Yessou foi foi abordado por vários torcedores não identificados, que o atacaram com socos e pontapés. O goleiro sofreu lesões graves no tronco e na cabeça. A vítima jogava no Buffles, de Borgou, da Primeira Divisão. Era conhecido por Campos, em homenagem ao ex-goleiro mexicano Jorge Campos. (Pesquisa: Nilo Dias)

Árbitro argentino teve de correr para não ser linchado.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

O homem da “folha seca” (Final)

Didi era um líder nato. No jogo final da Copa do Mundo de 1958, depois que a Suécia fez 1 X 0, ele caminhou até o fundo das redes e pegou a bola. Depois, colocou-a debaixo do braço e, determinado, disse para o resto do time: “Acabou a sopa deles. Agora é a nossa vez. Vamos encher a caçapa desses gringos de gols.” E 86 minutos depois, o placar do Estádio Rasunda, encravado no Vale de Solna, em Estocolmo, apontava em números imponentes, definitivos: Brasil 5 x Suécia 2.

Ao apito final do juiz, o francês Maurice Guigue, o campo foi invadido por uma legião de fãs que queriam abraçar a “Enciclopédia” Nilton Santos. E, também, a Gilmar, Bellini, Zito, Djalma Santos, o desconcertante “Mané Garrincha” e o então menino Pelé. Só Didi é que procurou se manter distante, aparentemente alheio à grande festa, como se já previsse aquele final feliz para o futebol brasileiro.

Cumprimentado pelo Rei Gustavo Adolfo, o genial camisa 8 ouviu do monarca sueco elogios como os de “Oitava Maravilha do Mundo” e “Mr. Football”. Pela Seleção disputou 74 partidas, sendo 68 oficiais, e marcou 21 gols.

Criador da infernal “Folha-Seca”, um chute mortal por ele executado, que fazia a bola ganhar uma trajetória imprevisível para o goleiro, Didi ainda era capaz de lançamentos perfeitos, de mais de 40 metros. Ou de executar dribles desmoralizantes sobre qualquer adversário. Mas era como um perfeito maestro que se sentia, de longe, o poder do seu jogo.

Em 1950, já casado e com filhos, Didi conheceu a atriz Guiomar Batista, com quem passou a viver. Guiomar era ajudante de Ary Barroso, e se vestia de Odalisca no programa “Calouros em Desfile” da TV Tupi.

Não era segredo que Ary tinha uma paixonite por Guiomar e, quando ela se foi com Didi, ele, atordoado, escreveu o samba-canção “Risque” (“Risque, meu nome de seu caderno, pois não suporto o inferno de nosso amor fracassado...”)

Além de algumas situações escandalosas que contrariavam o clube, o Fluminense resolveu destinar parte do salário do jogador à sua primeira esposa. A insatisfação tornou-se mútua e incontornável, a relação entre craque e clube se deteriorou: Didi sempre fazendo das suas, sempre advertido, de vez em quando multado.

O amor entre Didi e Guiomar, desde o início foi sempre muito conturbado e vivia nas manchetes dos jornais e revistas. Uma tarde em 1958, poucos meses antes da Copa do Mundo, a seleção treinava no Maracanã, quando no finzinho da tarde, Didi gritou: “Meu Deus! Perdi minha aliança!”

O treinou parou, todos os jogadores foram se aproximando e um perguntou: “Mas como é que pode?” “Não sei”, respondeu Didi. “Não sei talvez tenha escorregado com o suor. E por favor, tomem cuidado onde pisam.”

Ele mesmo se ajoelhou e começou de quatro a procurar a aliança, no que foi seguido por todos os jogadores. A noite foi chegando e Didi pediu a um dirigente que mandasse acender os refletores. “Mas, Didi, vale a pena? “, perguntou o dirigente . “Não é melhor comprar outra?” “O senhor não conhece a Guiomar”, respondeu Didi , “ela vai pensar o pior.” E todos continuaram palmo a palmo procurando a aliança pelo gramado.

Não encontraram e no dia seguinte, o assunto foi manchete de todos os jornais do Rio de Janeiro. De tarde, na concentração do Hotel Corcovado, aos pés do Cristo Redentor, vieram avisar ao Didi: “Dona Guiomar está na portaria! Quer falar com o senhor!” Didi desceu procurando uma desculpa para acalmar a mulher antes que ela fizesse um escândalo.

“Meu bem… “, ia exclamando o jogador quando foi interrompido por Guiomar. “Calma, eu só vim aqui para te dizer que imprevistos acontecem. Vi tua foto no jornal, de quatro procurando a aliança. Não te preocupa não foi nada, vamos comprar outra mais bonita ainda!” Didi sorriu e abraçou a mulher que foi embora toda amorosa.

Teve gente que jurou que Didi “armou” o golpe perfeito e que provavelmente ele tinha tirado a aliança do dedo e perdido em alguma balada. A encenação com todos inocentemente procurando de joelhos, a aliança na grama do Maracanã, foi genial.

Na Copa do Mundo de 1954, na Suíça, o autoritário técnico Zezé Moreyra isolou os jogadores da Seleção Brasileira na concentração de Macolin e não permitiu “passeios” ou “voltinhas” por Lausanne. E Didi queria telefonar para Guiomar, no Rio.

Resultado: inconformado, decidiu fazer greve de fome e ficar trancado no quarto. Mas o amigo Nilton Santos ficou preocupado. E no almoço e jantar escondia comida no uniforme e alimentava o companheiro.

Casada com Didi durante quase 50 anos, Dona Guiomar, teve grande influência na carreira do ex-jogador. Negociava contratos com dirigentes e opinava sobre em que clube o marido atuaria. Na ocasião em que Didi deixou o Real Madri, existiam rumores de que Guiomar fora decisiva para a sua volta ao Brasil, depois de apenas um ano no exterior. Ela não admitia ver Didi em segundo plano, em relação às estrelas Di Stéfano e Puskas.

As atuações de Didi, segundo a crítica esportiva, alternavam de acordo com o temperamento da mulher. Antes da Copa de 1958, por exemplo, a Confederação Brasileira de Desportos (atual CBF) proibiu as mulheres dos jogadores de os acompanharem à Suécia. "Só um cego de nascença não via que se tratava de separar Didi de Guiomar", disse Nélson Rodrigues, na época.

Isto porque boa parte da torcida culpava as brigas do casal pelos maus momentos daquele que foi escolhido o melhor jogador do Mundial da Suécia. As acusações contra Guiomar, ex-cantora de rádio, se deviam ao preconceito que ela sofreu por ter sido o pivô da separação de Didi, que era casado.

Pouco mais de um mês depois da morte do ex-jogador Didi, faleceu a sua viúva Guiomar Batista Pereira, de 72 anos, em decorrência de uma hemorragia estomacal. Internada no Hospital Pedro Ernesto, zona norte do Rio, mesmo local onde morreu o marido, ela tinha diabetes e cirrose hepática.

O amor da vida do bicampeão mundial foi Guiomar, com quem ele ficou junto de 1951 até a sua morte. "Tanto é verdade que ninguém conseguia imaginar Didi sem Guiomar e vice-versa", definiu Nélson Rodrigues, na crônica intitulada "Didi sem Guiomar", de 1958.

Morreram ambos com a mesma idade: 72 anos. Guiomar foi enterrada no cemitério São João Batista, no Rio, junto com Didi.
Ele era um aristocrata negro, um lorde, que tinha naquela mulher branca e forte, uma guerreira. A mulher de Didi foi o 12º jogador daquela seleção.

Naquela época não era nada comum, e a Guiomar foi à Suécia por uma deferência especial, porque sem ela o Didi não teria sido o magnífico jogador que foi, o melhor daquela Copa (em que explodiram, para o mundo, Garrincha e Pelé). Eram outros tempos, outros jogadores, outras mulheres.

Didi faleceu no Rio de Janeiro, em 12 de maio de 2001 devido a complicações de um câncer no fígado, enatrando definitivamente para a galeria dos imortais. A notícia repercutiu em jornais e revistas espanholas e argentinas (como “El Gráfico”), franceses (como “L’Equipe”) e gerou uma matéria com foto no “The New York Times.” No dia seguinte, antes de se iniciarem as partidas, várias equipes, em diferentes países, fizeram um minuto de silêncio em sua memória. (Pesquisa: Nilo Dias)

Didi e Guiomar, em foto de 1957.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

O homem da “folha seca” (I)

Waldir Pereira (ele afirmava que seu nome era com W), o Didi nasceu no dia 8 de outubro de 1928, na cidade de Campos dos Goytacazes (RJ), terra de craques como Amarildo, Pinheiro, Tite, Evaldo, parceiro de Tostão no Cruzeiro (MG) e Paulinho Almeida, artilheiro com o Flamengo no início dos anos 50. Mas nenhum deles se igualou ao extraordinário Didi.

Apelidado de “Príncipe Etíope” pelo jornalista Nélson Rodrigues e “Mr. Football” pela imprensa européia foi um dos mais completos e elegantes jogadores do futebol brasileiro em todos os tempos. Jogava no meio de campo e era especialista em bater faltas, tendo sido o inventor da “folha seca”, uma técnica que consistia em bater na bola com o lado externo do pé, hoje vulgarmente chamada "trivela".

Didi criou a “folha seca” quase que por acaso. Tudo aconteceu em 1956, já defendendo o Botafogo, num jogo contra o América, por causa de uma lesão que o impedia de chutar a bola normalmente. Por isso, ao bater com o lado externo do pé, no meio da bola, o público viu a bola subir, fazer uma curva e cair repentinamente no gol, trajetória semelhante ao que ocorre com uma folha.

O lance ficou famoso quando “Didi” marcou um gol de falta nesse estilo contra a Seleção do Peru, nas eliminatórias para a Copa do Mundo de 1958. Ele dizia que aprendeu a arte observando outro gênio em bolas envenenadas: Jair da Rosa Pinto, o “Mestre Jajá”.

A criação do termo “folha seca” foi do comentarista esportivo Luiz Mendes, que percebeu a semelhança, quando a bola descia, com uma folha de outono vagando ao sabor do vento. E ganhou popularidade na voz de Oduvaldo Cozzi, considerado o maior narrador de futebol da época.

Por pouco o craque Didi não surgiu para o futebol. Quando criança foi atropelado por um caminhão e quase teve uma perna amputada. Mas acabou se safando e ficando com uma perna mais curta que a outra. A diferença entre uma perna e outra foi desaparecendo com o passar dos anos. E ele dizia que talvez tenha sido essa perna mais curta que lhe permitiu criar o famoso chute da “folha seca”.

Didi começou a carreira em 1944, jogando no Industrial (RJ); em 1945 defendeu o Rio Branco (RJ) e o Goytacaz (RJ); em 1946 atuou no São Cristóvão (RJ) e Americano, de Campos (RJ). Ainda em 1946, profissionalizou-se vestindo a camisa do Clube Atlético Lençoense, de Lençóis Paulistas (SP).

Depois foi contratado pelo Madureira (RJ), onde começou a mostrar seu grande futebol, tendo ido em seguida para o Fluminense F.C., onde jogou de 1949 a 1956. Foi o clube pelo qual jogou mais tempo sem interrupções, tendo realizado 298 partidas e feito 91 gols.

Didi foi um dos grandes responsáveis pela conquista tricolor do Campeonato Carioca de 1951 e da Copa Rio de 1952, tendo jogado ao lado de Castilho, Waldo, Telê Santana, Orlando Pingo de Ouro, Altair e Pinheiro, entre outros. Foi ele o autor do primeiro gol da história do Maracanã pela Seleção Carioca em 1950.

A estréia de Didi na seleção brasileira aconteceu no Campeonato Pan-Americano de 1952, em Santiago, no dia 6 de abril, quando foi escalado pelo técnico Zezé Moreira, no jogo em que o Brasil venceu o México por 2 X 0. Na Copa do Mundo de 1954, na Suíça, o inventor da “folha seca” disputou os três jogos como titular, mas o time brasileiro perdeu o último jogo da fase para a Hungria, por 4 X 2, e foi eliminado.

Foi campeão mundial em 1958, já atuando pelo Botafogo de Futebol e Regatas, clube pelo qual também acabou se apaixonando. No alvinegro, era o maestro de um grande elenco. Jogou ao lado de Garrincha, Nilton Santos, Zagallo, Quarentinha, Gérson, Manga e Amarildo.

O Botafogo foi o clube pelo qual Didi mais disputou partidas: fez 313 jogos e marcou 114 gols. Foi campeão carioca pelo clube em 1957, 1961 e 1962 e também venceu o Torneio Rio-São Paulo de 1962, mesmo ano em que ganhou o Pentagonal do México e, no ano de 1963, o Torneio de Paris.

Em 1959, antes do bi-mundial no Chile (1962), chegou a jogar no famoso time do Real Madrid. Como os espanhóis mesmo gostam de dizer, tratava-se de um time de galácticos, com Kopa, Puskas, Di Stefano, Santamaria, Kocsis e Dominguez. Mesmo conseguindo algumas conquistas importantes, o time sofria com a guerra de vaidades. Segundo o historiador Peris Ribeiro, o boicote a Didi, o único jogador negro da equipe mais cara do mundo foi liderado por Di Stéfano.

O boicote na equipe, segundo se comentava, teria partido de Di Stéfano. Depois jogou pelo Sporting Cristal, do Peru. No retorno ao Brasil vestiu de novo a camisa alvinegra do Botafogo. Teve uma passagem pelo São Paulo F.C., antes de voltar ao exterior, para atuar no Vera Cruz, do México. Encerrou a carreira vitoriosa no São Paulo F.C., em 1962.

Didi já pensava em se retirar dos campos de futebol, não conseguindo êxito como nos clubes anteriores em conquista de títulos. A equipe do São Paulo naquela época, não tinha grandes jogadores e a direção estava empenhada em terminar a construção do seu principal patrimônio, o Estádio do Morumbi.

No começo de 1981, Didi chegou a ser o técnico do Botafogo, mas foi substituído do cargo durante o ano, tendo sido ele um dos técnicos do Fluminense, na fase que o time tricolor era conhecido como a “Máquina Tricolor”, pela qualidade excepcional de seus jogadores.

Além da dupla carioca, Didi treinou os seguintes clubes: Sporting Cristal, do Peru; River Plate, da Argentina; Fenerbahçe, da Turquia; Cruzeiro, de Belo Horizonte; Alianza Lima, do Peru e Seleção Peruana, que alcançou classificação em 1970, para disputar a Copa do Mundo. Antes disso, a única vez que o país esteve num Mundial, foi em 1930, no Uruguai.

Títulos conquistados, como jogador: Fluminense: Copa Rio (1952); Campeonato Carioca (1951); Taça General A. Odria, Peru, enfrentando o Sucre (1950); Taça Embajada de Brasil ,Peru, contra o Sucre (1950); Taça Cinquentenário do Fluminense, na Copa Rio, frente o Corinthians (1952); Taça Milone, na Copa Rio, contra o Corinthians (1952); Taça Adriano Ramos Pinto, na Copa Rio, ante o Corinthians (1952); Torneio José de Paula Júnior, Quadrangular de Belo Horizonte (1952); Copa das Municipalidades do Paraná (1953); Taça Secretário da Viação de Obras Públicas da Bahia, contra o Esporte Clube Bahia, (1951); Taça Desafio Fluminense, versus Uberaba Sport Club (1954); Taça Presidente Afonsio Dorazio, contra a Seleção de Araguari-MG (1956).

Pelo Botafogo: Torneio Rio-São Paulo (1962); Campeonato Carioca de Futebol (1957/1961/1962); Torneio Pentagonal do México (1962); Torneio Jubileu de Ouro da Associação de Futebol de La Paz (1964); Torneio do Suriname (1964); Torneio Governador Magalhães Pinto (1964).

Pelo Real Madrid: Liga dos Campeões da UEFA (1959/1960). Pela Seleção Brasileira: Pan Americano de Futebol (1952); Copa do Mundo (1958/1962).

Como Treinador: Campeão peruano pelo Sporting Cristal (1952); Campeão Turco, pelo Fenerbahçe (1973/1974,1974/1975); Supercopa da Turquia (1974); pelo Fluminense, Campeão Carioca (1975); Botafogo, Taça Guanabara (1975); Cruzeiro, Campeão Mineiro (1977).

Prêmios: Bola de Ouro da Copa do Mundo da FIFA (1958); All-Star Team da Copa do Mundo da FIFA (1958); Craque do Time das Estrelas da Copa do Mundo (1958); 7º Maior jogador Brasileiro do Século XX pela IFFHS (1999); 18º Maior jogador da América do Sul no Século XX pela IFFHS (1999); 19º Maior jogador do Mundo no Século XX pela IFFHS (1999); 100 Craques do Século - World Soccer (1999); e 25º Maior Jogador do Século XX pelo Grande Júri FIFA (2000). (Pesquisa: Nilo Dias)

Gol de Didi, de "folha seca", que classificou o Brasil para a Copa do Mundo de 1958.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Clube que revelou Leandro Damião completa 60 anos

O 20 de setembro é uma data importante não só para os gaúchos, que festejam as façanhas da Guerra dos Farrapos, mas também para os catarinenses da cidade de Ibirama, que comemoram a passagem dos 60 anos de fundação de uma de suas maiores entidades esportivas, o Clube Atlético Hermann Aichinger.

O clube nasceu em 20 de setembro de 1951, sucedendo a Sociedade Desportiva Industrial, fundada em 1944 e que há três anos paralisara às atividades.

A reunião que decidiu pela criação do novo clube aconteceu no bar de Geraldo Stoll, um dos fundadores, com a presença de Walter Nagel, Fritz Francke, Leopoldo de Souza, Wiegand Scheidemantel, Alberto Lessa, Fides Pettersen, Clemente Pettersen, Olimpio Lessa, Paulo Lippmann, Cuno Stoll, Waldemar Brandl, Engelbert Schaefer, Haroldo Lucas, Curt Stoll, Udo Iuwert, Enio Deeke, Geraldo Stoll, Luciano Patricio, Egon Stoll, Jorge Lucas Jr., Hercílio Lucas, Helmuth Arnold e Walfried Goebel.

Ao final da reunião foi decidido que Alberto Lessa seria o primeiro presidente. Ele foi responsável pela estruturação do clube e pela participação nos primeiros campeonatos, ainda como amador, sagrando-se diversas vezes campeão. As cores escolhidas para as camisas foram o vermelho e o branco.

Em 1955 disputou a segunda divisão da Liga Blumenauense de Desportos e também iniciou as obras para a construção de seu estádio. Em março desse ano foi adotado o nome atual, Clube Atlético Hermann Aichinger, em homenagem ao patrono do clube, Hermann Aichinger, que doou o terreno onde fica o atual estádio, conhecido popularmente como Estádio da Baixada.

Durante a década de 50 o clube disputou várias partidas amistosas contra agremiações como São Cristóvão (RJ), Novo Hamburgo (RS), Ferroviário (PR), Caxias (SC), América (SC) e Avaí (SC). Até os anos 80 permaneceu como amador, vivendo alguns períodos de inatividade em razão de dificuldades financeiras e falta de apoio da torcida e da cidade.

No fim dos aos 80, a situação começou a mudar, graças a política de investimento pesado nas categorias de base. O resultado positivo não demorou a aparecer, com a formação de bons jogadores que foram aproveitados no time de cima.

Em 1990 foi campeão da cidade invicto. Depois disputou o Campeonato Amador da Liga Vale Norte de Futebol. Em 1992 sagrou-se campeão estadual amador, alcançando aceso à segunda divisão profissional. Com o título ganhou o direito de representar Santa Catarina no Campeonato Sul Brasileiro de Futebol Amador, realizado em Curitiba. A Competição contou com equipes amadoras representando os Estados de São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul.

Em 1993 se profissionalizou e participou pela primeira vez de uma competição oficial, sagrando-se campeão catarinense da 2ª divisão. Em 1994, o então e atual presidente Genésio Ayres Marchetti foi responsável pela maior obra de infra-estrutura no clube, com a construção da arquibancada coberta para mais de 2 mil pessoas, ampliação, drenagem e gramado novo no campo de futebol, visando a disputa do estadual da 1ª Divisão.

Dentro de campo, a equipe foi bem na elite do futebol catarinense, classificando-se em quarto lugar e vencendo por duas vezes o Criciúma, que estava no auge e contava com craques do naipe de Soares, Jairo Lenzi, Vilmar, Da Pinta, Alexandre, Sílvio Criciúma e outros. Em 1995, teve uma participação também boa, terminando entre os primeiros colocados.

Mas depois de passar por grave crise financeira, e de licenciar-se da Federação Catarinense de Futebol, passando a disputar apenas competições amadoras, sagrando-se campeão do Campeonato de Masters promovido pela Liga Vale Norte de Futebol no ano de 1999 e 3º colocado na categoria amador no mesmo ano. Retornou ao futebol profissional em 2001, quando foi novamente campeão catarinense da 2ª divisão, conquistando então o acesso à Série A.

Em 2002, esteve na chave principal do campeonato estadual, desempenho repetido em 2003 e melhorado em 2004, quando foi vice-campeão. Com isso, o time conquistou a vaga na Série C do Brasileiro, terminando entre os 16 melhores.

Em 2005, disputou duas competições nacionais, a Copa do Brasil e o Brasileiro da Série C, sem sucesso. Em 2006, disputou novamente o Catarinense e a Copa do Brasil e, em 2007, participou apenas do Estadual.

Em abril de 2010, o clube se licenciou novamente, por falta de recursos financeiros. Mas a volta aos gramados não demorou. Já neste ano de 2011 o clube está disputando o Campeonato Catarinense Divisão Especial 2011, equivalente a 2ª Divisão.

Os jogadores que se tornaram ídolos na história do clube nesses 60 anos foram muitos. Os mais lembrados são Sagüi, Alceleste Moser, Fanhô, Emílio Eberspächer, Sávio, Osmair, Treze, Valdir Dias, Nardella e Biro-Biro, que jogou durante várias temporadas com a camisa grená do clube, estando inclusive na formação de 2004 que participou da Série C do Brasileirão. Hoje em dia, o ex-meio-campista é um dos dirigentes da agremiação.

Mas foi recentemente que o clube revelou ao futebol brasileiro a sua jóia mais rara, Leandro Damião, grande artilheiro do futebol brasileiro neste ano de 2011, com 40 gols marcados pelo S.C. Internacional, de Porto Alegre.

O craque jogou na várzea em São Paulo até os 17 anos. Ao contrário da maioria dos jogadores, Damião não foi trabalhado em categorias de base. Em 2007, seu pai conseguiu um teste no Atlético, de Ibirama. Foi aprovado, e estreou antes de completar 18 anos.

No ano seguinte, teve uma breve passagem por empréstimo no XV de Outubro e no Marcílio Dias, onde disputou o Campeonato Brasileiro da Série C de 2008. E ao final do ano teve uma passagem relâmpago pela equipe do Cidade Azul. Mas a consagração veio no Campeonato Catarinense de 2009, quando vestiu novamente a camisa do Atlético de Ibirama, se tornando o artilheiro do time e chamando a atenção de outros clubes.

Em 2009, Leandro Damião teve 70% de seus direitos econômicos adquiridos pelo Internacional. Os outros 30% continuam com o clube catarinense. Na época que defendeu a equipe de Ibirama, o jogador era conhecido como Leandrão.

O Clube Atlético Hermann Aichinger é chamado por seus torcedores de “Fúria Atleticana”. A mascote é o “Capeta”. Com o estádio da Baixada sempre lotado e fervendo como um caldeirão, o “Capeta” foi definido como símbolo do clube em 1994. Vestido a caráter, ele entra em campo antes das duas equipes e circula com a mascote rival espetada em seu tridente.

O “Capeta” protagonizou uma situação inusitada em uma das partidas do clube. Certa vez, quando entrevistado por uma emissora de TV, a mascote não titubeou: “Se Deus quiser, vamos vencer o jogo”. (Pesquisa: Nilo Dias)
Leandro Damião, o grande nome da história do Atlético, de Ibirama.